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sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27077: Os nossos seres, saberes e lazeres (693): Excertos do "meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983" (António Graça de Abreu) - Parte XIII: Visita de um delegação militar portuguesa, chefiada pelo general da FAP., Conceição e Silva (1933-2021)




República Popular da China > Pequim > s/d (c. 1977/83) > O António Graça de Abreu
na praça Tianamen [ou Praça da Paz Celestial]


Foto (e legenda): © António Graça de Abreu (2008 ). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Grça & Camaradas da Guiné]


1. Excertos do "meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983" (António Graça de Abreu, ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto / Canchungo, Mansoa e Cufar, junho de 1972/abril de 1974; sinólogo, escritor, poeta, tradutor; tem mais dde 375 referências no blogue; texto enviado em 26 de julho de 2025, 18:12)


Pequim, 20 de Maio de 1981 > Visita de um delegação militar portuguesa

por António Graça de Abreu


Está cá uma delegação de militares portugueses. Visitam a China e uns tantos aquartelamentos modelo a convite do Exército Popular chinês. 

Entre os nossos, vem um tenente-coronel da Fábrica Militar de Braço de Prata com um dossiê na busca de contactos e negócios da China. Mais militares portugueses, no fundo das malas trazem catálogos sobre venda de armamento made in Portugal

Tenho sérias dúvidas de que se consiga vender uma só munição aos chineses que estão entre os maiores fabricantes de armas do mundo. Este convite terá talvez mais a ver com a intenção chinesa de conhecer o que se faz em Portugal e de serem eles a vender-nos armas, e não a comprar.

Hoje fui ao Hotel Pequim almoçar com os nossos oito militares. Conversa entusiasmante e inteligente, até meteu as Guerras do Ultramar, em que todos participámos, eu como alferes n
a Guiné- Bissau, 1972/74.

Fiquei sentado ao lado do general Conceição e Silva  [1933-2021], da  Força Aérea e
chefe da delegação militar portuguesa. 

Rodeando a nossa mesa redonda com nove lugares, as empregadas de mesa desdobravam-se em cuidados para nos servir. Traziam travessas de comida fragrante e colorida, rodopiavam, enchiam delicadamente os copos. Pedi uma garrafa de Maotai [ou Moutai],  a aguardente de sorgo mais famosa da China que do alto dos seus 53 graus de álcool inebria e faz flutuar qualquer simples mortal.

Alguns dos militares lusitanos deglutiam em pequenos sorvos o Maotai e bebiam com os olhos as moçoilas chinesas, entrapadas numas rígidas fardetas brancas. 

Disse ao general Conceição e Silva:

− Ah, estas mulheres são lindas! Bem vestidinhas, eram uma maravilha!

O general, que não estava interessado em roupas e adereços, respondeu de imediato: 

− Bem vestidinhas?... Bem despidinhas, meu caro amigo!.

(Revisão / fixação de texto, título, parênteses retos, negritos, links: LG)

_________________

Guiné 61/74 - P27076: Felizmente ainda há verão em 2025 (5): afinal, Vila do Conde é um dos pontos-chave do Caminho Português da Costa que leva a "pelingrina" italiana a Santiago... (Virgílio Teixeira)



Vila do Conde, Caminho Português da Costa, na rota de Santiago... 31 de julho de 2025 ...Uma selfie do quase-pelingrino Virgílio Teixeira...

Foto: Vt (2025). Direitos reservados


Texto e foto enviados pelo Virgílio Teixeira (ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69; é  do Porto, com gosto; vive em Vila do Conde, a contra-gosto)


Data - 31 de julho de 2025 | 16:11

Assunto - P27074 - Férias Devido à Canícula


"Há, por fim, uma crise de inspiração e transpiração... Vamos ter que põr ar condicionado na Tabanca Grande, sob pena da Alta Autoridade para as Condições de Trabalho mandar fechar o estaminé" (*)


Claro, vai ter que haver um tempo de espera, como o Solnado dizia, vamos parar a guerra para a gente poder descansar...

O Ar condicionado fica em "stand by". Não gosto de ar frio, os dentes sofrem e já tenho poucos.

De qualquer modo,  isto não está nada saudável, mas cá pela minha porta por vezes vai aos 30º;  à noite, se não houver nortada, fica pelos 20º e chega. Com a nortada vai aos 17º.

Temos de ter alguns privilégios, eu não me importo com o calor, e ainda visto, quando saio, um colete fino com bolsos para por toda a tralha.

Na noite anterior quando acordo lá para as 10h00, olho está tudo fechado e estou sozinho!!!

Lá fui procurar pelos quartos virados a Norte e lá estava a minha Manuela a dormir no nosso segundo quarto, conforme os climas.

Esta noite passamos definitivamente a Norte e deixamos o Sul, de muito calor, para mim não!

Qualquer dia aparecem por aí os "Ocupas" e dizem que tenho quartos a mais e tomam conta de 3 vazios.

Viva o Verão e o resto é conversa.

Hoje de manhã, 12 e tal, quando vou comprar o pão, fui sondado por uma "peregrina" que estava hoje na Vila e amanhã vai para Viana etc.... Uma hora de conversa, já soube da história toda dela, italiana, 52 anos, sozinha, professora de Ginástica.

Cuidado,  que já não tenho pedalada para ginasticar muito. Tiramos fotos, depois mando uma, despedimo-nos com um longo abraço e muitos beijinhos.


Fim da história

Abraços,

Virgilio

2025-07-31

PS - A minha filha mais velha faz hoje 26 anos de casada, anda pelos Algarves....


