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domingo, 13 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27013: Os nossos seres, saberes e lazeres (689): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (212): Um dia na rota da cereja, Fundão e Castelo Novo (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Maio 2025:

Queridos amigos,
Em hora feliz verifiquei que a CP tem uma gama de excursões de dia inteiro, não hesitei em ver os cerejais do Fundão em flor. Sorte no dia, ensolarado, depois de praticamente duas semanas de céu pardacento e mesmo pluvioso; o Tejo a correr em galope, bem caudaloso, e é sempre um prazer, mesmo vendo de raspão, as portas do Ródão. Foi bem gentil o apoio dado pelos guias autárquicos, à chegada a visita a um núcleo interpretativo, um regalo de muito boa qualidade museográfica e museológica. E depois viagem para ver deslumbrantes cerejais, o espetáculo da paisagem passando pela Cova da Beira até às faldas da Serra da Estrela; e depois a aldeia histórica de Castelo Novo, nunca aqui estivera, abençoado programa de aldeias históricas de Portugal que permite requalificações de Almeida até Trancoso. Fiquei confiante em novas deambulações com a marca CP, sou amante de viajar em comboios, lá para os lados do Reguengo Grande estou sempre à espreita que abra a linha do Oeste e anseio que o mesmo aconteça com a linha da Beira Alta para ir visitar um querido amigo a Trancoso.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (212):
Um dia na rota da cereja, Fundão e Castelo Novo


Mário Beja Santos

Deu-me para abrir no site da CP, queria fazer uma pesquisa sobre passeios organizados, logo me chamou à atenção a rota da cereja, viagem da Gare do Oriente até ao Fundão, boas-vindas por um guia da autarquia, visita ao Núcleo de Interpretação da Moagem do Centeio (reconstituição do circuito de maquinaria de processamento do cereal da antiga empresa A Moagem do Fundão), passei pelo Fundão, comes e bebes à escolha do visitante, rota da cereja, com passeio em Alcongosta, ver os cerejais em flor e seguir de autocarro para a aldeia histórica de Castelo Novo, regresso ao Fundão, mais comes e bebes à escolha do visitante e regresso até à Gare do Oriente. Gostei do preço, 49€, tive sorte com o dia, segue viagem, o Tejo está caudaloso, as Portas do Tejo, depois de Vila Velha do Ródão, deixam correr a água em cachão, tempos depois arribamos ao Fundão. Cumprimentos efusivos, o grupo segue para a moagem do centeio, era este o cereal que se dava na região, dele se guarda boa memória. Como vamos ver, todo este património está cuidadosíssimo tratado, tenho todo o gosto em exaltar o que me parece tão boa museografia e museologia.
O que estamos a ver chama-se tarara, era equipamento que servia para limpar o centeio com o apoio de um ventilador, que separava as impurezas. Tem um tambor de rede metálica com orifícios de menor diâmetro que o centeio.
Este aqui chama-se ensacadora, é maquinismo onde termina o processo da moagem. O controlo da operação era feito manualmente. O produto era conduzido pelo bico de enchimento para o saco, que era preso por uma mola ou cinta. As farinhas e as sêmolas eram embaladas em sacos de serapilheira.
Para que o visitante fique a saber o que era o sistema de moagem Austro-Húngaro
A imagem fala por mil palavras
Duas imagens de tão impressionante maquinaria
Já percorremos a avenida principal do Fundão, estamos diante da câmara, edifício que já teve outras utilidades, temos à frente vistoso pelourinho, espaço bem ajardinado, bancos ocupados por gente que veio aproveitar o dia ensolarado.
Já foi casino, agora é casa de cultura. Impressionou-me na avenida principal a remodelação do cineteatro da Gardunha, no turismo tive acesso à programação cultural no segundo trimestre de 2025, há cinema, exposições, feira ibérica de teatro do Fundão, festival internacional do Fundão, e muito mais, já que vim à procura de cerejais em flor, descobri que existe o motoclube Os Trinca Cereja.
Começou a rota da cereja, Alcongosta é um espaço de eleição. Não me resisto a transcrever de um folheto que me entregaram no turismo: “A rota da cereja é um calendário dos sentidos. Na primavera, as cerejeiras vestem-se de branco, pintando a Gardunha num espetáculo único. No verão, o verde das árvores é pontuado pelos frutos vermelhos que deliciam o paladar. No outono, os tons ocre amarelo-alaranjado das folhas inundam a serra de matizes e cores magníficas. A rota da cereja tem duas portas de entrada localizadas junto à entrada de Alcongosta e na casa da floresta de Alcongosta.” Repito que tive sorte com o dia, a semana precedente fora de dias enevoados, é um espetáculo ver-se com a ilusão de que estamos próximos da Serra da Estrela a partir da Gardunha.”
Tirei fotografias a fio, como é de prever o cerejal domina as paisagens, seguimos num daqueles comboios rodoviários, para-se nuns miradouros, contempla-se a deslumbrante paisagem sobre a Cova da Beira, que se estende até aos limites do sul da Serra da Estrela, fiquei com vontade de voltar, e percorrer Alcongosta com mais cuidado, os seus miradouros e a levada. Há para aqui nomes muito bonitos, como Ribeira da Bárbara ou Vale de Alcambar.
Prossegue a viagem até Castelo Novo, os cenários paisagísticos são deslumbrantes. Leio noutro folheto que esta aldeia histórica se abriga no regaço da Gardunha, teve origem em tempos medievos, a ribeira chama-se Alpreada, foi aliás o primeiro nome deste bastião templário que teve floral em 1202. Por aqui me passeio cheio de contentamento, e o que mais gostei nesta igreja da terra foi este agrupamento de anjinhos, devemos ter aqui nesta estatuária o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
Nunca vi uma fonte como esta, poderá ser ilusão minha ou o escultor quis fixar a concha de Santiago, é de uma impressionante singeleza.
O leitor, se assim o entender, tem aqui o essencial da história de Castelo Novo
A torre sineira domina a povoação, fica-me a dúvida se não era também Atalaia, dá para ver até dezenas de quilómetros, os templários esmeravam-se na prevenção do seu sistema defensivo, Castelo Novo deve ter conhecido um grande abandono, mas agora o visitante tem acessos seguros para andar de cima a baixo.
Já conheceu melhores dias, mas ainda é um pano de muralha que mete respeito.
Andava-se em digressão lá por cima e chegava-nos a estridência dos Dire Straits, algures havia festa rija. E havia mesmo. Um candidato a deputado apresentara-se pela sua comitiva e oferecera uns comes e bebes, quem vinha na excursão da CP beneficiou da festa, resta dizer que o pelourinho está muito bem mantido bem como a praça envolvente.
Estamos regressados ao Fundão, ainda sobra tempo para umas mastigações e beberragens. Mas não quis despedir-me do Fundão sem fotografar este lobo com que Bordalo II brindou o Fundão. E até à próxima viagem, da CP ou outra.
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Nota do editor

