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sábado, 27 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27262: A Nossa Poemateca (11): "Aforismos", de Teixeira de Pascoaes (1877-1952)



Teixeira de Pascoaes (1877-1952) 



1. Mário Cesariny (1923-2006), expoente máximo do surrealismo português, editou um livrinho, "Aforismos, de Teixeira de Pascoaes". São umas escassas duas centenas e picos. Foram selecionados de 9 livros do poeta amarantino.  Apenas uma amostra. Tratava-se explicitamente de uma homenagem do Cesariny que, nos últimos anos de vida do peota, foi visita da Casa de Pascoaes

Para esta série, "A Nossa Poemateca" (*), eu próprio selecionei uns 20% do "corpus" do Cesariny, os mais lapidares, e que eu achei obras-primas do nosso poeta-filósofo da saudade. Naturalmente, com a devida vénia aos dois grandes nomes da cultura portuguesa... 

A "minha lista" está organizada por ordem alfabética (entre parênteses, o número da página do livro citado). 

São aforismos poético-filosóficos (**), "diamantes" do melhor quilate, como, por exemplo, este: "Só a nudez é luminosa". Não há nada aqui de panfletário: "O riso brota dos dentes que mordem"...E alguns são formulados na interrogativa: "A bondade não será crueldade reduzida ao mínimo ?"... Como se houvesse uma escala de intervalo para medir a crueldade, de 1 a 10, em que a bondade seria o pouco ou nada cruel  (1) e o 10 o máximo da crueldade...


A alegria dos mortos floresce a terra (p13)

A  bondade não será a crueldade reduzida ao mínimo ? (p32)

A ciência desenha a onda; a poesia enche-a de  água (p29)

A corrupção favorece as ideias novas (p18)

A esperança, a fé, a caridade, vivem do Matadouro Municipal, onde bois e vitelas, santos e anjos, são assassinados às centenas e repartidos, em bifes, pela macacaria darwinista (p34)

A ideia de água antece todas as fontes (p11)

A imagem das vacas tem maior nitidez que a das pessoas (p16)

A inocência é a auréola do crime (p22)

A luz dos olhos devora tudo. Ser visto é quase morrer. (p24)

A mentira insere-se na verdade (...) (p29)

A miséria ri-se das barrigas fartas e preside a todos os banquetes (p36)

A Natureza odeia a linha reta (p32)

A probabilidade perfeita ou absoluta representa-a um sim sobre um não (p34)

A vaidade é a sinceridade em pessoa (p20)

Agir é construir, destruindo (p32)

Andamos e não chegamos. O andar é tudo: princípio e fim. (p179

As coisas são possibilidades realizadas contendo inúmeras possibilidades realizáveis (p16)

Basta a miséria de um desgraçado, para que todos nós sejamos miseráveis (p14)

Como  é que um animal que fuma pode crer na imortalidade ? (p39)

De que serve ressuscitar ? Toda a gente continua a ver o morto.(p18)

Deus não sabe como se chama ! (p14)

Eliminem a palavra Humanidade e ficaremos cobertos de pêlo num instante (p31)

Em vida, o cárcere sem um postigo. No túmulo, a morte sem uma fresta. (p21)

Existir não é pensar: é ser lembrado (p19

Joaquim, eis o meu epitáfio! (p19)

Morrerás da tua beleza! (p25

Nascer, é pôr a máscara (p23)

O andar é uma hesitação que se desloca  (p23)

O berço e o túmulo não são para os olhos de quem neles está deitado (p15)

O cão ladra e uiva, é já sábio e poeta (p33)

O homem não vive; nasce e morre (p13)

O ideal da nuvem é o rochedo (p38)

O ladrar é literatura (p22)

O mar é a carne do planeta (p23)

O nome desfigura as coisas (p19)

O ódio brame como os tigres, o amor geme como os cães, a tristeza canta de sapo, e a alegria é uma bêbeda, ó Santa Mónica! (p35)

O pecado é mais fecundo do que a virtude (p20)

O português é indeciso e inquieto, como as nuvens em que as suas montanhas se continuam e as ondas emq ue as suas campinas se prolongam (p26)

O riso brota dos dentes que mordem (p28)

Os penedos não são felizes (...)  (p33)

Os velhos riem-se da velhice (...) (p22)

Quanto mais estranhos, mais íntimos (p23)

Sem a estupidez dos penedos, que seria do nosso espírito ? (p12)

Ser uma coisa evidente é ficar reduzido a quase nada (p31)

Só a nudez é luminosa (p21)

Todas as almas são perfeitas (p24)

Todo o enigma da vida está fechado na cabeça duma formiga (p29)

Um homem é ele e o mundo. Um boi é ele sozinho, armado de cornos contra os lobos (p14)


Fonte: Excertos de: Aforismos,  Teixeira de Pascoaes: seleção e organização de Mário Cesariny, Lisboa: Assírio & Alvim, 1998,  39, pp  (Gato Maltês, 36).

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Notas do editor LG:


(*) Último poste da série > 12 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27007: A Nossa Poemateca (10): Ovídio Martins (Mindelo, 1928 - Lisboa, 1999), um grande poeta cabo-verdiano bilingue

(**) A palavra portuguesa  aforismo vem do grego ἀφορισμός (aphorismós), que deriva do verbo ἀφορίζειν (aphorízein), significando “delimitar, definir, distinguir”:

(i) o prefixo ἀπό- (apó) = “separar de, afastar”;

(ii) a  raiz ὁρίζειν (horízein) = “traçar limites, definir” (a mesma origem da palavra “horizonte”=linha aparente, em que o céu e a terra ou o mar parecem encontrar-se)

Em grego,  aforismós significava originalmente  “definição” ou “enunciado que delimita com clareza”.

