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sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27141: A nossa guerra em números (36): Auxiliares da administração colonial: régulos, sobas e liurais...


Guiné >  Sem data nem local > Mamadu Bonco Sanhá, régulo de Badora, zona leste, região de Bafatá,  tenente de 2ª linha, comandante da companhia de milícia do Cuor (nos anos 60/70), vogal do conselho legislativo da Província, craiado em 1964  [ao lado, por exemplo, de outro grande aliado dos portugueses, o régulo manjaco Joaquim Baticã Ferreira]; intitulando-se Fula, era considerado pelos Mandingas e Biafadas como Biafada, em virtude da ascendência materna;  foi fuzilado pelo regime de Luís Cabral, em 1975, em Bambadinca.

Segundo informação de um dos  filhos, o engº Cherno Sanhá, formado em Cuba  (e falecido em 2016), esta foto deve ser de finais de 1960 ou princípios de 1970, quando o tenente Mamadu Sanhá foi condecorado com a cruz de guerra. Deveria ter uns 40 e poucos anos (pelo que terá nascido na segunda metade da década de 1930).

Foto: © Cherno Sanhá (2012). Todos os direitos reservados, [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] 



Timor Leste > s/d (c. 1936/40) > O "liurai" Dom Aleixo Corte-Real (1886-1943), régulo de Ainaro e Suro, um dos heróis luso-timorenses  da resistência contra os ocupantes japoneses na II Guerra Mundial.

Fotos do Arquivo de História Social > Álbum Fontoura. Imagem do domínio público.
 

1. Os auxiliares do poder colonial  nos territórios sob administração portuguesa em África (Cabo Verde; Guiné-Bissau; São Tomé e Príncipe; Angola; Moçambique) e na Ásia (Goa, Dão e Diu; Macau; Timor) tiveram diversas designações: por exemplo, régulos na Guiné, sobas em Angola, liurais em Timor. 

Vamos fazer um apanhado dessas figuras, destacando também as suas funções e o seu significado socioantropológico no âmbito da história da administração colonial portuguesa (*)


Para além dos conhecidos régulos na Guiné, dos sobas em Angola e dos liurais em Timor, a administração colonial portuguesa recorreu a uma diversidade de intermediários locais para consolidar o seu domínio nos restantes territórios. 

As designações destes auxiliares do poder variavam, refletindo as estruturas sociais e políticas preexistentes em cada colónia.

Em Moçambique, a figura central da administração local indígena era também o régulo.

 Tal como na Guiné, os régulos eram chefes tradicionais que, uma vez submetidos ao poder colonial, eram instrumentalizados como o elo de ligação entre a administração portuguesa e as populações locais. 

Os régulos eram responsáveis por:
  • cobrança de impostos; 
  • recrutamento de mão de obra;
  • e manutenção da ordem nas suas áreas de jurisdição (incluindo a aplicação dos usos e costumes jurídicos dos seus povos)

Já em São Tomé e Príncipe, a estrutura de poder local era distinta, em grande parte devido à ausência de população nativa à chegada dos portugueses  (as ilhas eram desabitadas) e à posterior organização da sociedade em torno das roças. 

A administração era mais direta, encabeçada por um Governador e chefes dos serviços públicos. Não existia uma figura de chefe tradicional indígena com a mesma relevância ou designação específica que se encontrava noutras colónias africanas.

O poder nas roças era exercido pelos seus proprietários ou administradores, sendo a mão-de-obra, em grande parte, contratada sob o regime de "serviçais".

Em Cabo Verde,  a situação era igualmente particular. Foi uma sociedade escravocrata. Devido à não aplicação do "Estatuto do Indigenato" (1929) da mesma forma que nas outras colónias africanas, a estrutura administrativa local assumiu contornos diferentes. (***)

No período inicial da colonização, existiram os capitães-mores, que detinham poderes militares e administrativos. Posteriormente, a administração local foi exercida pelos administradores de concelho, nomeados pelo governo central. 

Não se consolidou, portanto, uma figura de chefe local tradicional que atuasse como auxiliar do poder colonial com uma designação específica e generalizada como a de "régulo" (Guiné e Moçambique) ou "soba" (Angola) ou "liurai" (Timor).

Finalmente, em Macau, o contexto era único em todo o império. A administração da população chinesa, maioritária, era feita através de uma estrutura específica. 

A figura-chave era o Procurador dos Negócios Sínicos (ou simplesmente Procurador dos Chins). Este era um funcionário português, muitas vezes um vereador do Leal Senado, que tinha a responsabilidade de:

  • mediar as relações com a comunidade chinesa:
  • tratar dos seus assuntos;
  • e garantir a aplicação das leis portuguesas. 

Embora não fosse um chefe tradicional chinês, o Procurador dos Negócios Sínicos funcionava como o principal intermediário entre a administração colonial portuguesa e a vasta população chinesa residente no território, desempenhando um papel crucial na governação de Macau.


2.  Auxiliares da administração portuguesa: designaçõesfunções e significado socioantropológico.

África

Cabo Verde

  • Designações: chefes locais eram menos marcados pela figura do régulo (mais típica de Angola, Guiné  e Moçambique), já que as ilhas, sendo desabitadas, não tinham populações indígenas.