Último post da série de 5 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26986: Os nossos seres, saberes e lazeres (688): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (211): Visita ao novo acervo permanente no Museu Nacional de Arte Contemporânea – 2 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P27012: Facebook...ando (89): João de Melo, ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351 (1972/74): um "Tigre de Cumbijã", de corpo e alma - Parte VII: Os mercados de Bissau: de rua, central, Bandim...



Foto nº 1 e 1A  > Guiné-Bissau > Bissau > Mercado de rua  > Hora do almoço (e de dormir a sesta).. A vida é dura...


Foto nº 2   > Guiné-Bissau > Bissau > Mercado de rua  >  Sob os chapéus de sol da marca de cerveja  (portuguesa) Sagres


Foto nº 3 > Guiné- Bissau > Bissau > Bandim> Mercado de Bandim (1)


Foto nº 4 > Guiné- Bissau > Bissau > Bandim> Mercado de Bandim (2)


Foto nº 5 > Guiné- Bissau > Bissau > Bandim> Mercado de Bandim (3)


Foto nº  6 > Guiné- Bissau > Bissau > Bandim> Mercado de Bandim (4)


Foto nº 7 > Guiné- Bissau > Bissau > Bandim> Mercado de Bandim (5)

Guiné- Bissau > Bissau > Bandim> Mercado de Bandi > Um dos maiores mercados de África, uma variantee do "souk" (em árabe), dentro das "medinas"...  Um estrangeiro facilmente se perde naquele emaranhado de ruelas...

Fotos (e legendas): © João de Melo (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


João Melo (ou João Reis de Melo), ex-1º cabo op cripto, 
CCAV 8351, "Os Tigres do Cumbijã" (Cumbijã, 1972/74):


(i) é profissional de seguros, vive em Alquerubim, Albergaria-a-Velha;

 (ii) viaja regularmente, desde 2017, para a Guiné-Bissau, em "turismo de saudade e de solidariedade" (em que distribui material pelas escolas de Cumbijã, e apoia também, mais recentemente, o clube de futebol local); 

(iii) regressou há pouco tempo da sua viagem deste ano de 2025; 

(iv) fez uma visita demorada à Amura e ao atual Museu Militar. em plena zona histórica (Bissau Velho); 

(v) tem página no Facebook (João Reis Melo)

(vi) tem mais de duas dezenas e meia de referências no nosso blogue para o qual entrou em 1 de março de 2009.


1. Na sua viagem, em maio passado, de Bissau a Cumbijã, no sul, na região de Tombali, o nosso grão-tabanqueiro João Melo, passou por várias das nossas geografias emocionais... E fotografou esses lugares. Um deles é o "mercado de Bandim"... Outro o "mercado central de Bissau", reconstruído e inaugurado em 2022. Além dos pequenos mercados de rua, em Bissau. 

Dotado de grande sensibilidade sociocultural, o nosso "tigre do Cumbijã" dá-nos um fascinante retrato da Guiné-Bissau de hoje, na sua série de reportagens a que chamou "Retalhos de uma passagem pela Guiné-Bissau". Ele  está atento aos lugares e às pessoas, ao passado e ao presente, á história e ao futuro, ao património, a cultura, as paisagens...

Escreveu ele na sua página do Facebook:

"Quem se deslocar a Bissau e não fizer uma visita ao famoso Mercado de Bandim, não sentiu o que é África e muito menos o que é a Guiné!