Recorde-se que é do grego Hipócrates (séc. V a.C.) a obra Aforismos, um conjunto de sentenças breves sobre a saúde, a doença e a arte de curar e de cuidar (a medicina). A palavra passou a designar uma sentença curta e precisa que condensa um princípio ou verdade.

Em poesia reduz-se muitas vezes a uma metáfora ou a um curto pensamento sincrético. Os aforismos aqui selecionados não são enunciados filosóficos,  não expressam um axioma, uma verdade, um conceito... Valem pela  sua capacidade de operar como uma metáfora, fundindo  uma ideia abstrata e uma imagem do real: "O nome desfigura as coisas" ou "Deus não sabe como se chama" ou "O mara é a carne do planeta".

Guiné 61/74 - P27261: Contactem-nos, há sempre alguém que pode ajudar ou simplesmente saber acolher (6): O Cândido Alves, da CCAÇ 1416 / BCAÇ 1856 gostava de voltar ao Gabu como turista... será que existem condições para viajar com confiança para passar uns dias para reviver das recordações daqueles lugares?




À descoberta da Guiné-Bissau : guia turístico / Joana Benzinho, Marta Rosa ; il. Jorge Mateus, Nuno Tavares. - 2ª ed. rev. e atualiz. - [S.l.] : Afectos com Letras, 2018. - 167, [5] p. : il. ; 21 cm + [1] mapa desdobr.. - ISBN 978-989-20-6252-5. 

Disponível aqui em pdf:
https://www.eeas.europa.eu/sites/default/files/guia_turistico_guine-bissau_ue_acl2018_pt_web.pdf



"À descoberta da Guiné-Bissau : guia turístico" > Vd. região de Gabu, pp. 97/104



Crachá da CCAÇ 1416 / BCVAÇ 1856 (



1. Mensagem enviada pelo Cândido Alves através do Formulário de Contacto do Blogger (*):

Data - 23 de setembro de 2035 17:38

Estive na Guiné Bissau desde 26 de julho de 65 a 17 de abril de 67. 

A minha companhia, CCAÇ 1416,  foi colocada em Nova Lamego (Gabu),  ficando a CCS em Bissau. Mais algum tempo, também ela se sediou em Nova Lamego, durante o resto da comissão. 

Na ação da  CCAÇ 1416 percorremos uma vasta area da Guiné desde Bojucunda a Madina do Boé, passando por Canquelifá, Buruntuma, Cheche, e obrigatoriamente Piche e outros locais de passagem ,como Paunca, Pirada,  Cabuca, Beli, Canjadude entre outras tabancas, naquela vasta area. 

Mas foi no Cheche, onde passei com uma secção 2 meses de proteção à jangada. Depois esta secção foi para junto da companhia em Madina, ficando um pelotão em Béli. 

A História desses tempos já é conhecida como o local mais flagelado da zona do Boé.

 Ao Gabú gostava de voltar, como turista. Será que existem condições para viajar com confiança para passar uns dias para reviver as recordações daqueles lugares?

Cumprimentos,
Cândido Alves | candidomarcosalves@gmail.com

2. Resposta do editor LG:

Cândido, obrigado pelo teu contacto.  Infelizmente não temos aqui ninguém da tua companhia que possa dar uma ajuda. (Nem sequer do teu batalhão, a não ser o Manuel Domingues, que foi alf mil op esp/ranger,  comandante do Pel Rec Info, CCS/BCAÇ 1856, Nova Lamego, 1965/67; nem seuqer das outras subunidades de quadrícula, a CCAÇ 1416 e a CCAÇ 1417.)

Mas temos outros camaradas que conhecem bem a Guine-Bissau. Inclusive há alguns  que vão lá com frequência. Esperemos que eles te deem algumas dicas. Divulgamos o teu endereço de email também para poderem comunicar contigo. Mas gostaríamos que partilhassem aqui também a sua experiência. Para que esse conhecimento chegue a todos.

Quanto ao resto encontras na Net o essencial dos conselhos que é costume dar-se a quem viaja para o estrangeiro, e nomeadamente para África. Alguns são "chapa um".

Mas, no essencial, podemos garantir-te pela nossa experiência passada, nossa e dos nossos camaradas que lá têm ido,   que:

(i) a Guiné-Bissau é um destino seguro;

(ii) os guineenses mantêm, com os portugueses, e nomeadamente com os "antigos combatentes", uma relação amigável, amistosa, cordial, hospitaleira;

(iii) tu, que conheceste a região de Gabu, o "chão fula", só vais estranhar as mudanças (sobretudo físicas) que se operaram ao longo destes 50/60 anos: há coisas para melhor, outras para pior; nada de levar expetativas nem demasiado altas nem baixas;

(iv) aconselho-te a que contactes o Hotel Coimbra (que fica na zona histórica de Bissau, frente à Catedral): além de alojamento, eles oferecem-te outros serviços:  (a) aluguer de viaturas climatizadas com motorista; (b) organização de passeios; (c)  turismo de saudade - passeios todo-o-terreno em veículos climatizados pelo interior da Guiné-Bissau, etc.