  • Surgiram “capitães-mores” e outros oficiais nomeados diretamente pela Coroa;

  • Função: administrar terras, recrutar mão de obra e controlar populações escravizadas.

  • Significado: Cabo Verde foi um espaço de “crioulagem” rápida; não havias chefias tradicionais (a não ser eventualmente informais, entre comunidades de escravos trazidos para as ilhas).


Guiné-Bissau

  • Designaçõesrégulos (chefes de tabanca ou etnia, reconhecidos pelos portugueses); cabos de terramanjuandadis (chefes de linhagem); muitos deles eram também, durante a guerra colonial, comandantes de companhias de milícias, sendo graduados em alferes, tenentes ou capitães de 2ª linha (caso, por exemplo, do tenente Mamadu Bonco Sanhá, régulo de Badora, e comandante da companhia de milícias do Cuor) (**);

  • Função: mediação entre colonos e populações locais, cobrança de impostos, mobilização de trabalho forçado (portagem, cultura obrigatória como a mancarra);

  • Significado: incorporação do poder indígena no aparelho colonial, mas com tensões: a legitimidade tradicional nem sempre coincidia com a legitimidade colonial.


São Tomé e Príncipe

  • Nas ilhas, tal como em Cabo Verde, a estrutura de chefaturas africanas foi mais fraca;

  • Havia figuras de “capitão-mor do mato” (encarregado de controlar quilombos e escravizados fugidos);

  • Função: assegurar disciplina entre trabalhadores e escravizados;

  • Significado: aqui, o poder colonial teve caráter mais direto, sem forte mediação de “autoridades tradicionais”.


Angola

  • Designaçõesrégulossobas (chefes locais, herdeiros de autoridade política pré-colonial).

  • Funções:

    • Garantir fidelidade ao governo colonial;

    • Recrutar trabalho forçado (contratados);

    • Organizar contingentes militares auxiliares;

    • Cobrar impostos (imposto de cubata).

  • Significado: o “sobado” era incorporado ao sistema colonial, mas mantendo raízes culturais próprias; o “régulo” era, muitas vezes, uma invenção colonial para transformar chefes tradicionais em agentes administrativos.


Moçambique

  • Designaçõesrégulos (chefes tradicionais reconhecidos pela administração), sipaios (força militar local auxiliar), mambos (na tradição local).

  • Funções: semelhantes a Angola: mediação, cobrança de imposto de palhota, mobilização de mão de obra, polícia.

  • Significado: figura emblemática do “indigenato” português; o régulo representava simultaneamente a continuidade da chefia africana e sua subordinação à soberania portuguesa.


Ásia

Estado Português da Índia (Goa, Damão e Diu)

  • Designaçõescomunidades (gaunkaris), com chefias locais chamadas patels ou desais (já existentes antes da chegada portuguesa).

  • Funções:

    • Cobrança de rendas e tributos;

    • Administração da comunidade agrícola (gaunkaria).

  • Significado: coexistência de instituições coloniais e estruturas hindu/muçulmanas pré-existentes. O colonialismo português adaptou-se às hierarquias locais.


Macau

  • Designações: chefias chinesas tradicionais (tchonsihopus), não régulos.

  • Função: mediação com autoridades imperiais chinesas, controle da população chinesa residente.

  • Significado: Macau sempre foi um entreposto dependente da boa vontade da China; os “auxiliares” eram mais negociadores sino-portugueses do que régulos no sentido africano.


Timor

  • Designaçõesliurai (chefe de suco ou reino local); datomoro.

  • Funções:

    • Subordinar-se ao governador português.

    • Garantir tropas auxiliares e cobrança de tributos.

  • Significado: a dualidade de poder entre liurais tradicionais e poder colonial foi fundamental para a resistência e colaboração em Timor.


Síntese Antropológica e Histórica


Régulo / Soba / Liurai = tradução colonial da chefia tradicional para os mecanismos de administração indireta.

Função geral: mediadores entre colonizador e colonizado; asseguravam trabalho, impostos e ordem.
Significado:

(i) criaram uma elite intermediária (chefes africanos/asiáticos legitimados pelo colonialismo):

(ii) reconfiguraram sistemas de autoridade locais (ex.: um “régulo” podia ser inventado pelos portugueses, sem linhagem ou sem tradição anterior);

(iii) reforçaram a dominação colonial pela indireta, reduzindo custos de ocupação;

(iv) no pós-independência, muitos desses chefes foram contestados ou reintegrados em novas lógicas nacionais.

