sábado, 12 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12973: 10º aniversário do nosso blogue (6): A propósito da nossa sondagem... "Ao fim de alguns anos eu tive de relembrar ao Migel Nuno que aos dois anos esteve comigo e com a mãe em Bissorã, de set 73 a jan 74, o significado destas fotos e de quando em vez faço o mesmo com o seu filho, meu neto" (Henrique Cerqueira)


Guiné > Região do Oio >  Biambe > c. set 73 / jan 74 > "Uma visita que fizemos à minha antiga companhia no Biambe... O Miguel  Nuno e, à frente, do lado esquerdo, a sua mãe, a  Maria Dulcinea (NI)" [, nossa grã-tabanqueira]



Guiné > Região do Oio >  Estrada de Biambe- Bissorã > c. set 73 / jan 74  > "Uma visita que fizemos à minha antiga companhia no Biambe, na companhia do Miguel  Nuno e da mãe... O Unimog 411, "burrinho", pertencia à companhia "Já Está no Papo" (são ainda percetíveis os dizeres pintados no capô).




Guiné > Região do Oio >  Bissorã >  c. set 73 / jan 74 > "O Miguel  Nuno, sentado na carcaça de um 'fusca' que era pertença de uma escola de condução... Atrás os seus amigos de brincadeira".

[O Nuno e a mãe embarcaram na TAP em finais de Setembro de 1973 até Bissau, de seguida seguiram com o Henrique Cerqueira  no interior de uma ambulância do Exército até Bissorã.  Regressaram à Metrópole em 29 de Junho de 1974, tendo o nosso camarada regressado a casa em finais de Julho de 1974.]

Fotos (e legendas):  © Henrique Cerqueira (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


Henrique Cerqueira, Porto
1. Mensagem de hoje do Henrique Cerqueira [ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74]:

Assunto: Nosso 1º filho e a Guiné

Camarada Luís Graça:

Vem a propósito do inquérito sobre o falar com os nossos filhos da Guiné e da guerra colonial (*).

Vem também a talho de foice o teres comentado que as nossas estórias da Guiné estarão esgotadas. 

Na realidade uma das coisas boas que todos nós tivemos na Guiné ,foi que tiramos muitas fotografias de muitos e diversos momentos passados lá e sempre que damos uma olhadela a essas fotos descobrimos que há sempre uma pequena estória associada às mesmas.

Bom e para "alimentar" o nosso blogue com mais alguma matéria relacionada com a nossa passagem pela Guiné,  eu resolvi enviar-te estas duas fotos do meu filho Miguel aquando a sua permanência com a mãe junto de mim em Bissorã.

Ele era uma criança muito sociável, embora nos seus dois anitos de vida, tinha uma grande capacidade de comunicação e inclusivamente já falava muitas palavras em crioulo. Também era muito bem tratado pelas crianças naturais Bissorã tal como documenta a foto em que está sentado na carcaça de um "fusca" que era pertença de uma escola de condução.

Na foto a preto e branco, demonstra,  uma vez mais, a sua adaptação a todos os ambientes, pois que se tratou de uma visita que fizemos à minha antiga companhia no Biambe e claro que depois de uma visita guiada ao tabancal em Unimog (identificado como sendo da companhia "Está no Papo"),  impunha-se a foto da ordem.

Claro que mais tarde, e ao fim de alguns anos eu tive de relembrar ao Miguel o significado destas fotos e de quando em vez o faço com o seu filho, meu neto, e para isso tenho que lhe explicar o porquê de termos ido à Guiné.

Agora lamentável é que as nossas 
escolas não sejam mais contundentes no estudo e ensino sobre a
permanência dos Portugueses e a participação nma guerra colonial, chegando ao ponto da maioria dos jovens e até menos jovens de hoje quase nada saberem sobre as guerras coloniais dos anos 60/70.

Bom, qualquer dos modos, nós, os Camaradas da Guiné lá vamos contando alguma coisa e quem sabe algum dia servirá para instruir as gerações futuras.

Luís, esta pequena estória vale o que vale, no entanto se achares algum interesse publica, mas o nosso blogue não se pode esgotar por aqui. (**)

Um abraço a todos os camaradas da Guiné.
Henrique Cerqueira
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Notaa do editor:

Vd. poste

(*) Vd. poste de  11 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12966: 10º aniversário do nosso blogue (3): Resultados preliminares (n=67) da nossa sondagem ("Camarada, com que regularidade falas da guerra, aos teus filhos?")... Mais de um terço admite que nunca falou ou raramemte fala, da guerra, aos seus filhos...

(**) Último poste da série > 12 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12972: 10º aniversário do nosso blogue (5): A propósito da sondagem que eestá a correr:... "Os nossos filhos e netos estão muito mais preocupados com o seu presente e o seu futuro do que com o nosso passado" (João Martins, ex-alf mil art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69)

Guiné 63/74 - P12972: 10º aniversário do nosso blogue (5): A propósito da sondagem que está a correr:... "Os nossos filhos e netos estão muito mais preocupados com o seu presente e o seu futuro do que com o nosso passado" (João Martins, ex-alf mil art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69)



Guiné > Região de Gabu > Piche > Foto nº 112/199 > 1968 > A muher amamenta a cabrinha (!)... Um ternura de foto do álbum do João Martins, já célebre na Net.

Foto: © João José Alves Martins (2012) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.



1. Mensagem do João Martins [, ex-alf mil art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69 ], com data de ontem:

Camarigo Luís Graça:

É com muito prazer que passo a responder à tua pergunta, mas acontece que, em minha opinião, o tema não se esgota com as alternativas que apontas, o assunto é de extrema oportunidade e deve ser aprofundado até às suas últimas consequências.

Na nossa idade, a rondar os 70 anos, ou falamos e é agora, ou, nos calamos para sempre, como já aconteceu com alguns dos nossos camaradas que continuam na nossa memória e que recordamos com muita saudade pois fazem parte do nosso passado. Um passado de que nos orgulhamos, pois, para nós, ex-combatentes, foi um orgulho servir a Nação, sofrer por ela, dando-lhe parte da nossa juventude, alguns, mesmo, lamentavelmente, com evidente prejuízo da saúde, ou, inclusivamente, perdendo a vida.

O sofrimento não é um completo mal em si mesmo, tem o lado positivo de nos tornar mais humanos, mais solidários, mais preocupados e sensíveis aos males dos outros. Em África, tivemos o privilégio de contactar populações amigas que se mostraram dignas da nossa amizade e consideração. 

Infelizmente, há muita gente que não compreenderá estas palavras e pensará que somos paternalistas, nada mais errado, os africanos são pessoas com muita personalidade, com exigências de justiça, mas, também, com consciência de necessidades de ajuda e sabem agradecer, aliás, merecem largamente todo o nosso apoio e tudo o que fizermos por eles não será demais.

Em termos de comparação, em Portugal continua a haver muitos exploradores e explorados, e não é por acaso que há tanta gente a viver com muitas dificuldades e a necessitar de muita ajuda, além do próprio País com uma dívida dificil de liquidar, o que exige muitos sacrifícios e "ajustamentos", que, sendo da responsabilidade de alguns, são distribuidos pela população em geral...


Respondendo mais concretamente à tua pergunta, recordo-me de uma prova oral de história no meu 5º ano em que afirmei que se antevia que íamos entrar em guerra, e que a perderíamos, pois os nossos governantes não estavam à altura das suas responsabilidades, e que, para se ganhar aquela guerra que nos era movida pelas grandes potências era necessário merecer essa vitória, o que não era o nosso caso pois a nossa política ultramarina era inadequada. 

Quem, na altura, se preocupava em estar bem informado, facilmente percebia que desde há muito nos encontrávamos em "guerra fria" contra os interesses imperialistas internacionais, na continuação de uma guerra contra a Alemanha no princípio do século XX em que, com a justificação da defesa das colónias, milhares de portuguesas morreram na batalha de Lalis em solo francês face aos avanços das tropas alemãs. Portanto, o expansionismo é algo comum, assim como é natural o direito de conquista. Embora, cada vez menos aceitável e recordemos, como exemplos, a invasão da Hungria pelos soviéticos, ou do Tibete pela China sem significativa oposição da Comunidade Internacional. O mais forte a impor a sua força...

