sábado, 12 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P12973: 10º aniversário do nosso blogue (6): A propósito da nossa sondagem... "Ao fim de alguns anos eu tive de relembrar ao Migel Nuno que aos dois anos esteve comigo e com a mãe em Bissorã, de set 73 a jan 74, o significado destas fotos e de quando em vez faço o mesmo com o seu filho, meu neto" (Henrique Cerqueira)


Guiné > Região do Oio >  Biambe > c. set 73 / jan 74 > "Uma visita que fizemos à minha antiga companhia no Biambe... O Miguel  Nuno e, à frente, do lado esquerdo, a sua mãe, a  Maria Dulcinea (NI)" [, nossa grã-tabanqueira]



Guiné > Região do Oio >  Estrada de Biambe- Bissorã > c. set 73 / jan 74  > "Uma visita que fizemos à minha antiga companhia no Biambe, na companhia do Miguel  Nuno e da mãe... O Unimog 411, "burrinho", pertencia à companhia "Já Está no Papo" (são ainda percetíveis os dizeres pintados no capô).




Guiné > Região do Oio >  Bissorã >  c. set 73 / jan 74 > "O Miguel  Nuno, sentado na carcaça de um 'fusca' que era pertença de uma escola de condução... Atrás os seus amigos de brincadeira".

[O Nuno e a mãe embarcaram na TAP em finais de Setembro de 1973 até Bissau, de seguida seguiram com o Henrique Cerqueira  no interior de uma ambulância do Exército até Bissorã.  Regressaram à Metrópole em 29 de Junho de 1974, tendo o nosso camarada regressado a casa em finais de Julho de 1974.]

Fotos (e legendas):  © Henrique Cerqueira (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]


Henrique Cerqueira, Porto
1. Mensagem de hoje do Henrique Cerqueira [ex-fur mil, 3.ª CCAÇ / BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74]:

Assunto: Nosso 1º filho e a Guiné

Camarada Luís Graça:

Vem a propósito do inquérito sobre o falar com os nossos filhos da Guiné e da guerra colonial (*).

Vem também a talho de foice o teres comentado que as nossas estórias da Guiné estarão esgotadas. 

Na realidade uma das coisas boas que todos nós tivemos na Guiné ,foi que tiramos muitas fotografias de muitos e diversos momentos passados lá e sempre que damos uma olhadela a essas fotos descobrimos que há sempre uma pequena estória associada às mesmas.

Bom e para "alimentar" o nosso blogue com mais alguma matéria relacionada com a nossa passagem pela Guiné,  eu resolvi enviar-te estas duas fotos do meu filho Miguel aquando a sua permanência com a mãe junto de mim em Bissorã.

Ele era uma criança muito sociável, embora nos seus dois anitos de vida, tinha uma grande capacidade de comunicação e inclusivamente já falava muitas palavras em crioulo. Também era muito bem tratado pelas crianças naturais Bissorã tal como documenta a foto em que está sentado na carcaça de um "fusca" que era pertença de uma escola de condução.

Na foto a preto e branco, demonstra,  uma vez mais, a sua adaptação a todos os ambientes, pois que se tratou de uma visita que fizemos à minha antiga companhia no Biambe e claro que depois de uma visita guiada ao tabancal em Unimog (identificado como sendo da companhia "Está no Papo"),  impunha-se a foto da ordem.

Claro que mais tarde, e ao fim de alguns anos eu tive de relembrar ao Miguel o significado destas fotos e de quando em vez o faço com o seu filho, meu neto, e para isso tenho que lhe explicar o porquê de termos ido à Guiné.

Agora lamentável é que as nossas 
escolas não sejam mais contundentes no estudo e ensino sobre a
permanência dos Portugueses e a participação nma guerra colonial, chegando ao ponto da maioria dos jovens e até menos jovens de hoje quase nada saberem sobre as guerras coloniais dos anos 60/70.

Bom, qualquer dos modos, nós, os Camaradas da Guiné lá vamos contando alguma coisa e quem sabe algum dia servirá para instruir as gerações futuras.

Luís, esta pequena estória vale o que vale, no entanto se achares algum interesse publica, mas o nosso blogue não se pode esgotar por aqui. (**)

Um abraço a todos os camaradas da Guiné.
Henrique Cerqueira
__________________

Notaa do editor:

Vd. poste

(*) Vd. poste de  11 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12966: 10º aniversário do nosso blogue (3): Resultados preliminares (n=67) da nossa sondagem ("Camarada, com que regularidade falas da guerra, aos teus filhos?")... Mais de um terço admite que nunca falou ou raramemte fala, da guerra, aos seus filhos...

(**) Último poste da série > 12 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12972: 10º aniversário do nosso blogue (5): A propósito da sondagem que eestá a correr:... "Os nossos filhos e netos estão muito mais preocupados com o seu presente e o seu futuro do que com o nosso passado" (João Martins, ex-alf mil art, BAC1, Bissum, Piche, Bedanda, Gadamael e Guileje, 1967/69)

5 comentários:

Joaquim Luís Fernandes disse...

Caro Camarigo Henrique Cerqueira

Para mim é comovente ver a ternura do teu filho Miguel Nuno, enquanto criança, naquele T.O. Eu sei que se estava era porque sentias que havia segurança para tal, mas não deixa de ser dramático que um casal, com filho, tenha que ter optado por essa situação. Mas ainda bem que assim foi. Decerto foi o melhor para os três.