 Apresenta-se a seguir uma tabela comparativa organizada por colónia, com as principais designações, funções e significado socioantropológico:


Auxiliares do poder colonial português

Região / ColóniaDesignações principaisFunções no sistema colonialSignificado socioantropológico
Cabo VerdeCapitães-mores, oficiais régiosAdministração direta; disciplina da mão de obra; defesa
Estruturas tradicionais pouco preservadas; crioulagem rápida; poder local absorvido pelo colonial
Guiné-BissauRégulos, cabos de terra, chefes de tabanca
Cobrança de impostos; recrutamento de trabalho forçado; mediação com etnias
Poder indígena cooptado; choque entre legitimidade tradicional e colonial
São Tomé e PríncipeCapitão-mor do mato, feitores
Controle de escravizados; repressão a quilombos; disciplina laboral
Autoridade tradicional quase inexistente; poder colonial direto
AngolaRégulos, sobas
Cobrança do imposto de cubata; mobilização de contratados; tropas auxiliares; polícia local
Incorporação dos “sobados” ao aparelho colonial; reforço da dominação indireta
MoçambiqueRégulos, mambos, sipaios (força auxiliar)
Cobrança de imposto de palhota; recrutamento de mão de obra; policiamento
Figura central do indigenato; fusão de chefia africana e imposição colonial
Goa, Damão
e Diu
Patels, desais, líderes de comunidades (gaunkaris)Gestão agrícola e fiscal; mediação entre comunidades e colonosContinuidade de estruturas hindus/muçulmanas pré-existentes; integração ao sistema colonial
MacauChefes chineses locais (tchonsi, hopus), mediadores luso-chineses
Negociação com autoridades imperiais; regulação da população chinesa
Autoridades locais mantidas; poder português dependente da China
TimorLiurais, datos, moros
Cobrança de tributos; fornecimento de tropas auxiliares; mediação política
Dualidade entre poder tradicional timorense e soberania colonial portuguesa

Fonte: Adapt de IA/ChatGPT  (2025)


Essa tabela mostra bem como:

  • Em África continental (Angola, Moçambique, Guiné), a figura do régulo/soba tornou-se símbolo da administração indireta.

  • Nas ilhas atlânticas (Cabo Verde, São Tomé), a chefia local foi menos relevante, substituída por cargos coloniais diretos.

  • Na Ásia, os portugueses adaptaram-se mais às hierarquias locais já estruturadas (Goa, Macau, Timor).


O papel dos auxiliares do poder colonial mudou muito ao longo dos séculos, acompanhando a forma de dominação portuguesa (do comércio fortificado → colonização agrícola → administração indireta → Estado Novo). Aqui vai a linha temporal simplificada:


Linha Temporal dos Auxiliares Coloniais

PeríodoContexto colonialPapel dos auxiliares

Séculos XV–XVIExpansão inicial; feitorias; alianças políticas (África e Ásia).Chefes locais reconhecidos como parceiros comerciais ou aliados militares. Função de mediação diplomática (ex.: sobas em Angola, liurais em Timor, líderes indianos nas comunidades de Goa).
Século XVIIConsolidação do domínio nas ilhas (Cabo Verde, São Tomé) e em partes de Angola/Moçambique.
Em ilhas: substituição por cargos coloniais diretos (capitães-mores, feitores). No continente africano: chefes locais começam a ser “nomeados” como régulos para garantir tributos.
Século XVIIIExpansão agrícola (plantations, escravatura) e militar (guerras de ocupação).
Auxiliares tornam-se cobradores de impostos e recrutadores de mão de obra escrava ou forçada. Muitos chefes locais perdem autonomia; outros fortalecem-se como intermediários.
Século XIXCrise do tráfico atlântico; abolição da escravatura; Conferência de Berlim (1884–85) exige ocupação efetiva.
Colonialismo indireto intensifica-se: régulos e sobas tornam-se parte formal da administração portuguesa (com salários simbólicos, insígnias). Funções: cobrança de imposto de cubata/palhota, policiamento, mobilização de trabalhadores contratados.
Séc XX (até 1926)Primeira República; resistência armada em Angola, Moçambique e Guiné.
Auxiliares ainda essenciais para “pacificação”; alguns chefes tradicionais resistem, outros são cooptados. Em Goa/Macau, líderes locais já eram mais administrativos do que militares.
Estado Novo (1926–1974)Sistema do indigenato em
 África; exploração máxima da mão de obra africana.

Régulos institucionalizados como “autoridades gentílicas”: recrutam trabalho, cobram imposto, controlam populações. Criam-se forças auxiliares (sipaios). Ao mesmo tempo, surgem resistências internas (régulos pró-movimentos nacionalistas).
Pós-1961Guerra colonial (Angola,
Guiné, Moçambique)


Régulos tornam-se ambíguos: uns fiéis a Lisboa (usados como propaganda de “tradição africana”), outros aderem aos movimentos nacionalistas. Papel perde legitimidade após independências.

Fonte: Adapt de IA/ChatGPT (2025)


Síntese

  • Séculos XV–XVIII → auxiliares = mediadores entre mundos (aliança, comércio, diplomacia).

  • Século XIX → passam a ser peças-chave da administração indireta.

  • Estado Novo → tornam-se instrumentos de exploração sistemática (imposto, trabalho forçado, polícia).

  • Guerra Colonial → a sua autoridade fragmenta-se; muitos deixam de ser aceites pelas populações.


(Pesquisa: LG + assistente de IA / Gemini / ChatGPT)

(Revisão / fixação de texto, negritos: LG)
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Notas do editor LG:


Último poste da série > 20 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27137: A nossa guerra em números (35): Qual a probabilidade de o nosso saudoso Valdemar Queiroz (1945-2025) encontrar, em Nova Lamego, Gabu, em 1970, um libanesa, de olhos verdes, fatais ?