2. Comentário do editor LG: Virgílio, obrigado pelo tua crónica, levezinha, fresquinha ( pela brisa do mar)  e sobretudo bem humorada. (A gente agora o que precisa é de amor & humor.)

Contra a canícula, marchar, marchar!... Gosto da tua atitude, positiva, respondendo ao desafio dos editores, vítimas da canícula e da penúria de colaborações, em chegando o verão.

 Por causa da "pelingrina" (como se dizia em medievos tempos), e para mais italiana, e para mais sozinha, e para mais ainda "ginasticada", fui descobrir que tu estás aí, em Vila do Conde (terra de que não gostas), num dos pontos-chave do Caminho Português de Santiago, o Caminho da Costa. Eureca!, juro que não sabia.

Fui consultar o "Sabe-Tudo", o meu assistente de IA, que me informou:. 

(i) Vila do Conde é de facto um dos pontos-chave no Caminho Português de Santiago, mais especificamente no chamado Caminho da Costa. 

Este itinerário é cada vez mais popular entre os "pelingrinos", tanto portugueses como estrangeiros, por combinar paisagens atlânticas deslumbrantes, riqueza histórica e hospitalidade local.

Aqui estão alguns pontos relevantes sobre Vila do Conde no contexto do Caminho:

(ii) Vila do Conde no Caminho da Costa:
  • localização estratégica: Vila do Conde situa-se entre Porto e Esposende, sendo um dos primeiros grandes núcleos urbanos após os "pelingrinos" deixarem a cidade do Porto,  rumo a Santiago de Compostela;
  • integração no Caminho da Costa: este caminho segue a linha do litoral atlântico e é uma alternativa ao Caminho Central; tem ganho popularidade devido ao clima mais ameno, vistas sobre o mar e menor densidade de "pelingrinos".
(iii) Património e espiritualidade
  • Mosteiro de Santa Clara: imponente edifício do século XIV, com grande valor arquitetónico e simbólico no Caminho; a sua silhueta domina a cidade e inspira muitos "pelingrinos" (como terá sido o caso da tia italiana...).
  • Aqueduto de Vila do Conde: um dos maiores de Portugal, com cerca de 4 km; cruza o percurso dos caminhantes e é um marco fotogénico.
  • Igreja Matriz de São João Baptista: de origem medieval, é outro ponto de paragem e reflexão para muitos "pelingrinos".
  • Albergues e apoio: a cidade dispõe de várias estruturas de apoio aos "pelingrinos",  incluindo albergues municipais e privados, bem como cafés e restaurantes acolhedores.
(iv) Um caminho de beleza atlântica

Caminhar por Vila do Conde é ter mar, rio (o Ave) e património urbano histórico, tudo num só troço.

As praias e os passadiços de madeira ao longo da costa tornam o percurso particularmente agradável e tranquilo. Muitos "pelingrinos" aproveitam para descansar aqui, pernoitar e apreciar a gastronomia local.

(v) Caminhos alternativos e confluência de rotas: em Vila do Conde, os "pelingrinos" podem optar por seguir:

 Fonte: Pesquisa: ChatGPT / LG | Revisão / fixação de texto, negritos,  links:  LG

3.  Comentário do editor LG: 

Virgílio, não publiquei a tua foto com a "pelingrina" italiana, não tanto por ela (que não nos deu autorização por escrito), como sobretudo por ti: prometi proteger a tua privacidade... e sobretudo a tua família...  Por isso na "selfie" apareces só tu, e estás muito bem, com bom ar, de chapéu de palha

Eles/elas, lá em casa, a começar pela tua Santa Manuela, sabem que és muito generoso e impulsivo...Já estava a ver que te esquecias do recado (ir à padaria buscar o pão para o almoço!) e te oferecias para mostrar à "pelingrina" (e ainda por cima italiana...)  o caminho até Santiago... 

Bolas, que me assustaste!... É uma operação para uma semana e tal, duas semanas, ainda são uns 270 km,  a penantes!... Já viste a falta que depois fazias ? Lá em casa e aqui no blogue ?!...

E eu não quero que a tua Santa Manuela  te interprete mal, te dê com o rolo da massa, e te ponha a dormir no quarto Sul...Felizmente que ela não vê o blogue ( e só foi uma vez, por engano, á Tabanca de Matosinhos)... 

PS - Parabéns, por outro lado,  à tua filha, bem casada.

Em italiano de praia:

Virgilio, vedo che, dopotutto, anche la tua (seconda) terra, Vila do Conde, ha il suo fascino: hai appena "scoperto" il Cammino di Santiago..., il santo devoto di altri nostri amici come Paulo Santiago e Abílio Machado... Ma fai attenzione alle pellegrine italiane, soprattutto se da sole e istruttrici di ginnastica... E stai attento soprattutto al mattarello ("rolo da massa") di Santa Manuela... Ciao, arrivederci, buon agosto e buon incontri...

P.S. D'altra parte, congratulazioni a tua figlia per il bel matrimonio.