"Neste mercado, dos maiores de África, - onde tudo o que se necessita, se encontra - dá uma sensação estranha de estarmos próximos de tudo num emaranhado de pequenas ruelas que, quem não conhecer corre o risco de se pode perder!

"Eis umas fotos da nossa última visita em maio passado."

Veja-se também os seus pequenos vídeos:

Mercado central de  Bissau

O histórico Mercado Central de Bissau, construído pelos portugueses durante o conflito armado e que albergava centenas de vendedores ambulantes com o simples objetivo de os retirar das ruas, oferecendo-lhes melhores condições, foi destruído em 1998 quando da guerra civil que assolou o país. 

Foi reabilitado em 1999 e, um incêndio em 2005 destruiu-o de novo e quase na totalidade.
Finalmente e absolutamente renovado foi inaugurado em 2022 e está, além de muito bonito, em perfeitas e higiénicas condições!

Apresento-vos um pequeno vídeo que mostra umas bancas de frutas e legumes.

Espero que gostem! Assistam ao vídeo!

(Revisão / fixação de texto: LG)
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Nota do editor

Último poste da série > 11 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27002: Facebook...ando (88): João de Melo, ex-1º cabo op cripto, CCAV 8351 (1972/74): um "Tigre de Cumbijã", de corpo e alma - Parte VI: Passando por Bambadinca, Bambadincazinho...

Guiné 61/74 - P27011: Tabanca da Diáspora Lusófona (35): O meu "Four of July", aniversário da grande Nação Americana, em que os cachorros quentes ("hot dogs") e hambúrgeres grelhados da tradição foram substituídos pelo nosso bom bacalhau (João Crisóstomo, Nova Iorque)








EUA, Nova Iorque > Queens > Casa do João & Vilma > A "máquina de cortar bacalhau" e algumas peças do núcleo museológico" do casal.

Fotos (e legenda): © João Crisóstomo  (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de João Crisóstomo, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona

Data - domingo, 6/07/2025, 23:52 (há 6 dias)

Assunto - O Meu "Four of July" 

Meus caros:

Só para dar sinal de vida…

Este poste, embora destinado primeiramente aos camaradas luso-americanos, é extensivo a todos os camaradas que, mesmo não sendo luso-americanos, façam uma visita aos nossos blogues. Pois para dar sinal de vida e dar um abraço a quem queremos bem qualquer ocasião é boa.

Os Estados Unidos estão celebrando hoje mais um aniversário e não foram circunstâncias várias (incluindo de saúde,  que os oitentas já se fazem sentir) esta ocasião seria motivo para eu passar parte do dia ao telefone tentando cavaquear um pouco com os meus camaradas luso-americanos.

Tal não me foi possível, mas no caso de os nossos editores acharem que vale a pena incluir o que segue, aqui vai com um abraço para todos.

Se tivesse tido ocasião de falar ao telefone com os meus amigos, muito provavelmente não deixaria de lhes contar como passei o meu "Four of July”. É que embora não tivesse sido nada de especial, este não deixou de ser curioso ou invulgar por ter misturado diversos sabores e lembranças,  Guiné, Eslovénia, Estados Unidos e Portugal. Mesmo arriscando ser insonso, que os meus dotes de narrador não dão para mais, deixem-me explicar:

No passado dia 22 de junho, a “Academia de Bacalhau de Long Island” festejou o seu 14º aniversário. Depois dum bom almoço, entremeado com vários brindes (“Gavião do Penacho, de bico pra cima... de bico pra baixo....vai acima ,vai abaixo…etc. etc. ";  no caso de não saberem ou não se lembrarem o que são, vejam o poste P22494 de 28 de Agosto de 2021), festejando o aniversário da Academia e dos aniversariantes do mês de junho, entre os quais eu me contava, procedeu-se ao leilão dum enorme e belo cabaz que o recheio era bom: vários chouriços; pão caseiro (bem português, feito em casa dum dos compadres, que à semelhança da Tabanca, neste caso também somos todos simples compadres, sem títulos); um presunto, duas garradas de vinho, uma caixa de bolos sortidos etc.

E, no final, o leilão dum bacalhau. Pois não querem saber que a Vilma decidiu que o bacalhau desta vez tinha de ser nosso? E lá foi cobrindo os lances, arrematando sempre até que os outros competidores acharam que estavam a perder o seu tempo e o bacalhau veio mesmo para nossa casa.

O problema foi quando cheguei a casa. "Como vou cortar agora este bacalhau em postas "?,  pensei eu. E comecei a cogitar como me desenrascar, até que me veio uma ideia : usar uma catana, cópia duma que trouxe da Guiné que tenho guardada há bastante tempo. É que nas paredes do meu apartamento constam alguns artefactos da Guiné, Timor Leste, etc., como recordações.

Entre estas recordações constava uma catana, que com as minhas várias mudanças de Pilatos para Herodes ( Inglaterra, França, Alemanha, Brasil, e USA) acabei por perder. Mas aqui há uns anos atrás um vizinho, surpreendido com o meu interesse por uma catana que ele me mostrou e me lembrava a que eu tinha trazido da Guiné, logo ma ofereceu.

