sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9470: Notas de leitura (332): Quatro obras de autores africanos com interesse para a história recente de Cabo Verde e da Guiné-Bissau (Nelson Herbert)

1. Mensagem do nosso tertuliano Nelson Herbert*, jornalista na Voz da América, enviada ao nosso Blogue no dia 7 de Fevereiro de 2012:

Caros bloguistas
Mudando de tema, deixo aqui algumas sugestões de leitura... uma vez que muito se tem referenciado as quase inexistentes publicações e obras da autoria de nacionalistas africanos e claro retratando essa fase histórica... a guerra colonial, do ultramar, de independência ou de libertação!

E cá ficam algumas sugestões... umas recentes, acabadinhas de se darem à estampa, outras (outra !) nem tanto, mas pela sua temática, interessa!



1 - "Testemunho" de Filinto Barros. Nacionalista guineense, que actuou na clandestinidade, deixa nesse seu "Testemunho" a sua percepção e reflexão sobre alguns dos acontecimentos... entenda-se conflitos e guerras intestinas no interior do PAIGC e que acabariam por marcar de forma sangrenta o período da pós independência da Guiné.

Polémica e controversa a obra (publicação póstuma... já que o autor faleceu em finais do ano passado e o livro foi lançado em Dezembro de 2011) de um pouco mais de 100 páginas retrata a leitura que Barros fez das intrigas palacianas que marcaram o pré e o pós golpe de 14 de Novembro, grande parte delas, diga-se, trazida de arrasto pelo PAIGC da guerrilha travada nas matas da Guiné.

Do pós 14 de Novembro, o golpe de destitui Luís Cabral do poder, a guerra civil de 1998/99, passando pelo polémico II congresso do PAIGC de 1992 aos fuzilamentos dos oficiais balantas alegadamente envolvidos na 'intentona" de Outubro de 1994, em o "Testemunho", fazendo jus ao titulo, Filinto Barros, tido como próximo do ex-presidente Nino Vieira, ensaia por outro lado, de acordo com os críticos da obra, um gesto que o “iliba” de alegadas responsabilidades directas em alguns dos acontecimentos que marcaram a história recente da Guiné.

Cite-se a titulo de exemplo o caso 17 de Outubro, a do fuzilamento do membros do oficialato balanta das Forças Armadas, em que na qualidade de membro de conselho de estado, fora na altura chamado a pronunciar-se sobre o “perdão” da pena de morte aplicada a um grupo de ex-guerrilheiros e dirigentes nacionais, então desavindos com Nino Vieira.

O livro, diga-se entretanto em abono da verdade pode ter o dom de atiçar a reacção dos demais históricos do PAIGC (entenda-se sobreviventes), já que alguns dos referenciados pelas ásperas criticas do autor, tal como Barros deixaram de fazer parte de há muito do mundo dos vivos !


2 - “Um Demorado Olhar Sobre Cabo Verde“ de Jorge Querido. Nesta obra, este engenheiro de formação, um ex-antigo funcionário colonial, nacionalista cabo-verdiano, por sinal o responsável máximo das estruturas clandestinas do então PAIGC nas ilhas de Cabo Verde, explica as relações entre Amílcar Cabral e os seus lugares-tenentes, o recrutamento dos combatentes cabo-verdianos e as crispações nas selvas guineenses.

Na obra, escreve Jorge Querido que não se vislumbrava “como poderia o cabo-verdiano envolver-se na luta de libertação, integrado numa organização nacionalista africana, sem que antes tivesse tomado consciência de que a sua "cabo-verdianidade" continha uma fundamental dimensão africana, que os colonialistas, apesar da política de assimilação adoptada, não conseguiram destruir.”

Tem-se como inquestionável, que o despertar de qualquer povo submetido a longa dominação estrangeira é, antes de mais, cultural. Em Cabo Verde, no entanto, os principais movimentos de cariz popular que marcaram a primeira metade do século XX, começando pelos “Claridosos” apontavam, quase todos, na direcção da Europa - escreve ainda Jorge Querido.

No seu “Um Demorado Olhar Sobre Cabo Verde“ Jorge Querido disserta igualmente sobre as razões que terão levado Cabral a associar duas populações na mesma luta, o autor avança várias explicações: teria pesado o facto de Cabral ser filho de cabo-verdianos nascido na Guiné? Teria sido influenciado pelo facto de só em Cabo Verde, pelo nível de escolarização da população, ser possível encontrar o número mínimo de quadros necessário? Ou teria admitido que Cabo Verde, por ser um pequeno arquipélago com pouca população só poderia ascender à independência se fosse "arrastado" por outra colónia como a Guiné?

Em “Um Demorado Olhar Sobre Cabo Verde”, o autor aborda igualmente a polémica questão da luta armada naquelas ilhas atlânticas, tal como chegou a ser preconizada pelo PAIGC.

“Um Demorado Olhar Sobre Cabo Verde“ de Jorge Querido, pelo papel desempenhado pelo autor na implantação no PAIGC naquele arquipélago atlântico, diríamos nós um testemunho de leitura obrigatória e ao entendimento e contextualização do próprio pensamento estratégico de Amílcar Cabral... o de “união” de dois povos numa luta travada nas matas da Guiné.


3 - "Aristides Pereira, Minha vida, nossa história", do jornalista cabo-verdiano José Vicente Lopes aborda a vida do primeiro Presidente da República e ex-companheiro de Amílcar Cabral na luta pela independência de Cabo Verde e Guiné-Bissau.

O livro-entrevista, que narra a história de Aristides Pereira desde o seu nascimento na ilha da Boavista, em 1923, até à sua morte, em Setembro de 2011, em Portugal, recentemente lançado na cidade da Praia, por algumas das revelações contidas e atendendo o facto de alguns dos visados, serem “camaradas do partido” ainda vivos, tem estado a suscitar um certo desconforto nas hostes paicevistas (e ex-paigecistas) em Cabo Verde.

O livro, de 496 páginas, traz detalhes dos anos passados por Aristides Pereira na Guiné-Bissau e em Conakry, até chegar à luta armada, onde conviveu com Amílcar Cabral, a morte do líder, a negociação para a independência de Cabo Verde e os 15 anos que esteve à frente dos destinos do arquipélago.


4 - “La Verite du Ministre –Dix Ans Dans Les Geoles de Sekou Toure” do conacri-guineense Alpha-Abdoulaye Diallo, não sendo de todo um livro recente (original em francês - desconhece-se tradução para uma outra língua), não deixa entretanto de se impor como uma das incontornáveis obras para o entendimento de aspectos fulcrais da história da Guiné-Bissau, nomeadamente a Operação Mar Verde, a da invasão militar portuguesa à Guiné-Conacry e sua repercussão na tirania que viria a marcar o regime de Sekou Touré, assim como o assassinato de Amílcar Cabral, a 20 de Janeiro de 1973, em Conacri.

Num rápido olhar sobre a biografia deste autor e antigo governante guineense, destaca-se o facto de Alpha Abdoulaye Diallo ter dedicado toda a sua carreira politica ao estado guineense e ao regime de Sekou Touré, onde exerceu varias funções, nomeadamente a de secretario de estado dos negócios estrangeiros, chefe da delegação da Guiné e nas Nações Unidas, passando pela pasta de secretário de estado da Juventude, desportos e da cultura popular, na qualidade da qual seria detido em 1971, no rescaldo da operação Mar Verde, a da agressão militar portuguesa a Guine Conacry a 22 de Novembro de 1970. Diga-se, acontecimento que para o autor acabaria por contribuir, ante o clima de desconfiança e de intriguismo politico que se implantou em Conacri para a tirania do regime de Sekou Touré.

Treze ministros fuzilados e outros tantos condenados a “morte lenta” nas tenebrosas celas de Camp Boiro, o “gulag” do regime de Sekou Touré.
Sobre este campo de horrores e de morte lenta realce-se o facto dos então guinéus “capturados” na sequência da Operação Mar Verde, terem passado por ele, antes da morte por fuzilamento !!!

"La Verite du Ministre - Dix Ans Dans Les Geoles de Sekou Toure” não deixa de se constituir no primeiro testemunho em livro, legado por uma das vitimas desse ignóbil período da história da Guiné-Conacri.