(***) O "Estatuto do Indigenato", criado formalmente em 1929 pelo regime colonial português, nunca foi formalmente aplicado em Cabo Verde. 

A partir de 1945, com a revisão da Carta Orgânica do Império Colonial Português, ficou explicitamente estabelecido que as populações de Cabo Verde, Macau e Índia não estavam sujeitas ao regime do indigenato e tinham estatuto de cidadãos portugueses

Na prática, muitas das medidas discriminatórias e restritivas do indigenato foram aplicadas de forma indireta aos cabo-verdianos durante o período colonial, especialmente em termos de trabalho e mobilidade, mas sem o enquadramento jurídico do Estatuto do Indigenato propriamente dito.

Portanto, o Estatuto do Indigenato nunca esteve formalmente em vigor em Cabo Verde, sendo esta exceção juridicamente clarificada já em 1945
.

Guiné 61/74 - P27140: Parabéns a você (2408): José Luís Vacas de Carvalho, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2206 (Bambadinca, 1969/71)

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Nota do editor

Último post da série de 19 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27131: Parabéns a você (2407): Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Especiais da CCAÇ 763 (Cufar, 1965/66)

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27139: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (34): Filatelia

1. Mensagem do nosso camarada João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72), com data de 20 de Agosto de 2025:

Boa noite Carlos,
Ultrapassado o problema no meu computador, vou recomeçar o envio dos selos da Guiné para publicação no nosso Blogue.

Votos de saúde
Abraço
João Moreira


(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 24 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27050: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (33)

Guiné 61/74 - P27138: Memórias da tropa e da guerra (Joaquim Caldeira, ex-fur mil at inf, CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834, Tite e Fulacunda, 1968/69) (8): A deliciosa laranja de casca verde ("Citrus sinensis var. dulcis" ou "laranja-lima" no Brasil)




Laranja verde da Guiné-Bissau (Citrus sinensis, var. dulcis). Imagens fornecidas pela IA / ChatGPT. 

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)



Joaquim Caldeira, hoje e ontem...


1. Mais um  pequeno texto, este "deliciosos", do Joaquim Caldeira, grão-tabanqueiro nº 905, ex-fur mil at inf, CCAÇ 2314 / BCAÇ 2834 (Tite e Fulacunda, 1968/69); vive em Coimbra; é autor do livro "Guiné - Memórias da Guerra Colonial", publicado pela Amazona espanhola (2021)


A laranjeira de frutos verdes

por Joaquim Caldeira (*)

Já aqui referi (no meu livro) a emboscada de abelhas africanas que deixaram o alferes Pio em coma e, para sua recuperação, teve que ser evacuado para o hospital de Bissau. Isto passou-se ao largo de Fulacunda, na direcção de Nova Sintra - Tite.

Certa vez, numa operação que efectuei para esses lados, dei com uma laranjeira carregada de frutos verdes e segui adiante. Era uma árvore de porte médio e estava cercada por mato. Era mesmo muito difícil a nossa aproximação. Segui adiante e não pensei mais no assunto.

Meses mais tarde fiz o mesmo percurso para repetir nova operação de qualquer coisa. De novo a laranjeira carregada de frutos de cor verde. Não me contive. Então, passados meses, ainda não tinham amadurecido? 

Quis ir ver. Mandei fazer o cerco de segurança e à catanada cortei o mato que me separava do tronco. Depois foi só puxar um ramo e colher uma laranja. Estava maduríssima e era de uma doçura sem igual. 

Só havia uma forma de colher todos os frutos. Era subir à árvore. E assim foi feito. Desde ramos partidos para ser mais rápido e fácil a abanar os troncos para fazer cair laranjas, tudo valeu. Tivemos que tirar os blusões, puxar os cordões das mangas e enchê-las. Depois o mesmo para o cordão da cintura e toca a encher o blusão até ao pescoço, depois de abotoado. No final, carregar com aquilo, somado às munições e às armas. Não foi fácil mas valeu a pena. 

Não ficou uma peça de laranja na pobre laranjeira e decerto que, se não tivéssemos feito a colheita, ainda agora lá estavam. Barrigada geral.

(Revisão / fixação de texto, título do poste: LG)



Guiné-Bissau > Outubro de 2024 > "Mercado de Gamamudo: Frutas e  legumes da época" (é sempre um regalo para a vista...). Do lado direito, parecem-nos ser laranjas limas verdes...

Foto (e legenda): © Patrício Ribeiro (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Comentário do editor LG:

De acordo com o "Sabe-Tudo", o assistente de IA do ChatGPT, trata-se de  uma árvore de fruto tropical que dá laranjas... de casca verde. Nome científico, Citrus sinensis, var. dulcis.  

A sua origem deve ser China e nordeste da Índia.  Deve ter sido levada para o Brasil e para a Guiné pelos "tugas".