Nos anos cinquenta era evidente que a guerra fria que opunha americanos e soviéticos passava pela conquista de posições e influências no Ultramar Português. Daí, a infiltração de seus "agentes" em partidos e nas nossas forças armadas, com evidente, embora disfarçada, posterior influência na revolução. E, como foram eles os grandes vencedores, determinando a evolução dos acontecimentos, nomeadamente as independências, no período entre o 25 de Abril de 74 e o 25 de Novembro de 75, o País ficou "amordaçado" e passou a ser tabu falar-se da globalidade dos acontecimentos e dos seus protagonistas, e o medo instalou-se no nosso País como nunca o tinhamos conhecido. Mesmo após esta última data, é preciso ter certa coragem para se contar o que se sabe, apenas ouvindo-se dizer que a "história" precisa de tempo para ser contada.
 
Só que, entretanto, "vamos indo desta para melhor" e os nossos filhos e netos vão estar muito mais preocupados com o seu presente e o seu futuro do que pelas guerras de guerrilhas que enfrentámos e que muitos, europeus e africanos, brancos e pretos, reconhecem que não foi o que esperavam nem tiveram as consequências que desejavam. 

É por isso que defendo firmemente a minha convicção que devemos "retornar" a África e cumprirmos a nossa "missão" de solidariedade com os povos africanos cumprindo um destino de que nos deviaram sem nos preocuparmos a apontar responsáveis. 

Por tudo isto, sou levado a pensar que a emigração a que voltámos a ser impelidos por fraquíssimo desenvolvimento económico com consequente diminuição de postos de trabalho, e não cabe aqui escalpelizar este facto, deve ser canalizada, de novo, tanto quanto possível, para África, para nosso bem, e, sobretudo, para bem dos povos africanos, nossos amigos e que sempre estiveram e continuarão a estar nos nossos corações.

Será esse, muito provavelmente, o melhor destino dos nossos filhos e netos. Assim o compreendam os governantes africanos.

Grande abraço a todos os ex-combatentes
João Martins

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P12971: Bom ou mau tempo na bolanha (52): Pelo Arizona e Nevada - Grand Canyon (Tony Borié)

Quinquagésimo segundo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.


Há uns dias, um companheiro nosso, o Leopoldo Correia, que por lá andou, na então província da Guiné, não pertencia ao Agrupamento, mas esteve estacionado em Mansoa, precisamente nos mesmos anos, que felizmente ainda se encontra entre nós, entre muitas mensagens, algumas daquelas “maldosas”, pelo menos para a nossa idade, mandou-me uma, onde no final dizia algumas palavras como estas:

Há uma felicidade tremenda em fazer os outros felizes, apesar dos nossos próprios problemas!
A dor partilhada é metade da tristeza, mas a felicidade, quando partilhada, é dobrada!
Se te queres sentir rico, conta todas as coisas que tens que o dinheiro não pode comprar!
O dia de hoje é uma dádiva, por isso é que o chamam de presente!

Porra, que “verdade mais verdadeira”, é por isso que quero compartilhar com todos vocês, alguns momentos mais alegres da nossa existência, e por acaso podendo caminhar, mover-me, sem dores, portanto cá vai.



Há já alguns anos que andávamos com a ideia de ver esta maravilha, que é considerada uma das sete maravilhas naturais do mundo, já a tínhamos sobrevoado por diversas vezes, a caminho do oeste, mas nunca por lá caminhámos e, agora com todo o tempo disponível que a vida de um antigo combatente reformado proporciona, fomos de visita ao “Grand Canyon”. Aquilo é como se fosse uma “zona montanhosa”, mas ao contrário, cá em cima é plano, mesmo plano, depois são os “moldes” das montanhas, metidos nas aberturas da terra, desfiladeiros que vão até às profundezas do rio Colorado.

Tínhamos dormido na cidade de Flagstaff, onde dizem que por volta do ano de 1855, um tal Tenente Edward Fitzgerald Beale, que fazia a pesquisa para uma nova estrada desde o Rio Grande, no estado do Novo México, até Fort Tejon, no estado da Califórnia, acampou por aqui, e um dia disse aos seus homens, que cortassem um pinheiro “Ponderosa”, comprido e fino e colocassem no seu topo a bandeira dos USA a tremular..

Pronto, foi o início, depois veio um senhor de nome Thomas F. McMillan, que devia de ser de descendência escocesa, construiu umas barracas em madeira, um pouco a leste daquele acampamento, nos anos seguintes o lugar começou a crescer, abriu o primeiro “Post Office”, onde se podia tratar de tudo relacionado com a fixação de pessoas na zona, e passado uns anos já tinha uma pequena indústria de componentes para o caminho de ferro, principalmente traves de madeira para os carris. Por volta de 1886, a cidade de Flagstaff, já era a maior e mais importante cidade do caminho de ferro, entre Albuquerque e a costa oeste dos USA. Anos depois passou a ser um lugar turístico ideal para se parar, pois fazia parte da popular “Route 66”, e também pela sua proximidade ao “Grand Canyon National Park”.


Deixámos esta simpática cidade pela manhã, ainda muito cedo, tomando a estrada número 40, até à cidade de Williams, que é uma importante cidade de onde saem os comboios, alguns ainda a vapor, e que fazem parte da “Grand Canyon Railway”, e que leva as pessoas até ao “Grand Canyon Village”. Não parámos, tomámos a estrada número 64, em direcção ao norte, que nos levou até à entrada do “Grand Canyon National Park”.


Aqui, depois visitarmos o posto de boas-vindas, de nos informarmos de como proceder para melhor observarmos toda a beleza do Grand Canyon, estacionámos o carro e percorremos, caminhando ou nos autocarros que sempre rolam em ambos os sentidos ao longo do “North Rim”, vimos paisagens que não são possíveis de descrever, ficámos paralisados, e não querendo sair daquele maravilhoso lugar. Como já disse, é considerada uma das sete maravilhas naturais do mundo, tudo o que se diga, já foi dito, aquele silêncio, os nosso olhar perde-se no infinito, o pensamento vai para milhões de anos de história da natureza, como foi possível este cenário. Qualquer lugar em que a nossa mente se concentre é um quadro pintado maravilhoso, onde quer que se pare, fica-se deslumbrado, não querendo abandonar o local. Dizem que este lugar é um vale que foi moldado pelo rio Colorado durante milhares de anos, à medida que suas águas percorriam o leito, aprofundando-o ao longo de 446 km. Chega a medir entre 6 e 29 km de largura e atinge profundidades da ordem de 1600 metros, onde muitos aventureiros vão, uns caminhando, outros montados em “simpáticos burros”, que descem por um labirinto de carreiros, túneis, pontes estreitas, onde só pode passar uma pessoa ou um “simpático burro”, de cada vez.


Como gostamos de “caminhadas”, fomos perguntar pormenores e disseram-nos que para ir de “simpático burro”, teria que me inscrever com um ano de antecedência ou então colocar-me na lista de desistências e esperar que me chamassem. Deste modo talvez esperasse uns poucos meses. Se optasse por ir a pé, teria, na minha idade, de deixar um depósito de três mil dólares, para o caso de ser necessário evacuarem-me de helicóptero. Não havendo um “simpático burro” disponível, sendo “burro”, mas não tanto, desisti da caminhada lá ao fundo.

Enfim, cerca de 2 bilhões de anos da história geológica da terra foram expostos pelo rio, à medida que este e os seus afluentes vão expondo camada após camada de sedimentos.

O primeiro estrangeiro a visitar o Grand Canyon foi o espanhol Garcia Lopez de Cardenas em 1540, porém a primeira expedição científica ao desfiladeiro foi dirigida pelo Major John Wesley Powell, no final da década de 1870 e referiu-se às rochas sedimentares expostas no desfiladeiro como "páginas de um belo livro de histórias". No entanto, a área era já ocupada por nativos americanos que estabeleciam povoados ao longo do desfiladeiro, como os “hopi”.


É considerada uma das sete maravilhas naturais do mundo e um ponto turístico visitado por milhares de turistas anualmente, gerando receitas para as cidades e populações ribeirinhas ao desfiladeiro. O Grand Canyon tem cerca de 126.025,00 metros. Fica localizado entre as cidades de Las Vegas e Albuquerque.

