terça-feira, 15 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7949: Memória dos lugares (147): Enxalé, a desilusão... Onde está a arquitectura colonial ? (Henrique Matos / João Crisóstomo)




Guiné - Bissau > Região do Oio > Mansoa  > Enxalé >  Novembro de 2010 > "Este edifício cheira a instalação do comando, seja para tratar do expediente ou local de convívio. Aqui também se ouviram opiniões díspares, houve quem argumentasse que era a casa de um antigo comerciante, nada da Casa Gouveia ou Ultramarina, um comerciante que ali viveu. Seja como for, tem função e está preservada. Agora, os antigos habitantes do Enxalé que se pronunciem."


Foto (e legenda): © Mário Beja Santos (2010). Todos os direitos reservados. 




1.  Troca de mensagens, com data de 29 de Dezembro último,  entre o Henrique Matos, o João Crisóstomo  o Beja Santos, comentando fotos do Enxalé,  publicadas depois no poste P7557 (*)



Caro Mário:

 Que desilusão o Enxalé, aliás como o resto... que é feito da casa tipo colonial onde cresceu a D. Helena, aquela senhora que esteve connosco em Coruche [, filha do Pereira do Enxalé] ? Nessa casa ficava a secretaria, o capitão, a messe de oficiais e sargentos, o posto rádio, etc. Do outro lado da parada havia várias instalações: Bar, casernas, oficinas, sei lá....

A "avenida de poilões" na entrada do Enxalé já no meu tempo era bem bonita. A foto 2 é aparentemente uma parte da oficina. O Crisóstomo confundiu a foto 4; trata-se realmente da saída do Enxalé para a bolanha em direcção ao Xime, aquele poço era um dos locais onde as lavadeiras faziam o seu serviço. A foto 5 é o memorial construído pela CCaç 1439 (tenho uma foto)ao lado havia o memorial da Companhia antecessora,  a 556.

Grande abraço Henrique


(ii) João Crisóstomo (para Henriques Matos, c/c Beja Santos)


 Assunto: Operação Tangomau


Meus caros,


Tem razão o Henrique. O local que lembrei ( #4) embora parecido e por isso me fez recordar o que mencionei não pode ser este; lembro-me que demorou-nos bastante tempo para chegar ao quartel e este pela descrição fica bem perto, embora francamente não me lembro dos pormenores ( poço das lavadeiras? ) mencionado pelo Henrique. ...


Depreendo pelo feedback do Henrique Que desilusão o Enxalé, aliás como o resto... que é feito da casa tipo colonial onde cresceu a D. Helena, aquela senhora que esteve connosco em Coruche? Nessa casa ficava a secretaria, o capitão, a messe de oficiais e sargentos, o posto rádio, etc. Do outro lado da parada havia várias instalações:Bar, casernas, oficinas, sei lá... que há uma outra foto ( #1) que não recebi . Eu apenas recebi a #2 e seguintes. Podem mandar-me essa primeira?


Abraço grande,


João Crisóstomo



(iii) Beja Santos:

Assunto: Operação Tangomau: João Crisóstomo, da discussão nasce a luz. O fundamental é comunicarmos entre nós até se chegar à identificação. Haverá mais imagens na Operação Tangomau de hoje. Grande abraço, Mário (**)
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Notas de L.G:


(*) 5 de Janeiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7557: Operação Tangomau (Mário Beja Santos) (10): O dia no Enxalé, em Madina e Belel

(**) Último poste da série > 13 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7938: Memória dos lugares (146): Bedanda 1972/73 - Natal de de 1972 (António Teixeira)

Guiné 63/74 - P7948: (In)citações (27): O Cherno Aliu Djaló, actual Califa de Quebo-Forreá, agradece aos nossos camaradas Vasco da Gama e Arménio Estorninho as fotografias do Cherno Rachide, seu pai e antecessor (Pepito)


1. Mensagem acabada de chegar do nosso amigo Pepito, juntamente com a foto que se publica acima, do Cherno Aliu Djaló:

Assunto: Fotografias do Tcherno Rachid


Amigo Luís


Mando-te uma foto do Tcherno Aliu Djaló, filho do Tcherno Rachid, o qual é o actual Califa de Quebo-Forréa. No momento desta foto entregava-lhe as fotografias que os nossos amigos Vasco da Gama e Arménio Estorninho me deram quando eu aí passei, [, em Lisboa,] em Fevereiro.

Ficou muito sensibilizado e pediu que lhes transmitisse que teria muito prazer e honra em recebê-los em sua casa e na terra do Tcherno Rachid.

Aqui fica o convite, e a certeza de que tudo farei para que eles se desloquem para o ver, quando regressarem a Bissau.

Um grande obrigado para eles.
pepito   
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Nota de L.G.:


Último poste da série > 22 de Fevereiro de 2011 >  Guiné 63/74 - P7836: (In)citações (29): A morte de Salifu Camará, rei dos nalús, e pai espiritual adoptivo do nosso amigo Pepito

Guiné 63/74 - P7947: Convívios (300): 10.º Encontro da Tabanca do Centro, dia 30 de Março de 2011 em Monte Real (Joaquim Mexia Alves)

1. Conforme o solicitado pelo nosso camarada Joaquim Mexia Alves, CMDT da Tabanca do Centro, dá-se notícia do 10.º Encontro daquela Tabanca, desta vez, no dia 30 de Março pelas 13,30 horas, no local habitual, Pensão Montanha de Monte Real.



10º ENCONTRO DA TABANCA DO CENTRO


O 10.º Encontro da Tabanca do Centro irá ter lugar no dia 30 de Março, pelas 13.30 horas, na Pensão Montanha, claro, em Monte Real.

Continuaremos com... o Cozido à Portuguesa!

O local de reunião continuará a ser, como sempre, no Café Central de Monte Real, pelas 13.00 horas.