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Nota do editor LG:

(*) Último poste da série > 31 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27074: Felizmente ainda há verão em 2025 (4): alzheimareados com a canícula...

quinta-feira, 31 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27075: Os nossos seres, saberes e lazeres (692): Excertos do "meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983" (António Graça de Abreu) - Parte XII: Gegen Tala, Mongólia Interior, 11 de maio de 1981





República Popular da China > Gegen Tala, Mongólia Interior > Aldeia de Xilinhot >  11 de maio de 1981 > O autor, à direita,  com uma família mongol

Foto (e legenda): © António Graça de Abreu (2025 ). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Grça & Camaradas da Guiné]


1. Excertos do "meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983" (António Graça de Abreu, ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto / Canchungo, Mansoa e Cufar, junho de 1972/abril de 1974; sinólogo, escritor, poeta, tradutor; tem mais dde 375 referências no blogue;
texto enviado em 26 de julho de 2025, 18:12)


Excertos do meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983 >  
Gegen Tala, Mongólia Interior, 11 de maio de 1981

por António Graça de Abreu

Uma semana viajando. Primeiro num Antonov velhíssimo, pouco maior do que os nossos DC 3 que conheci na Guiné, voando de Pequim para Huhote, a capital da Mongólia interior chinesa. 

Depois, de jipe, mais 250 quilómetros de estrada (?) algum alcatrão e, de seguida, por caminhos de cabras e de camelos, aproveitando-se as pistas dos leitos secos dos rios até estas paragens isoladas de Gegan Tala, a pradaria distante, já muito próxima da fronteira com a república da Mongólia. 

As terras mongóis em estado puro, a aldeia de Xilinhot onde fico,  tem iurtas de verdade e casas de adobe, existem rebanhos, camelos e cavalos, e até um pequeno mas extraordinário -- pelo seus murais e pequenos budas --, templo lamaísta tibetano-mongol. 

Fui almoçar a casa de uma família mongol, só a
filha mais velha falava mandarim e serviu de intérprete.  
Gente perdida, surreal, real, nas estepes dos confins do mundo. Não os vou esquecer imortalizados em fotografia comigo. Reparem no pormenor das galochas do rapazinho, gente pobre de uma enorme dignidade.

Escrevi:

Depois da Grande Muralha e da Manchúria,
eis a Mongólia!
Viajo no início do Verão por estradas de terra
e caminhos agrestes no leito seco de rios,
chego no fim da manhã à aldeia de Xilinhot.
As iurtas brancas
suspensas no castanho e verde do horizonte,
casas dispersas, um templo budista,
a erva ainda molhada pelo orvalho da noite,
o ar leve e fino,
silêncios cinzentos de chumbo,
a terra fresca, a pradaria imensa.

Monto um cavalo de vento
e parto à desfilada,
sem sela,
sem rédeas,
sem destino.

____________

Nota do editor:

Último poste da série > 26 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27056: Os nossos seres, saberes e lazeres (691): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (214): Casal de S. Bernardo, Alcainça, gratas lembranças do Filipe de Sousa – 1 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P27074: Felizmente ainda há verão em 2025 (4): alzheimareados com a canícula...














Lourinhâ > Praia da Areia Branca, a caminho do Vale de Frades e de Paimogo > 26 de julho de 2025 > Paisagens jurássicas que fazem parte da "Formação Lourinhã"

(...) "Formação Lourinhã é uma formação geológica localizado no oeste de Portugal, nominada em homenagem ao concelho de Lourinhã. 

"A formação é da idade do Jurássico Superior, e tem notável semelhança com a formação Morrison nos Estados Unidos da América e com as camadas de Tendaguru na Tanzânia. (...) 

"Além de abundante fauna fóssil sobretudo de dinossauros (...) comprovada pela ocorrência de ossos, a Formação Lourinhã também tem numerosas pegadas (...)". Fonte: Wikipedia.

Fotos (e legenda): © Luís Graça 2025). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Há uma crise de colaborações no blogue quando chega a canícula e o pessoal vai para banhos... 

Há também uma crise da habitação: as "datchas" estão sobrelotadas... Logo não há férias para os antigos combatentes: a guerra acabou, estão desempregados...Mas a guerra nunca acaba para quem andou nela... É como estas paisagens jurássicas da "formação Lourinhã": são restos (violentíssimos) de outras batalhas com 163,5 milhões a 145 milhões de anos.

Há, por fim, uma crise de inspiração e transpiração... Vamos  ter que põr ar condicionado na Tabanca Grande, sob pena da Alta Autoridade para as Condições de Trabalho mandar fechar o estaminé...

Andamos, por isso,  para aqui a recuperar algumas "pichagens" nos muros da Tabanca Grande.  Algumas podem ofender a moral pública...O leitor terá que decidir se tem 18 ou mais para as ler. 

Já sabíamos, desde os "saudosos" (para alguns) tempos da Guiné, que a guerra tem de parar quando o termómetro chega aos 40 graus centígrafos... Façamos, por hoje, e se calhar nos próximos dias, uma paragem na guerra. 

Recusamo-nos a combater por falta de condições bélicas...


1.1. Mr. Joseph Belo (s/l, s/d), régulo sempiterno da Tabanca da Lapónia (a tal que é de um homem só, e que agora corre o risco, por abandono do posto de sentinela, de ir parar ás mãos dos "ocupas", com a crise da habitação que também já chegou àquelas bandas).

(,..) Nem tudo deverá ser levado demasiadamente “a sério” quando apresentado em inocentes pósteres vindos de…longe!

A este respeito o saudoso escritor José Cardoso Pires comentava, em roda de amigos, nas noites de 1974/1975 no lisboeta "João Sebastião BAR" , referindo-se a algumas das auto-importantes personalidades do Conselho da Revolução:

“Alguns papagaios julgam-se em pleno Amazonas quando o dono lhes coloca um ramo de salsa nas grades da gaiola “.

Tudo mais não terá (neste tipo de pósteres de Verão) que a levíssima , e fresca, importância que lhes damos. (...)