Era meio dia, informaram-nos que a parte oeste do Grand Canyon também era maravilhosa, embora ficasse a umas centenas de milhas. Decidimos ir ver, depois de regressar à estrada 64, tomando de novo a estrada número 40, em direcção ao oeste, por uma zona ainda não habitada, onde andámos por mais de uma centena de milhas, sem qualquer posto de gasolina ou qualquer outro apoio, o que é um pouco raro, numa das seis ou sete auto-estradas que atravessam os USA de este a oeste, depois a estrada 93, em direcção ao norte, em seguida uma estrada de terra batida, fazendo algum pó, onde andámos por mais de duas horas, por entre desfiladeiros, planícies, curvas apertadas, alguns animais vadios e, finalmente um “Rancho”, onde se podia dormir e comer. Mais à frente havia uma aldeia de nativos, os “Hualapai”, onde funciona um centro de boas-vindas, com toda a informação.

A paisagem era a mesma, mas mais selvagem, sem grades de protecção ou qualquer sinalização, aqui, fomos ao fundo do Canyon de helicóptero, andamos de barco no rio Colorado, tocámos na água, fria e com alguma areia, uma corrente suave em alguns locais, pois em outros era forte, arrastando areia e alguma ramagem, vimos as aldeias de nativos e o seu modo de sobrevivência, visitámos o “Grand Canyon Skywalk”, que é uma plataforma em forma de ferradura, construída em vidro transparente, onde se pode caminhar, e ver numa distância em sentido vertical entre 500 a 800 pés de altura.

Era já quase noite quando regressamos ao “Rancho”, mas ainda a tempo de entre outras coisas, comer “cobras grelhadas”, dormir em cabanas, tal como os nossos antepassados dormiam há muitos anos, depois de andar a cavalo, ouvir canções de cowboys, dançar e beber cerveja à temperatura ambiental, em redor de uma enorme fogueira.
Tony Borie.
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Nota do editor

Último poste da série de 5 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P12936: Bom ou mau tempo na bolanha (51): Batuque no aquartelamento (Tony Borié)

Guiné 63/74 - P12970: Os Nossos Cartazes de Propaganda (2): Parte II (Fernando Hipólito): O Portugal pluricontinental e plurirracial

Cartaz nº 3


Cartaz nº 4


Cartaz nº 5



Cartaz nº 6

Cartazes de propaganda das Forças Armadas Portuguesas, s/d, dirigiiridos às populações, em geral, quer da metrópole, quer dos territórios ultramarinos, nomeadamente de África.  Foram recolhidos entre 1969 e 1971, pelo nosso camarada Fernando Hipólito e por ele digitalizados.

Imagens: © Fernando Hipólito (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


1. O Fernando Hipólito é guardou religioamente estas preciosidades, utlizadas na "guerra contrassubersibva" (*)

Neste caso são cartazes de propagannda  dirigidos às populações Angola, Guiné e Moçambique, mas metrópole, às famílais dos soldados e aos combatentes.,.. 

O Fernando Hipólito [, foto atual à direita, ] é o grã-tabanqueiro nº 650... Passou pelo CISMI, Quartel da Atalaia, Tavira, 3º turno, 1968. antes de ser mobilizado para Angola. Foi fur mil, CCAÇ 2544, 1969/71. Esteve a maior parte do tempo no leste de Angola, em Lumege. Está reformado da sua atividade de vendedor numa  empresa de tintas de impressão e tem, talvez por isso, uma particular sensibilidade para este tipo de suportes em papel, impreesos. Fes questão de partilhar a sua coleção connosco, pelo que lhe estamos gratos.

Estes cartazes foram recolhidos por ele entre 1969 e 1971,  têm hoje valor documental e historiográfico. São documentos avulsos, que vamos publicar ao longo de vários postes (*).

Pessoalmente, não tenho ideia de os ter visto no TO da Guiné, no meu tempo (1969/71), com exceção talvez do cartaz nº 3,

Todos os comentários dos nossos leitores serão bem vindos. Interessa-nos saber, por exemplo, em que TO (teatro de operações) e em que época foram usados... E como eram distribuidos. Nalgunas casos, e em particular na Guiné, a FAP espalhava panfletos, folhetos e outros documentos de propaganda, sempre em português e criuoulo, nalgumas das matas mais conhecidas onde o PAIGC controlava população (por ex., Morés, Choqumone, Tancroal, esclarece o antigo ten pilav António Martins de Matos, BA 12, Bissalanca, 1972/74). 

Guiné 63/74 - P12969: Parabéns a você (719): Francisco Alberto Santiago, ex-1.º Cabo TRMS do BART 3873 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 11 de Abril de 2014> Guiné 63/74 - P12963: Parabéns a você (718): Jorge Félix, ex-Alf Mil Pilav Allouette III - BA 12 (Guiné, 1968/70); Jorge Picado, ex-Cap Mil da CCAÇ 2589, CART 2732 e CAOP 1 (Guiné, 1970/72) e Manuel Marinho, ex-1.º Cabo Inf do BCAÇ 4512 (Guiné, 1972/74)

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12968: 10º aniversário do nosso blogue (4): Para além do Mário de Oliveira e do Arsénio Puim, terá havido mais capelães militares expulsos do CTIG... Terá sido o caso do alf mil capelão, também de nome Mário, do BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala, Buba, 1973-74), ainda em Bolama, na IAO... (Testemunho de um leitor e camarada nosso que pede reserva de identidade)


Guiné > Zona Leste > Setor L1 > Bambadinca > CCS / BART 2917 (1970/72) > s/d> O Alf Mil Capelão Arsénio Puim, expulso do Batalhão e do CTIG em Maio de 1971.

Foto: © Gualberto Magno Passos Marques (2009). Todos os direitos reservados



Guiné-Bissau > Região do Oio > Mansoa > 1995 > O jornalista Mário de Oliveira com o padre missionário que foi encontrar em Mansoa.

Foto: © Padre Mário da Lixa (2003) (com a devida vénia...)


1. Mensagem de um nosso leitor (e camarada) que não quer ser identificado, por razões que me apresentou e que eu aceitei como válidas, estando esta situação prevista nas regras originais do nosso blogue. 

Será apenas identificado pela última letra do alfabeto, Z (*). Tenho os contactos de telefone e endereço de email. Vive na região Centro.


Data: 27 de Março de 2014 às 03:07

Assunto: Capelães militares expulsos

Caríssimo Luís Graça.

Antes de mais, permite-me que me apresente. Sou [Z...],  ex-Alf.Mil. da 2ª CCaç. do BCaç. 4513 (Aldeia Formosa-Nhala-Buba - 1973-74), actualmente reformado.

Hesitei bastante antes de me decidir por este contacto, duvidando se valeria a pena. Mas, tudo vale a pena, vale sempre a pena... Isto, porque, li ontem (dia 25 de Março) no Blog que tão bem "comandas", e que visito diariamente desde que o descobri por acaso, há já uns anos, li, dizia, o seguinte: [vd. poste P12897]: «Em toda a história da guerra colonial, no CTIG, houve dois casos de capelães militares que foram "expulsos"», a propósito das referências ao Padre Mário da Lixa. 

Ora, acho que vale a pena corrigir esta afirmação e pôr em dúvida se, estaremos nós, hoje, em condições de saber quantos padres e não padres terão sido subtilmente, (ou com mediatismo como é o caso do Padre Mário da Lixa), afastados do território da Guiné sem deixar rasto. 

É preciso ter presente que a PIDE agia sem espalhafato e com muito profissionalismo. O caso que conheci de perto, o do Alf Mil Capelão que integrava o meu Batalhão no início, e que ainda não vi referido no Blog, é um indício de que podem ser muitos mais os padres que "desapareceram", ou foram afastados.

 Este que cito, e com quem me dava muito bem, "desapareceu" da noite para o dia, literalmente. Ao princípio, com ingenuidade e a medo, alguns ainda perguntavam: «Viste o Capelão? O que é que lhe aconteceu?». Mas a compreensão veio rápida e também o silêncio tácito e sensato. Todos pensaram: «O caso não me diz respeito». Caso abafado!

Tudo isto aconteceu apesar de, no dia de apresentação do Batalhão ao General Spínola em Bolama e na reunião que se lhe seguiu com ele e com todos os oficiais, ele lhe ter dito: «O nosso Alferes pode falar à vontade, dizer o que pensa, porque daquela porta - e apontou - não sairá uma palavra. (O Cmdt do Batalhão, enfiado, transpirava e bufava...). 