(fontes: obras em epigrafe, A semana.cv, Expresso das ilhas.cv, PNN)

PS: As fotos das capas dos livros em questão, estão “attached” ao email enviado ao editor do blogue”.
Deixo entretanto a tarefa da recensão critica a tais obras ao "kota" Mário Beja Santos.

Mantenhas
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 – P9401: Memória dos lugares (171): A minha Bissau, nas vésperas do 25 de Abril de 1974 (Nelson Herbert)

Vd. último poste da série de 10 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9468: Notas de leitura (331): O Boletim Geral do Ultramar (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P9469: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (51): Dois amigos, Paulo Santiago, aguedense, e Vasco Pires, anadiense​, reencontra​m-se, no blogue, ao fim de 50 anos!

1. Comentário, de 9 do corrente, do Paulo Santiago (ex-Alf Mil do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72)ao poste P9461* (depois de saber que o Vasco Pires, antigo comandante do 23º Pel Art, Gadamael, 1970/72, a viver no Brasil, é natural de Levira, Vilarinho do Bairro, Anadia, com "infância e parte da juventude em Anadia, no Colégio Nacional" onde foi os dois foram contemporâneos):

Foi um "clic" ao ler Vasco Pires. Há muitos anos atrás, alguém me disse que estavas no estrangeiro, e que estiveras na Guiné, não imaginava que tinha coincidido com a minha estadia.

Tu eras filho do professor Pires que era colega do meu pai, viemos de bicicleta, desde Anadia, a uma festa aqui em Aguada, estás lembrado?

Este blogue, criado pelo Luís Graça, é na verdade um grande ponto de encontro.

Não tenho ideia de te ter encontrado após a minha saída do Colégio, e ida para ERA [, Escola de Regentes Agrícolas,] de Coimbra, e, sendo assim, não trocávamos palavras há quase cinquenta (50) anos... Impressionante!!!

Continuo a andar lá para os lados de Anadia... Estou velho (estamos) mas vou à Moita treinar rugby com os Veteranos do Moita-Rugby Clube da Bairrada... Há quem diga que tenho uma "pancada", mas vou-me sentindo bem.

Não imaginas o bem que foi ter-te encontrado aqui, neste blogue, ao fim de tantos anos... gostei e fiquei sensibilizado pelo "encontro". Nesta fase da vida, as velhas recordações são um bálsamo.

Vasco, recebe um grande abraço
Paulo Santiago

PS:- O meu mail consta na "lista dos camaradas da Guiné", aqui no blogue: pja.paulo@gmail.com


2. Comentário dos editores:

Vasco: Mais uma razão (fortíssima) para entrares para este blogue... Como costumamos dizer, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Ficamos muito felizes por vocês dois se (re)encontrarem aqui...

Guiné 63/74 - P9468: Notas de leitura (331): O Boletim Geral do Ultramar (2) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 31 de Janeiro de 2012:

Queridos amigos,
Não é de esperar uma surpresa retumbante da leitura das revistas oficiosas, no que toca à torrente informativa em tempos de guerra da Guiné. Fica-se com a sensação que, até ao limite, se pretendeu sugerir que todos aqueles atos perpetrados por bandoleiros não careciam mais de que enérgicas respostas de policiamento. É graças à reação senegalesa que se fica a saber, por comunicados do Ministério dos Negócios Estrangeiros que há combates na região Norte, até então, quem lesse os comunicados de imprensa acreditaria que a situação só era delicada no Sul. Mas a comunicação irá mudar graças aos serviços de imagem montados no tempo de Spínola, como se verá.

Um abraço do
Mário


A guerra da Guiné no Boletim Geral do Ultramar (2)

Beja Santos

O Boletim da Agência-Geral do Ultramar era inequivocamente um órgão propagandístico da responsabilidade do Ministério do Ultramar, acolhia relatos das viagens presidenciais, reproduzia na íntegra os discursos de Salazar, as alocuções ministeriais, incluía artigos apologéticos e carreava larga informação de todas as parcelas do Império. Esta leitura de tal publicação justifica-se para entender como é que o boletim acompanhou desde 1961 a erupção dos conflitos, exclusivamente na Guiné. Nesta incursão, e na sequência do registo efetuado dos acontecimentos até aos finais de 1963, dar-se-á uma síntese dos eventos entre 1964 e 1966.

No noticiário do número referente a Janeiro/Fevereiro de 1964, informa-se que Mamadou Saliou Diallo, natural da República da Guiné, de etnia Fula, chefe do posto aduaneiro de Kandika, com a sua mulher, um filho menor e uma sobrinha, apresentou-se recentemente às autoridades portuguesas pedindo asilo no território. No número seguinte, reportado a Março/Abril, fala-se da inauguração da ponte sobre o rio Mansoa: mede cerca de 150 metros e custou 5.577 contos. O Governo da Província autorizou que a ponte fosse aberta ao trânsito. Situada sobre o rio Mansoa, e junto da vila do mesmo nome, o comprimento da ponte distribui-se por um tramo com 47 metros de vão. A sua faixa de rodagem tem 7 metros.

No número de Maio/Junho dá-se a saber que foi nomeado novo Governador da Guiné, Brigadeiro Arnaldo Schulz. No ato de posse, Peixoto Correia, o Ministro do Ultramar, começou por dizer: “Disse-se durante longos anos que a Guiné era o território de África mais bem administrado”. Adiante, esclarece-se o tipo de subversão existente: “Modificou-se o ambiente de tranquilidade que constituía exemplo. Efetivamente, desde meados de 1961, mas mais ativamente desde fins de 1962, que grupos de terroristas originários do exterior têm provocado em alguns pontos, sobretudo no Sul, incidentes de certa gravidade com o fim de aliciarem pelo terror a gente autóctone e de desarticular a estrutura administrativa e a vida económica da Província (…) O Governo decidiu reorganizar a administração e o comando das forças, concentrando na mesma entidade o desempenho das funções de governador e comandante-chefe”. E até ao final do ano o Boletim-Geral do Ultramar no que toca à Guiné remete-se ao silêncio.

Em 1965, logo no primeiro número, começam a ser reproduzidos comunicados do Ministério dos Negócios Estrangeiros a rejeitar as acusações do Senegal. Logo em 8 de Fevereiro, a delegação senegalesa junto das Nações Unidas enviou uma carta em que se relatam incidentes que teriam ocorrido junto da fronteira entre o Senegal e a Guiné “dita” portuguesa. Tratar-se-ia de ataques com tiros dispersos, arremesso de granadas e a presença de soldados portugueses em território senegalês, na região de Kolda. Na resposta portuguesa, sublinhava-se que era conhecimento das autoridades senegalesas que um grupo de cerca de 400 terroristas estrangeiros tinha violado a fronteira portuguesa e atacado a aldeia de Cambaju. A população fora compelida a proteger-se, competia ao Senegal vedar o acesso aos terroristas.

Dias depois haverá nova acusação do Senegal com teor semelhante e resposta aproximada.

É curioso anotar como Salazar, no seu discurso “37 anos ao serviço da Nação” irá referir em concreto acontecimentos na região, procurando pô-los em benefício da sua política, dizendo: “Da República da Guiné afluem aos nossos mercados junto das fronteiras e aos postos médicos gentes que parecem precisar de géneros e cuidados, muito mais importantes para as populações que as armas fornecidas pelo seu governo aos terroristas que, excetuando o fruto das pilhagens, não podia tirar das suas depredações qualquer outro proveito. Das mesmas terras que chegam populações com os seus gados e outros haveres para fixar-se no nosso território da Guiné, sem que levantemos o escândalo dos refugiados que evitam a opressão e a crueldade dos governantes”.

Em Maio, renovam-se as acusações do Senegal. No número de Maio/Junho, somos informados que o jornalista inglês George Martelli, enviado especial do Daily Telegraph, referindo-se às declarações feitas em Londres pelo líder do PAIGC, em que se sugeria que aquele movimento controlava 40 % do território da Província, observou: “Amílcar Cabral ou não sabe o que diz ou é um destacado mentiroso”. Na secção de noticiário dá-se a saber que Mamadu Sambu, régulo de Empada, tinha ganho o prémio Governador da Guiné, e por essa altura dera-se a inauguração da Casa do Estivador, em Bissau.