(v) tens aqui os contactos do Hotel: Avenida Amilcar Cabral, Bissau, Guine Bissau | email: zulupreto2015@gmail.com | telem +245 966 670 836 ;

(v) não somos nenhuma agência de viagens nem representamos nenhum operador turístico da Guiné-Bissau; esta é apenas uma sugestão nossa, o Hotel Coimbra tem tido boas referências dos nossos camaradas que, como  tu, querem fazer uma viagem de "turismo de saudade";

(vi) ir ao Gabu (antiga Nova Lamego), capital da região do Gabu,  não é problema, tens estrada alcatroada, direitinha, de Bissau até lá; a cidade de Gabu está hoje melhor do que a de Bafatá; podes fazer um desvio, em Bambadinca, e ir até ao Saltinho (Região de Bafatá);

(vii) claro que deves lá ir na época seca (a partir de janeiro até maio...);

(viii) e, de preferência, com mais um ou outro casal (partindo do princípio que não vais sozinho).

Quanto ao resto, podes e deves marcar um consulta do viajante. Há requisitos de entrada, como vacina contra febre amarela (vão-te exigir o certificado internacional de vacinação, como me exigiram, a mim, quando lá fui em 2008).

Vais ser aconselhado a tomar precauções contra a malária/paludismo: profilaxia antimalárica, repelente, rede mosquiteira (se dormires no mato, sem ar condicionado),  roupas longas ao entardecer, etc,

Por outro lado, vão-te lembrar que a Guiné-Bissau também tem alguns "senãos":

 (a) em 50 anos tem havdo bastante instabilidade política; (b) há também, sobretudo em Bissau, alguma pequena criiminalidade; (c)  limitação dos serviços de emergência; (d)  oferta de cuidados médicos e hospitalares muita limitada no interior do país; (e) rede de comunicações telefónicas ainda deficiente; (f) rede de transportantes públicos muito deficiente também; (g) estradas, idem aspas...

 Nada como planeares a viagem com o Hotel Coimbra ou outro operador turístico de confiança.

E, por fim, não é por  demais lembrar que em África deves preocupar-.te com a sua segurança pessoal (e dos teus acompanhantes). Não esquecer: 

  • tratar do passaporte válido;   
  • registar-se  no serviço consular / embaixada de Portugal em Bissu;
  • fazer um seguro de viagem (com evacução médica);
  • evitar ostentar objetos de valor durante as deslocações;
  • vestir-se de maneira apropriada para um país tropical; 
  • beber muita água (engarrafada);  
  • andar com cópias dos documentos (incluindo passaporte, apólice do seguro, contactos); 
  • não andar com o  dinheiro todo no bolso (mas ter em conta as limitações do uso de cartões); 
  • levar alguns medicamentos essenciais (antimalária, analgésicos, etc, conforme conselho do médico da medicina do viajante); 
  • levar um pequeno kit de primeiros socorros;
  • informar família/contatos dos itinerários diários, etc.


Entretanhto, aguardo que outros teus/nossos camaradas te façam chegar mais dicas. Por certo vais gostar de voltar à Guiné... E vai correr tudo bem, se começares já  a planear as coisas...E já agora não fiques limitado ao Gabu. Tens o sul, tens o norte, tens Bissaus, tens outars regiões (Quínara, Cacheu, Baftá, Tombali...), tens os Bijagós, tens belíssimos fabulosos parques nacionais , tens gente boa... Ah!, e póe em ordem o teu crioulo, lê o guia turístico cuja capa  acima reproduzimos... E lá fores, "bravo até ao fim", conta-nos depois como foi...

Mantenhas. Um alfabravo. Luís.

PS - Cândido, diz-me se vives em Bragança. E se é a tua página do Facebook. De qualquer modo, ficas desde já convidado para ingressares na Tabanca Grande, a tertúlia e blogue dos amigos e camaradas da Guiné. Já somos 907 (entre vivos e mortos). O último a entrar foi o Júlio Vieira Marques, da CCAÇ 1418, do teu batalhão.  Só preciso de 2 fotos tuas, e a uma curta apresentação em três linhas. Serás bem vindo.

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Nota do editor LG:


(*) Vd. postes anteriores da série >

28 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26085: Contactem-nos, há sempre alguém que pode ajudar ou simplesmente saber acolher (5): Lamine Bah escreve-nos, em francês, a pedir referências sobre o nosso camarada, o maj pilav António Lobato, recentemente falecido

3 de janeiro de 2023 > Guiné 61/74 - P23945: Contactem-nos, há sempre alguém que pode ajudar ou simplesmente saber acolher (4): Mensagens recebidas nos últimos dois meses de 2022

14 de dezenbro de 2022 > Guiné 61/74 - P23881: Contactem-nos, há sempre alguém que pode ajudar ou simplesmente saber acolher (3): Mensagens recebidas entre janeiro e outubro de 2022, através do Formulário de Contactos do Blogger

5 de novembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23763: Contactem-nos, há sempre alguém que pode ajudar ou simplesmente saber acolher (2): amostra de mensagens recebidas entre setembro e dezembro de 2021

7 de agosto 2021 > Guiné 61/74 - P22439: Contactem-nos, há sempre alguém que pode ajudar ou simplesmente saber acolher (1): Mensagens recebidas entre 12 de julho e 6 de agosto de 2021

Guiné 61/74 - P27260: Os nossos seres, saberes e lazeres (702): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (223): Primeiro a Lousã, segue-se São Pedro do Sul - 2 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Agosto de 2025:

Queridos amigos,
A Lousã tem boas casas brasonadas, belas pedras de armas, já se visitou esta bela vila muitas vezes, foi polo industrial, fabricou bons têxteis, no seu património consta uma antiquíssima fábrica de papel. Desta vez preencheu-se uma lacuna, conhecer o Casal da Lagartixa, casa do Mestre Carlos Reis na Lousã, muito trabalhou ele aqui nos finais da década de 1910 e por toda a década de 1920, a casa está bem conservada, guarda a atmosfera do tempo, tem para mim muito mais ganharia se houvesse um espaço com boas reproduções de obras que este magnífico pintor produziu na Lousã. Com a promessa de regressar, segue-se para São Pedro do Sul, outro recanto já conhecido, mas a que se regressa de braços abertos, era enorme a curiosidade para visitar as ruínas do balneário romano que tiveram em tempos recentes obras de requalificação. Notam-se diferenças, as margens do Vouga estão ainda mais esplendentes, os caminhos melhorados. Hoje passeia-se por aqui levados pela curiosidade de ver as mudanças, e confirma-se que elas existem. Amanhã se irá visitar a preceito o balneário romano, creio que nenhum leitor ficará insensível à hipótese de poder vir conhecer ou reconhecer tão augusto lugar.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (223):
Primeiro a Lousã, segue-se São Pedro do Sul - 2


Mário Beja Santos

Segundo dia de viagem, neste momento já sigo bem municiado de documentação, o Dr. Vítor, da Biblioteca Municipal da Lousã, foi generoso, levo uns bons quilos de literatura histórica, aqui vim pedir autorização para visitar o Casal da Lagartixa, residência do pintor Carlos Reis, uma das figuras de topo do naturalismo português, professor da Academia das Belas Artes, diretor de dois museus nacionais e um devoto das belezas paisagísticas da Lousã. A Carlos Reis se deve o espetacular quadro intitulado A Lenda de Arunce, que se pode visitar no salão nobre dos Paços do Concelho da Lousã. O pintor envolveu-se na execução de carpetes, como conselheiro de Arte, terá um papel na execução da torre da Igreja Matriz, é dele o projeto de um coreto no que é hoje a Alameda Carlos Reis. E, inequivocamente, deu parecer à construção do que é hoje o edifício das Paços do Concelho.

Carlos Reis tinha aqui ateliê e construiu a sua casa, a que denominou por Casal da Lagartixa, a Lousã aparece em grande parte das suas obras criadas entre 1919 e 1938. Os críticos diziam que o artista era um mágico da cor, como se pode verificar nos cambiantes da paisagem lousanense.

O mestre visitou pela primeira vez a Lousã em 1913, foi idílio instantâneo. Nas primeiras visitas albergava-se nas instalações hoteleiras, no fim da década de 1920, perto do seu ateliê construiu o Casal da Lagartixa, posicionada no meio de uma encosta na freguesia de Lousã e Vilarinho. Sobre Carlos Reis e a Lousã, escreveu Maria Emília Mexia Santos:
“Nas suas longas temporadas no Casal da Lagartixa, Carlos Reis, familiarizou-se totalmente com a terra que o conquistara. Não olhava às paisagens da sua janela. Saía de casa, dispersava-se pelos campos, fixando a rudeza das árvores, o ingénuo encanto dos carros de bois. Ia até ao povo, dissecava-o, procurando nele os seus mais curiosos aspetos. Não ficou indiferente à beleza cheia de mistério da lenda sobre a fundação da Lousã e dedicou-lhe um quadro magnífico, que foi a sua última tela. Tornou-se uma figura querida da Lousã. Todos pousavam para os seus quadros de bom grado. O mestre conhecia as raparigas mais lindas, as velhinhas mais doces, os homens mais expressivos.”
Vamos então visitar o Casal da Lagartixa.


A Lenda do Rei Arunce e da Princesa Peralta, quadro de Carlos Reis na Câmara Municipal da Lousã
Fotografia de Carlos Reis quando acabava de pintar a Lenda do Rei Arunce e da Princesa Peralta, Casal da Lagartixa, Lousã
Autorretrato de Carlos Reis, Casal da Lagartixa, Lousã
Sala de jantar do Casal da Lagartixa, Lousã
Azulejos com lagartixas, Casal da Lagartixa, Lousã
Exterior do Casal da Lagartixa, Lousã

Finda por ora a visita à tão amada Lousã, caminha-se para o Vale do Vouga, o fito é permanecer em São Pedro do Sul, que tem muito que ver, a estância termal, rico património arqueológico, ponte, capelas, solares e o seu inexcedível património romano, e nas redondezas não faltam aldeias típicas, e até os Cantares de Manhouce, de uma grande riqueza etnográfica e musical.

Arruma-se a viatura e começa a deambulação, logo o Palace, uma imponência hoteleira gerida pelo INATEL, vai-se caminhando, passa-se junto da Capela de São Martinho do Banho (no passado a localidade tinha o seu nome associado a Lafões e a Banho), cuja fundação recua ao século X, arquitetura pré-românica, mais adiante estão as termas romanas, construção do século I d.C., com requalificação no século seguinte, por aqui andou o nosso primeiro Rei à procura de alívio depois da queda aparatosa em Badajoz, onde se fraturou.

Prossegue a caminhada até aos balneários termais, o novo e o mais antigo, dá-se uma olhadela ao Núcleo Museológico Velho Balneário, passa-se a ponte das termas, que já foi importante ramal viário romano, ligava a via Viseu-Porto à via Viseu-Águeda, o tabuleiro assente em seis árvores, não se mencionou desenvolvidamente as melhorias de que foram objeto as ruínas do balneário romano e piscina D. Afonso Henriques, fica para o texto seguinte.

