Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > 2001 > Restos do aquartelamento e povoação de Xitole. Um antigo armazém do comerciante libanês Jamil Nasser.
Guiné-Bissau > Região de Bafatá > Xitole > 2001 > Restos do aquartelamento e povoação de Xitole. A antiga casa do comerciante libanês Jamil Nasser
Fotos (e legendas): © David J. Guimarães (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Mensagem do Joaquim Mexia Alves que, pelo endereço de e-mail, deve trabalhar nas Termas de Monte Real, do Grupo Lena, um grupo empresarial do centro do país ligado à hotelaria e ao turismo:
Caro Luis Graça
Por acaso entrei neste blogue. Estive como Alferes Miliciano de Operações Especiais, de Dezembro de 1971 a Dezembro de 1973, na Guiné, e curiosamente nos sítios aqui tão falados, ou seja:
Xitole > Cart 3494 > Ponte do Rio Undunduma
Entre Xime e Bambadinca > Pel Caç Nat 52 (Os Gaviões) > Mato Cão
Mansoa > CCAÇ 15 (Taque Tchife)
Não tive tempo agora para ver e ler com atenção [o resto do blogue e as demais páginas na Net], mas prometo voltar.
Abraço
Joaquim Mexia Alves
2. Já lhe dei as boas vindas, e recordei-lhe as regras da nossa caserna (virtual):
Camarada:
(i) Serás bem vindo à maior caserna virtual da Net, reunindo camaradas (e amigos) da Guiné, incluindo malta do teu tempo... Temos umas regras mínimas que podes consultar em:
http://www.ensp.unl.pt/luis.graca/guine_guerracolonial_tertulia.html
(ii) Tratamo-nos por tu, como bons camaradas que fomos (e queremos continuar a ser). Na nossa lista de e-mails temos já cerca de um centena de endereços.
(iii) Para entrares, basta apenas mandares duas fotos (uma antiga e outra actual) e contares-nos a tua estória...
3. Resposta do camarada Mexia Alves:
Caro Luis Graça
Visitei hoje, mais uma vez, esta página e fui ver as fotografias do Xitole.
Deparei-me com a fotografia das ruínas da casa do Jamil Nasser (1), do Tio Jamil, como eu lhe chamava, e veio-me uma nostalgia difícil de explicar (2).
Quase todos os dias, ao fim da tarde, ía a casa do Jamil e no seu alpendre de entrada, bebiamos uns uísques, acompanhados de pedaços de tomate com sal, enquanto ele ouvia as notícias do Libano no seu rádio, em árabe, claro está, e comentava o que por lá se passava.
Para mim era como sair um pouco da tropa e entrar numa vida social, o que dava um certo equilíbrio emocional.
Um dia, quando me preparava para ir ter com o Jamil, apareceu o seu criado Suri, oriundo da Gâmbia, salvo o erro, para me dizer que o Jamil pedia para eu não ir ter com ele naquele dia.
Fiquei admirado, mas bebi o que tinha a beber no quartel. Mal anoiteceu, houve um tremendo ataque ao Xitole que, graças a Deus, não provocou quaisquer vítimas ou sequer ferimentos, mas destruiu bastante alguns edifícios.
Percebi o recado do Jamil, mas nunca falámos nisso. Tenho algumas histórias com ele e até fotografias, se não me engano, não tenho é muito tempo, mas logo verei o que posso arranjar.
A memória falha de vez em quando, mas penso que ainda me encontrei com o Jamil em Lisboa depois de ter vindo da Guiné.
Lembro-me que ele costumava ficar num Hotel, ao lado do Cinema Tivoli, se não me engano Hotel Condestável.
Abraço
Joaquim Mexia Alves
____________
Notas de L.G.
(1) O David Guimarães, além de duas fotos, de 2001, que disponibilizou para o nosso álbum, tem uma outra referência ao Samir Nasser, no post de 10 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCIX: Estórias do Xitole: 'Com minas e armadilhas, só te enganas um vez' (David Guimarães):
(...)
"O aquartelamento do Xitole estava bem minado em seu redor. Do lado da pista de aviação, tinha eu mesmo montado um poderoso fornilho às ordens do capitão. Esse fornilho era comandado do abrigo dos furriéis (vd. foto onde estou eu sentado em cima de um bidão). De resto todo o terreno à volta estava semeado de minas anti-pessoais 966... Para a protecção total e permanente do aquartelamento no Xitole só faltava um ponto por armadilhar: a estrada Bambadinca - Xitole - Saltinho... Os ex-combatentes da CCAÇ 12 conheciam-na bem e sabiam onde era a casa de Jamil Nasser, um comerciante libanês que vivia no Xitole (...)... Pois era exactamente ali, naquela rampazinha que dava acesso ao aquartelamento" (...).
(2) Ficamos felizes, eu e o David Guimarães, que foi Furriel Miliciano na CART 2716, Xitole, 1970-1972), por te poder proporcionar esta possibilidade de te emocionares ao ver a casa, em ruínas, de um amigo com quem partilhaste bons momentos de convívio... É também para isso que este blogue serve: estamos todos os dias, com pequenos e grandes contributos de muitos camaradas nossos, a reconstituir essa memória, fragmentada, da Guiné do nosso tempo, dos bons e maus momentos que lá passámos... Ficamos à espera das tuas imagens, digitalizadas, do Xitole, de Bambadinca, de Mansoa e de outros sítios por onde passaste, no teu tempo (1971/1973)...
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