O General, antes, interpelara-me a mim. Queria saber o que eu pensava da nossa presença em África, da nossa acção na Guiné, do contributo dos militares naquela sociedade, etc. E eu, cobardemente, (sensatamente?), recitei-lhe a cartilha oficial, a que me ensinaram, sem introduzir originalidades nem virtuosismos, enfim, pensando que era o que ele queria ouvir (e não era), mesmo se o meu pensamento estava nos antípodas do que lhe dizia, devido à minha sólida politização, muito anterior à entrada para o Exército. 

O General ouviu-me em silêncio (e eu a ler-lhe o pensamento: «Mais um idiota!»), e depois interpelou o Alf Capelão. Quando este começou a falar, sem tibiezas e com uma audácia a roçar o desaforo, para as circunstâncias e para a época, eu não sabia onde me havia de enfiar... Foi então que o Gen. Spínola o interrompeu para o pôr à vontade, como citei antes. E ele continuou, pondo em dúvida o colonialismo e a legitimidade de tudo quilo que a maioria entende por legítimo, natural, a ordem das coisas..., mas também questionando o estado social da colónia, em pleno século XX, depois de 500 anos de colonização. 

Era um valente. E não apenas intelectualmente: vi-lhe dar um murro nos queixos a um soldado que apalpou o rabo a uma adolescente estudante de Bolama que seguia à nossa frente no passeio, que ele até voou!. Ficámos amigos e com muito respeito mútuo: ele era padre católico e eu ateu empedernido. Desapareceu depois de uma distribuição clandestina de panfletos à tropa sobre, creio, a má alimentação que era distribuída aos soldados, (ou a toda a tropa?).

Há uns anos comecei na Net a fazer tentativas de o encontrar, mas em vão. Nem do seu nome já estou certo, apenas me recordando que era Mário. Daí que tenha entrado em contacto com o Padre Mário da Lixa, nome que já conheço há muitos anos, mas apenas o nome, na esperança de que fosse ele próprio, (tinha muitas reservas), ou que me soubesse dar pistas. Ele foi muito amável comigo, mas não me pôde ajudar. Foi então que dei conta do desfasamento das nossas passagens pela Guiné. Desisti.

Muito mais teria para dizer, mas acho que já me excedi. Poderás, se o entenderes, fazer uso deste texto, (ou eliminá-lo), desde que não seja referido o meu nome. 

Porquê? Porque fiquei mal impressionado e muito preocupado quando, em tempos li no Blog referências a um "caso" que foi mediático e que se passou na minha Companhia, entre os alferes e o capitão e, desde aí, fiquei sempre a pensar que, pese embora a nobreza e os objectivos do Blog, e de ser um veículo honesto para o reencontro das pessoas e das ideias, também pode permitir intromissões despudoradas e mal informadas (intencionadas?), que foi o que se passou no caso da minha Companhia. 

Senti-me visado. Vi pessoas vangloriar-se de actos que não praticaram e outros fazerem críticas sem conhecimento de causa. Tudo foi mais complexo do que as pessoas pensam. E mais melindroso. As pessoas que opinaram não sabem, por exemplo, que a dada altura esteve eminente um acto da maior violência, que poderia ter "descambado" e provocado muitos mortos. Porque o caso gerou partidários e, no envolvimento, vieram ao de cima as piores qualidades humanas, traduzidas em vinganças, traições e cobardias, mesmo de quem não se esperaria. Imperou o bom-senso, felizmente. 

Sei do que falo porque estive directamente envolvido. (Foram precisos 40 anos para eu falar assim abertamente. E não sei se a despropósito). No Blog, apenas um veio a terreiro, honesto e sem papas na língua pôr os pontos nos iis: um furriel miliciano da minha Companhia, que não citarei. E ninguém falou mais no assunto. Por tudo isto, prefiro "não dar a cara". Não esquecerei o assunto mas não quero polémicas. E não só eu, pelos vistos... De toda a Companhia, que eu saiba, apenas um antigo camarada "dá a cara". Não é por acaso.

Caro Luís Graça. Repito que podes simplesmente apagar este relato sem qualquer melindre da minha parte. A menos que aches que traz alguma novidade em relação aos capelães afastados.

Se o entenderes, podes usar este mail para dizer alguma coisa.

Um abraço deste admirador do teu excelente trabalho (bem coadjuvado é certo),
o ex-combatente,  Z [...]


 2. Caro camarada:

Obrigado pela tua desassombrada e oportuna mensagem... Agradeço-te igualmente a sinceridade das tuas palavras. Devo dizer-te, desde já, que quero publicar o teu poste, sem te identificar pelo nome (conforme teu pedido)... É mais um contributo, importante, para este dossiê, delicado, que tem a ver com a "santa aliança" Estado Novo-Igreja Católica, nomeadamente em África e durante a guerra colonial...

Tens toda a razão em contestar a minha afirmação segundo a qual «em toda a história da guerra colonial, no CTIG, houve dois casos de capelães militares que foram "expulsos"... Em boa verdade, eu não me exprimi de maneira clara, concisa e precisa: queria eu dizer que apenas conhecia "dois casos", de que o blogue, de resto, já se tinha feito eco... No fundo, o que eu queria é que aparecessem mais depoimentos sobre os "nossos capelães", e eventualmente mais casos como os do Mário de Oliveiraário e do Arsénio Puim... Falamos de testemunhos em primeira mão, como o teu...

Falas-me do capelão do BCaç 4513 (Aldeia Formosa, Nhala, Buba, 1973-74),.. Que desapareceu sem deixar rasto, e cujo primeiro nome seria Mário...Vamos tentar descobrir o seu paradeiro, E para isso é importante a divulgação da tua mensagem. Não é habitual publicarmos mensagens sem identificação do autor, mas eu entendo a tua relutância e o teu melindre em dar a cara...Preciso, em todo o caso de saber em que data e em que poste foi abordado ou comentado o caso que referes:

(... ) Porque fiquei mal impressionado e muito preocupado quando, em tempos li no Blog referências a um "caso" que foi mediático e que se passou na minha Companhia, entre os alferes e o capitão e, desde aí, fiquei sempre a pensar que, pese embora a nobreza e os objectivos do Blog, e de ser um veículo honesto para o reencontro das pessoas e das ideias, também pode permitir intromissões despudoradas e mal informadas (intencionadas?), que foi o que se passou no caso da minha Companhia. 

Senti-me visado. Vi pessoas vangloriar-se de actos que não praticaram e outros fazerem críticas sem conhecimento de causa. Tudo foi mais complexo do que as pessoas pensam. E mais melindroso. As pessoas que opinaram, não sabem, por exemplo, que a dada altura esteve eminente um acto da maior violência, que poderia ter "descambado" e provocado muitos mortos. 

Porque o caso gerou partidários e, no envolvimento, vieram ao de cima as piores qualidades humanas, traduzidas em vinganças, traições e cobardias, mesmo de quem não se esperaria. Imperou o bom-senso, felizmente. Sei do que falo porque estive directamente envolvido. (Foram precisos 40 anos para eu falar assim abertamente. E não sei se a despropósito). (...)

Sobre o teu BCAÇ 4513 (e as suas várias companhias), temos apenas 18 referências... e não me lembro do tal "caso" (de insubordinação ?) a que te referes. É natural, o blogue tem 10 anos, 13 mil postes, 652 camaradas registados, fora os "visitantes", e mais de 45 mil comentários... Tens que me ajudar a identificar essa "cena"... de eu não me lembro:

(...) No Blog, apenas um veio a terreiro, honesto e sem papas na língua pôr os pontos nos iis: um furriel miliciano da minha Companhia, que não citarei. E ninguém falou mais no assunto. Por tudo isto, prefiro "não dar a cara". Não esquecerei o assunto mas não quero polémicas. E não só eu, pelos vistos... De toda a Companhia, que eu saiba, apenas um antigo camarada "dá a cara". (...)

Sim, o ex-1º cabo cripto José Carlos Gabriel, 2.ª CCAÇ / BCAÇ 4513 (Nhala, 1973/74)... Há outro camarada, o Fernando Costa , ex-fur mil trms, mas esse pertenceu à CCS/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, mar73 / set74)...