As inscrições terão de ser feitas no Blogue Tabanca do Centro (na caixa de comentários) ou para o endereço tabanca.centro@gmail.com impreterivelmente até às 12.00 horas do dia 28 de Março.

Precisamos de ideias para aplicar os "dinheiros" já existentes.

NOTA:
A fotografia é de um encontro da Tabanca do Centro, algures em Mato Cão!!!

JMA
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7941: Convívios (215): 28.º Encontro Nacional do pessoal do BENG 447, dia 9 de Abril de 2011 em Aveiro

Guiné 63/74 - P7946: Notas de leitura (218): A PIDE/DGS na Guerra Colonial 1961-1974 (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Março de 2011:

Queridos amigos,
Ainda hoje não entendo como se demorou tanto tempo a investigar os arquivos da PIDE/DGS para encontrar a natureza das suas actividades na guerra colonial. Melhor ou pior, estas delegações iam informando Lisboa, na fase inicial do desencadeamento da luta armada, da evolução da guerrilha, tipos de armamento, recrutamento, processos de intimidação, material de propaganda, etc. Como veremos mais adiante, a PIDE foi explicando para Lisboa com algum detalhe o que se estava a passar na Guiné, logo em 1962. Estas informações necessariamente que precisam de ser equacionadas com os relatórios dos governadores, dos comandos militares, testemunhos civis, etc. Importa não esquecer que os arquivos dos guerrilheiros também contam. Isto só para alertar que ninguém pode dar-se por satisfeito e poder dizer que o essencial sobre a guerra está escrito.

Um abraço do
Mário


A PIDE/DGS na guerra da Guiné

Beja Santos

Reconhecido pela crítica e pela investigação científica, “A História da PIDE”, de Irene Flunser Pimentel, Círculo de Leitores e Temas e Debates, 2007, é o tratado fundamental sobre a polícia política do Estado Novo. Irene Pimentel, que veio a ser galardoada com o Prémio Pessoa [, em 2007,], é uma investigadora indispensável sobre algumas instituições do Estado Novo e também obra de referência a sua fotobiografia do Cardeal Cerejeira bem como o seu trabalho “Judeus em Portugal durante a Segunda Guerra Mundial. Em Fuga de Hitler e do Holocausto”.

Na sua obra “A História da PIDE”, é-nos dado é relato minucioso da repressão exercida, os seus métodos, desde a vigilância, passando pela captura e pelo interrogatório até à investigação e instrução dos processos; ficamos a conhecer o perfil dos detidos políticos, a vida nas prisões, os julgamentos políticos, as relações entre a polícia política e o aparelho judicial e de igual modo é aflorada a relação entre a PIDE/DGS e as Forças Armadas, isto para já não falar sobre a vigilância sobre todos aqueles que, fora dos inimigos figadais do regime, revelavam qualquer dissidência social, política e até religiosa. Irene Pimentel declara taxativamente que não investiga este domínio da participação da PIDE na guerra colonial na justa medida em que fora feita uma tese de doutoramento sobre este tema: “A PIDE/DGS na Guerra Colonial, 1961-1974”, por Dalila Cabrita Mateus, Terramar, 2004.

É sobre este trabalho que nos vamos debruçar, exclusivamente na orientação das actividades da PIDE/DGS no território da Guiné.

A autora dedica o seu trabalho “À memória do meu irmão, Raúl [Evaristo]dos Santos Cabrita, primeiro-sargento[, SAS,] da Força Aérea, morto em Março de 1967, na Guiné. E à memória dos angolanos, cabo-verdianos, guineenses, moçambicanos e portugueses, vítimas do terror e da guerra colonial”. Dalila Mateus procurou três objectivos: conhecer tão profundamente quanto possível a organização da PIDE/DGS nas colónias; descobrir os contributos dados (em repressão, em informações para os militares e operações de natureza diversa) durante a guerra colonial; estudar as relações externas e internas da polícia política. Dentre as suas fontes, veio a revelar-se como mais preciosa os arquivos da PIDE na Torre do Tombo, estão ali depositadas informações estratégicas de valor incalculável para o estudo de toda a guerra.

No primeiro capítulo (“A PIDE/DGS nas Colónias”), há três matérias circunstanciais que nos interessa para o estudo da Guiné. O primeiro, tem a ver com a Operação Mar Verde, era responsável da PIDE/DGS na Guiné o inspector Matos Rodrigues que terá afirmado que “havia uma grande dificuldade no trabalho de informação”, os militares não disporiam de um serviço de informações credível e a delegação não tinha organização, não havia rede de informações internacional, não era possível exercer uma aturada vigilância sobre os guerrilheiros. Era tudo débil. Narra-se seguidamente a história de M, agente provocador na Guiné. M estabeleceu contactos com Rafael Barbosa e outros, apresentou-se como membro da Acção Revolucionária Armada (ARA), procurou recrutar “rapazes evoluídos” para a luta na Guiné, propôs-se mesmo ser o elo de ligação entre o PAIGC, a ARA e o PCP, arvora propaganda da União Revolucionária marxista-leninista. Com tanto espavento, ninguém lhe deu crédito.

Fragoso Allas virá a revelar-se a figura predominante da PIDE na Guiné. De 1968 a 1971, é adido comercial na missão de Portugal em Kinshasa, de 1971 a 1973 foi chefe da delegação em Bissau onde terá sido “mais fiel a Spínola do que à hierarquia da PIDE”. Um colaborador directo de Spínola disse de Allas: “Na Guiné, era o homem das missões delicadas, que estava dentro das coisas todas. Do Allas, tudo era possível.

No segundo capítulo (“A Repressão”), há uma referência ao campo de trabalho da Ilha das Galinhas, nele teriam estado mais de uma centena de presos políticos. Segundo a autora, em meados de 1969, foram transferidos do campo do Tarrafal para aqui 58 presos guineenses. Um dos transferidos, Bruno Dantas Pereira, considera o campo da Ilha das Galinhas ainda pior que o Tarrafal e nele morreram, segundo afirma, alguns detidos, vítimas de espancamento.

