Guiné-Bissau > Zona Leste > Rio Corubal > Saltinho > 1996: "Rápidos do rio Corubal, na zona do Saltinho, e a ponte na estrada que continuava para Aldeia Formosa (no nosso tempo era intransponível e até me lembro que o aquartelamento tinha no enfiamento da ponte um abrigo com uma metralhadora pesada)".
Foto: © Humberto Reis (2005)
V parte do relato da viagem do Paulo Santiago e de seu filho João Francisco à Guiné-Bissau em Fevereiro de 2005. O Paulo foi Alf Mil no Pel Caç Nat 53 (Saltinho, 1970/72)
Mal saímos de Cansamange (deves ter razão, Luís) em direcção a Madina Buco, disse ao Sado que à noite, no regresso a Bissau, daríamos as galinhas (1) a alguém que necessitasse (quantos não serão) numa das tabancas do trajecto.
Passados uns 10 mikes chegámos a Madina. Mais abraços, mais uns nharros que me conheciam, enfim, continuava a limpar os olhos e os óculos. Um elemento da população, puto nos anos 70, pede para nos acompanhar na visita de saudade que ía fazer.
Seguimos em direcção ao Quirafo, que no meu tempo era uma tabanca abandonada. A CCAÇ 2406 tivera lá um grupo de combate destacado, mas a porrada era muita, a populaçãofoi saindo, e o grupo de combate recuou, sendo dividido por Madina e Cansamange.
Voltando a 7 de Fevereiro de 2005, a picada está em bom estado, não há minas e o Pedro carrega no acelerador. Encontramos, não acontecia nos anos 70, alguns meus irmãos negros de bicicleta. Damos com restos de um despojo de guerra da CCAÇ 2406 [a unidade de quadrícula do Saltinho, 1968/70], a cabina de uma GMC, rebentada por uma mina, e onde pereceram alguns dos militares, cujos nomes figuram no memorial que se encontra no Saltinho (2). Esta lembrança do perigo, ainda que mais completa, já existia no meu tempo de militar, passei-lhe bastantes vezes ao lado em deslocações para patrulhamentos e operações.
Uns 3/4 Km à frente aparece-me a razão da minha ida aquela zona, neste dia: uma GMC, ainda muito bem conservada, atendendo aos anos passados, destaca-se numa clareira ao lado da picada. O Pedro pára o jipe, saimos todos, o João filma a viatura de varios ângulos, são buracos de balas nos taipais, na cabine, há um grande buraco no chão da viatura feito por uma canhoada.
Afasto-me para um lado, faço uns minutos de silêncio e, como católico, rezo uma oração. Naquele local, em 17 de Abril de 1972, morreram 11militares, 5 milícias e um número ainda indeterminado de civis, devido à incompetência, à ignorância, à megalomania do capitão-proveta do Saltinho e do seu comandante em Galomaro. O meu objectivo daquele dia estava cumprido: um pensamento por uns homens que ainda mal conhecia e que tão estupidamente morreram.Vou tentar extrair do filme uma foto da GMC.
Visitamos de seguida a população da tabanca do Quirafo e regressamos ao Saltinho onde temos à espera o cabrito oferecido pela Fatemá. Nesta curta viagem, verifico que o João ficou abalado, quando o Sado lhe perguntou se ele, após o almoço, queria ir ao Quebo...Respondeu-lhe que já vira tudo o que lhe interessava no mato da Guiné.
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Notas de L.G.:
(1) Vd. post anterior, de 5 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P938: As emoções de um regresso (Paulo Santiago, Pel Caç Nat 53) (4): branco com coração negro no Rio Corubal
(2) Vd. post de 30 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P926: As emoções de um regresso (Paulo Santiago, Pel Caç Nat 53) (3): Saltinho e Contabane
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