Muito interessante o teu testemunho, Joaquim Caldeira! Pelo que tu descreves, não se trata de uma laranjeira comum (Citrus sinensis), mas sim de uma laranja de maturação “permanentemente verde”, muito típica das variedades cultivadas (e espontâneas) na Guiné-Bissau. E que encontravámos facilmente nos mercados locais no nosso tempo. Quem tinha preconceitos (etnocêntricos...) e pouca ou nenhuma curiosidade, nunca a provou...e não sabe o que perdeu. 

Digam-me lá quem é que tinha a curiosidade e a pachorra do Joaquim Caldeira ? No meio de um patrulhamento ofensivo, quis ir ver que raio de árvore era aquela: "Mandei fazer o cerco de segurança e à catanada cortei o mato que me separava do tronco. Depois foi só puxar um ramo e colher uma laranja. Estava maduríssima e era de uma doçura sem igual".

Eis alguns pontos a ter em conta para uma melhor descrição  deste citrino tropical:

(i) Frutos verdes mesmo quando maduros:

Nas regiões tropicais húmidas, como a Guiné-Bissau (a região de Quínara incluída), o citrino pode não adquirir a coloração alaranjada típica do nosso Algarve e do Mediterrâneo em geral.

Isso acontece porque  nos trópicos, as noites não arrefecem o suficiente para quebrar a clorofila da casca; a mudança de cor exige noites abaixo de ~13–15 °C, coisa rara na região de Quínara. As noites são, portanto,  quentes: não há o contraste de temperaturas (calor de dia / frio de noite) que desencadeia a degradação da clorofila e o aparecimento da cor laranja. Logo, a casca mantém-se verde ou verde-amarelada, mesmo estando o fruto já doce e pronto a comer. 

(ii) Doçura excecional:

Muitos relatos coloniais (como este do nosso camarada Joaquim Caldeira)  falam da “laranja da Guiné” ou “laranja de casca verde”, extremamente doce, sumarenta, e que amadurece sem mudar de cor. É um tipo de Citrus sinensis var. dulcis (ou var. tropical),  muitas vezes chamado simplesmente sweet orange tropical ("laranja doce", em português do Brasil).

(iii) Ciclo de frutificação:

Nas condições tropicais, algumas laranjeiras dão fruto quase todo o ano, com várias florações. Isso explica o espanto do narrador: meses depois quando lá voltou a passar, mpo subsetor de Fulacunda na zona de Nova Sintra -Tite,  a árvore parecia sempre “carregada de frutos de cor verde", quando na verdade já havia frutos maduros, apenas sem coloração visível. A laranja "estava maduríssima" e tinha "uma doçura sem igual".

Portanto, o que foi encontrado na zona de  Nova Sintra-Tite em 1968/69. pelo narrador era muito provavelmente a “laranja verde da Guiné” (Citrus sinensis, var. tropical), um citrino comum no país, de porte médio, muito doce, e cuja maturação não se denuncia pela cor da casca.

Esta laranja doce, de baixa acidez, adaptada e cultivada em climas tropicais,  é também conhecida no Brasil  como laranja lima verde. Quem não conhece o livro do José Mauro de Vasconcelos, "O Meu Pé de Laranja Lima", uma verdadeira obra-prima da literatura infanto-juvenil, em língua portuguesa ?

O assistennte de IA / Perplexity também confirma que a Citrus sinensis var. dulcis corresponde à laranja lima verde encontrada e consumida no Brasil (o maior ptrodutor do mundo de laranjas...). É também conhecida popularmente como laranja-doce.

É uma fruta bastante apreciada por seu sabor suave, pouco ácido e adocicado, indicada especialmente para crianças e pessoas com sensibilidade gastrointestinal. De polpa doce, poucas sementes, casca fina e geralmente esverdeada ou levemente amarela quando madura.

A laranja lima verde é considerada uma variedade de maturação tardia, comum em algumas regiões do Brasil, e faz parte da ampla diversidade de laranjas doces cultivadas no país. Além dela, existem outras variações regionais, como a "laranja lima do céu". Todas pertencem à espécie Citrus sinensis, grupo das laranjas doces, e não devem ser confundidas com limas ácidas ou outros citros.

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Nota do editor LG:

quarta-feira, 20 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27137: A nossa guerra em números (35): Qual a probabilidade de o nosso saudoso Valdemar Queiroz (1945-2025) encontrar, em Nova Lamego, Gabu, em 1970, um libanesa, de olhos verdes, fatais ?



Pormenor de "A rapariga com brinco de pérola" (c. 1665)... Uma das obras-primas da pintura de todos os tempos, da autoria do pintor neerlandês Johannes Vermeer (1632-1675).  Óleo sobre tela (44,5 cm x 39 cm). Localização atual: Galeria Mauritshuis, Haia. Imagem do domínio público. Cortesia de Wikipedia

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


De acordo com o assistente de IA / ChatGTP e a pesquisa feita pelo nosso editor LG, a cor dos olhos da rapariga na pintura "A Rapariga com Brinco de Pérola", de Johannes Vermeer (c. 1665), não é castanha nem verde. De acordo com análises detalhadas da obra, os seus olhos são descritos como cinzento-azulados, com um subtil toque de castanho-dourado claro.