No terceiro capítulo (“As Operações”), cresce o número de referências à Guiné. Falando do assassínio de Amílcar Cabral, refere os planos de 1967, de 1969, 1970, 1971 e 1973. Começando pelo primeiro, diz Dalila Mateus que “Em 1967, na Guiné, o então chefe da delegação da PIDE, inspector Miguel António Cardoso, propõe ao director-geral um plano para suprimir Amílcar Cabral e furtar os arquivos do PAIGC em Conacri”. Ao que parece o projecto não tinha pés para andar e depois da substituição do inspector Cardoso o plano foi abandonado.

A “Operação Chèvre” data de 1969, envolveu várias colaborações, terá tido inclusive a participação de um diplomata senegalês. Fica-se sem perceber se é esta a tentativa de assassinato que Luís Cabral refere nesta data e que deu circunstância para várias execuções sumárias na região do Boé. Na Operação Mar Verde (Novembro de 1970) segundo Alpoim Calvão, se Cabral estivesse em Conacri, teria sido “seguramente eliminado”.

A questão no essencial continua nebulosa. No entanto, sabe-se que caíram obuses no Bairro onde vivia Amílcar Cabral. Spínola, no entanto, afirmou que dera ordem a Alpoim Calvão para trazer o líder do PAIGC vivo. Também não dá para entender como é que a autora diz soberanamente “Temos de concluir que o marechal Spínola faltou à verdade. Tal como terá faltado quando afirmou nada ter a ver com o assassínio de Amílcar Cabral”. O que acontece é que não há nenhuma prova, absolutamente nenhuma, de envolvimento da PIDE no assassínio de Amílcar Cabral, nenhum investigador encontrou qualquer documento probatório, manda o rigor histórico que o investigador não especule quando não pode provar.

Voltando aos factos, em 1971, a PIDE/DGS em Cabo Verde voltou a planear o assassínio de Amílcar Cabral, a polícia política contava com um antigo membro do PAIGC, um cabo-verdiano residente em Monróvia, na Libéria. Esta tentativa também não resultou. A PIDE, entretanto, vai coligindo informações sobre descontentamentos interétnicos e sugere a exploração de todas estas divergências.

Em Março de 1972, Cabral apresentou à direcção do PAIGC um documento contendo um plano de Spínola para decapitar o PAIGC, com três fases, trata-se de um documento incontornável na história do PAIGC.

Quanto ao assassinato de 20 de Janeiro de 1973, continua cheio de incógnitas. Não vale a pena invocar o testemunho de alguns conjurados, sabe-se hoje que todos estes interrogatórios decorreram numa atmosfera de horror, no todo ou na parte comparáveis aos mais sinistros que ocorreram em atmosferas totalitárias. Os testemunhos dos autores do crime valem o que valem. E não serve pôr em confronto o que sempre disse Spínola quanto ao seu não envolvimento e o que terá dito Fragoso Allas a Otelo Saraiva de Carvalho quando foi apresentar despedidas pelo fim da sua comissão de serviço na Guiné (“os tipos tinham ido longe de mais, porque a missão era só raptar e conseguir trazer Amílcar Cabral para Bissau como refém”).

(Continua)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7934: Notas de leitura (217): Jardim Botânico, de Luís Naves (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P7945: (Ex)citações (133): Editor, precisa-se! (Albino Silva, ex-Sold Maq, CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70,... com saudades da linda vila de Camabatela, Angola)




Blogue do Albino Silva  > Bat Caç 2845 Teixeira Pinto... Ou dos blogues...

O nosso camarada Albino Silva, além de poeta e escritor,  natural da Gandra, Esposende, apresenta-se na blogosfera como tendo como "ocupação: procurar camaradas".... E acerca dele diz mais o seguinte: "Muito jovem ainda, pois tinha apenas 11 anos quando fui para Angola trabalhar, pois foi dentro de um Balcão que comecei a despertar para o trabalho e para a vida. Hoje tenho saudades de Camabatela, aquela Linda Vila que deixei lá no Norte, e até hoje jamais esqueci.

"Já são muitos os anos,  é verdade, mas nem com o tempo esqueci todo o meu passado de menino, daquele Vila de Camabatela que me acolheu e de quem guardo muitas saudades. E por isso vou recordando Camabatela,  sempre que escrevo alguma coisa, com Amor e Dedicação" (...) .


1. Comentário de Albino Silva (Sold Maq, CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70) ao poste P7937 (*):

Sou o Albino Silva, aquele Soldado Maqueiro ali sentado e escrevendo,  com a G 3 a meu lado, no mato sim, e [escrevendo justamente]  um aerograma para uma madrinha de guerra.

Quero dizer ao José Vegar,conselheiro editorial, e colaborador do Expresso, que na Guiné e sempre que podia,  ia desabafando ao escrever fosse para quem fosse.

Cá, por trauma ou nem sei quê, escrevi um livro com a História da Unidade do BCAÇ 2845, e ainda outro, Armados para a Paz. [ Edição de autor, 2010].

O problema é que,  como falam da Guerra Colonial na qual participei, acabaram por ficar na Gaveta já que poucos foram para Camaradas do Batalhão, e editados por mim.

É claro que não são romances, nem ficção, mas relatam uma realidade vivida numa guerra,e por isso sem divulgação, o que me deixa triste já que ninguém mais saberá de sua existência.

Estão aqui na gaveta porque não tenho posses para ir mais longe, pois tenho muito para falar daquele passado triste que não se esgota nas nossas memórias.