 1.2. Há quem se tenha preocupado, ultimamente, com  o  estado de saúde mental do blogue, de quem o faz, de quem o (e)dita, e até de quem o lê... Alguém insinuou que quem o (e)dita, podia andar, com este calor todo,  já  meio "alzheimareado". 

O assistente de IA, o "sabe-tudo", não soube responder : a estas duas perguntas elementares

(i) o que quer dizer o raio do vocábulo  "alzheimareado" ?; e

(ii) onde vem grafado ? 

Respondeu, solícito, diligente, o "sabe-tudo":

(...) Encontrei um único registo escrito do termo “alzheimareado” num blogue português, usado como expressão coloquial e carregado de humor negro, destacando um comentário que associava estar “alzheimareado” a tornar-se “parkinsónico e alzheimareado” como uma espécie de crítica jocosa à memória falível blogueforanadaevaotres.blogspot.com.

Isso sugere que o vocábulo surgiu em contexto informal e comunitário — especificamente num blogue sobre memórias da Guiné, onde se listam termos depreciativos de forma metafórica: “protésico, radioativo, parkinsónico e alzheimareado” blogueforanadaevaotres.blogspot.com.

Não foi possível encontrar outras ocorrências em plataformas públicas, como dicionários ou redes sociais, o que indica que o termo ainda é muito raro e não difundido. (...)


1.3. O que o (e)dita, escreveu na legenda de um foto do avião  DO-27 (Poste P27070) algo que pode ser interpretado como um sintoma de quem anda já "alzheimareado", talvez com o desconforto térmico da canícula do verão:


(...) Era uma aeronave que  adorávamos  quando nos trazia de Bissau os frescos e a mala do correio ou, no regresso, nos dava boleia até Bissau, para apanharmos o avião da TAP e ir de férias... 

Era uma aeronave preciosa nas evacuações (dos nossos feridos ou doentes, militares e  civis)... 

Era um "pássaro" lindo a voar nos céus da Guiné, quando ainda não havia o Strela...

Em contrapartida, tínhamos-lhe, nós, os "infantes",  a "tropa-macaca", um "ódio de morte" (sic) quando se transformava em PCV (posto de comando volante) e o tenente-coronel, comandante do batalhão, ou o segundo comandante,  ou o major de operações,  ia ao lado do piloto, a "policiar" a nossa progressão no mato... e a denunciar a nossa posição no terreno!

Quando nos "apanhavam" e ficavam à nossa vertical, era ver os infantes (incluindo os nossos "queridos nharros") a falar, grosso, à moda do Norte, com expressões que eram capazes de fazer corar a púdica da Maria Turra:

"Cabr*es..., filhos da p*ta..., vão lá gozar pró car*lho..., daqui a um bocado estamos a embrulhar e a levar nos c*rnos!...". (...)

(Revisão / fixação de texto: LG)

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Nota do editor LG:

Último poste da série > 30 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27072: Felizmente ainda há verão em 2025 (3): recordando o meu esforçado, voluntarioso, amável , efémero e... clandestino professor de pilotagem do DO-27, o "Pombinho", que veio expressamente do Brasil para assistir ao lançamento do nosso livro "Nós, as enfermeiras paraquedistas", em 26/11/2014, no Estado Maior da Força Aérea, em Alfragide (Maria Arminda Santos, Setúbal)

Guiné 61/74 - P27073: Parabéns a você (2402): Manuel Augusto Reis, ex-Alf Mil Cav da CCAV 8350/72 (Guileje, Gadamael, Quinhámel, Cumbijã e Colibuia, 1972/74)

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Nota do editor

Último post da série de 30 de Julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27069: Parabéns a você (2401): Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Médico da CCS/BCAÇ 2930 e CCAÇ 6 (Catió e Bedanda, 1970/72); Júlio Costa Abreu, ex-1.º Cabo CMD do Grupo Centuriões (Guiné, 1964/66) e Victor Tavares, ex-1.º Cabo Caçador Paraquedista da CCP 121/BCP 12 (Guiné, 1972/74)

quarta-feira, 30 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27072: Felizmente ainda há verão em 2025 (3): recordando o meu esforçado, voluntarioso, amável , efémero e... clandestino professor de pilotagem do DO-27, o "Pombinho", que veio expressamente do Brasil para assistir ao lançamento do nosso livro "Nós, as enfermeiras paraquedistas", em 26/11/2014, no Estado Maior da Força Aérea, em Alfragide (Maria Arminda Santos, Setúbal)

 




Foto nº 1A e 1


Foto nº 2

Amadora > Alfragide > Auditório do Estado‑Maior da Força Aérea > 26 de novembro de 2014 > Sessão de lançamento do livro "Nós, Enfermeiras Paraquedistas", coordenado por Rosa Serra e prefaciado por Adriano Moreira, cerimónia presidida pelo Vice‑Chefe do Estado‑Maior da Força Aérea, Tenente‑General Rui Mora de Oliveira. 

O livro foi publicado em 2014 pela editora Fronteira do Caos (Porto). Contudo, a apresentação oficial teve lugar no dia 26 de novembro de 2014, em Alfragide. 

Nas fotos, a Maria Arminda, um das coautoras, e o comandante Pombo, que veio expressamente do Brasil para assistir a este evento...(É nosso grão-tabanqueiro nº 752.)  

Na foto nº 2 vê-se em segundo plano o major general pqdt Avelar de Sousa (que esteve na Guiné, no BCP 12, como comandante da CCP 123, 1970/71,  tendo sido mais tarde  ajudante de campo, entre 1976 e 1981, do gen Ramalho Eanes, 1º presidente da república eleito democraticamente no pós 25 de abril.)