Depositam-se os trastes num alojamento em São Pedro do Sul, a escassos quilómetros da estância termal, passeia-se à volta do Vouga, houve a sorte de fazer esta viagem antes da canícula, desfruta-se a temperatura amena e os bons ares e suspira-se pela hora de amesendar, sabe-se lá se uma vitela de Lafões…


Pormenor da fachada do Palace Hotel em São Pedro do Sul
Pormenor da ala esquerda do Palace
Pormenor da sala de jantar do Palace
O rio Vouga em São Pedro do Sul, com a vetusta ponte ao fundo
Nunca me fora dado a ver uma bizarria destas em fachada de hotel, uma imponente girafa com um candeeiro na boca, tem aparato e chama a atenção, será esse o objetivo da empresa
Imagem antiga do que seriam os banhos em São Pedro do Sul
Imagem do Núcleo Museológico do Balneário Rainha Dona Amélia

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 20 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27234: Os nossos seres, saberes e lazeres (701): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (222): Primeiro a Lousã, segue-se São Pedro do Sul - 1 (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P27259: Notas de leitura (1841): "Os Có Boys (Nos Trilhos da Memória)", de Luís da Cruz Ferreira, ex-1º cabo aux enf, 2ª C/BART 6521/72 (Có,1972/74) - Parte I: Apresentação sumária (Luís Graça)


 






Crachá dos "Có Boys" > Divisa: "Quatro Chapos e Bolinha Baixa"...


1. Chegou-me às mãos, por intermédio do Joaquim Pinto de Carvalho, este livrinho, de 184 pp., edição de autor, 2ª ed. revista e aumentada, e que foi expressamente feito para comemorar, em 2/8/2024,  os 50 anos do regresso da 2ª C/BART 6521/72 (Có, 1972/74). 

Prometo fazer uma recensão da obra, que de 2024 para 2025 foi aumentada e melhorada, integrando preciosos comentários dos seus camaradas.

Para já quero fazer a sua apresentação sumária. E dar os parabéns ao Luís da Cruz Ferreira ( de alcunha, o "Beatle", antes da tropa"), natural da Benedita, Alcobaça.  Teve o posto de 1º cabo aux enf, mas também foi "barman" e depois professor do Posto Escolar Militar nº 20, na tabanca de Có, onde a companhia estava sediada.

"Os Có Boys" é o nome de guerra da companhia. Já de si, um achado. Mas atente-se na sua divisa: "Quatro Chapos e Bolinha Baixa"... Nada mais pícaro e irreverente (face ao RDM)!

É mais uma camarada que se sentiu na obrigação de cumprir a nobre função de "guardião da memória".  Vou convidá-lo a integrar as fileiras da Tabanca Grande. 

Não temos nenhum representante desta subunidade, embora o José Joaquim Martins Morgado, ex-sold cond auto, já tenha 2 referências no nosso blogue, e também está convidado para se juntar ao Luís. É  ele quem nos tem trazido notícias dos convívios dos "Có Boys".

O livro faz parte de um projeto autobiográfico mais vasto. Como diz o autor, é uma pré-publicação do livro que há de sair com a sua história de vida, e está é apenas a  parte que corresponde à tropa e à guerra ( 3 anos de vida). Para já cumpre a função de um roteiro de memórias desse  tempo.

Não tem um índice, mas podemos listar alguns dos principais tópicos abordados:

  • Serviço militar obrigatório, RI 7, Leiria  (pp. 7/18)
  • Coimbra: Regimento do Serviço de Saúde (pp. 18/27)
  • Hospital Militar Principal (pp. 27/34)
  • Penafiel: formação do BART 6521/72 e partida para o CTIG  (pp. 34/45)
  • Bissau e Bolama: chegada e IAO (pp. 45/59)
  • Có: as primeiras impressões, o quartel e a sobreposição (pp. 59/73)
  • A coluna de Teixeira Pinto: o batismo de fogo (pp. 73/85)
  • A rendição da CCAÇ 3308, os "velhinhos" (pp. 86/100)
  • De enfermeiro a "barman" (pp. 100/108)
  • De "barman" a professor (pp. 109/126)
  • Marcelino da Mata, uma referência (pp. 126/132)
  • Rancho, levantamento de rancho, ataque à messe, prepotências (pp. 133/152)
  • Um senhor negro vestido com uma "thobe" branco (pp. 153/156)
  • O ataque à coluna de Có + diversos apontamentos  (pp. 156/162) 
  • O 25 de Abril  que veio da Metrópole (pp.162/174)
  • O regresso a casa (pp. 174/179)
  • 50 anos depois (pp. 180/184).
O autor garante que escreveu esta parte da sua "brochura", de memória, sem ter tirado notas de nada... É "obra", tiro-lhe o quico!... Há quem, quando se pergunta sobre esse passado, responda: " Guiné ?Varreu-se-me tudo da memória?"... Não são casos de amnésia, mas de denegação... 

(Continua)
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Nota do editor LG:

Último poste da série > 25 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27254: Notas de leitura (1840): "O capelão militar na guerra colonial", de Bártolo Paiva Pereira, capelão, major ref - Parte I: Apresentação sumária (Luís Graça)

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27258: Agenda cultural (902): "Venham Mais Cinco", o olhar estrangeiro sobre a revolução portuguesa, 1974-1975, exposição fotográfica para ver até 23 de Novembro de 2025, no Parque Tecnológico da Mutela, Almada (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 1 de Setembro de 2025:

Queridos amigos,
Para mim, é a exposição do ano, poder mergulhar nas imagens que grandes fotógrafos estrangeiros tiraram do nosso período revolucionário. Exposição inigualável, seguramente irrepetível, goza de todos os condimentos para poder percorrer o país. Impressionou-me a afluência, a alegria e a espontaneidade das observações de quem observava as chaimites, os soldados prostrados pelo cansaço, aquele memorável 1.º de maio, a maior festa que houve em Portugal. Cingi-me às muitas dezenas de imagens que falam do período libertador, voltarei para mergulhar na revolução, nos conflitos militares, na reforma agrária, no desaguar do PREC. É bom sentir-me um octogenário que vibra com imagens daquele passado transformador, estão ali as raízes da nossa democracia, e este olhar estrangeiro sobre a revolução portuguesa dá-nos acalento.