Em Junho, dá-se uma notícia detalhada com fotografia de João Bacar Jaló, régulo de Catió, considerado um denodado combatente. Silva Cunha, o novo Ministro do Ultramar, entregou-lhe a Espada de Alferes. Incompreensivelmente, cai um novo manto de silêncio sobre a Guiné.

1966 irá ser também um ano parco de notícias. Ficamos a saber, no número de Março/Abril, que 16 deputados à Assembleia Nacional visitaram a Guiné. Deslocaram-se sobretudo dentro de Bissau onde viram o aparecimento de novas infraestruturas e equipamentos, viajaram até Bubaque, Bolama, Nova Lamego, Bafatá, Ilhéu do Rei, percorreram a península de Bissau, caso de Bor e Cumura. Nesse ano, Rui Patrício, então Subsecretário de Estado do Fomento Ultramarino, visitará a Guiné, ou seja Bissau, Nova Lamego e Bafatá.

Que interesse podemos atribuir à natureza informativa deste Boletim Geral do Ultramar? Era uma publicação estritamente oficiosa mas dá para o estudioso poder ler entrelinhas: será o caso das incursões em território senegalês, fica confirmado, pela natureza dos comunicados, que 1965 é o ano de viragem, Senghor finalmente apoia os ataques dentro da Guiné a partir das bases do PAIGC no Senegal. Não há comentários ao evoluir da guerra, só notícias sobre progresso. Há duas secções que devem ser consultadas no Boletim: as que se referem à leitura dos jornais e as dos comentários aos livros. A Guiné tem pouca coisa, de vez em quando há referências a artigos de O Arauto, as recensões de livros são insignificantes. Schulz deixa passar uma imagem muito ligeira, fala-se dos atos do governador, não há uma só palavra sobre os trabalhos do Comandante-Chefe. Vale a pena comparar a displicência com que Schulz tratou a sua imagem e o modo vibrante como vai ser noticiado todo o trabalho do seu sucessor. Os historiadores e investigadores doutras áreas também não podem descurar outra publicação propagandística, mas com outro cariz, a revista “Ultramar”.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 6 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9449: Notas de leitura (330): O Boletim Geral do Ultramar (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P9467: Parabéns a você (380): José Brás, ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 1622 (Guiné, 1966/68)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 8 de Fevereito de 2012 > Guiné 63/74 - P9458: Parabéns a você (379): Constantino (Tino) Neves, ex-1.º Cabo Escriturário da CCS/BCAÇ 2893 (Guiné, 1969/71)

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9466: (Ex)citações (175): Contraditório, troca de ideias em liberdade (Juvenal Amado)

Paisagem de Galomaro
Foto: © Ex-Alf Mil TRMS Vasconcelos (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado* (ex-1.º Cabo Condutor da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 7 de Fevereiro de 2012:

Eu não lhe chamaria discussões mas sim troca de ideias e conhecimentos.
Uns entram, outros dizem que vão sair, outros voltam a entrar mesmo antes de saírem, outros estão com pé dentro e outro fora e ameaçam que não voltarão a...

É um tipo de chantagem psicológica sobre os outros, ou para depois contarem espingardas e verem em que posição estão.
Fazem-se pressões para que não se diga, não se fale, para que ninguém escute a não ser o barulho, que causa o silêncio sobre as questões que martelam a nossa memória colectiva.
O contrário mostra vitalidade e como este blogue teimosamente sobrevive a uma morte, que é normal para este tipo de publicação.

Não percebo que os camaradas não vejam a beleza, que se consegue com todos a botarem palavra como quem planta uma flor. Bem sei que por vezes são cardos, cactos e as malditas alergias causam muita comichão.
Para que serve o direito de opinar e contraditar, se o mesmo não puder ser usado?

A pouco e pouco têm caído tabus e certezas adquiridas, por não haver documentação escrita. Sobre isso neste blogue escreveram-se milhares de palavras.
Após anos a jurar-se a pés juntos que o PAGIC não tinha artilheiros devidamente credenciados para utilizar algumas peças de artilharia, que não tinham logística motorizada, bem com blindados e por fim aviões e pilotos para os celebres MIGs, eis que aparecem testemunhos de que afinal isso era uma realidade próxima e se a guerra não tivesse acabado, os nossos soldados acabariam por provar por experiência própria, como se diz “que não se acredita em bruxas mas que as HÁ… HÁ!”

Talvez se pensasse que por serem cubanos, russos ou vietnamitas a usar as ditas armas, elas matavam menos e assim a guerra continuaria por tempo indeterminado. Que me importou saber se era guineense ou de olhos em bico, o gajo que disparou os rockets contar mim? No fim o que me interessa, foi que falhou e eu estou cá para contar.

Também se falava das enfermeiras suecas e poucos havia que não estivessem desejosos de encontrar uma. Só nos calendários é que vi algumas suecas, que não eram enfermeiras ou pelo o menos, não estavam fardadas.

Qualquer das formas a sofisticação, nunca foi impedimento para grupos de pés descalços, fazerem frente a exércitos tecnologicamente avançados e ganharem à custa de muitas vidas, mas ganharem. Que o digam os americanos na Somália e entretanto dirão no Afeganistão, onde os burros e kalaschs rivalizam com blindados e aviões de combate ultima geração. Os russos também provaram da mesma receita e os ingleses já há muito fizeram a digestão do mesmo problema que tiveram no século XIX.

O tipo de aquartelamento dos guerrilheiros também é outro pomo de discórdia. Queriam que eles tivessem campos militares assim tipo Sta. Margarida, assim pusessem de parte a mobilidade, apanágio de um exército de guerrilha e mais dizem com grande alegria, que chegavam e não estava lá ninguém. Queriam que eles estivessem à espera, editando uma guerra de posições, onde eles ficariam sempre a perder?

Quanto ao estado físico dos guerrilheiros também se sabe que era um problema cíclico consoante o tempo que andavam em campanha. Há tempos li sobre isso e houve médicos que fizeram estudos sobre o grau de falta de ferro e mais vitaminas na sua alimentação muito pobre, que conduzia a uma extrema fraqueza anémica. O problema agravava-se quando eles eram deslocados das suas zonas de naturalidade, se eram do norte e estava a combater no sul do território ou vice-versa.

Mas não nos admiremos pois em Caculim, quando tínhamos 10 meses de comissão, as doenças, o desânimo causado pelos ataques com mortos, feridos, deserções e alimentação deficiente, quase 40% da Companhia estava inoperacional. Sabe quem lá esteve e que viu pára-quedistas a reforçar a Companhia. Mais tarde estiveram lá Pelotões de Companhias independentes bem como do Dulombi. Eu fui dos que lá estive por diversas vezes.

Não querendo voltar ao mesmo, uma coisa era certa, se não resolvemos o problema enquanto tínhamos alguns créditos internacionais, de 1973 em diante, com o Mundo de costas voltadas à espera que fôssemos corridos, não estou a ver como é tomaríamos as rédeas do assunto para passar à ofensiva militar.

Quanto à situação actual, só constato que um homem armado nunca é bom dialogante nem governante, porque o facto de estar armado, baralha-lhe o discernimento e mais tarde ou mais cedo não resistirá a dar um tiro em alguém.

Termino contando uma pequena mas verdadeira estória que talvez mostre que não vale a pena ignorarmos factos, pois eles mais tarde ou mais cedo voltam.

Quando eu era criança eu não gostava de favas, de couves, de peixe, de gordura da carne etc. o meu pai sem desprimor para ninguém, era um homem muito sábio mesmo só com a 3ª classe, dizia invariavelmente, “põe na borda do prato”. No fim de eu comer o que gostava, ele juntava tudo o que estava na borda do prato e fazia-me comer o que não gostava a frio.
Só me fez isso uma ou duas vezes, porque cedo aprendi com a experiência.

Agora gosto mais de aprender a ouvir, do que erradamente, escolher o que gosto de ouvir.