 E foi a solução: com duas tábuas e um buraco que consegui perfurar no fim da lâmina da catana arranjei uma engenhoca a imitar um utensílio que tenho visto em lojas quando compro bacalhau. E deu certo…

Os cachorros quentes ("hot dogs") e hambúrgueres grelhados que são a tradição neste dia de aniversário da Nação Americana,  foram pois substituídos pelo nosso bom bacalhau. Eu até já me tinha esquecido que um dia, na véspera da Natal, em vez do "bacalhau com todos”, eu quis mostrar à Vilma que o bacalhau também podia ser cozinhado sem água, preparado apenas com azeite, camadas de cebola, bacalhau e batatas.

A Vilma gostou e foi a lembrança desse prato que a levou a arrematar com sucesso o bacalhau em leilão e a trazê-lo para casa. Que este ano o aniversário da América tinha de ser celebrado também com sabores portugueses e eslovenos. 

E assim foi. A comida eslovena foi representada por uma belíssima salada em que ela é perita: alface, "arugula" (Eruca sativa) (ou rúcula),e agriões, rodelas de cebola e ovos cozidos, "avocados" (abacate) e maçã, feijão e batata cozida…estava mesmo uma delícia. E a vertente portuguesa estava bem representada pelo prato de bacalhau que um dia lhe preparei e que ela não esqueceu mais.

Bom, eu tinha de arranjar maneira de dizer aos meus camaradas que, mesmo escrevendo pouco eu não deixo de ler e seguir com interesse o nosso querido e fabuloso blogue "Luis Graca & Camaradas da Guiné", o blogue da "Magnífica Tabanca da Linha” e de vez em quando ainda outros, perseverados com tanto carinho pelos seus editores e por tantos camaradas que os alimentam com a sua participação. Bem hajam!

De coração um abraçø grande de amizade e gratidão a todos vocês.

João Crisóstomo, Nova Iorque, 4 de julho de 2025
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Nota do editor LG:

Último poste da série > 23 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26836: Tabanca da Diáspora Lusófona (34): João Crisóstomo reconhecido, pela "Tribuna Portuguesa / Portuguese Tribune", da Califórnia, como "Personalidade do Ano 2024"... Outras nomeações: a Sousa Mendes Foundation foi a "Associação do Ano 2024" , e a inauguração do Museu Aristides de Sousa Mendes, em Carregal do Sal, o "Evento Cultural do Ano 2024".

Guiné 61/74 - P27010: Parabéns a você (2395): António Tavares, ex-Fur Mil SAM da CCS/BCAÇ 2912 (Galomaro, 1970/72)

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Nota do editor

Último post da série de 12 de Julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27005: Parabéns a você (2394): Sargento Mor Paraquedista Ref, António Dâmaso da CCP 121 e CCP 123/BCP 12 (Guiné, 1969/70 e 1972/74)

sábado, 12 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27009: In memoriam (556): Texto de homenagem, de Santos Narciso, a José Henrique Álamo Oliveira (1945-2025), escritor, romancista, poeta, autor e ensaiador de teatro (José Câmara, ex-Fur Mil Inf)

1. Mensagem do nosso amigo e camarada de armas, José Câmara, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56 (Brá, Bachile e Teixeira Pinto, 1971/73), com data de 11 de Julho de 2025, ainda a propósito do falecimento de Álamo Oliveira:

Faleceu no dia 5 de Julho o escritor, romancista, poeta, autor e ensaiador de teatro José Henrique Álamo Oliveira, natural do Raminho, Angra do Heroísmo. Tinha 80 anos de idade. O Álamo Oliveira fez a sua comissão de serviço militar na então Província Ultramarina da Guiné, se bem julgo saber no período 1969/1971.

Durante parte da sua comissão o Álamo Oliveira esteve de serviço na Rádio em Bissau, cujas transmissões chegavam aos quatro cantos da Guiné e que eram dos melhores passatempos para os militares que então serviram na Guiné.

Numa nota pessoal tive o prazer de conviver com o Álamo Oliveira durante alguns dias, quando ele em representação da Diretora das Comunidades do Governo Regional dos Açores, se deslocou aos EUA para a homenagem que então foi feita ao imigrante Alfred Luís, também este um escritor de renome. Jamais esquecerei a sua afabilidade e compreensão para comigo nessa referia homenagem.

As minhas condolências.
Descansa em Paz companheiro e amigo.

Álamo Oliveira (com a devida vénia ao autor da foto)

Devidamente autorizado pelo Sr. Santos Narciso, ex-Alferes Miliciano na Guiné, a quem agradeço, publico esta tocante homenagem ao Álamo Oliveira, que comungo.

Morreu Álamo Oliveira. 80 anos. Raminho de seu nascimento sempre no coração, verdadeira alma terceirense e espírito açoriano e universal. Homem da Palavra escrita nas suas múltiplas vertentes, do teatro à poesia, do conto ao romance, da crónica ao ensaio. Tristes pela sua partida, não ficamos mais pobres, pois a herança cultural e literária que nos deixa, é de uma riqueza que atravessará os tempos.

José Henrique Álamo Oliveira, que conheci nos tempos em que estudamos no Seminário de Angra, ele mais velho três anos, foi um arauto incansável da divulgação da cultura na sua terra, e a sua obra, os seus projectos e os seus sucessos falam por si.