Albino Silva
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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de 13 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7937: (Ex)citações (132): "Continuo a ter dúvidas de que as histórias [dos combatentes da guerra colonial] devem ter o livro como destino, mas não tenho dúvida alguma de que estas histórias precisam de um sítio onde fiquem acessíveis para os vindouros" (José Vegar, conselheiro editorial, Expresso, 12/3/2011)

Guiné 63/74 - P7944: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (83): Na Kontra Ka Kontra: 47.º episódio




1. Quadragésimo sétimo episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 14 de Março de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


47º EPISÓDIO

Um dia resolve ir a Bafata, mais para reviver os velhos tempos e também os guineenses amigos que lá deixou. Na Asmau não deposita grande fé. Dada a apregoada esperança de vida dos guineenses o mais certo seria ter morrido. Se ainda viver, com cinquenta e muitos anos, deve estar velha e enrugada. Num Domingo mete-se à estrada. Passa por Safim onde é obrigado a parar por várias barreiras, policiais e do exército. São barreiras caricatas que obrigam os carros a parar com o auxílio de umas velhas cordas, com farrapos pendurados para se verem melhor. Uma pessoa é obrigada a parar e um guarda muito calmamente começa a dar voltas ao carro. Nada acontecerá enquanto o condutor não der o chamado “mata-bicho” ao polícia. Magalhães Faria depressa se apercebe como resolver a situação e passa a andar no “tabelier” com uma embalagem de barras de cereais. Em cada paragem uma barrita é suficiente para baixarem logo a corda.

Continuando a conduzir para Bafata, passa por Nhacra e Jugudul onde um velho amigo tem uma destilaria de aguardente de cana. No regresso parará ali para o cumprimentar. A estrada, agora uma recta com uns vinte quilómetros, atravessa as zonas de Madina Belel e Mato de Cão, ao tempo santuários do PAIGC. Não deixa de sentir alguma emoção. Chega a Bambadinca, que está perfeitamente irreconhecível. Tinha crescido imenso. Só consegue reconhecer o local do antigo quartel pelas antenas. O mercado de rua ajuda à confusão. Dentro da tabanca aparece um cruzamento. Para a esquerda diz Bafata 28 km, para a direita Xitole e Saltinho. Pára o Jeep. A placa com a palavra Bafata mexe com ele. Só ao fim de alguns minutos é que resolve arrancar.

A palavra Bafata “mexe” com Magalhães Faria.
(Foto de José Manuel)

Não virou à esquerda como devia mas sim à direita. Estava-lhe a custar enfrentar a realidade. Tinha acabado de resolver ir primeiro ao Saltinho, que não conhecia e sabia ser um local muito belo. Almoçaria lá e à tarde iria a Bafata. Nitidamente Magalhães Faria estava apreensivo em relação ao que podia vir a acontecer em Bafata. Chegado ao Empreendimento Turístico do Saltinho, que ocupa parte do antigo quartel e, antes de almoçar um óptimo prato de peixe bica, vai refrescar-se no Rio Corubal, que atravessa a nado depois de lhe confirmarem que por ali já não havia crocodilos. Embora tenha almoçado na esplanada, não deixa de ver na sala de refeições, as coloridas pinturas que as diversas Companhias da tropa portuguesa fizeram nas paredes. O Senhor Fernando, dono do empreendimento, leva-o a visitar todas as instalações mostrando-lhe até um tanque, com uma alta vedação de rede, onde tem os seus crocodilos de estimação. Magalhães Faria não deixa de ter um calafrio por ter andado a nadar calmamente no Corubal.

Magalhães Faria junto ao Corubal.

Despede-se do Senhor Fernando e ruma a Bafata. Em Bambadinca não pára, mas não deixa de reduzir a velocidade como dando tempo para os seus pensamentos se ordenarem, quiçá, dar meia volta e ir para casa. Absorto como ia, só dá conta que está a chegar a Bafata quando atravessa a ponte sobre o rio Colufe. Também não reconhece Bafata. Cresceu tanto que até há construções onde existia a pista de aviação. Resolve ir ver o que foi o seu quartel, o Comando de Agrupamento. Ainda funciona como quartel. Os militares presentes não põem quaisquer obstáculos e o ex-alferes chega a tirar uma fotografia sentado na, que deve ter sido, a sua cama de ferro, ainda utilizada. Uma grande emoção.

Magalhães Faria sentado no que pode ter sido a sua cama há 40 anos.

Princípio de tarde e o calor aperta. Magalhães Faria resolve ir beber uma cerveja a um café-restaurante, no rés do chão dum prédio situado na parte de construções coloniais, agora quase toda em ruínas. Por cima é a sede dos Médicos do Mundo. O restaurante pertence a um casal de portugueses mais ou menos da sua idade. Palavra puxa palavra, grande NA KONTRA, o dono é, nem mais nem menos, a mesma pessoa que há quarenta anos lhe deu boleia de Bambadinca para Bafata, na primeira vez que o ex-alferes regressou à Guiné, após férias na Metrópole.

O civil que há 40 anos deu uma boleia ao então
Alferes Magalhães.

Depois de tirar uma fotografia, despede-se e promete voltar para recordar os velhos tempos. Já no jeep, com ar condicionado, resolve definitivamente ir procurar a Asmau, quanto mais não fosse para a ajudar em alguma coisa que precisasse, caso ainda fosse viva. Pensa que será junto de algum africano que poderá obter informações do paradeiro duma mulher grande, de quem só sabe o nome. Lembrou-se do ourives de Bafata, de nome Tchame, que conhecera há quarenta anos na Tabanca da Ponte Nova. Ouvira dizer que na oficina, estava agora um filho. Para lá se dirigiu. Disse ao actual ourives que tinha conhecido o seu pai e que nesse tempo lhe tinha comprado umas peças. Achou a oficina igual à que conhecera quarenta anos atrás. Finalmente perguntou:

- Conhece uma mulher grande chamada Asmau?

O filho do célebre ourives de Bafata, Tchame.

Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 14 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7939: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (82): Na Kontra Ka Kontra: 46.º episódio

Guiné 63/74 - P7943: Parabéns a você (227): António da Silva Batista, ex-Soldado da CCAÇ 3490 (Saltinho, 1972/74), prisioneiro de guerra em Conacri (Tertúlia / Editores)


PARABÉNS A VOCÊ

15 DE MARÇO DE 2011

António da Silva Batista 


A Tabanca Grande solidariza-se com o nosso camarada António Batista* no dia do seu 61º aniversário.(*)

Assim, vêm os Editores, em nome de toda a Tertúlia,  desejar-lhe um feliz dia de aniversário junto dos seus familiares e amigos.

Que esta data se festeje por muitos anos, repletos de saúde, são os nossos votos.
 

Os camaradas e amigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné vão erguer uma taça pela saúde e longevidade deste camarada sofredor, que conheceu as agruras do cativeiro (**), mas renascido para a vida, como se documenta aqui com a 2ª via da sua caderneta militar.

Onde quer que nos leias, um abraço,  Batista. A malta não te esquece. (***)


2ª via da caderneta militar do nosso camarigo António Baptista, emitida a 4 de Junho de 1987... Nascido a 15 de Março de 1950, na freguesia da Moreira, concelho da Maia, foi incorporado no RI 13 a 26 de Julho de 1971, tendo passado à disponibilidade em 25 de Novembro de 1974...  (Imagem reproduzido, com a devida vénia, do blogue do nosso camarigo Sousa de Castro, CART 3494 & Camaradas da Guiné)... O Batista foi pertenceu à CCAÇ 3490 (Saltinho) do CAÇ3872 (Galomaro, 1972/74).
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Notas de CV:

(*) Postal de aniversário de autoria de Miguel Pessoa

(**) Para relembrar ou conhecer a odisseia do António da Silva Batista (o nosso morto-vivo do Quirafo), clicar aqui.

O Batista esteve connosco no  III Encontro Nacional do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria,  em 17 de Maio de 2008... Nessa altura gravámos o seu depoimento sobre o seu tempo de cativeiro, em Conacri (1972/74).

Vd. vídeo (5' 44''):  Luís Graça (2008). Alojado em You Tube > Nhabijões

(***) Vd. último poste da série de 11 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7924: Parabéns a você (226): Artur Soares, ex-Fur Mil Mec Auto da CART 3492 (Tertúlia / Editores)

segunda-feira, 14 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7942: Cancioneiro de Mampatá (2): Versos de Edmundo Santos (CART 2515, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1969/71), reproduzidos no blogue do nosso camarada Mário Pinto



Blogue do nosso amigo e  camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, dedicado aos Morcegos de Mampatá, também conhecidos por Coirões de Mampatá, que fizeram parte da CART 2515 (Mampatá, 1969/71)... A companhia passou também por Buba e Aldeia Formosa. O Mário Pinto, que vive no Barreiro,  está profissionalmente ligado à hotelaria. Tem, além deste, mais dois blogues que merecem uma visita: A Ilha do Rato (ele é um paixonado do seu rio, o Tejo)  e O Tacho ao Lume (ou não fosse ele também chef e gourmet).


1. Os Morcegos de Mampatá vão comemorar este ano os 40 anos do seu  regresso a casa, como de resto já aqui noticiámos no nosso blogue... A festa vai ser na Quinta do Branco, na Moita do Ribateja, no próximo dia 7 de Maio. A concentração do pessoal que vai chegando será  junto à estação da CP. Os Coirões que fazem parte da Comissão Organizadora são: Mário Pinto (Tel. 212051384 / Tm 931648953);  Inácio (Tel 922094072 /Tm 965268234); e Edmundo (Tm 963735598),.

2. Entretanto, de uma visita mais detalhada ao blogue do Mário Pinto [, foto à esquerda, quando jovem combatente], descobrimos três poemas que fazem parte do Cancioneiro de Mampatá (*), em boa hora recolhidos e divulgados pelo Mário. A autoria é do Edmundo Santos.

Com os meus parabéns, e a devida vénia,  a ambos, tomo a liberdade de os reproduzir aqui, de modo a poderem chegar ao conhecimento de um público mais vasto, de leitores, combatentes e não-combatebtes.  No final de cada poema, indica-se a data de publicação do poste com o respectivo link.

Fazemos, mais uma vez, um apelo para que  estas manifestações (culturais) do nosso quotidiano no teatro de operações não se percam por esquecimento, ignorância, negligência, incúria... Há um espólio (imaterial) por fazer... Essa é também a razão de ser do nosso blogue... (LG)



OS MORCEGOS
por Edmundo Santos

Aqui não temos parança,
andamos sempre a alinhar,
uns a fazer segurança
e outros a patrulhar.


Só nos resta a esperança
de um dia poder voltar.
Ai!,  uma vida pior
do que esta não há,
chamamo-nos os MORCEGOS,
mas ai, vejam lá,
a malta só nos conhece
pelos COIRÕES de Mampatá.


Todos os dias há saídas,
com o perigo sempre a rondar,
são poucas as alegrias
e muito para contar,
não há lugar p'ra sossego,
é a vida de um MORCEGO.


Edmundo Soares
Guiné 1969


ESTOU FARTO DELES,  TIREM-ME DAQUI!
por Edmundo Santos

Tenho corrido manga de estradas,
que em tão má hora eu conheci,
tenho caido em emboscadas,
Estou farto deles,  tirem-me daqui!

Noites no mato debaixo de água
são realidades que eu já vivi,
tenho a alma cheia de mágoa,
Estou farto deles tirem-me daqui!

Muita fominha tenho passado,
por causa dela me ressenti,
tenho o corpito todo enfezado,
Estou farto deles,  tirem-me daqui!