Um abraço
JA

Dulombi > Soldados portugueses do nosso batalhão e guerrilheiros do PAIGC. Felizmente a guerra tinha acabado
Foto: © Luís Dias (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 8 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9332: Blogoterapia (196): Lembras-te? (Juvenal Amado)

Vd. último poste da série de 9 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 – P9465: (Ex)citações (174): A mágoa de, no meu País, os bravos, os vivos e os mortos, não terem o reconhecimento e o respeito do seu sacrifício, que merecem (Rui Dias Moreira)

Guiné 63/74 – P9465: (Ex)citações (174): A mágoa de, no meu País, os bravos, os vivos e os mortos, não terem o reconhecimento e o respeito do seu sacrifício, que merecem (Rui Dias Moreira)


Fernando Maria Teixeira Dias, fur mil SM, CART 1746 (Bissorãe Xime), morto em embiscada na Ponta Cili, no itinerário Xime-Bambadinca, 14 de novembro de 1968. Foto gentilmente cedida pelo seu sobrinho Rui Dias Moreira (2012).



1. Mensagem de Rui Dias Moreira, sobrinho do nosso camarada Fernando Maria Teixeira Dias (na foto), Fur SAM da CART 1746, morto na emboscada de 14 de Novembro de 1968 em Ponta Coli:

Caro Luis Graça:
 
Começo mais uma vez, por renovar os meus agradecimentos pelo seu tempo e pelo seu cuidado. Li com alguma emoção, o poste (*) que fez o favor de me enviar e aproveito para lhe dizer que já tenho autorização para lhe enviar imagens do tio Fernando, tendo também ficado a saber que existe alguma correspondência do tio Fernando que nunca ninguém leu (penso que chegou posteriormente à sua morte) e que minha tia quer que eu fique "fiel depositário" da mesma.

Gostava também de lhe transmitir que, com alguma surpresa da minha parte, toda a família aprovou e gostou da minha iniciativa, mesmo a geração mais nova, e pedem as minhas tias e minha mãe (com quem discuti pessoalmente o assunto) que lhe agradeça a si desta vez em seu nome.

Como não sei se posso escrever no blogue, gostava no entanto, de clarificar um pouco os motivos que me levaram a contactá-lo e o meu subsequente pedido de ajuda.

Nas minhas andanças pelo mundo trabalhei no início dos anos oitenta, durante algum tempo, como estagiário num banco suíço (Swiss Bank Corporation, entretanto fundido com o UBS) em Londres e algures no mês de Novembro todos os meus companheiros vieram trabalhar com uma papoila vermelha na lapela. Não percebendo o significado, tive que indagar do mesmo, ao que o meu chefe de mesa (eu trabalhava como corretor estagiário) me informou detalhadamente (ao mesmo tempo que mandava desencantar uma papoila para a minha lapela), com uma enorme abrangência histórica e com a fleuma que lhe era peculiar, do significado do "Poppy Day".

No meu íntimo ficou muita mágoa, alguma revolta e até inveja do respeito que via uma Nação, como um bloco, sem excepções, sem considerações políticas, porque desnecessárias, expressar aos combatentes que por ela tinham lutado. Anos mais tarde já casado e com um filho, tive necessidade de me deslocar aos EUA para operar o meu filho mais velho ao coração, no Texas Children Hospital, em Houston. 

Como o aperto emocional era grande,  os meus cunhados que são ambos médicos, na altura no Baylor's College of Medicine também em Houston, decidiram depois da convalescença do meu filho Diogo organizar uma viagem a Austin, onde mais uma vez pasmei; em frente ao Capitólio da capital do Texas existe um memorial que honra os combatentes da guerra da secessão com pormenores da bravura, mortos de ambos os lados, chegando ao pormenor de descrever a desproporção das forças beligerantes; e um outro memorial com a última ordem de batalha dos lendários Texas Rangers a quem várias unidades de forças especiais pediram o nome emprestado.

E foi assim que no meu íntimo, estes e outros exemplos de agradecimento e respeito que fui guardando durante o meu percurso de vida, deixavam sempre uma mágoa; no meu País, os bravos tinham-no sido de igual forma, o reconhecimento e o respeito do seu sacrifício, de vivos e mortos, não.

Desculpe, deixei correr um pouco o pensamento, alonguei-me muito e estarei a maçá-lo, mas queria fundamentar devidamente a minha motivação. Vou por vezes a Lisboa por motivos profissionais, ou ver o meu filho mais novo jogar e gostaria, se fosse possível e os seus afazeres o permitirem, de o conhecer pessoalmente, combinando o encontro com a devida antecedência. Até lá os meus agradecimentos.

Um abraço
Rui Dias Moreira
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Notas do Editor:

Vd. postes de:

4 de Fevereiro de 2012 Guiné 63/74 - P9442: In Memoriam (108): Fur Mil SAM Fernando Maria Teixeira Dias, da CART 1746, morto na emboscada de 14 de Novembro de 1968, perto da Ponta Coli, Xime (Manuel Moreira / Rui Dias Moreira)
e
(*) 5 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9446: Ainda a emboscada de Ponta Coli, Xime, no dia 14/11/1968, em que morreu o Fur Mil SAM Fernando Dias e que fez 10 feridos graves entre o pessoal da CART 1746 (Bissorã e Xime, 1968/69)

Vd. último poste da série de 6 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9448: (Ex)citações (173): Ralis com zebros no Rio Cacine...petas sobre o obus 14 enfiadas a jornalista da BBC em Gadamael (C. Martins, cmdt do Pel Art, Gadamael, 1973/74)

Guiné 63/74 - P9464: Lista dos feridos graves na emboscada de 14 de novembro de 1968, em Ponta Coli, Xime (Manuel Moreira, CART 1746, Biossorã e Xime, 1968/69)

1. Mensagem de onte, do nosso camarada Manuel Moreira:

Luis, em relação à coluna de 14 de Novembro de 1968, acrescento que nela ia também o Cap Vaz, Comandante da Companhia.

Tenho os nomes dos feridos nessa emboscada [, em que morreu o Fur Mil SAM Fernando Dias, e] que são :



Fur Mil Art  Raul Alexandre Cabral Adão
Fur Mil Art José da Conceição Joaquim
1º Cabo Radiot  Laurentino Campos Ribeiro
Sold Atir António Alberto Quinteiro
Sold Trms Manuel Jesus Carneiro Melo
Sold Cond Auto José Maria Sousa Franco
Sold Atir José Maria de Oliveira
Sold Cond Auto José Moniz Vieira
Sold Atir Joaquim Anacleto Antunes
Sold Atir João de Jesus Costa
Sold Ap Morteiro Manuel Pinto Regadas
Sold Milícia Tchunca Baldé
Caçador Nativo Seco Fati
Caçador Nativo Bacar Condé
1º Cabo Atir Guilherme Madeira da Silva

Estes foram os principais feridos com gravidade .

O 1º Cabo Mec Auto Carlos Vidal Pinheiro que referi anteriormente (*), não consta desta lista por não haver gravidade no ferimento, sofreu apenas um raspão num joelho .

Espero te tenha dado a informação que pedias .

Um Abraço

Manel Moreira

_______________

Nota do editor:

(*) Vd. poste de 4 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9442: In Memoriam (108): Fur Mil SAM Fernando Maria Teixeira Dias, da CART 1746, morto na emboscada de 14 de Novembro de 1968, perto da Ponta Coli, Xime (Manuel Moreira / Rui Dias Moreira)

Guiné 63/74 - P9463: In Memoriam (109): Daniel Matos (1950-2011), ex-Fur Mil, CCAÇ 3518 (Gadamael, 1971/74): Agradecimentos da família aos camaradas da Guiné (Joana Matos)

1. Mensagem de Joana Matos,  filha do nosso saudoso camarada Daniel Matos (1950-2011) [, foto à direita, em Gadamael]:

De: Joana Matos [joana.j1978@gmail.com]

Data: 9 de Dezembro de 2011 21:49

Assunto: Guiné 63/74 - P9125: In Memoriam (98): Daniel Matos (1950-2011): Agradecimentos da família aos camaradas da Guiné (*)

Boa noite,  Luís,



Desculpe só agora responder à sua mensagem, mas só hoje a vi no seu blogue.


Agradecia que me enviasse os links dos escritos do meu pai, quando for possível, pois receamos não ter lido todos os textos que o meu pai escreveu sobre a sua passagem pela Guiné.

Gostaria ainda de mencionar uma incorrecção nas datas apresentadas no seu blogue, relativamente às datas de nascimento e de falecimento do meu pai. Em vez de 1949 deve ler-se 1950 e relativamente à data de falecimento, não foi 13, mas sim 12 (à noite). Não tem muita importância, mas fica a nota.

Quanto ao facto de terem sido vizinhos, confirmo que sim, pois ele vivia em Alfragide (norte). 