Hoje é apenas dia de fazer silêncio respeitoso e de pensar que cada página que escreveu é como um mar desbravado: a palavra corre, contorna, salta em comparações inesperadas como cascatas, detém-se na adjectivação imprevista, ora doce, ora agressiva, incisiva e inquietante e espraia-se no à-vontade de quem da mesma farinha consegue fazer o pão mais saboroso e cobiçado ou o bolo mais amargo e difícil de digerir.

Agora, na outra dimensão da vida, ele verá certamente como “A Catedral estava linda”; encontrar-se-á com o “Sábio da Miragaia” ou desvendará segredos da “Marta, A Verdadeira”, ouvindo ainda “Murmúrios com Vinho de Missa”.

Neste abraço para o tempo sem limites, que este meu Amigo descanse em paz. E para sua família, sentidos pêsames.

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Nota do editor

Vd. post de 8 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26995: In memoriam (555): José Henrique Álamo Oliveira (1945-2025), poeta açoriamo e nosso camarada da Guiné (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P27008: S(C)em Comentários (75): "Filhos de tuga" ?!... Muito bem, "serão centenas, serão milhares", diz a Catarina Gomes... "Restos de tuga", diria a "Maria Turra", com sarcasmo, crueldade, desumanidade e racismo... E então os "filhos da guerra" de pais cabo-verdianos, guineenses, angolanos, moçambicanos, e quiçá goeses, macaenses e timorenses ? E os "filhos de Amílcar Cabral" ? E os filhos dos "combatentes da liberdade da Pátria" ? E os "filhos dos cubanos" ?... São "restos... de quê" ? ...Parece aqui haver também alguma ingenuidade...





Guiné > Região de Tombali > Guileje > CART 1613 (1967/68) > O Dauda "Viegas", "filho do vento" e "mascote da companhia"... Cresceu, casou, teve duas filhas, vivia  em Bissau, morreu por volta de 2009, com cerca de 45 anos... Em miúdo, em 1967/68,  vivia em Guileje praticamente com os militares, que o alimentavam e cuidavam dele... Dizia-se, na caserna, que era a cara chapada do pai.

Foto do album do nosso saudoso capitão José Neto, ex-cap SGE (1929-2007).

Foto (e legenda): © José Neto (2005). Todos os direitos reservados, [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Quantos filhos, de mulheres angolanas, guineenses e moçambicanos, e de soldados portugueses, "ficaram para trás" ? É uma pergunta dolorosa, mas tem que ser feita... Ou noutros termos: quantos "filhos de tuga" ficaram sem pai ?

Não gosto da expressão "filhos de tuga"... Nem muito menos da expressão profundamente cruel, desumana, racista, usada pelo PAIGC, "restos de tuga"...

Também não gosto da expressão "filhos do vento", da autoria do meu amigo e camarada José Saúde... 

Vejamos: Portugal mobilizou cerca de 800 mil homens para os teatros de operações da guerra colonial. Mas desses 30% eram soldados do recrutamento local, que também deixaram filhos nos sítios por onde passaram... Todos eles, brancos e negros, tinham capacidade de procriar...

Sendo africanos, mas deslocados, os eventuais filhos dos nossos camaradas oriundos de Angola, Guiné e Moçambique também seriam "mestiços" (termo genérico e mais "neutro"  para designar pessoas com ascendência de duas ou mais etnias diferentes) ... 

Mas não  teriam, tal como os filhos de portugueses da metrópole, traços do fenótipo caucasiano... Logo, seriam mais fáceis de passar "despercebidos" nas suas comunidades...  E não seriam tão facilmente vítimas de discriminação, perseguição e "bullying", com base na "cor da pele", tal como os "filhos de tuga"...

Enfim, é bom não esquecer esta realidade, complexa e sensível, da mestiçagem (filhos de um branco e de uma negra, filhos de negros de diferentes territórios e etnias, filhos de brancos e de mestiços filhos de mestiços e mestiços)...que vem complicar as nossas contas, a nossa abordagem do problema e sobretudo a procura de soluções para este "drama social" criado pela guerra...

Mas também serve para "desmistificar" muita coisa... Há filhos da guerra de pais portugueses, cabo-verdianos, guineenses, angolanos, moçambicanos, goeses, macaenses, timorenses...

Por que razão  é que falamos "apenas" dos "fidju di tuga" ?

Os americanos também tiveram esse problema... Chamaram a esses filhos bastardos da guerra "amerasians", amerasianos, "G.I. Babies" e outros "mimos", filhos de soldados americanos, brancos e agro-americanos,  e de mulheres vietnamitas, mas também cambojanas, laocianas, coreanas, tailandesas... Parte desses soldados eram de origem afro-americana (sobrerrepresentados no seio dos G.I., a "tropa-macaca" norte-americana) ... Os seus filhos teriam um fenótipo diferente...

Cabo Verde, que não conheceu a guerra, também deu homens para a guerra. Tal como Macau. E provavelmente São Tomé e Príncipe. Sem esquecer Goa, Damão e Diu, que só foi ocupada pela Índia, em finais de 1961.