Um abraço do
Mário



Venham mais cinco, o olhar estrangeiro sobre a revolução portuguesa, 1974-1975:
De visita obrigatória, própria para a Educação para a Cidadania, oxalá que percorra o País todo


Mário Beja Santos

A exposição decorre no Parque Tecnológico da Mutela, em frente das ruínas da Lisnave, pode ser vista até 23 de novembro. Porquê "Venham mais cinco"? É o título de uma canção de José Afonso, inicialmente escolhida para ser tocada na Rádio Renascença na madrugada de 25 de abril de 1974, como senha do início do golpe militar. Mas, como esta canção estava proibida na rádio, a senha acabou por ser substituída por "Grândola, Vila Morena". Através deste título, os organizadores prestam homenagem a José Afonso.

Na folha de sala o curador da exposição, Sérgio Tréfaut, recorda in memoriam Margarida Medeiros, pelo seu papel essencial neste levantamento único de imagens:
“Venham mais cinco foi uma ideia que surgiu no verão de 1993, quando Margarida Medeiros e Ana Soromenho propuseram que se fizesse uma grande exposição com as imagens dos fotógrafos estrangeiros que haviam retratado o processo revolucionário português. No ano seguinte seria comemorado o vigésimo aniversário do 25 de abril. Margarida e eu rumámos a Paris e mergulhámos nos arquivos das grandes agências internacionais, vasculhando milhares de provas de contacto.
Três décadas depois, a expedição abre as suas portas. Entre o início da nossa pesquisa, no outono de 1993, em Paris, e o seu recente desaparecimento, Margarida Medeiros tinha-se transformado numa das maiores especialistas de fotografia em Portugal, autora de livros de referência, curadora de exposições e responsável pela formação de várias gerações de estudantes. Esta exposição nasceu da nossa amizade.”


Dá-se hoje ao leitor uma imagem muito parcelar da exposição, o nosso património histórico fica muitíssimo mais enriquecido com os olhares de grandes profissionais que por aqui passaram desde o golpe de Estado até ao fim do PREC. Procurei focar-me na primeira secção centrada nos atos libertadores, também tenho direito à comoção, a memórias que ganham eletricidade, podendo apanhar um metropolitano à porta de casa até ao Cais do Sodré, meter-me num barco Transtejo e um autocarro da Metropolitana, preferi uma visita mais cuidada, que irei continuar nas próximas semanas, esta exposição inesquecível merece que se venha e que se volte, há imagens luminescentes que vieram completar o nosso acervo e a obra dos nossos grandes fotógrafos. Prometo continuar.

Entrada do Parque Tecnológico da Mutela, Almada, exposição a aguardar visitas até novembro
Henri Bureau, Sygma/Corbis via Getty Images, 27 de Abril 1974, Lisboa
Jean-Claude Francolon, Gamma-Rapho via Getty Images, 26 de Abril 1974, Rua do Alecrim, Lisboa
Henri Bureau, Sygma/Corbis, via Getty Images, 26 de Abril 1974, Lisboa
Jean-Claude Francolon, 1º de Maio 1974, Lisboa, entrada do estádio onde tem lugar o comício
Henri Bureau, Sygma/Corbis, via Getty Images, 1.º de Maio 1974, Avenida Almirante Reis, Lisboa
Henri Bureau, Sygma/Carbis, via Getty Images, 28 de Abril 1974, Estação de Santa Apolónia, Lisboa, multidão espera Mário Soares, líder do Partido Socialista no seu regresso do exílio
Elementos da PIDE/DGS presos em Caxias, 1975
Jean-Claude Francolon, Gamma via Getty Images, 26 de Abril 1974
Largo do Carmo, Lisboa
Paola Agosti, Abril 1974, Lisboa
Jean-Paul Miroglio, Lisboa, 1975, Crianças saúdam a passagem de una manifestação
Serge July Fotolib/Bibliothèque Historique de la Ville de Paris
Abril 1975, Lisboa, Visita de Jean-Paul Sartre a Portugal
Jean-Paul Miroglio, 1975, Alverca, Cantina da Fábrica Mague, Arroz-doce
Guy Le Querrec Magnum Photos, maio de 1975, Parada de Ester, Beira Alta, Campanhas de Dinamização Cultural, Convívio de militares e camponeses
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Nota do editor

Último post da série de 23 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27247: Agenda cultural (901): Convite da Liga dos Combatentes para a Festa do Livro, a decorrer entre os dias 25 e 28 de Setembro nos Jardins do Palácio de Belém, conforme o programa

Guiné 61/74 - P27257: Ocorrências em viagem nas Lanchas de Desembarque (3): Lua a bombordo/Lua a estibordo (Alberto Branquinho, ex-Alf Mil Art)


1. Em mensagem de 19 de Setembro de 2025, o nosso camarada Alberto Branquinho, (ex-Alf Mil Art da CART 1689 / BART 1913, Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), advogado e escritor, autor de, entre outros livros, "Cambança"; "Cambança Final" e "Deixem a Guerra em Paz", enviou-nos três pequenos contos sobre "Ocorrências em viagem nas Lanchas de Desembarque (JD's). Hoje publica-se o terceiro com o título "Lua a bombordo/Lua a estibordo".