Para o Nuno Miguel a sua passagem pela Guiné pode não dizer muito, mas para ti e para a tua esposa e sua mãe, nossa Grã-Tabanqueira Dulcineia, decerto diz muito.

Também tive a minha mulher comigo, durante seis, meses em Bissau. As condições que tinha, isso me proporcionava e a minha filha mais velha foi aí gerada.

Penso nos casais e nos filhos que a guerra separou. Como terá sido grande o seu sofrimento! Vítimas da guerra.

Um forte abraço
JLFernandes

Antº Rosinha, retornado disse...

Há neste momento muitos jovens na faixa etária do MIGUEL NUNO à porta da embaixada de Angola à espera (mendigar) de um visto para emigrar para aquela ex-colónia.

É preciso avisar essa juventude que os Presidentes africanos têm muitos sobrinhos, mas nem todos os africanos têm um tio presidente.

É que esta crise obriga a enfiar muitos barretes e há por aí muito "pretinho" que se gabam que têm uma árvore das patacas em Luanda, uns e em Bissau outros.

E devemos dizer aos jovens que nos perguntarem "Pai, tives-te medo?"

Dizer-lhe ó filho "o medo guarda a vinha" por isso aqui estamos os dois.

Luís Graça disse...

Henrique, não sei se já explicaste isso algures...Mas meteres-te com mulher e filho numa ambulância militar e fazer Bissau-Bissorã... é obra!

Eu ficava cheio de calustrofobia e se calhar borrava-me todo... Preferia ir ao alto numa Mercedes, Berliet, ou Unimog, ou GMC, ou até Matador, no 1º andar, a admirar a paisagem... E sempre pronto a saltar.

Estou a brincar: eras um hom,ens responável e um militar competente, e sabíamos que o trajeto era seguro, nessa época...

E já agora, porquê uma estadia tão curta, três a quarto meses ?

Com dois anos, o teu puto não deve ter recordações dessa época... a não ser as que que lhe inculcaste mais tarde, revendo as fotos...

Um abração. Luis

Henrique Cerqueira e Ni disse...

Camaradas
Em determinada altura eu e a Ni fizemos um ligeiro artigo que foi postado no nosso blogue a contar mais ao menos a nossa "Odisseia" por terras da Guiné em família.
Mas relembrando aqui um pouco como tudo aconteceu:
Eu sempre disse que o meu maior dos "medos" era ser separado do seio familiar e na Guiné tentei a possibilidade de ser colocado num local mais apropriado a poder ter a família junto de mim ,visto que também era essa a vontade da minha mulher.Entretanto eu tinha no Biambe um Alferes de Lisboa (O Coelho) que já era casado com uma senhora de origem Israelita e ele foi numeado para comandar um destacamento em Inquida ou seja uma pequena povoação e só com um grupo de combate.Então ele levou a esposa para junto dele.Assim sendo eu ganhei coragem para lutar pelo mesmo.Só que para isso eu tinha de sair do Biambe.Ora como na altura o ambiente na companhia andava um pouco pesado entre graduados (o motivo hoje em dia é para esquecer) eu mais um amigo alferes ( Santos)nos oferece-mos para voluntariamente para as companhias africanas e assim com a possibilidade de irmos para a CCAÇ13 em Bissorã.
Foi então o que veio a acontecer e eu mais o Santos combinamos tudo ele veio de férias á Metropole para casar e no regresso á Guiné o casalinho mais a minha Ni e o Miguel embarcaram na TAP para Bissau.Então eu estaria a aguarda-los no Aeroporto.Nessa altura concidiu que íamos receber uma auto-maca para o batalhão e vai daí tudo se arranjou para conseguir boleia para os meus amigos e minha família de bissau até Bissorã ( tempos loucos malta).Houve ainda uma série de atrasos que motivou o termos chegado a Bissorã já noite dentro.
E assim para abreviar, a Ni e o Miguel viveram comigo em Bissorã entre Outubro de 1973 e Junho de 1974.
Foi uma grande loucura é verdade,mas caramba como foi tão especial esse tempo passado .E como hoje em dia é tão grato recordar.
Um abraço
Henrique Cerqueira

Hélder Valério disse...

Caro camarada Henrique

Pelo que se vê nas fotos, o teu Miguel Nuno tem um ar perfeitamente tranquilo, direi mesmo que feliz.
Sereno, sorridente, confiante.
Sei, já tinha lido antes, como e em que circunstâncias a "Ni" e o vosso filho foram viver a 'aventura africana'.
Já tenho 'sentido' como esses tempos, essas vivências, foram importantes no 'crescimento' do vosso Lar, como a "Ni" é uma mulher especial, como a Guiné a tornou mais forte.
Hoje, também me pergunto em que medida o Miguel terá lembranças, e de que tipo, desses tempos.
Creio que as deve ter. Eu tenho, lembranças de muito novo, talvez até ainda mais novo do que o Miguel teria nesses tempos. Falta.lhes 'profundidade', são coisas superficiais, pequenos pormenores que na altura me devem ter prendido a atenção, pelo que admito que nele isso também funcione.
Seria interessante saber se tem recordações.

Abraço
Hélder S.