Sobre os nossos capelães, há dois Mário Oliveira, o da Lixa (1967/68), que esteve em Mansoa, e um outro que andou por Catió (1971/72)... E este último era tenente miliciano...  Mas nenhum deles é do teu tempo.

Se tiveres um telefone fixo, diz.me, que eu ligo-te... De qualquier modo, vou ter um intervenção cirúrgica, a partir de 3ª feira, dai 1 de abril... e devo ficar uma semana no "estaleiro", sem poder editar o blogue... Mas os coeditores continuam de serviço... Se me quiseres contactar (ou responder por esta via), fico-te grato. Gostaria de publicar, até lá, o teu texto.... Tens os meus contactos: . Diz-se se posso (e devo) referir a tua companhia e batalhão omitindo o teu nome e posto... Concordas ?

Um alfabravo (ABraço). Luis

3.  No dia 30 de Março último, o nosso camarada Z... responmdeu-me nestes termos:

(...) Olá, caro amigo Luís Graça.

Fiquei muito contente ao abrir o Mail e ver logo que te deste ao trabalho de me responder.
É uma honra muito grande. Porque já sou teu amigo há algum tempo, mesmo sem o saberes nem me conheceres e porque tenho uma grande admiração (e respeito) pelo gigantesco trabalho que tens feito, mesmo ajudado, para manter em funcionamento este "veículo" que leva a todo o lado e a toda a gente uma mensagem, uma recordação, um abraço e muita divulgação. (***)

Como é possível? Como consegues ter tempo para me dar atenção em particular e ainda disponibilizar os teus contactos pessoais? Por tudo isto, espero que a "tal" intervenção cirúrgica não seja nada de especial... já agora, desejo-te uma rápida recuperação.

Ainda tentei à tarde ligar-te para casa, para te poupar o trabalho de leres estas linhas, mas não resultou. Eu também não me sentia muito à vontade para devassar a tua privacidade.
Sobre as questões colocadas, gostaria de as separar em duas partes: a questão dos alferes de Nhala [, sobre a qual peça reserva e é só para teu conhecimento].

Sobre a questão da publicação do texto sobre os Alferes Capelães, tem menos que saber: podes publicar todos os elementos menos o meu nome, embora para os daquela "guerra" seja facilmente identificável. Os Capelães que me referenciaste são anteriores à minha comissão. Já agora só mais uma curiosidade: tal como o Alf Capelão não chegou a sair de Bolama onde fazíamos o IAO, também o Cmdt. do Batalhão, Ten Cor Andrade e Sousa seria substituído (nunca soube as razões, ou não recordo), pelo Ten Cor. Carlos Ramalheira até ao fim da comissão. Cordelinhos do Spínola...

Não te roubo mais tempo. Muito gostaria de te dizer como, não "dando a cara", perco horas esmiuçando o "nosso" blog no prazer de rever as terras da Guiné e as suas gentes (tão maltratadas ainda hoje), rever caras conhecidas e rever amigos que não me conhecem. Outro deles, é o Mário Beja Santos, de quem já li tudo o que havia para ler, e que continuei a acompanhar no seu regresso à terra e às pessoas que ama, lá onde todos nós deixámos um pouco da pele, mas de onde trouxemos muito mais do que levámos.

Para me contactares, para além deste mail; fica com o meu telefone fixo e telemóvel [...]

Boa recuperação e um abraço.

Sempre ao dispor (...)

____________

Notas do editor:

(*) Vd. página II Série do Blogue > Como entrar para a Tertúlia dos Amigos e Camaradas, ex-combatentes, da Guiné (1963/74)

(...) Os autores são sempre identificados pelo seu nome (excepcionalmente, por pseudónimo, ou iniciais, em caso de razões ponderosas) e são responsáveis pelo que escrevem ou editam. O mesmo acontece [, utilização de pseudónimo ou iniiciais] com militares ou combatentes, de um lado e de outro, ainda vivos, cujo comportamento possa ser objecto de crítica, por razões criminais, éticas, disciplinares ou outras. (...)

(**) Sobre o Mário Oliveira, tenente miliciano capelão que esteve em Catió, ver aqui:

30 de janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1474: O capelão Mário Oliveira, de Catió, que ia a Bedanda (Mário Bravo)

28 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1469: Bedanda, manga de saudade ou uma dupla sinistra, o padre e o médico (Mário Bravo, CCAÇ 6)

Guiné 63/74 - P12967: Estórias avulsas (78): O meu amigo cigano Zé Beiroto (Francisco Baptista)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 7 de Abril de 2014:

Estava em Buba há pouco tempo quando recebi um aerograma do Zé Beiroto, o filho mais velho da Raquel cigana, onde me comunicava que tal como eu se encontrava em comissão na Guiné e pedia se eu lhe poderia arranjar um bom lugar para passar melhor o tempo por lá. Respondi-lhe que como amigo dele, desejava-lhe uma boa estadia mas que nada poderia fazer para a melhorar pois eu pouco mandava e não tinha amigos influentes.

O Zé, mais velho 3 anos do que eu, teria ido como refratário para a tropa, situação muito comum aos da sua etnia.
Não sabia ler nem escrever, portanto o aerograma terá sido escrito por um camarada a seu pedido. Não sei como terá conseguido o meu SPM. Na altura isso não me preocupou muito. Hoje penso que terá sido através da mãe dele, a Raquel cigana.

A Raquel era uma mulher robusta e larga, que pedinchava pelas portas mais do que todas as ciganas. Tanto entre adultos como entre jovens ela despertava pouca simpatia.
A Raquel parecia daquelas pessoas que não se conformando com a sua má sorte têm inveja e quase ódio às pessoas melhor instaladas na vida. Fosse porque deixasse transparecer isso ou por tanto a verem a pedir de porta em porta,  a garotada mandava-lhe ditos pouco agradáveis a uma distância conveniente para não serem agredidos. Este era o mais conhecido: "Quem me dera uma canhona morta para lhe tirar a pele comia-lhe a chicha toda e dava-lhe os ossos à Raquel".

Ia muitas vezes pedir à minha casa uma esmolinha, por amor de Deus. Recordo-me de pedir muitas vezes azeite para temperar o fiolho. A minha mãe, contra a vontade de alguns de casa, dava-lhe sempre alguma coisa. Tal uma como a outra tinham muitos filhos e isso devia mexer com a sua bondade e o seu instinto maternal.

Vista parcial de Brunhoso
Com a devida vénia a http://www.bragancanet.pt/brunhoso/

Nesse tempo Brunhoso era uma aldeia densamente povoada com muitos habitantes por casas de habitação. A acrescer a isso havia ainda muitos ciganos que não tendo residência fixa, passavam a maior parte do ano na aldeia em instalações improvisadas. Essas instalações eram alguns palheiros ou curraladas no inverno, que os lavradores lhes cediam. Já no verão preferiam instalar-se ao ar livre, no Pereiro, um terreno baldio perto do povo, com muitos olmos debaixo dos quais se abrigavam à noite e de dia nas horas de mais calor.
O olmo grande, onde a cegonha tinha o ninho, talvez o maior olmo da terra, dava abrigo a várias famílias. 

Nesse tempo os ciganos pelo seu modo de vida preguiçoso, a sua pedinchice e alguns roubos sobretudo nas hortas, eram expulsos, por vezes mesmo escorraçados da maior parte das aldeias. Em Brunhoso eles eram aceites e por isso muitos consideravam-na como sua. Havia outras aldeias, raras, onde eles se instalavam provisoriamente pois como povo errante não gostavam de estar sempre no mesmo sitio.
Há uma tendência entre muitos homens de abusarem do seu sentido critico para julgar os seus semelhantes. Entre os meus conterrâneos esse sentido critico devia estar muito esbatido ou então era o seu sentido de humanidade que era muito grande para aceitarem não só os seus iguais mas também os "outros", os que tinham hábitos e tradições tão diferentes que por vezes chocavam com as suas.

O povo de Brunhoso embora ordeiro e trabalhador devia sentir uma certa atração pela liberdade e despreocupação com que aquele povo de maltrapilhos vagabundeava pelo mundo vivendo ao ritmo da natureza mais selvagem, segundo o aconchego que as estações do ano podiam dar, de preferência mais perto dela e das estrelas, colhendo as plantas e frutos selvagens que a natureza dava tais como o fiolho, comendo os animais. vacas, ovelhas, porcos etc. que morriam de doença aos aldeões (não ciganos), procurando também a ajuda da população mais caridosa.