Edmundo Santos
Guiné 1969


FADO DA METRALHA
por Edmundo Santos

De pica na mão,
lá ia a maralha
com toda a metralha,
de olhos no chão;
para não haver falha,
piquem bem o trilho,
tomem atenção;
sou de opinião
que se houver fornilho
ai que Deus nos valha.

E naquela estrada,
junto ao cruzamento,
as dores que me deste,
mais uma emboscada,
no meu pensamento,
nessa mata agreste
e os bombardeiros,
fiéis companheiros,
em qualquer momento
iam atacando
e turras matando,
sem dó nem lamento.

Adeus, Mampatá,
quero-te esquecer,
fizeste sofrer
quem andou por cá,
pronto a combater,
ó maldita terra
onde nada há
e digo-te já
que toda esta guerra
foi dura a valer.

25/9/2009

[ Revisão / fixação de texto: L.G.]

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Nota de L.G.:

Vd. poste anterior desta série > 18 de Novembro de 2008 >Guiné 63/74 - P3471: Cancioneiro de Mampatá (1): Hino da CART 6250, Os Unidos (Mampatá, 1972/74) (José Manuel Lopes)

Guiné 63/74 - P7941: Convívios (299): 28.º Encontro Nacional do pessoal do BENG 447, dia 9 de Abril de 2011 em Aveiro

1. Conforme o solicitado pelo nosso camarada António Fernando Lima Ferreira, ex-Fur Mil do BENG 447, Brá, em mensagem de hoje, 14 de Março de 2011, estamos a dar conhecimento do 28.º Encontro Nacional dos ex-Oficiais, Sargentos e Praças daquela Unidade, este ano no dia 9 de Abril, na linda cidade de Aveiro.


(Clicar na imagem para ampliar)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 11 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7930: Convívios (214): Almoço / Convívio do pessoal da CART 2716 (Xitole, 1970/72), dia 28 de Maio em Penafiel

Guiné 63/74 - P7940: Tabanca Grande (270): José Ferreira de Barros, ex-Fur Mil da CCAV 1617/BCAV 1897, Mansoa, Mansabá e Olossato (1966/68)

1. No dia 10 de Março recebi esta mensagem do nosso camarada José Barros, ex-Fur Mil da CCAV 1617/BCAV 1897:

Sou um ex-Fur Mil da CCav 1617 do BCav 1897. Gostava de fazer parte desta grande família. O que devo fazer?
Um abraço amigo.

Junto uma foto da construção da estrada Cutia-Mansabá.

Frente de trabalho da construção da estrada Cutia/Mansabá
Foto: © José Barros (2011). Direitos reservados

Localização (aproximada) do destacamento de Cutia na estrada Mansoa/Mansabá


2. No dia 11 de Março enviei ao nosso novo camarada esta mensagem:

Caro camarada e amigo José Barros
Muito obrigado pelo teu contacto.
Começo por justificar a palavra amigo, já que camaradas somos de certeza.
Pela foto que envias, deduzo que fizeste parte das forças de protecção aos trabalhos de construção da estrada entre Cutia e Mansabá.
Eu fui um dos passantes nessa estrada nos anos de 1970 a 1972, com algum conforto e segurança, graças ao teu esforço e ao dos teus camaradas. Estive em quadrícula em Mansabá durante 22 dos 23 meses de comissão na Guiné. És meu amigo, desde já por isso.

Para fazeres parte da nossa tertúlia, envia-nos por favor uma foto actual e outra do tempo de tropa, em formato JPEG, tipo passe, se possível.

Queremos que nos digas quando embarcaram e quando regressaram, qual a vossa Unidade, por onde andaram na Guiné, o teu posto, Especialidade e tudo o mais que nos possas contar. Poderás fazer um pequeno resumo da tua actividade que servirá como apresentação à tertúlia. Nada de muito elaborado porque somos pessoas simples como verás.

Fico a aguardar o teu novo contacto.

Recebe um abraço do camarada e amigo
Carlos Vinhal


3. No dia 13 de Março tivemos novo contacto do nosso camarada:

Caro camarada e amigo Carlos Vinhal:
Obrigado pela amabilidade das tuas palavras.

Sou:
José Ferreira de Barros, casado, natural de Godim – Peso da Régua.
Vivo em Vila Real há já 41 anos.
Tenho 68 anos e sou pai de três filhas.
Actor reformado.

Fui:
Fur Mil Atirador de Cavalaria. (carne para canhão)
Pertenci à CCav 1617/BCav 1897 que esteve em Mansoa, Mansabá e Olossato de Novembro de 1966 a Agosto de 1968.

A CCav 1617 saiu de Alcântara no “Ana Mafalda” em 30 de Outubro de 1966, tendo chegado ao porto de Bissau em 4 de Novembro, seguindo nesse mesmo dia em coluna militar para Mansoa, onde ficou aquartelada até à chegada do restante Batalhão que terá acontecido duas ou três semanas depois.

Depois dos periquitos terem recebido algum treino operacional dado pelos “velhinhos” foram assim distribuídas as companhias:

CCAV 1615, CCS e comando – Mansoa
CCAV 1616 – Olossato
CCAV 1617 – Cutia, onde ficou aquartelada até a construção da estrada Mansoa - Mansabá.

Quando a construção da estrada chegou mais ou menos ao pontão de Macombo “se a memória me não falha”, esta Companhia passou para Mansabá onde se encontrava há já algum tempo a CCS e o Comando.

O Batalhão regressou à Metrópole em 2 de Agosto de 1968.

Obrigado a vós editores e a todos os que não deixam apagar da memória o que a nossa geração sofreu e continua a sofrer.

Um grande abraço para todos.

Aqui vão as fotos de um menino e moço e as de um “Velho” alegre e dinâmico com muita vontade de viver sempre com um sorriso nos lábios mesmo nos momentos difíceis.