Com toda a certeza, ou com base na lei das probabilidades, os 30 % de militares que integraram o "exército colonial", os guineenses, os angolanos e os moçambicanos , também espalharam alegremente o seu ADN por aquelas terras. Muitas das relações com mulheres locais, mesmo consentidas ( o que provavelmente terá sido o caso, mesmo que "assimétricas", do ponto de vista do poder) eram desprotegidas... Ainda não havia o HIV / SIDA e pensava-se que a "bala mágica", a penicilina, curava tudo (as doenças sexualmente transmissíveis).

E os cubanos que fizeram a a guerra da Guiné ? E combateram, a partir de 1975, em Angola ? E os "combatentes da liberdade da Pátria" ? Enfim, os " filhos de Amílcar Cabral"... são restos de quê...? A pergunta não ofende...Todos tinham, afinal, uma moral, "revolucionária", uns , "reacionária", outros...


2. Em Portugal (mas também em Angola, Guiné e Moçambique) nunca saberemos responder à questão: " Quantos foram, ou ainda são, os filhos dos militares portugueses, metropolitanos e do recrutamento local, que ficaram para trás ?"...

Catarina Gomes, que tem feito jornalismo de investigação nesta área (tem livros e um documentário, a passar na RTP, "Filhos de Tuga"), diz que não sabe: fala numas centenas, que podem ser uns milhares... 

A associação guineense "Fidju di Tuga" tem 50 membros

A Embaixada Portuguesa em Bissau nunca fez, ao que saibamos, nenhum levantamento de pessoas (hoje na casa dos 50/60 anos) com eventual origem portuguesa, filhos de militares portugueses, que passaram pela Guiné, entre 1961 e 1974... Tem nunca saberemos os que já morreram, como o Dauda, ou  foram vítimas de infanticídio.

Acho que temos que voltar à "guerra do Vietname", revisitar o drama dos "children of the dust", os "amerasians", cujo númeo se estima em 25 mil / 50 mil... 

(Continua)

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 Nota do editor LG. : 

Guiné 61/74 - P27007: A Nossa Poemateca (10): Ovídio Martins (Mindelo, 1928 - Lisboa, 1999), um grande poeta cabo-verdiano bilingue


Ovídio Martins
(1928-1999)

1. Nos 50 anos da independência de Cabo Verde , temos de dar também a palavra aos poetas. Ovídio Martins (Mindelo, 1928 - Lisboa, 1999) é a nossa escolha para a série "A Nossa Poeemateca".

Ovídio Martins (1928-1999) é considerado um dos poetas cabo‑verdianos de referência do século XX.  Claro que há outros que teriam de figurar numa antologia da poesia de Cabo Verde. Citemos, por exemplo:

  • Baltasar Lopes da Silva  (pseudónimo Osvaldo Alcântara) (1907-1989): um dos fundadores da revista "Claridade", historicamente um marco na literatura cabo-verdiana ao procurar valorizar a identidade e a realidade das ilhas. Poeta, prosador, ensaísta, é uma referência maior da cultura cabo-verdiana do séc. XX: "Chiquinho" é um romance incontornável para quem se quiser iniciar na literatura cabo-verdiana.
  • Jorge Barbosa (1902-1971): também outro "Claridoso" (figura central do movimento "Claridade"),  a sua poesia faz-se da melancolia e do isolamento do arquipélago, mas também da esperança e da resiliência do povo cabo-verdiano.

  • Manuel Lopes (1907-2005): outro  cofundador da "Claridade",  explorou, em prosa e poesia, temas como a seca, a emigração e a vida rural em Cabo Verde.  Obras de ficção como "Os Flagelados do Vento Leste" e "Chuva Braba" são obras de referência do romance  cabo-verdiano, abordando a resiliência e o sofrimento dos ilhéus face às adversidades. Menos conhecida é talvez a sua obra poética:  "Poemas de Quem Ficou", "Crioulo e Outros Poemas" e "Falucho Ancorado"... Viveu grande da vida em Portugal, mas nunca cortando o cordão umbilical com a sua terra.

  • Corsino Fortes (1933-2015): já de outra geração, o autor de "Pão & Fonema" e "Árvore & Tambor", trouxe uma linguagem mais moderna e política para a poesia cabo-verdiana.
  • Arménio Vieira (n. 1941): Prémio Camões (2009), é o mais conhecido internacionalmente; voz muito original, também de outra  doutra geração,  explora questões mais  existenciais e metafísicas, afastando-se dos temas mais tradicionais e insulares da literatura cabo-verdiana, inaugurados com a "Claridade" (1936).

Com exceção de Jorge Barbosa e Arménio Vieira,  nascidos na Praia, os restantees são todos nados e criados na capital cultural de Cabo Verde, Mindelo, onde surgiu o movimento "Claridade" (a que Jorge Barbosa também está profundamente ligado). Desta revista literária, "Claridade", sairam nove números, entre 1936 e 1960.

E, en passant, não podemos esquecer o pai da morna, Eugénio Tavares (1867-1930), um dos primeiros a utilizar e valorizar o crioulo como língua literária. Nem o expedicionário em São Vicente, na II Guerra Mundial, o furriel miliciano, leiriense,  Manuel Ferreira (1917-1992),  que se irá tornar um grande apaixonado, estudioso, crítico e divulgador da literatura cabo-verdiana: tem 15 referências no nosso blogue;  mais tarde,  capitão SGE,  será também ficcionista, autor de "Hora di Bai" (romance) e de "Morabeza" (contos).