Esse tempo de muito trabalho, muita fome, muita gente, muitas festas, feiras e ciganadas em trânsito, era também o tempo da jovem mulher mais esbelta e donairosa, muitas léguas em redor, essa cigana, a mais bela da caravana, que só a evocação do seu nome alimentava sonhos eróticos nos lavradores do nordeste transmontano e sonhos de pesadelo nas suas mulheres. Dela dizia-se que já teria provocado a falência de várias casas de lavradores. Conheci, fui muito amigo dum camarada nosso, soldado noutro TO que depois de ter regressado dessa África longínqua se gabava de ter gozado dos seus favores.
Acho que depois 28 meses de sacrifício, de canseiras e de sustos merecia essa recompensa.

Ciganos
Coma devida vénia ao Blogue A Defesa de Faro

Os marinheiros de Vasco da Gama também tiveram como doce recompensa dessa longa e tormentosa viagem à Índia as ninfas da Ilha dos Amores, tal como nos conta Luís de Camões nos Lusíadas:

Que famintos beijos na floresta, 
E que mimoso choro que soava! 
Que afagos tão suaves, que ira honesta, 
Que em risinhos alegres se tornava 
O que mais passam na manhã e na sesta, 
Que Vénus com prazeres inflamava, 
Melhor é experimentá-lo que julgá-lo; 
Mas julgue-o quem não pode experimentá-lo 

"Os Lusíadas" 
Canto nono 

Meu grande amigo, a vida é tão curta. como sabemos, cheia de sacrifícios e tristezas é bom que também proporcione por vezes algum prazer.
Seria mais velha que eu quatro ou seis anos. Vi-a algumas vezes e admirei-a pelo seu porte altivo, elegância e beleza . Eu e o Zé sempre fomos amigos talvez tenhamos herdado essa amizade das nossas mães.

Contrariamente aos da sua etnia, mostrava ser bastante ambicioso, trabalhando um pouco mais do que os outros e sendo também mais activo noutras actividades noturnas ou clandestinas. Casou com uma aldeã, contra a tradição do seu povo e penso que ao fazer o registo do casamento foi "apanhado" para cumprir o serviço militar.
Os casamentos entre ciganos eram muito festejados mas não tinham cerimonia civil nem religiosa. Nesse tempo, segundo constava, entre os aldeões, eram realizados pelo método do chapéu ao ar. Se o chapéu caísse com a copa para cima, os noivos ficavam casados, se caísse com copa para baixo ficavam também. Na realidade não havia chapéu, nem cerimónia, havia somente festa maior ou menor, conforme a comida disponível.

Já perto do final da minha comissão e estando já eu na CART 2732 em Mansabá, apareceu-me lá o Zé da Raquel que estava de passagem, para me cumprimentar. Ainda hoje não sei muito bem como conseguiu oportunidade para estar comigo e como sabia sempre onde eu me encontrava. Enfim instinto de andarilho e cigano.

De 1969 a 1973 estivemos na Guiné seis naturais de Brunhoso em comissão. Que eu saiba e recorde não houve outros, nem antes nem depois.  O José Beiroto, ou Zé da Raquel, soldado; o Joaquim Fermento, furriel da CCAÇ 3327, em Bachile e Teixeira Pinto; o Francisco Magalhães, meu primo, alferes da mesma companhia; eu, Francisco Magalhães Baptista para usar também o apelido Magalhães que muito prezo e pelo qual sou primo do outro Francisco já que tínhamos o mesmo avô, também Francisco e logicamente Magalhães; o António Francisco Beiroto, soldado e o José dos Santos Carvalho, soldado.

Com o meu primo e com o Joaquim Fermento cruzei-me uma vez em Bissau, talvez quando eles chegaram à Guiné e eu ia para a CART 2732 em Mansabá, depois da CCAÇ 2616 ter regressado em fim de comissão. O António e o José eram primos do José Beiroto, filhos do António Francisco Gordo, mais conhecido pelo Mudo Cigano, que aos baldões pela terra, morreu recentemente com 98 anos. A mãe chamava-se Isaura dos Anjos Beiroto. O pai embora cigano era muito trabalhador. O casal tinha muitas bocas para alimentar, criaram 13 filhos, e ele sendo mudo não podia dedicar-se ao negócio dos ciganos de compra e venda de burros, cavalos e mulas. Nesse negócio eles eram peritos, conseguindo enganar frequentemente os compradores, vendendo burro velho por burro novo.

A mãe deles era uma mulher humilde e resignada que eu recordo de andar a pedir esmolas pelas portas, quase sempre grávida. O Zé Beiroto morreu de doença há cerca de 30 anos. Paz à sua alma!

Com o desenvolvimento da Espanha no pós-franquismo, os ciganos emigraram a maior parte para lá. Os olmos do Pereiro, e de toda a aldeia, morreram através duma doença que os ventos trouxeram da Europa alguns anos após a sua debandada. Quando morrem os ciganos, muitos familiares trazem os corpos para Portugal para serem sepultados no cemitério de Brunhoso. É a melhor homenagem que podem prestar a essa terra de mulheres e homens ilustres, pobres e ricos que deixaram essa grande herança de solidariedade e tolerância aos seus filhos.

P.S.
Se algum camarada conheceu o José Beiroto ou os primos na Guiné, gostaria que me desse informações sobre as suas vidas por lá.

Um grande abraço
Francisco Baptista
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Nota do editor

Último poste da série de 7 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P12945: Estórias avulsas (77): A história do dia seguinte! (João Alberto Coelho)

Guiné 63/74 - P12966: 10º aniversário do nosso blogue (3): Resultados preliminares (n=67) da nossa sondagem ("Camarada, com que regularidade falas da guerra, aos teus filhos?")... Mais de um terço admite que nunca falou ou raramemte fala, da guerra, aos seus filhos...



Cartaz dos 10 anos da nossa Tabanca Grande 
Conceção do nosso "designer" © Miguel Pessoa (2014)


1. No dia 23 de abril, completamos 10 anos de existência. São cinco comissões na Guiné. O que é obra...

A efeméride já começou a ser comemorada (*), contando com a boa vontade, o entusiasmo e a participação de muitos dos nossos amigos e camaradas que já têm, lugar cativo à sombra (ou ao sol) do nosso mágico poilão...

E uma das formas de participar é responder `à sondagem que está em curso, "on line"  (vd. canto superior esquerdo do blogue) e que tem como pergunta: "Camarada, com que frequência falas da guierra aos teus filhos ?"...

Em boa verdade, deveríamos fazer duas sondagens, cada uma com um pergunta ligeiramente diferente: (i) "Camarada, com que frequência falavas da guierra aos teus filhos, antes de entrar para o blogue ?"; (ii) "Camarada, com que frequência falas da guierra aos teus filhos, hoje, depois de entrares para o blogue?"...

Eu penso que muitos de nós só há dez anos para cá tirou q  rolha da boca, ou a pedra do vulcão, ou abriu o baú das memórias há relativamente pouco tempo, agora que a guerra acabou há 40 anos, os filhos cresceram, e as vidas profissionais chegavam ao fim...Temos hoje não só outra distância (em relação aos aconmtecimentos) como outra disponibilidade (nomeadamente mental) e até outyra sabedoriam, sob a forma de ver as coisas e verno-nos a nós próprios.

Eu próprio deixei de pensar e de falar na guerra, mal regressei. Ou tentei fazê-lo. Sói depois de acabar o meu curso de licenciatura em sociologia, em 1980, é que comecei a escrever e a publicar ar os primeiirso textos (no extinto semanário "O Jornal")... Mas lá em casa a guerra caontinuava tabu...Não se falavaa dela...até ao aparecimento e desenvolvimento do blogue  e a o envolvimento da família nos nossos primeiros encontros...

Julgo que o mesmo se terá psssado com muitos outros camaradas... 

2. O tema desta sondagem surgiu-me a partir do título do livro da jornalista e nossa amiga Catarina Gomes, ela própria filha de um combatente, já falecido ("Pai, tiveste medo?", Lisboa,  Matéria-Prima Edições, 2014, 248 pp). 