4. Comentário de CV:

Caro José Barros
É um bom tema para o blogue o testemunho dos camaradas da década de 60, principalmente daqueles que participaram na protecção aos trabalhos de construção de estradas alcatroadas, que tiveram um incremento nessa altura. Era notória a dificuldade na deslocação da tropa, assim como os reabastecimentos, ao longo de todo o TO mais ainda porque era fácil a instalação de minas anticarro nas estreitas picadas existentes, que ceifavam diariamente vidas e causavam muitos feridos graves.

Julgo que a tua Companhia levou a estrada até Mansabá, se não mesmo até ao Bironque. A minha Companhia participou, com outras forças, na protecção aos trabalhos de prolongamento e conclusão da estrada até à margem esquerda do Rio Cacheu, em frente a Farim. Esta importante localidade da Guiné ficou assim ligada por uma boa estrada até Bissau, numa distância superior a 100Km, em alternativa à perigosa ligação fluvial.

Na tua mensagem dizes que quando a estrada chegou ao pontão de Macombo a CCAV 1617 passou para Mansabá. Não quererias dizer Mamboncó?

Se clicares no nome das localidades sublinhadas, abrirás os respectivos mapas e poderás relembrar nomes de sítios por onde andaste.

Se quiseres colaborar na feitura das nossas memórias, particularmente no que respeita à zona por onde andámos, o Óio, manda as tuas fotos e textos com aquilo que ainda lembras para que possamos dar a conhecer à tertúlia e aos nossos leitores, que são muitos.

Antes de terminar, mando-te o abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores, e já agora, vê se te lembras do memorial que se vê nas duas fotos abaixo.

Recebe um abraço do camarada mansabense
Carlos Vinhal


Mansabá, 11OUT70 > Fur Mil Carlos Vinhal, Sold Avelino Gonçalves Pinto e Fur Mil Fernando Nunes no memorial do BCAV 1897 que assinala a sua passagem naquela localidade.
Foto: © Carlos Vinhal (2011). Direitos reservados



Mansabá, 10 de Março de 2008 > O mesmo memorial do BCAV 1897 fotografado pelo nosso camarada Carlos Silva
Foto: © Carlos Silva (2011). Direitos reservados
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 12 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7932: Tabanca Grande (269): Manuel Alberto Cunha Bento, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do CAOP Teixeira Pinto (1969/71)

Guiné 63/74 - P7939: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (82): Na Kontra Ka Kontra: 46.º episódio




1. Quadragésimo sexto episódio da estória Na Kontra Ka Kontra, de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), enviado em mensagem do dia 13 de Março de 2011:


NA KONTRA
KA KONTRA


46º EPISÓDIO

Estabelecido a setenta quilómetros de S. Paulo, em Santos, cidade muito interessante com praia ao longo de uma avenida que faz lembrar Copacabana, tem oportunidade de conhecer toda a zona sul do Brasil. Visita as Cataratas de Iguaçú, vai à capital, Brasília, percorre a estrada marginal até ao Rio de Janeiro, passando pela maravilhosa cidadezinha de Parati com as suas casas tipicamente coloniais portuguesas.

Magalhães Faria e sua mulher apreciando a Baía de Santos

Porém, talvez um chamamento semelhante ao da negritude africana, agora a negritude brasileira faz com que esteja por períodos muito curtos em Portugal. Esta negritude vai novamente fazer mudar a sua vida. Agora é a sua mulher que se afasta, não aguentando as duplicidades. Magalhães Faria vê-se de novo em situação de KA KONTRA, semelhante à anteriormente vivida em Portugal.

A história repete-se e da mesma forma não quer também ficar dependente do agora ex-sogro. Regressa a Portugal e assume novamente a direcção da sua empresa, que vinha sendo gerida pelo Dionildo.

Ano de 2009. Dá-se a morte do Presidente Nino Vieira e do seu principal opositor, o Comandante-Chefe das Forças Armadas. Tudo aponta para que a partir de agora a democracia e a acalmia das armas vinguem. É neste contexto que Magalhães Faria toma a decisão de voltar à Guiné.

Ano de 2010. Chegado a Bissau, Magalhães Faria dá uma volta pela cidade. Bissau está muito modificada. Cresceu imenso para a periferia. O centro histórico está completamente degradado e em ruínas.

Uma rua de Bissau junto da Amura.

Vê a casa onde foi morto o Presidente Nino toda metralhada. Um Jeep de alta cilindrada, também furado de balas, está estacionado à porta desde os acontecimentos, há cerca de um ano.

A casa metralhada de Nino Vieira. 
(Foto de F. Allen)

Um jeep abandonado junto à casa de Nino Vieira.
(Foto de F. Allen)

As ruas têm os pavimentos cheios de buracos, no entanto há muito trânsito a ponto de se formarem engarrafamentos nas horas de ponta. Vê muita gente pelas ruas e pelas estradas. Na zona do mercado de rua, de Bandim, o aglomerado de viaturas e de pessoas é impressionante. Com a sua experiência empresarial começa a pensar que uma empresa ligada ao transporte de pessoas e mercadorias poderia ter sucesso. Meio dito meio feito.

O grande movimento na zona de Bandim.

Nos arredores da capital, para os lados de Safim, aluga uma casa e uns armazéns anexos, a preço muito mais em conta do que seria na capital. Começa a montar o negócio. Na sua mente já pairava a ideia de que o Dionildo o poderia ajudar muito, fazendo-lhe chegar de Portugal a desejada “mercadoria”: Carrinhas usadas. Iria concretizar-se a ideia que os dois tiveram na anterior estadia. Chegam as primeiras viaturas e o negócio prospera.

Magalhães Faria já não frequenta a “D. Berta”. Embora a velha senhora ainda esteja de boa saúde, o restaurante está decadente.