Fotos (e legenda): © Maria Arminda Santos  (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Maria Atminda Santos
 (n. 1937)

1. A Maria Arminda a quem telefonei esta manhã por causa do seu efémero "professor" de pilotagem do DO-27, o "Pombinho" (*), e que estava a fazer a sua fisioterapia (acaba de ser submetida, com êxito, a uma artroplastia total da anca...), teve a gentileza, logo que chegou a casa, de me mandar  duas fotos do capitão piloto reformado, José Luís Pombo Rodrigues (1934 - 2017), um nome lendário da nossa FAP e da Base Aérea de Bissalanca, Bissau, Guiné... 

Ele foi o seu esforçado, voluntarioso e amável, se bem que efémero, professor de pilotagem de DO-27, nos idos anos de 1963...Um  segredo bem guardado, até 2014,  por ela (e pela Zu, a Zulmira, que Deus já lá tem). Infelizmente, o número de aulas (teóricas e práticas) foi curto, e depois cada um foi à sua vida... 

Em 2014, o "Pombinho" veio expressamente do Brasil, onde vivia, para assistir, em 2014, à sessão de lançamento do livro "Nós, as enfermeiras paraquedistas" (ed. lit. Rosa Serra) (Porto, Fronteira do Caos,  2014).


2. Mensagem da Maria Arminda Santos:

Data - 30/7/2025 | 11:25
Assunto - "Pombinho"

Olá, Luís. Obrigada por esta bela recordação do meu amigo e estimado "Pombinho". Não foi por muito tempo que nos deu aulas.

Foi pena  não termos podido completar a instrução. Agora é muito tarde e o "Pombinho" já partiu. Um amigo que jamais poderei esquecer.

Veio do Brasil ao lançamento do nosso livro. Que esteja em paz bem como a minha amiga e colega Zulmira. Eu cá vou fazendo a caminhada!... até completar o meu ciclo de vida.
 
Vou ver se aqui consigo pôr a última foto que tenho com o Pombo Rodrigues (Pombinho).

Guiné 61/74 - P27071: Historiografia da presença portuguesa em África (492): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial da Colónia da Guiné Portuguesa, (o primeiro semestre de 1936) (46) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 10 de Março de 2025:

Queridos amigos,
O Major de Cavalaria Luís António Carvalho Viegas entrou de pingalim em riste, destituiu a Assembleia Comercial, Industrial e Agrícola de Bissau, encontrou-lhe sérias ligações com o que se estava a passar naquele exato momento na sublevação em Canhabaque, resistente contra uma medida do Governo que estava em vigor em quase a totalidade das colónias, mordera mesmo quem lhe estava a fazer bem, pois não tendo fundos para comprar o edifício para a sua sede pedira um adicional sobre a importação no porto de Bissau, e revelava claramente um desinteresse absoluto na colaboração com o Governo, isto no mesmo Boletim Oficial em que por portaria se ordenava um rigoroso inquérito aos acontecimentos ditos anormais da cidade de Bissau. Criou-se o Império Sporting Club de Bissau, muito provavelmente a partir de 1951, quando desapareceram colónias e apareceram as províncias ultramarinas terá nascido o Sporting Clube de Bissau. Mais adiante Carvalho Viegas também aparece impetrante contra os procedimentos da Associação Comercial de Bolama. E provavelmente o leitor irá ficar com o resumo do documento enviado para a 1.ª Conferência Económica do Império Colonial Português, era assim a Guiné em 1936, curiosamente o que se pede é o que irá ter andamento nos anos subsequentes.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Oficial da Colónia da Guiné Portuguesa (o primeiro semestre de 1936) (46)


Mário Beja Santos

Este período de 1936 é fundamentalmente ocupado por questões de Canhabaque e pela participação do representante da Guiné na 1.ª Conferência Económica do Império Colonial Português. No Boletim Oficial da Colónia n.º 1 vamos ser informados do estado de sítio na ilha de Canhabaque e na destituição da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Bissau, acusada de ligação às sublevações de Canhabaque; e não deixa de ser importante ler o que Rodrigo de Sousa Coutinho Osório de Castro, em representação da Guiné enviou como relatório para a 1.ª Conferência Económica do Império Colonial Português.

Na Portaria n.º 1 publicada no Boletim Oficial, com data de 4 de janeiro, escreve o Major de Cavalaria Luís António de Carvalho Viegas:
“Tendo ocorrido em Bissau factos anormais, atentatórios da ordem e tranquilidade públicas e que urge averiguar para o fim de serem tomadas as correspondentes responsabilidades; Considerando a extrema gravidade do caso que pode assumir proporções de melindrosa contingência, sabido que os aludidos factos se estão desenrolando precisamente na altura em que o Governo da Colónia acaba de declarar, por motivos da rebelião indígena, o estado de sítio na ilha de Canhabaque;
Considerando que a coincidências destas ocorrências obriga o Governo a adotar medidas rápidas e enérgicas que extirpem focos de subversão da ordem social, evitando a sua propagação entre o elemento nativo, o que seria de bem perigosas consequências;
O Governador da Colónia da Guiné, no uso das faculdades que lhe são atribuídas, determina:
1.º É ordenado um rigoroso inquérito aos acontecimentos anormais da cidade de Bissau, para o apuramento das responsabilidades individuais ou coletivas da ocorrência, inquérito que deverá ter feição sumária.
2.º Fica encarregado do referido inquérito o Administrador do Quadro Administrativo Alberto Gomes Pimentel.”