Ou melhor: os olhos da jovem não têm uma cor definida de forma clara como o castanho ou o verde. Estudos técnicos e análises de alta resolução (como os realizados pelo projeto Girl in the Spotlight em 2018) revelaram que os olhos da rapariga aparecem num tom acinzentado-azulado, devido tanto ao uso de pigmentos como ao desgaste natural da tinta ao longo de mais de três séculos.

Além disso, o efeito de luz e sombra pintado por Vermeer, aliado ao fundo escuro, cria nuances que podem dar a sensação de um subtil reflexo dourado ou acastanhado, especialmente na íris. Ou seja, não se trata de uma representação fotográfica da cor dos olhos, mas antes de uma ilusão ótica criada pelo grande mestre da luz holandês.

Portanto, não se pode dizer que a rapariga tenha olhos verdes ou castanhos: a descrição mais fiel é mesmo cinzento-azulados com ligeiras tonalidades quentes.


1. Mulheres, libanesas,  de olhos verdes, fatais, na antiga Guiné portuguesa ?  Verdade ou treta ? (*)

Parece ser um estereótipo... No Líbano podia haver 4 a 5 % de mulheres de olhos verdes (no resto do mundo, são 2%)... 

A antiga Guiné Portuguesa, em 1950, teria cerca de 500 libaneses ou sírio-libaneses e seus descendentes (em 1924, seriam 101)... Todos comerciantes (e seus familiares). 
Valdemar Queiroz (Afife, 
Viana do Castelo, 1945 - 
Agualva, Sintra, 2025),
ex-fur mil at art, 
CART 2479 /CART 11,
 Contuboel, Nova
 Lamego, Canquelifá,~
 Paunca,  Guiro Iero Bocari, 
1969/70)


Com o início da guerra colonial (em 1961) alguns teriam saído do território ou ido para Bissau, por razões de segurança. (Poucos ficaram no mato, como o Jamil, no Xitole.)

Chegaram por volta de 1910/1920. Com a independência em 1974, muitos terão deixado o país. Há quinze anos atrás não seriam mais do que 200.

Qual a probabilidade de o nosso querido e saudoso Valdemar Queiroz (1945-2025) encontrar uma mulher libanesa de olhos verdes, fatais, em 1969/70, em Nova Lamego (hoje Gabu) ? Ele diz que nunca as viu em Nova Lamego, às libanesas de olhos verdes... E que era preciso ir a Bafatá para as ver... 

2. Resposta do assistente IA (Perplexity, Gemini, ChatGPT)  | LG:

A questão de mulheres de olhos verdes na antiga Guiné Portuguesa, mais especificamente em Nova Lamego (atual Gabú), está ligada a um estereótipo e a uma característica rara entre a população local.

(i) Contexto: População Sírio-Libanesa e sua distribuição

Na antiga Guiné Portuguesa, em 1950, haveria  cerca de 500 libaneses ou sírio-libaneses e seus descendentes, a maioria comerciantes que haviam chegado entre 1910/20. Em 1924 eram 101. Eram comerciantes ou familiares de comerciantes.

Grande parte dessa população concentrava-se em centros urbanos e em atividades comerciais: Bissau e Bafatá são as povoações mais citadas.

Com o início da guerra colonial em 1961, muitos migraram para Bissau ou deixaram o país após a independência em 1974. A população sírio-libanesa local diminuiu para algo perto de 200 (em 2009).
 


(ii) Sobre a probabilidade de encontrar uma mulher libanesa 
de olhos verdes em Nova Lamego em 1969/70:

Vamos à estimativa, considerando suposições conservadoras, já que fontes específicas não indicam números exatos de descendentes femininas libanesas na Guiné-Bissau em 1970:

Supondo cerca de 500 sírio-libaneses na Guiné-Bissau nos anos 1950 e que o número não tenha variado muito até 1970: proximadamente metade seriam mulheres: 250.

A prevalência de olhos verdes (4-5%) aplicada às mulheres: 10 a 12 mulheres descendentes de sírio-libaneses na Guiné-Bissau em 1970 poderiam ter olhos verdes (250 × 4% = 10; 5% = 12,5)

A probabilidade existe e estaria de acordo com a diversidade genética dos libaneses. Ou seja, mesmo num grupo pequeno como o dos sírio-libaneses na Guiné-Bissau, seria plausível encontrar algumas mulheres de olhos verdes em 1970.

Estes cálculos são estimativos, baseados na disponibilidade limitada de dados demográficos exatos sobre os sírio-libaneses da Guiné-Bissau e sobre proporção de olhos verdes na população libanesa. A resposta é, portanto, probabilística, mas perfeitamente plausível segundo a literatura histórica e genética citada.

População estimada sírio-libanesa em Nova Lamego em 1969/70: Nova Lamego não era o maior núcleo sírio-libanês (Bissau e Bafatá tinham maior concentração). Ainda assim, podia haver uma ou duas famílias sírio-libanesas na cidade.

Mulheres jovens/adultas: 

Dentre os 500 indivíduos, supondo distribuição uniforme e cerca de metade seriam mulheres, muitas delas poderiam já estar integradas em outros núcleos urbanos, saído do território (com o início da guerra colonial) ou casado fora da comunidade (houve casamentos mistos).