É no restaurante “O Porto”, perto do Grande Hotel agora em ruínas, que faz os encontros, quer de amizade quer de negócios, Por ali passam todos os europeus: Negociantes, cooperantes e turistas. Também por lá passam políticos guineenses com quem se relaciona. A vida parece sorrir-lhe. De quando em vez lá ouve à distância um c… f… É o Dionildo que acaba de chegar com mais uma carrinha, depois de percorrer cinco mil quilómetros África abaixo. Porém Magalhães Faria sente-se afectivamente só, principalmente à noite quando se encontra no silêncio da sua casa. O seu pensamento não deixa de fazer “paragens” na Asmau.

Nesse aspecto com o Dionildo as coisas eram bem diferentes. Todos os momentos livres aproveitava-os para estar com a sua amada Sextafeira. Amor platónico diziam alguns.

Magalhães Faria no restaurante “O Porto”.

Um dia resolve ir a Bafata, mais para reviver os velhos tempos e também os guineenses amigos que lá deixou. Na Asmau não depositava grande fé. Dada a apregoada esperança de vida dos guineenses o mais certo seria ter morrido. Se ainda viver, com cinquenta e muitos anos, deve estar velha e enrugada. Num Domingo mete-se à estrada. Passa por Safim onde é obrigado a parar por várias barreiras, policiais e do exército. São barreiras caricatas que obrigam os carros a parar com o auxílio de umas velhas cordas, com farrapos pendurados para se verem melhor. Uma pessoa é obrigada a parar e um guarda muito calmamente começa a dar voltas ao carro. Nada acontecerá enquanto o condutor não der o chamado “mata-bicho” ao polícia. Magalhães Faria depressa se apercebe como resolver a situação e passa a andar no “tabelier” com uma embalagem de barras de cereais. Em cada paragem uma barrita é suficiente para baixarem logo a corda.

Fim deste episódio
Até ao próximo camaradas.
(Fernando Gouveia)
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de Guiné 63/74 - P7926: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (81): Na Kontra Ka Kontra: 45.º episódio

domingo, 13 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7938: Memória dos lugares (146): Bedanda 1972/73 - Natal de de 1972 (António Teixeira)

1. Mensagem do nosso camarada António Teixeira (ex-Alf Mil da CCAÇ 3459/BCAÇ 3863 - Teixeira Pinto, e CCAÇ 6 - Bedanda; 1971/73), com data de 11 de Março de 2011:

Fotos da ceia de natal de 1972

Infelizmente, já não consigo identificar muita gente. Vejo lá o Vasco, o Revez, o capitão Gastão Silva, o Luis Nicolau, o grande Fará que era o nosso padeiro e também o Nelinho.
Agora fica aqui trabalho para o Vasco que, cripto como ele é, vai descobrir a maior parte do pessoal.

Grande abraço para todos.
Teixeira


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Nota de CV:

Vd. poste de 26 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7869: Memória dos lugares (145): Bedanda 1972/73 - Filhos da Terra / Filhos da Guerra (2) (António Teixeira)

Guiné 63/74 - P7937: (Ex)citações (132): "Continuo a ter dúvidas de que as histórias [dos combatentes da guerra colonial] devem ter o livro como destino, mas não tenho dúvida alguma de que estas histórias precisam de um sítio onde fiquem acessíveis para os vindouros" (José Vegar, conselheiro editorial, Expresso, 12/3/2011)

1. José Vegar lê, por obrigação de oficio, “centenas de originais de ficção e de não-ficção de autores portugueses não publicados”… Esse trabalho, ao serviço de editores (pelo que apurei, na Net, é “conselheiro editorial”, ele considera-o como algo de fascinante, na medida em que lhe dá um conhecimento mais profundo (e privilegiado) sobre o povo e o país que somos…







[ Foto: O nosso camarada Albino Silva, Soldado Maqueiro, CCS/BCAÇ 2845 (Teixeira Pinto, 1968/70), escrevendo no mato possivelmente um aerograma]




Num artigo publicado no Expresso deste fim de semana (“O que eles escreve”, suplemento “Atual”, nº 2002, Expresso, 12 de Março de 2011, pp., 32-34), José Vegar (n. Luanda, 1969; jornalista e escritor, doutorando em sociologia, autor do blogue Sniper) diz que “ainda hoje há muitas pessoas a escrever", pessoas,  “dos 16 aos 80 anos, que escolheram a solidão de se fecharem diariamente durante meses em frente a um computador, tentando transformar em texto, que nunca tem menos de 100 páginas e chega facilmente às 300, uma história que os perturba ou uma experiência que querem partilhar”. São em geral autores “desalinhados”, que não pertencem a nenhuma escola ou tendência literária ou estética, intelectual ou filosófica...


O jornalista arruma-os em meia dúzia de categorias:

(i) Os autores de catarse ( escolhem a escrita para “tentar libertar, fugir, ersolver, perceber ou aprender a lidar com algo que lhes aconteceu” e que os marcou);


(ii) As testemunhas (em geral, pessoas de mais idade, que querem contar uma história, partilhar memórias)…

(iii) Os contadores de histórias para crianças e jovens;


(iv) Os autores de círculo temático;


(v) Os intérpretes da contemporeindade;


(vi) Os autores do romance histórico;


(vii) E, por fim, os inclassificáveis


Ora, no grupo de gente vulgar ,  e de mais idade (sic), que são os autores de testemunhos, “há uma subcomunidade sempre presente, a dos combatentes na guerra colonial”…


E sobre eles, diz o José Vegar esta coisa interessante:

“Continuo a ter dúvidas de estas histórias devam ter o livro como destino, mas não tenho dúvida alguma de que estas histórias precisam de um sítio onde fiquem acessíveis para os vindouros”…L.G.
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Nota de L.G.:

Último poste da série > 12 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7768: (Ex)citações (131): Saudades de quê ?... Será que sou masoquista ?... E por que é que leio o raio deste blogue e até faço comentários ? (C. Martins)