OCORRÊNCAS EM VIAGEM NAS LANCHAS DE DESEMBARQUE (LD’s)

III – Lua a bombordo/Lua a estibordo

Não me recordo se seguiam um pelotão ou dois pelotões em cada LDM.

Navegávamos junto à costa, com um luar intenso e céu limpo de nuvens ou neblinas.

O meu pelotão dormitava ou dormia. No silêncio da noite e apesar do ruído surdo do motor, ouvia-se o coro e contra-coro (mais grave, menos grave) do ressonar vindo dos vários cantos da Lancha.

Tinha-me sido comunicado que o meu pelotão seria o primeiro a desembarcar, com a missão de proteger, em terra, o desembarque do restante pessoal e material. Matutava sobre a melhor forma de o fazer.

Concluí que, antes de a prancha baixar já uma secção devia estar alinhada junto à amurada esquerda da lancha e a outra junto à da direita, com os furriéis à frente. Logo que a prancha baixasse, sairia o da esquerda, correndo pela margem cerca de duzentos metros e, depois, torceria noventa graus sobre a esquerda, correndo o espaço suficiente para que ficassem suficientemente espaçados antes de se instalarem. O furriel do lado direito faria o mesmo que o primeiro, mas correndo para a direita.

Assim preveniríamos qualquer eventualidade e, quase imediatamente, tínhamos uma linha de fogo para proteger o desembarque do restante pessoal.

Quase a dormitar, imaginava a movimentação e onde me deveria colocar e ia apreciando o luar intenso que batia na água com ondulações muito pequenas, as ilhotas de um lado e do outro, os recortes da costa, os ramos das palmeiras que pareciam querer agarrar a lua, os pequenos riachos (ou canais) no recorte da costa. Tudo fortemente iluminado pelo luar.

Toda uma paisagem que empurrava a guerra para longe, muito longe. Mas estava ali tão perto!

De repente ouviu-se um barulho dentro da cabina e, a seguir, a voz do “patrão da lancha”:
- Porra! Quando me deitei, a lua estava a bombordo e, agora, está a estibordo!!! Estás a dormir?

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Nota do editor

Último post da série de 24 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27248: Ocorrências em viagem nas Lanchas de Desembarque (2): Ataque à LDG a partir da margem (Alberto Branquinho, ex-Alf Mil Art)

Guiné 61/74 - P27256: Júlio Vieira Marques, violonista, ex-sold corneteiro, CCAÇ 1418 / BCAÇ 1856 (Bula, Buruntuma e Fá Mandinga, 1965/67): senta-se à sombra do nosso poilão, no lugar nº 907



Júlio Vieira Marques, ex-sold corneteiro, CCAÇ 1418 (1418 (1965/67)

Natural de Paços de Gaiolo, Marco de Canaveses, criado em Santa Leocádia (já no cocnelho de Baião), vive hoje em Matosinhos. Membro da Tabanca de Candoz, da Tabanca de Matosinhos e agora da Tabanca Grande (nº 907)



1. Júlio Vieira Marques: faz parte há muito da Tabanca de Candoz e da Tabanca de Matosinhos. Foi sold corneteiro da CCAÇ 1418, "Os Facas" (Bula, Buruntuma e Fá Mandinga, 1965/67). Mora em Matosinhos. É marceneiro, de profissão. Tem página no Facebook (Júlio Marques).

O Júlio faz parte do grupo musical Os Baiões, e é um entusiástico representante da tradição das tunas rurais que tiveram, nomeadamente na região do Marão (e do Alvão, acrescente -se) o seu apogeu nos anos 50. Temos muitos vídeos dele, em ensaios e atuações ao vivo, incluindo na Tuna Rural de Candoz

Até por volta dos seus 40 anos, o Júlio  também era um excelente tocador de violão. Um acidente com uma máquina de cortar madeira,  levou-lhe a falange do indicador da mão direita. Acabou  por  trocar o violão pelo violino. (Repare-se na mão que segura o arco do violino,  no vídeo que aqui pode ser visualizado )... 

O Júlio é um exemplo extraordinário de força de vontade, talento, sensibilidade, coragem, disciplina e persistência. É, além disso, um homem afável e amigo do seu amigo. A morte, há largos anos,  de um companheiro e amigo, tocador de violão, levou-o a fazer um prolongado processo de luto em que deixou pura e simplesmente de tocar. Um luto de bastantes anos. 

Para felicidade dele e nossa, acabou o luto, e hoje é capaz de estar um dia ou uma noite a tocar violino, sozinho ou acompanhado. 

O seu reportório é impressionante. Animou inúmeros bailes na sua região. Autodidata, também é construtor de violinos. Tem afinidades com a família de Candoz, é cunhado do Quim e da Rosa, a irmã mais velha da Alice, a "chef" Alice, também nossa tabanqueira.

 Tem  tocado diversas vezes  na Quinta de Candoz, em festas de família. 

A sua atuação em Candoz, em 20/10/2012, juntamente com outros músicos (tudo prata da casa, tudo "tios" e  "primos": além do Júlio, o João, o Tiago, o Luís Filipe, o Miguel, o Nelo, o Joãozinho, violas, violões, bandolins, cavaquinhos, etc.), foi no âmbito das Bodas de Ouro de Casamento da Rosa & do Quim (que é também, ele, um excelente "mandador de baile mandado", como se comprova neste outro vídeo disponível na nossa conta You Tube).