2. Mas voltando a Ovídio Martins... A sua poesia  é reconhecida pela força militante,  intervenção cívica, crítica ao colonialismo e  afirmação da  identidade cabo‑verdiana. Mas também pelo lirismo amoroso.  Foi um escritor bilingue (português e crioulo de São Vicente). Faz a transição entre a poesia militante e a afirmação da cabo-verdianidade. 

Sobre Ovídio Martins, importa referir algumas breves notas biográficas:
´
(i) nasceu em Mindelo, ilha de São Vicente,

(ii) fez o liceu Gil Eanes onde teve como o professor Baltazar Lopes;

(ii) frequentou o curso de Direito em Lisboa, entretanto interrompido por razões de saúde; na sequência do tratamento começou a sofrer de surdez:

(iii) empenhou-se na luta (política) pela independência, foi amigo de Amílcar Cabral, quatro anosais velho, e membro do PAIGC;

(iv) preso pela PIDE, exilou-se nos Países Baixos;

(v) voltou à sua terra, com o 25 de Abril, onde trabalhou no ministério da educação;

 (vi) morreu em Lisboa, em 1999, vítima de doença neurológia.

 
Principais obras:

  • Caminhada (Lisboa, 1962), primeira coletânea de poemas.
  • Tchutchinha (1962) – conto/novela, editada em Angola 
  • 100 Poemas – Gritarei, Berrarei, Matarei – Não vou para Pasárgada (1973) (reunindo poesia em ambas línguas, incluindo temas de resistência e exílio);
  • Independência (1983)(reflete o período pós‑independência)

Eis uma seleção nossa, de poemas da obra "Caminhada" (1963)

 
o único impossível 

Para Baltazar Lopes 

Mordaças 
A um Poeta? 

Loucura! 

E por que não 
Fechar na mão uma estrela 
O Universo num dedal? 
Era mais fácil
Engolir o mar
Extinguir o brilho aos astros 

Mordaças 
A um Poeta? 

Absurdo! 

E por que não 
Parar o vento
Travar todo o movimento?
Era mais fácil deslocar montanhas com uma flor 
Desviar cursos de água com um sorriso 

Mordaças 
A um Poeta? 

Não me façam rir!... 

Experimentem primeiro 
Deixar de respirar 
Ou rimar... mordaças 
Com Liberdade

desesperança

Cinco séculos depois
do
achamento de Cabo Verde


Sol ou mar
Chuva ou música
Sejas tu uma cadência
ou uma noite que se perdeu
Traz nos teus braços
a distância
que nos separa
do sonho impossível
Olhos cheios de secas
e de oceanos
Cheios de mornas
e de pouco milho
As promessas viraram cansaço
e já nem as luas acreditam
Sol ou mar
Chuva ou música
Para vós as glórias do achamento
Para nós os sonhos em ampulhetas



chuva em cabo verde


Choveu


Festa na terra
Festa nas Ilhas
Soluçam os violinos choram os violões
nos dedos rápidos dos tocadores
«Dança morena
dança mulata
menininha sabe como vocês não tem»
E elas sabinhas
dão co’as cadeiras
dão co’as cadeiras


Choveu


Festa na terra
Festa nas Ilhas
Já tem milho pa cachupa
Já tem milho pa cuscus
Nas ruas
nos terreiros
por toda banda
as mornas unem os pares nos bailes nacionais
Mornas e sambas
mornas e marchas
mornas mornadas


Choveu


Festa na terra
Festa nas Ilhas
que cantam e dançam e riem
e choram de contentamento
Soluçam os violinos choram os violões
nos dedos rápidos dos tocadores
«Dança morena
dança mulata
menininha sabe como vocês não tem»
E elas sabinhas
dão co’as cadeiras
dão co’as cadeiras
dão co’as cadeiras



nôs môrte


Quem ê q’morrê
qond quel navio
desaparecê
na mar de canal?


Nós tude morrê um c’zinha

Quem ê q’morrê
qond quel bôte
tcheu de pêscador
perdê na nôte?

Nós tude morrê um c’zinha

E quel carta de lute
quem ê q’morrê
qond tchgá noticia de Son T’mê

Nós tude morrê um c’zinha


A nossa morte

Quem é que morreu
quando aquele navio
desapareceu
no mar do canal?

Todos nós morremos um bocadinho...

Quem é que morreu
quando aquele bote,
cheio de pescadores,
se perdeu na noite?

Todos nós morremos um bocadinho...

E aquela carta de luto,
quem é que morreu
quando chegou a notícia de São Tomé?

Todos nós morremos um bocadinho...


 


cretcheu


Calá, ca bô tchôra más 
’n ta tróbe um morninha 
que ta dobe ’ligria e paz 
que ta pobe sorrise na boca 

Calá ca bô tchora más 
nha amor ê forte carditá 
nha violão ê más doce 
q’cónte de seréna ta pintiá 

Calá ca bô tchora más 
bô ê morna morna ê bô 
e s’m perdebe mi era capaz 
de perdê tine perdê nha vida.