No mesmo Boletim Oficial temos um diploma legislativo e vamos perceber o que aconteceu em Bissau. É referido que a Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Bissau provocou o incitamento à indisciplina social, promovendo manifestações coletivas atentatórias da ordem e da tranquilidade públicas. Diz-se que a mesma associação já por várias vezes manifestara o seu espírito de rebelião, e por isso fora dissolvida temporariamente em 1929; juntaram-se a esta associação elementos a ela estranhos capitaneados por agitadores de profissão, alguns com cadastro judicial; associação que não se moveu sequer pelo sentimento patriótico, agora que foi proclamado o estado de sítio na ilha de Canhabaque; promoveu reuniões clandestinas, desviando-se dos seus verdadeiros fins associativos; a resistência desta associação contra uma medida do Governo, em vigor na quase totalidade das colónias, não tem a apoiá-la qualquer razão séria de ordem económica ou de interesse de classe; e não tem procurado cooperar a favor das questões sociais que interessam à coletividade, apesar das constantes instâncias para uma intima colaboração com o Governo. E após um outro punhado de considerandos e invocada a legislação pertinente, o governador manda dissolver a associação e o edifício em construção destinado a ser usufruído para sede dessa coletividade entra imediatamente na posse do Estado.

No Boletim Oficial n.º 6, de 10 de fevereiro, são aprovados os estatutos do Império Sporting Club de Bissau, a agremiação destinada a promover e praticar todos os jogos desportivos e recreativos, festas para a distração dos seus associados e concorrer para o desenvolvimento intelectual destes. Neste mesmo Boletim Oficial dá-se a saber que o Governo da colónia solicitara à única associação económica e profissional existente na cidade de Bolama, a Associação Comercial de Bolama, a nomeação de quatro vogais para fazerem parte da Comissão Municipal da cidade. E o governador escreve o seguinte:
“Considerando que as pessoas indicadas para vogais efetivos não estão em condições de oferecerem garantias de idoneidade moral para representarem condignamente o comércio, proprietários, empregados do comércio, visto que um dos referidos elementos tem vários processos, um a correr no Tribunal Militar por lhe haverem sido apreendidas 22 latas de pólvora, outro a ir para o Tribunal da comarca por possuir ilegalmente uma arma de fogo e não ter pago a respetiva multa, e, ainda mais, um outro que segundo os depoimentos de vários indígenas feitos prisioneiros na ilha de Canhabaque foi quem vendeu a maior parte da pólvora sem a qual não se podia ter dado a rebelião do gentio e de que resultou a perda de dezenas de vidas, mais do que uma centena de feridos; e quanto ao outro eleito, por haver na documentação do Governo comunicação da Companhia Colonial de Navegação que não lhe foram ainda pagas as passagens que em tempos àquele lhe concedera; considerando que, por prudente recado, tendo sido comunicados, confidencialmente, à associação comercial tais factos, e pedido a substituição desses vogais efetivos, a assembleia quis manter a sua eleição.”
E com mais outros considerandos a eleição dos vogais efetivos e suplentes deverá ter uma nova eleição.

Logo no primeiro Boletim de 4 de janeiro, o governador nomeara um funcionário, Rodrigo de Sousa Coutinho Osório de Castro, para representar a Guiné na 1.ª Conferência Económica do Império Colonial Português. Este funcionário elaborou em Bissau, com data em 12 de janeiro, um relatório, que aqui relevamos algumas análises:
“Colónia onde apenas desde 1915 foram abertas as primeiras estradas, pelas necessidades da sua pacificação e ocupação, no curto prazo de 22 anos, quase exclusivamente com os seus, de começo, parcos recursos (…) Urge que esta colónia possua transportes rápidos e seguros que lhe permitam lutar com as vizinhas colónias francesas (...) Colónia com carências absolutas, rede de estradas em grande parte em péssimo estado. Na Guiné existem 245 viaturas automóveis das quais 166 camiões e 79 automóveis, na sua maioria modelos antiquados, abundando os camiões Ford, modelo T. No tocante à aviação, havia um campo de aterragem em Bolama, o de Bissau ainda não estava concluído. Na navegação fluvial, havia três vapores do Estado a necessitar de substituição por outros movidos a óleos pesados, havendo também a necessidade de adquirir um rebocador para fazer o serviço de farolagem, porque é perigoso fazê-lo com os barcos existentes. Os portos interiores estão desprovidos de qualquer utensilagem. Não há trabalhos de irrigação na colónia, os telégrafos são deficientes. No tocante aos portos marítimos, o de Bissau necessita de importantes obras, o de Bolama apenas exige o prolongamento da sua ponte-cais.”

O relator apresenta um plano de obras públicas onde cabem material de apetrechamento maquinista (britadeiras, tratores…), obras (construção das pontes de Ensalmá, sobre o Geba, Braia, Armada, Puloa), edifícios (Palácio do Governo, escolas primárias, bairro para residência de funcionários da cidade de Bissau), portos (grande reparação da ponte-cais de Bissau, prolongamento da ponte-cais de Bolama), estradas (abertura de nova estrada S. João-Fulacunda-Xitole) e reparação geral e retificação do traçado das restantes estradas, faróis (conclusão do plano de farolagem dos serviços da Marinha, construção dos faróis da ilha das Cobras-Areia Branca-Ponte Barel e Orango).