Mulheres de olhos verdes: 

A proporção de pessoas com olhos verdes entre os libaneses era pequena (4-5%, mesmo assim o dobro da média mundial) e a comunidade sírio-libanesa na Guiné Portuguesa era bastante pequena e dispersa, especialmente no interior (Nova Lamego).

Nova Lamego não era centro preferencial para os sírio-libaneses (muitos estavam em Bissau e Bafatá).

Tomando o máximo de 5% (num cenário otimista), mesmo que houvesse, digamos, 10 mulheres sírio-libanesas em Nova Lamego (contra todas as evidências), a expetativa estatística seria encontrar no máximo uma mulher de olhos verdes. 

Se fossem menos (cenário mais realista, segundo os testemunhos orais), a chance de encontrar seria muito baixa (tendendo a zero).

Ou seja, é estatisticamente plausível que Valdemar Queiroz (VQ) nunca tenha visto uma mulher libanesa de olhos verdes (e muito menos fatais) em Nova Lamego, em 1969/70. 

As poucas pessoas com essa característica possivelmente estavam em centros urbanos maiores, como Bafatá ou Bissau, o que explicaria a necessidade de, segundo ele,  "ter pena de nunca ter ido a  Bafatá para vê-las" (*), como outros felizardos.


(iii) Sobre o estereótipo das “mulheres de olhos verdes fatais”:

Esse estereótipo é muito mais ligado a percepções pessoais, culturais e subjetivas do que a uma distribuição real quantitativa.

Olhos verdes são raros na África Ocidental e entre os libaneses no território da Guiné-Bissau, ainda mais numa minoria pequena e dispersa.

A percepção da raridade pode ter sido marcada justamente pela pouca frequência em locais menos urbanos, reforçando o estigma de serem “fatais” pela sua singularidade.

(iv) Dados demográficos gerais da região:

A população da Guiné-Bissau tem cerca de 51-52% de mulheres atualmente, com maior número de mulheres nas regiões rurais e urbanas, incluindo Gabú (Nova Lamego).

Porém, conciliar isso com a distribuição sírio-libanesa, ainda menor e muito reduzida no interior, reforça a baixa probabilidade de avistamento de tal característica (olhos verdes nas mulheres) em locais como Nova Lamego.

Conclusão:

A probabilidade de Valdemar Queiroz (que infelizmente morreu em maio passado) ter encontrado uma mulher libanesa de olhos verdes, fatais, em Nova Lamego em 1969/70 era muito baixa, praticamente nula, dada a pequena comunidade, o padrão de concentração dessa população e a raridade genética da característica dos olhos verdes. 

Ir a Bafatá, com mais possibilidades de encontrar esse tipo de pessoa, era... sensato e condizente com a realidade.

Pode ser que o VQ, lá no céu, tenha mais sorte do que na terra,  e encontre a sua libanesa de olhos verdes, fatais...
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3. Distribuição mundial da cor dos olhos

Estudos e relatos indicam que poucos libaneses têm olhos claros (verdes ou azuis). Genes para olhos verdes são recessivos e, em populações do Oriente Médio, a prevalência é relativamente baixa, mas não desprezível. 

Fontes indicam proporções entre 4% e 5% de pessoas com olhos verdes no Líbano, devido à diversidade genética trazida por séculos de mistura étnica.


Quadro - Distribuição percentual (estimada)  das cores dos olhos, por região
Região / Cor (%)
Casta-
nhos 
Avelã /
Mel
Ver-
des
Azuis
/ Cinz
Mundo (média)~79~9~2~10
Médio Oriente (geral)85–907–101–2<2
Líbano (estimativas)70–7515–204–63–5


Os olhos verdes são, de fato, a cor mais rara na população mundial, e isso se aplica tanto a homens quanto a mulheres. Estima-se que apenas 2% da população mundial tenha olhos verdes (vd. quadro acima).

Embora não existam dados globais que separem especificamente a percentagem por género, alguns estudos sugerem que as mulheres têm uma probabilidade ligeiramente maior de ter olhos verdes do que os homens.

A distribuição percentual das cores de olhos na população mundial, de forma geral, é a seguinte:

  • Castanho: é a cor de olhos mais comum, presente em cerca de 55% a 79% da população mundial; é a cor dominante na maioria das populações da África, Ásia e América Latina;
  • Azul: com aproximadamente 8% a 10% da população mundial, os olhos azuis são mais comuns na Europa, principalmente nos países nórdicos;
  • Verde: a cor mais rara, com apenas 2% da população: os olhos verdes são mais frequentes em pessoas de ascendência celta, germânica e eslava, com altas concentrações em países como Hungria, Irlanda e Islândia;
  • Avelã (Hazel): uma mistura de castanho, verde e dourado, essa cor está presente em cerca de 5% da população;
  • Cinza: considerada uma variação dos olhos azuis, é uma cor extremamente rara;
  • Âmbar e Preto: são cores de olhos muito raras, sendo o preto um caso de olhos castanhos muito escuros, onde a alta concentração de melanina torna quase impossível distinguir a íris da pupila.