Ao fim destes anos todos, o meu/nosso amigo e camarada Júlio acabou por aceitar  o convite para integrar formalmente a Tabanca Grande, a mãe de todas as tabancas.

Ficamos seguramente mais ricos com a sua presença humana e o seu talento musical.  Ele tem página no Facebook mas lida mal com o email e os blogues.  Vai precisar da ajuda do filho. E nossa.

 Passa a ser o grão-tabanqueiro nº  907. E o primeiro representante da CCAÇ 1418 / BCAÇ 1856. Já lhe demos as boas vindas pelo telemóvel. 


2. Ficha de unidade:CCAÇ 1148 / BCAÇ 1856 

2.1. BCAÇ: 1856 

Unidade Mob: RI 1 - Amadora
Cmdt:  ten cor  inf António da Anunciação Marques Lopes
2º Cmdt: Maj Inf Manuel João Fajardo
OfInfOp/Adj: Cap Inf José Olavo Correia Ramos

Cmdts Comp:
CCS: Cap SGE Júlio Augusto Esteves Grilo
CCaç 1416: Cap Mil Inf Jorge Monteiro
CCaç 1417: Cap Inf José Casimiro Gomes Gonçalves Aranha
CCaç 1418: Cap Inf António Fernando Pinto de Oliveira

Divisa: -

Partida: embarque em 31ju165; desembarque em 06ag065 | Regresso: Embarque em 15abr67

Síntese da atividade operacional

(i) Inicialmente, ficou instalado em Bissau (Brá), com a missão de reserva, à ordem do Comando-Chefe e orientado para a Zona Leste, tendo as suas subunidades actuado em diversas operações nas zonas Oeste e Leste da Guiné, atribuídas em reforço a outros batalhões.

(ii)  Em 02mar66, o comando foi deslocado para Nova Lamego, enquanto a CCS se instalou em Piche, até 23abr66, com vista à próxima rendição do BCav 705. 

(iii) Em 01mai66, o batalhão assumiu a responsabilidade do Sector L3, com sede em Nova Lamego e abrangendo os subsectores de Bajocunda, Canquelifá, Piche, Buruntuma, Madina do Boé e Nova Lamego.

(iv) Nesta situação desenvolveu intensa atividade operacional, principalmente na execução de patrulhamentos, reconhecimentos ofensivos, ações de interceção e de defesa dos aquartelamentos e das populações, com vista a evitar o alastramento da luta armada na região do Gabú; pela duração, importância das áreas batidas e esforço desenvolvido, destacam-se as operações "Lagos" e "Lenço", entre outras.

(v) Dentre o material capturado mais significativo, destaca-se: 
  • 2 espingardas,
  • 1 pistola-metralhadora, 
  • 50 granadas de armas pesadas, 
  • 1332 munições de armas
  • ligeiras 
  • e a deteção e levantamento de 50 minas.

(vi) Em 15abr67, foi rendido no sector de Nova Lamego pelo BCav 1915, recolhendo a Bissau para embarque.
Brasão da CCAÇ 
1418,
recuperado
 do poste P26794

 
2.2. CCAÇ 1418, "Os Facas" (Bula, Buruntuma e Fá Mandinga, 1965/67):  

Síntese da atividade operacional: 
  • após o seu desembarque, a CCAÇ 1418 ficou colocada em Bissau durante quinze dias como subunidade de intervenção e reserva do Comando-Chefe;
  • tendo seguido, em 21ago65 para Bula, a fim de realizar uma instrução de adaptação operacional sob a orientação do BCAV 790 [ 28Abr65-08Fev67; do  ten cor cav Henrique Alves Calado], e seguidamente reforçar este Batalhão em ações realizadas nas regiões de Naga, Inquida e Choquemone, entre outras;
  • até 20out65, continuou depois a ser atribuída em reforço de outros batalhões, com vista à realização de diversas ações na região do Jol, em reforço do BCAÇ 1858 [24ago65-03mai67; do ten cor inf Manuel Ferreira Nobre Silva], de 05 a 18Nov65; na região de Gussará-Manhau, em reforço do BART 645, de 16 a 23dez65;
  • nas regiões de Naga e Biambe, em reforço do BCAV 790, de 2 a 16jan66 e novamente de 12 a 26mar66; na região do Morés, em reforço do BCAÇ 1857 [06ago65-03mai67; do ten cor inf José Manuel Ferreira de Lemos], de 13 a 23fev66, onde tomou parte na Op Castor [em 20fev66], um golpe-de-mão à base central do Morés bem-sucedido, já que foi capturada elevada quantidade de armamento e outro material;
  • deslocada seguidamente para Buruntuma, assumiu, em 08mai66, a responsabilidade do respetivo subsector, em substituição da CCav 703, ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão , tendo destacado uma secção para Camajabá e a partir de 21 set66, um pelotão para a ponte do rio Caium;
  • em 03abr67, foi rendida no subsector de Buruntuma pela CCaç 1588 e seguiu para Fá Mandinga, onde substituiu, temporariamente, a CCaç 1589 na função de reserva do Agr 1980;
  • em 09abr67, seguiu para Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.
Fonte: Excerto de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: Fichas das Unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pp. 63/65.

(Seleção, revisão / fixação de texto: LG)


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Nota do editor LG:

Último poste da série > 14 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26919: Tabanca Grande (576): Jacinto Rodrigues, ex-Alf Mil Art, CMDT do Pel Caç Nat 57 (Cutia e Mansabá, 1969/71), que se senta à sombra do nosso poilão no lugar 906