A finalizar o seu relatório, expõe o cômputo de receitas das explorações das obras que se pretendem realizar, modo de pagamento e o plano de fomento das comunicações marítimas e fluviais da Guiné, bem como os correios e telégrafos. Castro Osório conclui falando da necessidade de rever os acordos com a África Ocidental Francesa para o alargamento dos serviços postais e telegráficos e também os estabelecimento de acordo com os correios de Cabo Verde para permuta radiotelegráfica com todo o arquipélago.

Luís António Carvalho Viegas, foi Major de Cavalaria enquanto Governador da Guiné, terminou a sua carreira em Brigadeiro
Monumento comemorativo das operações de pacificação em Canhambaque, 1935-1936.
Fotografia de Francisco Nogueira, retirada do livro “Bijagós Património Arquitetónico”, Edições Tinta-da-China, 2016, com a devida vénia.
Bissau, um trecho da Avenida, bilhete-postal, 1920
(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 23 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27047: Historiografia da presença portuguesa em África (491): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 930-1936 (45) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P27070: Humor de caserna (208): As duas gloriosas malucas das máquinas voadoras, a Zulmira e a Maria Arminda, enfermeiras pqdt a quem o "Pombinho" meteu na cabeça que haveriam de aprender a pilotar o Dornier DO-27


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > Pista de Bambadinca... Ao fundo, o muro do cemitério... Uma DO-27 na pista... 

Era uma aeronave que  adorávamos  quando nos trazia de Bissau os frescos e a mala do correio ou, no regresso, nos dava boleia até Bissau, para apanharmos o avião da TAP e ir de férias... 

Era uma aeronave preciosa nas evacuações (dos nossos feridos ou doentes, militares e  civis)... 

Era um "pássaro" lindo a voar nos céus da Guiné, quando ainda não havia o Strela...

Em contrapartida, tínhamos-lhe, nós, os "infantes",  a "tropa-macaca", um "ódio de morte" (sic) quando se transformava em PCV (posto de comando volante) e o tenente-coronel, comandante do batalhão, ou o segundo comandante,  ou o major de operações,  ia ao lado do piloto, a "policiar" a nossa progressão no mato... e a denunciar a nossa posição no terreno!

Quando nos "apanhavam" e ficavam à nossa vertical, era ver os infantes (incluindo os nossos "queridos nharros") a falar, grosso, à moda do Norte, com expressões que eram capazes de fazer corar a Maria Turra:

"Cabr*es..., filhos da p*ta..., vão lá gozar pró car*lho..., daqui a um bocado estamos a embrulhar e a levar nos c*rnos!...".

Também os nossos comandantes operacionais (capitães QP ou milicianos) não gostavam nada do "abelhudo" do PCV, em operações no mato...

Foto do álbum de Arlindo T. Roda, ex-fur mil da CCAÇ 12 (1969/71).

Foto: © Arlindo T. Roda (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > s/l > c. 1972/74 > O comandante Pombo aos comandos de um Cessna dos  TAGP (Transportes Aéreos da Guiné Portuguesa) (era uma aeronave muito melhor, equipada com instrumentos de navegação,  do que a DO-27)

Foto (e legenda): © Álvaro Basto (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1º srgt Pombo, piloto de F-86-F Sabre,
BA 5, Monte Real, 1961.
Cortesia de José Cabeleira (2011)
1. É uma história, mal conhecdia, mas bem humorada (*). Deve-se ter passado na primeira comissão da Maria Arminda, em 1962/63, no TO da Guiné: ela passou primeiro por Angola (1961/62), depois Guiné (1962/63) e novamente na Guiné (1965/66)... E nesse intervalo, em 1963/64, terá estado em Tancos a formar novas enfermeiras paraquedistas. (Pelo telefone, confirmou que a história passa-se em 1963; pedi-lhe desculpa, estava ela a fazer fisioterapia...)

Por sua vez, o outro interveniente nesta hstória, é o saudoso cap pil José Luís Pombo Rodrigues (1934-2017),  o  Comandante Pombo dos TAGP do meu tempo (1969),  um orgulhoso sobrevivente da “Operação Atlas”, a primeira (e única) travessia Monte Real – Bissalanca, feita pela Esquadra 51/201 (BA 5), constituída por aviões F-86F “Sabre”, realizada em agosto de 1961… 

Era ele então um jovem 1º sargento
piloto... O "Pombinho", como lhe chamavam 
a Zulmira e a Maria Arminda. Terá feito 4 comissões na Guiné. Esteve na FAP, e nos TAGP, acabando por ser piloto particular, ao serviço de Luís Cabral e depois do 'Nino' Vieira, até partir para outras paragens (Congo ex-Belga, Brasil...). Regressou a Pátria para morrer...

O Comandante Pombo tem 25 referências no nosso blogue. Conheci-o pessoalmente num  dos nossos convívios da Magnífica Tabanca da Linha. Entrou para a Tabanca Grande, a título póstumo, em 5 de setembro de 2017.


As duas gloriosas malucas das máquinas voadoras,   a Zulmira e a Maria Arminha, enfermeiras pqdt,  a quem  o "Pombinho"   meteu na cabeça que haveriam de aprender a pilotar o Dornier  DO-27

por Maria Arminda

(...) Em nenhum dos muitos locais onde trabalhei (incluindo hospitais), senti um ambiente de tão forte coesão e solidariedade entre todos os que me rodeavam, e em que a palavra "amizade" tivesse uma expressão tão forte e fosse tão marcante para a vida, como o ambiente em que vivi na Guiné. 

(...) Quando os nossos camaradas homens nos viam "em baixo", inventavam processos para nos animar e fazer esquecer as agruras "daquela vida". E nós assim íamos sobrevivendo e cumprindo as nossas missões 

Naqueles nossos momentos "baixos", eles inventavam as mais diversas formas de nos levantar o "astral"... Como, por exemplo, ensinarem -nos a pilotar!