Cretcheu

Cala-te, não chores mais,
vou-te fazer uma morninha
que te traga alegria e paz
e te põnha  um sorriso nos lábios.

Cala-te, não chores mais,
o meu amor é forte, acredita,
e o meu violão é mais doce
do que um conto de sereia consegue  pintar.

Cala-te, não chores mais
tu és morna, morna és tu
e, se eu te perder, 
eu seria  capaz de perder o tino 
e perder a minha vida.

 


um r’bêra pa mar 

Tem um r’bêra ta corrê pa mar... 
R’bêra sem ága 
má tcheu de dor e raiva 
de desuspêre e agonia 
El ta tcheu de sperança
 inganóde e de promessa inrolóde na fume 

Tem um r’bêra ta corrê pa mar
R’bêra sem ága 
ma’l tem sangue 

Sangue daquês que morrê na terra-longe 
na traboi scróve 

Sangue daquês q’caí de rotcha 
pa ca morrê de fôme 

Sangue d’irmon que matá irmon 
pa inganá és dstine de séca 
dstine qu’ês marróne 
má dstine  que nó ca qrê 

Tem um r’bêra ta corrê pa mar...



Uma ribeira para o mar

Há uma ribeira que corre para o mar...
Ribeira sem água,
mas cheia de dor e raiva,
de desespero e agonia.
Está cheia de esperança,
enganosa e de promessas enroladas em fumo.

Há uma ribeira que corre para o mar,
ribeira sem água,
mas que tem  sangue.

Sangue daqueles que morreram na terra-longe,
em trabalhos escravos.

Sangue daqueles que caíram dos penhascos
para não morrer de fome.
Sangue de irmão que matou irmão
para enganar esse destino da seca,
destino a quer estamos amarrados,
mas é um destino
que nós não queremos.

Há uma ribeira que corre para o mar...



morabeza 

’M tá gostá de bô ser 
um spêce de porte d’abrigue 
Qond tempôral b’tasse mim 
dum conte pa ote 
’m tá tem certéza 
na bô morabéza: 
dôs bróce quente pa quecême 
dôs oi monse pa serenóme 
e um boca doce pa calentóme


Morabeza


Gosto que tu sejas
o meu  porto de abrigo
Quando a tempestade me sacode
de um lado para o outro,
eu tenho a certeza
da tua morabeza:
dois braços quentes para me aquecer
dois olhos mansos para me acalmar
e uma boca doce para me acalentar



In:  "Caminhada". 1ª edição. Lisboa:  Casa dos Estudantes do Império. Colecção de Autores Ultramarinos,  1963 (disponível em https://www.uccla.pt/sites/default/files/caminhada.pdf )


(tradução para português europeu,   com recurso à IA, revisão, fixação de texto, pontuação, na coluna do lado direito: LG... E a generosa supervisão  do jornalist, radialista e escritor, e nosso camarada de Cabo Verde, Carlos Filipe Gonçalves)







Fonte: (1975), "Diário de Lisboa", nº 18807, Ano 55, Sábado, 5 de Julho de 1975, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_4405 (2025-7-12) (com a devida vénia...)


 

Guiné 61/74 - P27006: Convívios (1039): Rescaldo do XLIV Convívio do pessoal da CCAV 2639, levado a efeito no passado dia 21 de Junho de 2025, em Azoia - Leiria (António Ramalho, ex-Fur Mil Cav)


1. Mensagem do nosso camarada António Ramalho (ex-Fur Mil At Cav da CCAV 2639, Binar, Bula e Capunga, 1969/71), com data de 11 de Julho de 2025:

Caro Luís, bom dia!
Espero que estejas bem assim como a tua família e os restantes Tabanqueiros.
Quando for oportuno agradeço-te que insiram no nosso blogue as imagens do nosso último encontro em Azóia, Maceira, Leiria, no passado dia 21/6/2025.
Desta vez o número de presenças foi muito reduzido, uns por questões pessoais, familiares ou de saúde.
Infelizmente alguns já partiram, contudo há uma nota que gosto sempre de realçar, regressamos todos os que embarcaram no UÍGE, com destino à Guiné, em 1969.
Para uns as suas melhoras, que regressem com brevidade, para os que já partiram que repousem em Paz!
O camarada José Pernão, 1.º Cabo Cripto, um elvense de gema, substitui com o seu Corno Africano, o Clarim João Linguiça, que não compareceu, no toque de reunir para o "rancho", bons momentos!
O camarada Rui Veríssimo propôs-se organizar o próximo encontro, vamos aguardar!

Um forte abraço para todos
António Ramalho (757)

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Nota do editor

Último post da série de 3 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26877: Convívios (1038): Fotorreportagem do 61º almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, Algés, 29 de maio de 2025 (Manuel Resende / Luís Graça ) - Parte IV

Guiné 61/74 - P27005: Parabéns a você (2394): Sargento Mor Paraquedista Ref, António Dâmaso da CCP 121 e CCP 123/BCP 12 (Guiné, 1969/70 e 1972/74)

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Nota do editor

Último post da série de 9 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26996: Parabéns a você (2393): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 2412 (Bigene, Binta, Guidage e Barro (1968/70) e Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa e Empada, 1968/70)