Qualquer informação que necessite e que esteja ao nosso alcance não hesite em nos pedir.

Continuação de um excelente trabalho no seu blogue.

Um abraço, Joana Matos [, filha de Daniel Matos]


2. Comentário do editor:

Obrigado, Joana, pelo seu cuidado. Começo por lhe pedir desculpa de só agora, com um atraso de dois meses,  publicar a sua mensagem. Por outro lado, deixe-me dizer-lhe que tenho pena de não ter chegado a conhecer, pessoalmente,  o seu pai - e para mais meu vizinho - que, no TO da Guiné foi Fur Mil de uma companhia independente, madeirense, a CCAÇ 3518 (Gadamael, 1971/74) sobre a qual temos também cerca de 3 dezenas de referências, a maior parte da sua autoria.

Os escritos do nosso camarada Daniel de Matos, os escritos que ainda teve tempo, em vida, de deixar para a posteridade, relativos à sua passagem pela Guiné, são um conforto para todos nós, seus camaradas, e naturalmente para a sua família e demais amigos. São também um estímulo para todos aqueles, como nós, que achamos que temos o direito à memória (e o dever de a preservar, enriquecer e transmitir). 

O Daniel tem pelo menos 3 dezenas de referências (ou marcadores) no nosso blogue, a maior parte respeitantes a postes da sua autoria. Ele ingressou formalmente no nosso nosso blogue e na nossa comunidade virtual (a que chamamos Tabanca Grande) em 12 de março de 2010. Aqui vai a seguir uma lista exemplificativa da sua produção (notável, em quantidade e qualidade, para o tempo em que esteve connosco).

O nosso destaque vai para duas séries: (i) Os marados de Gadamael (com 17 postes, que mereciam ser reunidos numa brochura, e que são indispensáveis para se compreender os dias da batalha de Guidaje, em maio/junho de 1973); (ii) Álbum fotográfico de Daniel Matos (3 postes) (*).

Se a Joana achar que o seu pai tem mais coisas, do seu arquivo pessoal (fotos, escritos, objetos, aerogramas, cartas, relatórios e outros documentos - incluindo material escolar...), relativos à Guiné e que queira compartilhar connosco, disponha deste espaço, onde a sua memória continuará a ser cultivada e respeitada por todos os seus camaradas e amigos.

As nossas melhores saudações bloguísticas. LG (**)
_________________


Notas do editor:


(*) Vd. postes de:

20 de novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5308: O Nosso Livro de Visitas (70): Daniel de Matos, ex-Fur Mil, CCAÇ 3518 (Gadamael, 1972/74) 

(...) Caro Luís Graça: Há pouco enviei um comentário para o blog, mas como não tenho a certeza de que a respectiva expedição se tenha realizado a contento, transcrevo-a por esta via. Li, entretanto, a sua observação sobre um antigo convite que me fez para colaborar com o blog, escrevendo alguns testemunhos do tempo da guerra, nomeadamente sobre os 'Marados de Gadamael', e ao qual nunca cheguei a responder. Não foi por preguiça, terá sido por falta de disposição e de tempo, pois além da actividade profissional dedico-me a outras, não me sobrando muitas horas para a família, sequer. (...)


(...) Camarada Luís Graça (só agora reparei que,  além de camaradas,  somos "vizinhos", pois também moro em Alfragide...). Tenho praticamente concluída a prometida "estória" da nossa passagem por Guidaje [, 22 dias de inferno!]. Só que (com alguns anexos), deu um texto de oitenta e tal páginas, o que me parece excessivo para o blog. Em breve, mandar-to-ei e tu dirás... Por agora, envio o anúncio do Convívio Anual da minha companhia que este ano foi marcado para Coimbra e que, como é natural, gostaríamos de ver no blog. (...)


(...) Caro Camarada: Conforme prometi, aqui estou a 'pagar o ingresso' e a enviar as fotografias para formalizar a adesão à Tabanca Grande.´Junto também o prometido texto, em word, reconhecendo que tem uma dimensão desapropriada para o blogue, mas vocês utilizá-lo-ão (ou não) como melhor entenderem.(...).
 

11 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6371: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (17): Devolver os corpos às famílias e Bibliografia

 [ Contem os links para os 16 postes anteriores da série, sendo este, o P6371, o último, dedicado aos camaradas que morreram em Guidaje.]

Lista dos postes anteriores da série de:



16 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6000: Os Maradados de Gadamael (Daniel Matos) (1): Por onde andaram e com quem estiveram?


18 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6014: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (2): Levar a lenha e sair queimado


20 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6027: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (3): Os dias da batalha de Guidaje - Antecedentes à nossa chegada


24 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6041: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (4): Os dias da batalha de Guidaje, 15 a 18 de Maio de 1973


30 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6069: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (5): Os dias da batalha de Guidaje, 19 de Maio de 1973

2 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6090: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (6): Os dias da batalha de Guidaje, 20 e 21 de Maio de 1973


5 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6108: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (7): Os dias da batalha de Guidaje, 22 e 23 de Maio de 1973

14 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6154: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (8): Os dias da batalha de Guidaje, 24, 25 e 26 de Maio de 1973

18 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6178: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (9): Os dias da batalha de Guidaje, 27 e 28 de Maio de 1973

21 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6201: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (10): Os dias da batalha de Guidaje, 29 e 30 de Maio de 1973

24 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6235: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (11): Os dias da batalha de Guidaje, 31 de Maio e 1 a 12 de Junho de 1973

27 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6255: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (12): Os três G e a proclamação da Independência

30 de Abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6283: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (13): Baixas da CCAÇ 3518 em Guidaje~

3 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6307: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (14): Cemitérios de Guidaje e Unidades mobilizadas na Madeira

7 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6334: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (15): Hino de Os Marados, Dedicatória e Balada dos Amigos Separados

9 de Maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6351: Os Marados de Gadamael (Daniel Matos) (16): Composição da CCAÇ 3518

20 de maio de 2010 > Guiné 63/74 - P6438: Álbum fotográfico de Daniel Matos - III parte

[Tem os links dos postes anteriores da série, II Parte e I Parte].


Outros postes (avulsos):

22 de abril de 2010 > Guiné 63/74 - P6211: In memoriam (40): Pequena Homenagem ao Piu, da CCaç 3520/Cacine (Daniel Matos)

Guiné 63/74 – P9462: Convívios (393): VI Encontro dos ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos, dia 3 de Março de 2012 (Carlos Vinhal)


VI ENCONTRO DOS EX-COMBATENTES DA GUINÉ DO CONCELHO DE MATOSINHOS

Caros camaradas, ex-combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos e não só.

Vai ter lugar no próximo dia 3 de Março de 2012 o VI Encontro dos ex-Combatentes da Guiné do Concelho de Matosinhos.

Como é habitual, contamos com a presença, não só dos camaradas do nosso Concelho, mas também com a dos ex-combatentes da Guiné de qualquer ponto do país que connosco queiram confraternizar.

As inscrições, que terminarão no próximo dia 25 de Fevereiro, poderão ser feitas desde já para os telefones:


969 023 731 e 229 996 510 (Ribeiro Agostinho)
916 032 220 e 229 959 757 (Carlos Vinhal),

e ainda para os endereços:

mailto:mjr.agostinho@gmail.com%22 
mailto:carlos.vinhal@gmail.com%22.


Cada camarada, se assim o desejar, poderá fazer-se acompanhar de um familiar.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 5 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 – P9444: Convívios (313): 16º Encontro/Convívio da CCAV 8351 - “Os Tigres de Cumbijã”

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9461: Camaradas da diáspora (10): Vasco Pires, ex-comandante do 23º Pel Art (Gadamael, 1970/72): saiu de Portugal em 1972

1. Resposta de Vasco Pires, ex-comandante do 23º Pel Art, Gadamael, 1970/72,  ao nosso convite para integrar a nossa Tabanca Grande (Comentário, de ontem,  ao poste P9445):

Prezado Luis Graça:

Fico muito grato pela cordial acolhida, bem como pelo convite.

Sou um desses milhões da multicentenária diáspora Lusitana. Em 1972 saí de Portugal, e por aí ando até esta data.