Admito que eu muitos casos os nossos filhos nos façam perguntas insólitas e difíceis: (i) pai, andaste na guerra ? (ii) pai, mataste alguém ?; (iii) pai, viste morrer camaradas teus ?; (iii) pai, tiveste medo ?... E admito que tenham curisidade em saber: (v) pai, temos algum mano oui mana na Guiné ?... São perrguntas que os meus filhos já me fizeram...

Em geral, as nossas recordações entre camaradas, nos convívios anuais, da unidade ou subunidadee a que pertencemos. Podemo levar a família, mas as conversas mais íntímas deixam de fora a mulhere e os filhos... Felizmente que as coisas se estão a alterar e que a nossa comunicaç
ão melhorou, no seio da famíli, dos amigos e dos camaradas, com a nossa maior exposição pública através do nosso blogue e dos blogues que depois se foram criando e mais recemetemente atarvés do Facebook...

Mas, mesmo assim, não deixa de ser motivo de preocupação o fato de mais de 1/3 dos primeiros respondentes à nossa sondagem admitir que nunca  ou muita raramente ter falado com os filhos sobre a guierra...

Camaradas, que ainda responderam, façam-no, com toda a liberdade e sinceridade... Ainda temos 4 dias para "fechar a urna"... E é uma forma, útil e generosa, de participara nas comemorações do 10º aniversário do nosso blogue...  Escrevam também, aqui, os vossoscomentários....Obrigado. LG

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SONDAGEM >   CAMARADA, COM QUE FREQUÊNCIA FALAS DA GUERRA AOS TEUS FILHOS ?

Respostas preliminares (n= 67, às 13h00,  dia 11/4/2014),  nos dois primeiros dias, e quando ainda faltam quatro para encerrar a urna

1. Nunca falei / 2. Falei uma ou duas vezes  > 23 (34%)

3. Falo com alguma frequência  > 29 (43%)

4. Falo com bastante frequência / 5. Falo com muita frequência >  10 (15%)

 6. Não aplicável, não tenho filhos  >  2 (3%)

7. Não aplicável, não passei por situações de guerra >  3 (4%)


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Nota do editor:


Vd.postes anteriores da série > 



1 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12922: 10º aniversário do nosso blogue (1): 10 anos a blogar... 652 camaradas e amigos registados... 13 mil postes publicados... 5,5 milhões de visitas... 50 mil comentários... Obrigados ao Miguel Pessoal pela prenda que já nos mandou!... Obrigados aos nossos editores, colaboradores permanentes, autores, leitores, comentadores!...

Guiné 63/74 - P12965: Convívios (580): XV Encontro do pessoal da CCS/BCAÇ 2930 - Catió, dia 4 de Maio de 2014 em Fátima (Manuel Dias Pinheiro Gomes)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Dias Pinheiro Gomes (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista do STM / Agrupamento de Transmissões da Guiné, Catió e Bissau, 1970/72), com data de 6 de Abril de 2014: 

Camarigo Carlos Vinhal
Envio o programa do Convívio da CCS do Batalhão 2930.
Por favor, com a tua grande paciência publica na tabanca muito grande.
Fico agradecido
Um grande abraço.
Até breve
Manuel Gomes




XV CONVÍVIO DA CCS DO BCAÇ 2930 - CATIÓ 

FÁTIMA - Domingo dia 04 de Maio de 2014 

 Convite e Programa 

Caros camaradas e amigos, 
Decorrido outro ano, aqui vos vimos convidar para com família e amigos nos juntarmos e participarmos no XV convívio dos ex militares da CCS do Batalhão de Caçadores 2930

Desta vez realiza-se a 4 de Maio de 2014 na cidade de FÁTIMA com o programa seguinte: 

Encontro junto ao Restaurante Ponto de Encontro, situado na Rotunda Sul, a partir da manhã cerca das 9.30 /10 horas. (Há parque de estacionamento suficiente junto ao Restaurante) (Em alguns mapas o local é designado por Rotunda de Santa Teresa de Ourem).

Pelas 10,45 partida a pé, perto de 1 km, para quem queira participar na Missa Dominical no Recinto do Santuário, no Altar do Recinto, seguida da procissão do "Adeus”, quem porventura não deseje participar nas cerimónias, pode ficar junto ao Restaurante, onde regressaremos cerca das 13horas, 13 e pouco, seguindo-se o Almoço e Convívio durante a tarde. (O Recinto do Santuario requer Silêncio).

Lembro que além das vossas intenções particulares, façamos uma oração pelos companheiros que já fizeram sua viagem e nos aguardam. Escolhemos este local devido as acessibilidades, parqueamento e possibilidade de percorrer a pé o trajecto, por outro lado pode haver quem aproveite deslocar-se via expresso da rodoviária para o terminal de Fátima se existir horário compatível. Como é um Domingo, atenção porque há menos ligações, e circular a pé em Fátima.

Pelas indicações que temos, esperamos ter connosco camaradas que vem de muito longe, e que gostariam de vos ver a todos pois as oportunidades com o tempo tendem a escassear. Quem entre em Fátima pela A1 pouco depois da portagem, vira a direita a Rotunda Sul fica a cerca de 1 kilómetro. De outros locais também é fácil dirigindo-se sempre para a Rotunda Sul. do Restaurante ao Santuário a pé pode fazer em 5 minutos, contudo e como alguns de nós já temos problemas de mobilidade, convém ter cerca de 15 minutos. 

Não estabelecemos local de encontro no Recinto do Santuário, porque depende da afluência de pessoas, contudo entramos a pé pelo lado oposto a Capelinha, pelo que e como existem grades a meio, penso deveremos ficar o mais a frente possível desse lado. Havendo Sol costuma haver alguma sombra, mas convém levar algo para a cabeça. 

Um forte abraço e tudo de bom para todos, destes vossos camaradas 
Serafim Carvalho e 
Pedro Rocha Pais 
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EMENTA 
Restaurante Ponto de Encontro: 

Aperitivos: 
Martini, Porto, Ricardo, Moscatel, Favaios 

Entradas: 
Pão, Azeitonas, Queijos, Pasteis de bacalhau, Rissois, Morcela de arroz, Chouriço assado

Sopa de legumes

Salada mista

Prato de peixe:
Bacalhau à Ponto de Encontro 

Prato de Carne:
Lombo assado no forno com arroz salteado

Sobremesa:
Doce da casa, Pudim caseiro, Salada de Fruta

Café Bebidas:
Vinho da casa Tinto ou Branco, Água, Sumo de laranja 

PREÇOS
Por favor tenta trazer dinheiro certo evitando trocos 
Preço por pessoa 
Adulto: 25.00€ 
Criança dos 8 aos 12 anos: 12.50€ . 
Criança dos 0 aos 8 anos Não pagam, mas precisamos saber que existem. 

Agradecíamos a confirmação de pessoas até ao dia 25 de Abril de 2014, para os seguintes contactos:

Serafim Carvalho - Telef: 249 111 089 - Mov: 961 472 372 e 911 783 510 - Mail: serafcarvalho@sapo.pt
Morada: AV. D. JOÃO I, Nº 28-A R/C – CARVALHOS DE FIGUEIREDO 2300-330 TOMAR 

Pedro Rocha Pais - Telef: 241 361 048 - Mov: 967 076 638 - Mail: rochapais@gmail.com

====================================================================

VERIFICA POR FAVOR TEUS DADOS, SE NÃO ESTÃO CERTOS INFORMA O PAIS
Email - rochapais@gmail.com 
Rua Infante D. Jorge, nº 8 2200-089 ABRANTES 
Telef: 241 361 048 
Móvel: 967 076 638 

Se tiveres contacto de email envia-lhe um para retirar o endereço para nossa lista. 

POR MAIL A COMUNICAÇÃO FICA MAIS RÁPIDA, MAIS SIMPLES E MAIS ECONÓMICA, SE ALTERARES O MAIL AVISA. 