Maria Zulmira André Pereira
(1931-2010)
Naquele tempo, na Base Aérea nº 12, havia um piloto de jatos, que eu penso ainda eram os F-86, de sua graça Pombo Rodrigues, a quem nós chamávamos de Pombinho. 

Ele era como um irmão, muito nosso amigo,  e então meteu na cabeça que a Zu (como tratávamos a Zulmira) e eu, iríamos aprender a pilotar o avião Dornier DO-27., que ele tão bem pilotava, e em que nós fazíamos as evacuações.

Combinou connosco que, sempre que ele estivesse de alerta ao transporte de feridos e saísse com uma de nós as duas, começaria a dar-nos a instrução, mesmo nos DO-27 só com  um só manche, caso não estivesse operacional o que lá havia com dois comandos, que ele procurava sempre utilizar nesses dias da nossa "instrução.

Se bem o pensou, melhor o fez, e a nossa aprendizagem começou com algumas aulas teóricas, primeiro no bar dos pilotos, depois no interior do avião, mas no solo, e depois já no ar, em aulas práticas, nas idas aos locais para onde éramos chamadas, e apenas nas idas, porque no regresso, como se  depreende, a nossa ocupação já era outra.

"A juventude é ousada e por vezes louca", por isso as aulas continuaram por algum tempo, e penso que só os três é que sabíamos destes factos. 

Eu cheguei a levar o avião da Base até à pista de Farim, no DO que tinha os dois manches, e ele disse-me que tinha sido eu a tocar com as rodas no chão, o que não acreditei.

No entanto, ele punha tanta força e empenhamento na nossa "instrução", que me fez ter confiança e esperança de poder vir um dia a saber pilotar aquele avião. Pena foi que daí a algum tempo, eu tivesse sido mandada paar Tancos, a fim de acompanhar um curso para formação de novas enfermeiras "páras".

As minhas lições de pilotagem foram aí, entáo, interrompidas e, infelizmente, para sempre. (...)

Fonte: Excertos de "Nós, enfermeiras paraquedistas", 2ª ed., org. Rosa Serra, prefácio do Prof. Adriano Moreira (Porto: Fronteira do Caos, 2014), pp. 374-376  (com a devida vénia...).

(Seleção, revisão / fixação de texto, título: LG)
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Guiné 61/74 - P27069: Parabéns a você (2401): Amaral Bernardo, ex-Alf Mil Médico da CCS/BCAÇ 2930 e CCAÇ 6 (Catió e Bedanda, 1970/72); Júlio Costa Abreu, ex-1.º Cabo CMD do Grupo Centuriões (Guiné, 1964/66) e Victor Tavares, ex-1.º Cabo Caçador Paraquedista da CCP 121/BCP 12 (Guiné, 1972/74)



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Nota do editor

Último post da série de 29 de Julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27063: Parabéns a você (2400): 1.º Cabo DFA Ref, Manuel Francisco Seleiro, do Pel Caç Nat 60 (S. Domingos, Ingoré e Susana, 1968/70)

terça-feira, 29 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27068: Blogpoesia (804): Versejar em Nova Sintra - 1: "Marcha de Nova Sintra", por Manuel Gouveia de Oliveira, Soldado Atirador (Aníbal José da Silva, ex-Fur Mil Alimentação)


1. Em mensagem de 1 de Julho de 2025, o nosso camarada Aníbal José Soares da Silva, ex-Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70), enviou-nos alguns versos alusivos a Nova Sintra.
Publicamos hoje a "Marcha de Nova Sintra" da autoria do Soldado Atirador Manuel Gouveia de Oliveira, o "Xabregas".



VERSEJAR EM NOVA SINTRA - 1

Não me recordo de haver muitos militares a fazer versos e a havê-los não os davam a conhecer.
Eventualmente enviavam as suas “obras” à mãe, à esposa, à namorada, ou à madrinha de guerra.

Mas recordo com muita saudade o amigo Xabregas, sempre bem disposto e risonho, soldado atirador de Cavalaria de seu nome completo Manuel Gouveia de Oliveira que, sobre qualquer tema ou pretexto, repentinamente fazias as suas quadras. De várias que ele compôs, partilho com os camaradas do blogue, as duas únicas que tive a oportunidade de guardar.


MARCHA DE NOVA SINTRA

Defendemos Nova Sintra
Com muito orgulho e altivez
Pertencemos à companhia
Que é, a dois quatro oitenta e três

Aqui vai Nova Sintra
Que vai a Tite pra dar nas vistas
Andam por aqui e além
À procura dos terroristas

Terroristas venham cá
Que nós estamos à vossa espera
Agora não são catanas
Nós temos armas da nova era

Terroristas, Terroristas
Nova Sintra está cá
Se precisarem de ajuda
Nós iremos a Jabadá

Defendemos Nova Sintra
Com muito orgulho e presunção
Pertencemos à Companhia
Que é a melhor do Batalhão

Viva a nossa Companhia
Que é a melhor do Batalhão
Viva o nosso Homem Grande
Que é o nosso CAPITÃO


Autor
Manuel Gouveia de Oliveira
Soldado Atirador de Cavalaria
CCAV 2483

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Nota do editor

Último post da série de 21 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26602: Blogpoesia (803): No Dia Mundial da Poesia: "A Noite Mundial da Poesia", por Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (Canquelifá e Bigene, 1966/68)