Há talvez um ano, tive o primeiro contacto com o blog; quero te parabenizar como a toda a equipe pelo extraordinário trabalho, bem como pelo alto nível da edição do blog, em assuntos tão polémicos e carregados de emoção, com décadadas de distância.

Cordiais saudações
Vasco Pires


2. Sobre Gadamael,  ele escreveu em comentário ao poste P9445 o seguinte:

(...) "Quando cheguei em Gadamael, penso que em finais de 1970, para assumir o comando do 23° Pelart, os espaldões [do obus 14] já estavam prontos, bem como as casas do reordenamento (com teto de zinco), que foram ocupadas pelo pessoal da artilharia, inclusive a primeira casa, junto à cerca do quartel, foi ocupada por mim e pelos valorosos e esforçados furriéis".  

Presume-se (, apenas pela utilização do vocábulo "parabenizar", ) que o Vasco viva no Brasil. Esperamos que nos dê mais notícias em breve e nos mande as algumas fotos suas, digitalizadas. (LG)
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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P9460: Lições de artilharia para os infantes (2): Cada granada de obus 14 pesava 45 kg e custava 2500$00 (C. Martins, ex-comandante do Pel Art, Gadamael, 1973/74)



Guiné > Região de Tombali > Gadamael > 1973 > Obus 14.... Foto do nosso camarigo J. Casimiro Caravlho, ex-Fur Mil Inf Op Esp, da CCAV 8350 (Piratas de Guileje) e da CCAÇ 11 (Lacraus de Paunca), que passou por Guileje, Gadamael, Nhacra, Paúnca, entre 1972 e 1974...

Foto: © José Casimiro Carvalho (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados


1. Comentário, de 25 de janeiro último,  do nosso leitor (e camarada) C. Martins, ao poste P9392:


 Caro Camarada Luís Graça:


 (...) Para tua informação e de todos os camaradas, éramos reabastecidos por batelões só com granadas,  espoletas e cargas e outro material só para o Pelart.

Ía em média uma vez por mês[ o batelão]. Como é evidente, este stock foi feito durante vários meses. Não tínhamos restrições, mas conseguiu-se aumentar o stock falseando os gastos,  isto é gastavámos menos do que dizíamos para Bissau. Isto tinha como única finalidade não sermos apanhados com as "calças na mão".

Nos intervalos das flagelações, coçavámos a micose mas também repunhamos granadas e etc. lavavamos os obuses ( "tocar punheta", na gíria artilheira, sim que ao lavar o tubo aquilo parecia mesmo isso), [fazíamos} pequenas reparações, etc...Quando era necessário vinham mecânicos de Bissau no mesmo dia de heli até Cacine e depois de sintex ou zebro até Gadamael.

Onde guardávamos tanto material ? No paiol, obviamente, que tinha a porta aberta e cada um servia-se à vontade. Um dia dei-me ao trabalho de contar os cunhetes de munições de G3 e cheguei aos 400 e depois desisti.

Cada granada pesava 45 kg e não 50, e cada tiro custava 2.500$00.

Tínhamos 3 companhias,  1 pelart (52 militares e não trinta), 1 pelotão de canhões s/r, 1 pelotão  de morteiros 81, e 2 pelotões de milícias, no total éramos à volta de 600 militares.

Como vês, é só fazer as contas.

Sobre a minha participação no blogue já te expliquei o porquê... não tenho nada a esconder, mas é melhor para mim estar assim. O teu blogue para mim é um paliativo, posso aqui desabafar, dar um tiro de obus imaginário, faz bem à minha sanidade mental e como eu certamente a muitos de nós.

Um grande OBRIGADO para ti,  extensivo a todos os co-editores.

Repara nas horas a que escrevo, sabendo que logo pelas 8 horas da manhã estou a trabalhar, não não estou reformado, e faz o teu diagnóstico.

Um grande alfa bravo
C.Martins
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Nota do editor:

Último poste da série >  14 de fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7782: Lições de artilharia para os infantes (1): Como era feito o tiro de obus 14 (C. Martins, ex-Alf Mil, Pel Art, Gamadael)

Guiné 63/74 - P9459: Memória dos lugares (175): Gadamael em 1969 (Luís Guerreiro)

1. Mensagem do nosso camarada Luís Guerreiro (ex-Fur Mil, CART 2410 e Pel Caç Nat 65, Gadamael e Ganturé, 1968/70), com data de 6 de Fevereiro de 2012:

Camarada Carlos
Já faz um tempo que não tenho tido participação activa, mas hoje vou fazer, para esclarecer sobre Gadamael no P9445*, Fotos à procura de… uma legenda.

No P9445, a primeira foto da tabanca com telhado de zinco, e a segunda com telhados de colmo, são ambas de Gadamael, a terceira parece ser, mas já é de um tempo posterior ao meu, porque em Março de 69, com a vinda do Pel.Art.13 foram instalados obuses 10.5, pois anterior a Março não havia obuses em Gadamael.

As tabancas de colmo foram construídas no tempo da Cart.1659, para a população que veio para Gadamael, depois do abandono de Sangonhá/Cacoca, que foi realizado em Julho de 68.

Quanto às tabancas com telhado de zinco, foram construídas pelo pessoal da CART 2410 e população, nos primeiros 6 meses de 1969, este reordenamento em principio seria para a população de Ganturé, quando este destacamento fosse abandonado.

Envio fotos da construção, e espero que vá elucidar a dúvida.

Um abraço
Luís Guerreiro

Preparação dos adobos

Construção

Vista aérea

Foto tirada em Junho de 69

Tabanca em colmo
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 5 de Fevereiro de 2012 Guiné 63/74 - P9445: Fotos à procura de... uma legenda (16): Tabanca de Gadamael, 1973 ? (José Sales, CCAÇ 4743, Gadamael e Tite, 1972/74)

Vd. último poste da série de 8 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9457: Memória dos lugares (174): 1.º e 4.º GCOMB da CART 3494/BART 3873 emboscados na Ponta Coli - Xime em 1972 (Sousa de Castro)

Guiné 63/74 - P9458: Parabéns a você (379): Constantino (Tino) Neves, ex-1.º Cabo Escriturário da CCS/BCAÇ 2893 (Guiné, 1969/71)

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 7 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9452: Parabéns a você (378): No dia 6 de Fevereiro também estiveram de parabéns os nossos tertulianos Ana Duarte e Hugo Moura Ferreira (Editores)

Guiné 63/74 - P9457: Memória dos lugares (174): 1.º e 4.º GCOMB da CART 3494/BART 3873 emboscados na Ponta Coli - Xime em 1972 (Sousa de Castro)

1. Mensagem do nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), com data de 6 de Fevereiro de 2012:

A propósito do poste 9446* publicado no blogue, envio em anexo um documento sobre emboscadas que a CART 3494 sofreu na PTA COLI – XIME.
Se acharem que terá interesse para a nossa Estória publiquem.

Um abraço,
SC


O 1º e 4º GR DE COMBATE DA CART 3494 FORAM EMBOSCADOS NA PONTA COLI - XIME EM 1972

- Em 22 de Abril 1972 1º GR COMBATE e 01 de Dezembro de 1972 4º GR COMBATE
- Na primeira emboscada morreu o Fur. Mil. Manuel da Rocha Bento, natural de Ponte de Sor, onde está sepultado e tivemos 19 feridos, 7 dos quais graves.
Foram louvados em 23ABR72 pelo Exmo CMDT do CAOP 2; Fur. Mil. Manuel da Rocha Bento a título póstumo e Fur. Mil. António Espadinha Carda.


1º Cabo Manuel Amorim do Alto e Sold. Manuel de Sousa Monteiro, louvados em 23ABR72 com o PRÉMIO DO GOVERNADOR DA GUINÉ por SUA EXA O GOVERNADOR E COMANDANTE-CHEFE. Estes homens faziam parte do 1º GR COMBATE

- Na segunda emboscada (4º GR COMBATE) tivemos 02 feridos graves e 02 ligeiros, capturamos 02 guerrilheiros para além de diverso material. Todo grupo de combate foi louvado pelo Exmo CMDT Militar em 22FEV73.