PASSA A PALAVRA A TODOS OS QUE CONHEÇAS, PORQUE PODE SUCEDER ATRASO DE COMUNICAÇÃO
____________

Nota do editor

Último poste da série de 10 de Abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12959: Convívios (579): XV Encontro do pessoal da CCAÇ 3491, dia 10 de Maio de 2014 em Fátima (Luís Dias)

Guiné 63/74 - P12964: Notas de leitura (580): "Os Portugueses Descobriram a Austrália? 100 Perguntas Sobre Factos, Dúvidas e Curiosidade dos Descobrimentos”, por Paulo Jorge de Sousa Pinto (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Outubro de 2013:

Queridos amigos,
Por uso e costume, não descambo dos temas da Guiné, esta é o eixo central do que aqui vos escrevo, em nome dos princípios do blogue. Acontece que este livro surpreendente sobre a História dos Descobrimentos ajuda a perceber mitos e preconceitos em que incorremos e até em que participamos. Tem uma organização prodigiosa este livro que não se destina a especialistas mas ao grande público. Questiona polémicas, confronta mistérios e controvérsias, põe os descobrimentos face aos espelhos da memória, engrandece o que foi verdadeiramente grande e faz risota dos chavões postos em voga a partir do liberalismo do século XIX.
Em termos de cultura geral sobre os Descobrimentos Portugueses não conheço nada de mais original nem de mais vibrante. E o autor até questiona problema doutrinários da guerra em que participamos.

Um abraço do
Mário


Os Descobrimentos Portugueses contados engenhosamente a leigos

Beja Santos

Chama-se “Os Portugueses descobriram a Austrália? 100 perguntas sobre factos, dúvidas e curiosidade dos Descobrimentos”, por Paulo Jorge de Sousa Pinto, A Esfera dos Livros, 2013. Não hesito em considerar um acontecimento editorial este livro em que o especialista em História dos Descobrimentos e Expansão Portuguesa desvela ao grande público a trama dos Descobrimentos sob o manto diáfano das curiosidades e aspetos intrigantes do conhecimento histórico para os quais queremos obter resposta. O especialista comunica com vivacidade e não foge às questões escaldantes, tormentosas e mesmo aquelas que, como soe dizer-se, são fraturantes. Um exemplo: a imagem que construímos sobre África e o africano. Vale a pena uma citação abundante.

Em 1935, a escritora Maria Archer escrevia que “os negros pertencem a raça indolente, são destituídos de arquitetura, não têm monumentos, vivem mesquinhos de arte, sem escrita, e parcos de desenho ou pintura” e também manifesta o seu consolo “de ter escrito uma obra que vem demonstrar quanto negro selvagem, o bárbaro nu, desprotegido, retardado em civilização, a mão-de-obra indígena das colónias – pensa e sente como um homem”. Isto está escrito em África Selvagem. Nestas frases está condensada uma da ideias-chave que marcaram o paternalismo europeu sobre os Africanos, e que ainda hoje ecoa nos estereótipos e nos preconceitos que guardamos sobre o seu passado e a sua cultura: a de que o continente negro viveu num caldeirão de História amorfa e vazia e que as suas populações viviam em estado natural, em sociedades tribais, de costumes selvagens e economias de subsistência e penúria, até à chegada dos Europeus. E não havia civilização porque não havia cidades como as nossas, nem estradas nem monumentos.

Mais adiante observa o autor. "A imagem do continente africano foi sempre construída à medida dos Europeus: primeiro foi um espaço desconhecido a Sul do Sahara, de onde provinham caravanas que traziam ouro, produtos exóticos e informações nebulosas que afluíam ao mundo mediterrânico. Depois, conhecidos os seus limites naturais por ação das viagens portuguesas, passou a ser uma espécie de grande ovo de que se conhecia a casca mas muito pouco do seu interior, que era tomado por um grande espaço de movimentação de povos selvagens que periodicamente invadiam os reinos e dizimavam as populações. Aliás, é muito curioso olhar para a cartografia até ao século XIX e constatar o quase total desconhecimento ou irrealidade dos mapas de África. De seguida, na segunda metade do século XIX, o continente passou de mistério a galinha dos ovos de ouro, fonte de recursos para economias e potências europeias em concorrência entre si pelo domínio mundial e a necessitar de matérias-primas e mercados, mão-de-obra e prestígio imperial; a reboque de tudo isto, a superioridade intelectual, civilizacional e rácica de uma Europa que considerava seu dever arrancar os pobres negros à barbárie e partilhar um pouco do seu progresso e da sua ciência”.

O historiador compartimenta com muito acerto esta história dos descobrimentos escrita à forma de um guião: o papel pioneiro dos portugueses nos descobrimentos; alguma da grande mitologia que por vezes arrasta tanta polémica, caso da Escola de Sagres; um esclarecimento muito bem urdido sobre protagonistas e o porquê de certas decisões políticas (porque razão recusou D. João II o projeto de Cristóvão Colombo? O que aconteceu a Pêro da Covilhã? Camões esteve em Macau?); mistérios e controvérsias que deliciam os eternos polemistas (por exemplo, que tem de extraordinário o mapa de Piri Reis?); onde e como se cruzou a expansão portuguesa com a expansão europeia (questões tão curiosas como porque sucumbiu o Estado da Índia aos assaltos holandeses?); o pano de fundo de políticas e tratados (matéria vastíssima onde cabe perguntar se houve inquisição no Oriente, porque motivo foi D. Sebastião a Alcácer-Quibir ou quais eram os planos de Afonso de Albuquerque); “e se mais mundo houvera, lá chegara”, aqui as questões passam por obstáculos naturais, como a frequência dos naufrágios, se houve portugueses no Tibete, ou onde ficava a Cochinchina; histórias de encontros e desencontros, em que se questiona se foram os portugueses que introduziram a espingarda no Japão e qual o interesse dos biombos Namban; dúvidas e curiosidades (porque eram as especiarias orientais tão caras na Europa? Por que razão começou tão tarde a colonização no Brasil?); e, por fim, descobrimentos e memória.

À despedida, Paulo Jorge Sousa Pinto, apresenta, um balanço desta grande epopeia, não esquecendo de nos alertar que em cada época há sempre uma outra coloração no registo com que revistamos a História. Por exemplo, a seguir ao 25 de Abril de 1974, era o passado recente que importava, havia que denunciar a guerra em África, as suas causas e raízes, expurgar fantasmas coloniais, estabeleceram-se ligações por vezes simplistas e caricatas: de heróis, os Portugueses passavam agora a vilões, e os descobrimentos, de gesta a maldição para Africanos, Ameríndios e Asiáticos. Veio depois a Comissão Nacional para a Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, a seguir à catarse colonial era chegado o momento de redescobrir o passado. A temática regressou aos manuais escolares. Malbaratou-se muito do espólio documental e fotográfico produzido pela Comissão das Comemorações. Também aqui se cometeram esbanjamentos criminosos, como lembra o autor: a ópera composta por Philip Glass para evocar a viagem de Vasco da Gama desapareceu; custou cerca de 1,5 milhões de euros, foi representada três vezes na Expo 98 e nunca foi gravada. E termina deixando-nos uma reflexão mais do que incómoda: “A relação dos Portugueses com o seu passado colonial – ou ultramarino – vagueia ainda por entre os velhos estereótipos, entre uma imagem de heroicidade e uma lenda negra, continuando a prevalecer alguma dicotomia entre um certo sentimento saudosista e pseudopatriótico e um complexo de culpa mal assumido, expresso, de um modo geral, de forma contraditória e nem sempre saudável”.

Escusado é dizer se classifico este lançamento como um evento editorial relevante, este livro é obrigatório nas nossas estantes, estou absolutamente seguro que os leitores se renderão a esta prosa fascinante e a esta arquitetura prodigiosa da obra.
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Nota do editor

Último poste da série de 7 DE ABRIL DE 2014 > Guiné 63/74 - P12941: Notas de leitura (579): "A Literatura na Guiné-Bissau", de Aldónio Gomes e Fernanda Cavaca (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P12963: Parabéns a você (718): Jorge Félix, ex-Alf Mil Pilav Allouette III - BA 12 (Guiné, 1968/70); Jorge Picado, ex-Cap Mil da CCAÇ 2589, CART 2732 e CAOP 1 (Guiné, 1970/72) e Manuel Marinho, ex-1.º Cabo Inf do BCAÇ 4512 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 9 de Abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12952: Parabéns a você (717): Jorge Canhão, ex-Fur Mil Inf do BCAÇ 4612/72 (Guiné, 1972/74); Mário Gaspar, ex-Fur Mil Art MA da CART 1659 (Guiné, 1967/68) e Miguel Pessoa, Coronel Pilav Ref, ex-Tenente Pilav da BA 12 (Guiné, 1972/74)