A cor dos olhos é determinada principalmente pela quantidade, qualidade e estrutura da melanina, um pigmento castanho escuro, dentro da íris.

Concentrações mais elevadas de melanina resultam em olhos mais escuros, enquanto concentrações mais baixas levam a tonalidades mais claras.

Para além da melanina, as propriedades físicas da interação da luz com a íris são cruciais. O espalhamento de Rayleigh, onde comprimentos de onda mais curtos de luz (como o azul) são espalhados de forma mais eficiente, é responsável pelos olhos azuis quando os níveis de melanina são muito baixos.

O espalhamento de Mie, frequentemente associado a partículas maiores, pode contribuir para a aparência dos olhos cinzentos.

Para olhos verdes e âmbar, um pigmento amarelo chamado lipocromo combina-se com vários níveis de melanina e espalhamento de luz para produzir as suas cores distintas.

A classificação das cores dos olhos pode ser complexa:

  • os olhos castanhos são a cor mais comum globalmente (4 em cada 5, variando de tonalidades muito claras a extremamente escuras; estes olhos possuem uma concentração relativamente alta de melanina;é importante notar que a menção de "olhos pretos" é, na verdade, uma referência às tonalidades mais escuras do espectro castanho, resultantes de uma concentração extremamente alta de melanina. Isso significa que não existe uma categoria biológica distinta de "olhos pretos", mas sim um extremo do espectro castanho;
  • os olhos azuis resultam de uma concentração muito baixa de melanina e da cor estrutural devido ao espalhamento de Rayleigh;
  • os olhos verdes são caracterizados por uma concentração baixa a moderada de melanina e a presença do pigmento amarelado lipocromo, combinado com o efeito de espalhamento azul;é crucial observar que os verdadeiros olhos verdes geralmente se apresentam como uma cor sólida; olhos com uma mistura de manchas verdes, castanhas ou douradas são geralmente classificados como avelã;olhos avelã frequentemente parecem mudar de cor, sendo uma mistura de castanho, verde e, por vezes, dourado resultam de uma quantidade moderada de melanina e espalhamento de Rayleigh;em alguns conjuntos de dados, o avelã é agrupado com o âmbar; 
  • os olhos âmbar são uma cor sólida distinta com um forte tom amarelado/dourado ou avermelhado/acobreado, potencialmente devido a uma maior concentração de lipocromo;
  • os olhos cinzentos são semelhantes aos olhos azuis na estrutura, mas podem ter depósitos maiores de colagénio no estroma, levando ao espalhamento de Mie e a uma aparência cinzenta; historicamente, os olhos cinzentos e azuis eram frequentemente combinados em estudos, mas classificações mais recentes reconhecem o cinzento como uma cor rara distinta; a variação na classificação, como o agrupamento de "Verde/Avelã" em alguns estudos e "Avelã/Âmbar" noutros , indica que não existe uma padronização universal na categorização da cor dos olhos, o que pode influenciar as percentagens exatas reportadas.

A cor dos olhos é uma característica poligénica, o que significa que é determinada pela interação de múltiplos genes (pelo menos 16 genes diferentes estão envolvidos) em vez de um único gene. Genes chave como o OCA2 e o HERC2 no cromossoma 15 desempenham papéis significativos na regulação da produção e distribuição de melanina na íris.

A cor dos olhos é uma característica humana altamente visível, mas a sua distribuição global está longe de ser uniforme. É um fenótipo complexo, determinado por mecanismos biológicos intrincados e influenciado por uma interação fascinante de fatores genéticos, geográficos e até mesmo subtis elementos relacionados com o género.

Vd. no quadro acima a sua distribuição regional e mundial.


4. Cores de olhos no Oriente Médio e no Líbano:


Existem menos levantamentos sistemáticos sobre cor de olhos específicos por país do que em populações europeias, mas dados de antropologia e genética já mostraram:

  • maioria de olhos castanhos-escuros (> 80%) em países como Arábia Saudita, Síria, Jordânia, Iraque;
  • Líbano, Palestina e algumas populações do Egito e do Magrebe têm maior proporção de olhos mais claros (avelã, mel, verdes e azuis) do que a média regional, fruto de séculos de mistura genética mediterrânea, cruzadas, invasões e migrações.

Alguns levantamentos populacionais (baseados em estudos de biometria, clínicas oftalmológicas e registros antropológicos) apontam que no Líbano a distribuição pode ser algo aproximado a:

  • Olhos castanhos (claros e escuros): 70–75%
  • Avelã / mel: ~15–20%
  • Verdes: 4–6%
  • Azuis / cinzentos: 3–5%

Conclusão:

É estatisticamente errado falar que "as libanesas são de olhos verdes", porque a grande maioria continua sendo de olhos castanhos.

Mas é correto observar que o Líbano tem uma incidência mais perceptível de olhos claros (verdes, mel, azuis) do que a maioria dos países árabes ou do Oriente Médio.

(Pesquisa: assistente de IA / Gemini, Perplexity, ChatGPT | LG) (Revisão / fixação de texto, negritos, título: LG)
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(**) Último poste da série > 17 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27128: A nossa guerra em números (34): Colonos - Parte I: os sírio-libaneses