- Alf. Mil. António Joaquim Serradas Pereira
- Fur. Mil. Raul Magro de Sousa Pinto
- 1º Cabo Carlos José Pereira
- 1º Cabo Manuel de Sousa Freitas
- 1º Cabo Joaquim Olimpo M. Volta e Silva
- 1º Cabo António Augusto de Jesus Santos
- 1º Cabo Manuel de Medeiros
- Sold. Carlos Dias da Silva
- Sold. José Joaquim Terra
- Sold. Ricardo Silva de Nascimento
- Sold. Mário Rodrigues da Silva
- Sold. Luís dos Santos
- Sold. Manuel Gonçalves da Costa
- Sold. António Pereira Pinto
- Sold. Manuel Carvalho de Sousa
- Sold. Artur Silveira Sequeira
- Sold. Carlos dos Santos Monteiro
- Sold. Joaquim Moreira de Sousa
- Sold. Milícia Salo Balete

Na História do BART 3873 BAMBADINCA no 1º e 9º Fascículo Pág. 59 e 90 Alíneas d) Sub-Sector do XIME está assim registado.

1. (…) Em 260600ABR72 grupo IN emboscou a segurança da PTA COLI (01 GRCOMB da CART 3494). As NT e Artilharia do XIME pôs o IN em fuga.
Sofremos 01 morto (Furriel), 07 feridos graves e 12 ligeiros.

2. (…) Em 010730DEC72 o grupo especial de «Bazookas» de COLUNA DA COSTA e o bigrupo de MAMADU TURÉ e PANA DJATA emboscaram na PTA COLI o 4º Gr Combate da CART 3494 que garantia a segurança ao tráfego da estrada XIME/BAMBADINCA. A emboscada foi conjugada com accionamento de 02 minas comandadas à distância. As NT sofreram 02 feridos graves e os guerrilheiros 02 capturados, perdendo 01 pistola, o1 espingarda automática, 01 L.G. Fog. E 02 granadas de origem soviética. É a segunda acção deste tipo que se desencadeia no lugar (a primeira verificou-se em 22ABR72), desde que o BART 3873 iniciou a sua comissão.

Curiosamente, tenho registado nas minhas notas pessoais em referência a esta 2ª emboscada o seguinte: (não me recordo onde fui buscar estes dados, julgo que era baseado em conversas que nós nas TRMS tínhamos uns com os outros nomeadamente com os Op. Criptos).

- (…) Dia 01/12/72 Emboscada preparada ao grupo de segurança da estrada Bambadinca/Xime, ás 07,30 horas GR IN de 52 elementos 04 sapadores, 05 armas ligeiras, morteiros e RPG.
Apoio aéreo eficaz. Capturados 01 feridos e 01 morto IN, 01 Kalashnikove (AK47), 01 pistola automática, 01 Roquete (LGF) e diverso material (granadas e carregadores). Sofremos, 02 feridos graves e 02 ligeiros (…)

Sousa de Castro
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9446: Ainda a emboscada de Ponta Coli, Xime, no dia 14/11/1968, em que morreu o Fur Mil SAM Fernando Dias e que fez 10 feridos graves entre o pessoal da CART 1746 (Bissorã e Xime, 1968/69)

Vd. último poste da série de 3 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 – P9438: Memória dos lugares (173): Ponte Caium e o seu monumento, em ruínas (Pepito / Magalhães Ribeiro)

Guiné 63/74 - P9456: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (50): Em busca do Joaquim Fernandes (ex-Fur Mil, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12, Bambadinca, 1969/71), meu camarada da recruta e da especialidade do CISMI, Tavira (Eduardo Estrela, ex-Fur Mil, CCAÇ 2592 / CCAÇ 14, Cuntima, 1969/71)


Guiné > Zona Leste > Sector de Farim > Cuntima > Destacamento de Cuntima > CCAÇ 14 > 1970 > 4º pelotão. O Fur Mil At Inf António Bartolomeu é 1º da direita.

Foto: © António Bartolomeu (2007) / BLogue luís Graça & Camaradas da Guine. Todos os direitos reservados.


1. Mensagem,de ontem, do nosso leitor (e camarada) Eduardo Francisco da Cruz Estrela, ex-Fur Mil da CCAÇ 14 (Cuntima, 1969/71) Amigo,  Companheiro e Camarada !

Preciso da tua ajuda!

Retirei do blogue o némero de telemóvel do Joaquim Fernandes [ ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71) e já fiz várias tentativas para o contactar,  mas todas elas resultaram infrutíferas.

Com ele fiz no CISMI [ Tavira,]a recruta e a especialidade, sempre no mesmo pelotão e convosco [ a malta da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12,] embarquei a 24 de Maio de 1969 para a Guiné [, no N/M Niassa].

Agradeço o favor de me indicares a forma de contactar com o Joaquim Fernandes. Se for caso disso, informa-o que é o Estrela da 14, que quer falar com ele. A última vez que o vi, foi pouco depois do nosso regresso, aqui no Algarve,  na zona da Praia Verde.

Um grande abraço e um bem hajam pelo extraordinário trabalho que têm desenvolvido em prol da nossa memória colectiva.

Eduardo Estrela
Ex-Fur- Mil,
CCaç 14 (Cuntima, 1969/71)

2. Resposta de L.G.:

Eduardo: O Joaquim não aparece pelo blogue... Faz parte da nossa Tabanca Grande, vai aos encontros anuais da malta de Bambadinca (1968/71), vive no Barreiro, está bem de saúde... Não tenho o telemóvel dele, atual, mas tens aqui o mail dele... Eu mesmo dou-lhe conhecimento da tua tentativa de contacto.

Agradeço-te as referências elogiosas que fazes ao blogue. Gostaria de te ver integrado na nossa Tabanca Grande. Ficas, por isso, convidado a juntar-te à malta: só preciso de duas fotos e uma pequena apresentação tua  ("Sou o Eduardo Estrela, estive na CCAÇ 14, no sítio tal e tal...")...


Infelizmente temos poucas referências à tua CCAÇ 14... O único camarada que vos representa, aqui, é o António Bartolomeu, do 4º pelotão,  que esteve connosco em Contuboel, a dar instrução.

Um Alfa Bravo (ABraço)
do Luís Graça (Henriques)


3. Historial da CCAÇ 14 (elementos informativos, retirados - com a devida vénia - da página do Carlos Fortunato, ex-Fur Mil da CCAÇ 13 >  Guiné História):

"Companhia de Caçadores N.° 14

"A história da CCaç 13 e da CCaç 14 estão muito ligadas, ambas foram costiuidas em Portalegre na mesma data, e ambas seguiram para Bolama, para treinar os soldados africanos que iriam constituir as respectivas companhias.

"A CCaç 14, e tal como a CCaç 13, teve inicialmente outra identificação, neste caso a de CCaç 2592.

"Em Bolama a CCaç 13 treinou um pelotão de felupes, contudo acabou por ser a CCaç 14, que os integraram durante as suas primeiras operações, mas durante poucos meses, tendo estes seguido depois para Varela, como estava inicialmente planeado.

"O 4º pelotão foi inicialmente destacado para Aldeia Formosa, mas ao fim de poucos meses, juntou-se ao resto da companhia em Cuntima". (CF)
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Resumo Oficial da história da CCaç 14

Companhia de Caçadores n.° 2592
Identificação: CCaç 14
Cmdt: Cap Inf José Luís de Sousa Ferreira
Cap Inf José Augusto da Costa Abreu Dias
Cap QEO Humberto Trigo de Bordalo Xavier
Cap Inf José Clementino Pais
Cap Inf Mário José Fernandes Jorge Rodrigues
Cap Inf Vítor da Silva e Sousa
Alf Mil Inf Silvino Octávio Rosa Santos
Cap Art Vítor Manuel Barata

Início: 18Jan70 (por alteração da anterior designação de CCaç 2592). Extinção: 02Set74

Síntese da Actividade Operacional:

(i) Em 18Jan70, foi criada por alteração da sua designação anterior, integrando quadros e especialistas metropolitanos, e pessoal da Guiné, das etnias Mandinga e Manjaca,  e ainda um pelotão da etnia Felupe, que constituíam anteriormente a CCaç 2592;

(ii) Continuou instalada em Cuntima, nas funções de subunidade de intervenção e reserva do sector de Farim, com vista à actuação prioritária sobre a linha de infiltração de Sitató;:

(iii) Após ter deslocado um pelotão para Farim, a partir de finais de Dez70, foi transferida para Farim em 20Fev71, depois de ter sido substituída, por troca, pela CArt 3331;

(iv) Rendeu, na função de intervenção e reserva do sector, a CCaç 2533, com vista a realizar acções de contrapenetração no corredor de Lamel;

(v) Destacou ainda pelotões para reforço temporário de outras guarnições, nomeadamente de Binta, de 25Abr71 a 12Jun71, Jumbembém e Canjambari;

(vi) A partir de 10Fev73, mantendo no entanto a sede era Farim e continuando orientada para a sua anterior missão assumiu, cumulativamente, a responsabilidade do subsector de Saliquinhedim, para onde deslocou um pelotão;

(vii) Em 02Set74, foi desactivada e extinta.

Observações: Tem História da Unidade a partir de Jan72 (Caixa n.° 117 - 2.a Div/4.a Sec, AHM).

[Este texto foi retirado do livro Resenha histórico militar das Campanhas de África, 7º Volume, Fichas das Unidades, Tomo II - Guiné.] (CF)
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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9358: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (49): O "anónimo" J.B. Marques que comunicou o falecimento de Daniel Matos (Hélder Sousa)

Guiné 63/74 - P9455: Agenda cultural (185): Apresentação do livro A Retirada de Guileje, por Coutinho e Lima, dia 11 de Fevereiro de 2012 na Câmara Municipal de Barcelos e no dia 17 na Câmara Municipal de Ponte de Lima




1. Mensagem do nosso tertuliano e camarada Coutinho e Lima, cor art (R):


No próximo dia 11 de Fevereiro de 2012 (Sábado), às 17 horas, vou fazer uma apresentação do meu livro "A Retirada de Guileje", no Auditório da Câmara Municipal de Barcelos (Largo José Novais).


No dia 17 de Fevereiro (Sexta Feira), às 18h30, idêntica apresentação na Câmara Municipal de Ponte de Lima (Largo da Picota).


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Nota de CV:


Vd. último poste da série de 24 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9393: Agenda cultural (184): Conferência "Voluntariado: Que futuro?" e Exposição de Fotografia "Rostos", fotos de rostos da crianças da Guiné-Bissau, a ter lugar no El Corte Inglês de V.N. de Gaia, dia 26 de Janeiro de 2012, pelas 17h00, na Sala de Âmbito Cultural, piso 6.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Guiné 63/74 - P9454: Ser solidário (120): Tabanca de Matosinhos e Camaradas da Guiné (José Teixeira)

TABANCA DE MATOSINHOS E CAMARADAS DA GUINÉ.
A TERTÚLIA DOS ANTIGOS COMBATENTES AMIGOS DA GUINÉ-BISSAU*

Em Maio de 2005, três combatentes da Guerra Colonial na Guiné, reuniram-se no restaurante Casa Teresa em Matosinhos para avaliar e festejar a sua recente viagem à Guiné-Bissau.

Ali mesmo, tomaram a decisão de manterem um encontro semanal, para no meio de umas sardinhas assadas continuarem a viver esta amizade nascida algumas semanas na sequência de uma viagem através da África subsaariana que os levou à Guiné.
Estavam longe de pensar que esta iniciativa iria tomar as dimensões que tomou e se prolonga no tempo em crescimento constante.
Pouco tempo depois, apareceu um combatente amigo, logo outro e outro. A tabanca foi tomando forma e conteúdo. Cada novo visitante trazia um amigo na semana seguinte. Sentíamo-nos bem ali. Éramos apenas ex-combatentes que procuravam um meio de comunicarem entre si, desabafar aquilo que nos ia na alma, o sofrimento que a guerra provocou em cada um de nós e nos marcou para toda a vida. Que andava cá dentro como que embrulhado e armazenado no “gavetão” mais profundo da mente. Precisava de sair, de ser compreendido. Fenómeno que eu desconhecia até então, mas que hoje face à vitalidade da tabanca verifico que era e ainda é uma realidade.

Ao fim de alguns anos, tivemos de mudar de casa, por falta de espaço na Casa Teresa, para nos acolher. Optou-se pelo Restaurante Milho Rei, pela forma como somos acolhidos, pela qualidade na alimentação e pelo espaço que à 4ª Feira é privativo para a Tabanca de Matosinhos.

Actualmente, cerca de trinta e cinco combatentes, em média, marca encontro semanalmente no Restaurante. Mas não são sempre os mesmos. A crise chegou a todos os bolsos. Porém, todas as semanas há uma ou outra cara nova que chega e conta a sua história e volta, quantas vezes trazendo mais um amigo.
 Cada um que chega tem sempre algo para contar da “sua” guerra, a acrescentar à história que ficara da semana anterior. Quantos de nós se identificam com o lugar ou com as cenas contadas e recontadas com sentida emoção.

Do contar das “nossas” histórias de guerra ao firmar de uma amizade ia um pequeno passo. Amizades que se têm solidificado ao longo do tempo. O companheirismo e a fraternidade são, hoje, na tabanca de Matosinhos um fenómeno que alguém ligado à sociologia já classificou como um “caso a estudar”.
Vinham e continuam a vir do grande Porto, do Norte, do Centro e do Sul. Da Madeira, dos Açores, da França ou da Suiça.

Por vezes acontece uma enchente, como na semana passada em que mais de trinta combatentes da C. Caç 2404, mobilizados pelo tertuliano madeirense João Diogo Cardoso apareceram e encheram como nunca aquela casa, a nossa casa. Setenta e cinco combatentes conviveram ruidosa e alegremente. Reviveram momentos felizes e menos felizes da sua guerra, contaram as suas histórias, comeram e beberam. Depois partiram para suas casas. Uma tarde memorável.

Um excelente trabalho do Diogo ao mobilizar os seus camaradas de guerra para se juntarem na Tabanca de Matosinhos tendo ele e alguns camaradas vindo desde a Madeira de propósito para conviver com esta SUA família.
As imagens que se seguem falam por si. 


Até o Régulo de Mampatá e Medas se mostrou satisfeito. Ele, que tem andado afastado destas lides da Tabanca.


ESTES ENCONTROS SEMANAIS QUE DESDE 2005 SE REALIZAM TÊM DADO OS SEUS FRUTOS

Para além das amizades surgidas, as quais são um bálsamo inebriante para muitos de nós que se aproximam da velhice, num tempo em que a velhice deixou de ser um posto e pode ser, já, um possível pesadelo. Para além da partilha das aventuras e desventuras do tempo da guerra e da consequente “quebra do luto” que muitos ainda não tinham feito, surgiu naturalmente uma forma nova de olhar para a Guiné-Bissau, como um país independente. Um Povo que não nos deixa ficar indiferentes, pela forma que nos acolheu dentro do teatro de guerra. Quantos de nós deixaram acender em si a chama da saudade. Quantos de nós já lá voltamos.
 
Daqui nasceu a Associação Tabanca Pequena – Grupo de Amigos da Guiné-Bissau - ONGD, com objectivos bem concretos de apoio ao desenvolvimento dos povos da Guiné-Bissau.

Convido os leitores a visitarem o Site: http://www.tabancapequena.com/:

Um sonho que anima todos os participantes na Tertúlia da Tabanca de Matosinhos.
Raro é o visitante que não fica ligado à Associação como Associado.
Todos os convivas deixam voluntariamente e solidariamente uma pequena ajuda que está englobada no preço que se cobra pela refeição.

Creio que desta forma solidária para com o povo da Guiné-Bissau estamos a transmitir-lhe o afecto que nos une a eles. Estamos a dizer-lhe que afinal valeu de algum modo a pena termos sido empurrados para uma guerra que na grande maioria, senão totalmente, não queríamos fazer, pelas marcas positivas que nos deixaram e que estão a vir ao de cima na nossa mente.

O que afirmo atrás baseia-se no conhecimento de causa apreendido nestes seis anos de vida da Tabanca de Matosinhos.

Bem hajam todos quantos têm passado por cá. A porta continua aberta e estará sempre aberta até que o último combatente a feche, o que esperamos seja daqui a muitos anos.
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Notas de CV:

(*) Reprodução do P610 da página da Tabanca de Matosinhos publicado em 4 de Fevereiro de 2012 de autoria do nosso camarada José Teixeira

Vd. último poste da série de 7 de Janeiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9325: Ser solidário (119): Anabela Pires: A caminho de Iemberém como voluntária da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento (JERO)