segunda-feira, 3 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17539: Agenda cultural (569): Sessão de lançamento do segundo volume do livro do José Ferreira, "Memórias Boas da Minha Guerra" (Lisboa, Chiado Editora, 2017), a realizar no sábado, dia 8, pelas 10h30, na Quinta Choupal dos Melros, Fânzeres, Gondomar. Apresentação a cargo do nosso editor, Luís Graça.


1. Sessão de lançamento do segundo volume do livro do José Ferreira, "Memórias Boas da Minha Guerra" (Lisboa, Chiado Editora, 2017), a realizar no sábado, dia 8, pelas 10h30, na Quinta Choupal dos Melros, Fânzeres, Gondomar (*). 

A moderação estará a cargo de Alberto Guedes de Moura (ex-inspetor superior dos bombeiros, e nosso camarada da Guiné), que é também presidente da Assembleia Geral da Crastumia (Centro Associativo Cultural de Crestuma). Recorde-se que o nosso camarada José Ferreira vive em Crestuma, sua terra adotiva.

O fundador, administrador e editor deste blogue Luís Graça, professor universitário jubilado (Universidade NOVA de Lisboa),  irá fazer a apresentação do livro e do autor, José Ferreira.
Diversos camaradas irão igualmente intervir, além de Luís Graça e do autor da obra [, foto à direita]:
À sessão, segue-se um almoço de convívio no restaurante Choupal dos Melros (***).

2. Luís Graça, no prefácio, escreveu o seguinte (**):

(...) Este livro acaba por ser o autorretrato de uma geração de portugueses que fechou um ciclo de 500 anos, que soube fazer a guerra e a paz, com “sangue, suor e lágrimas” e uma boa pitada de humor de caserna, e que se recusa a ir para a “vala comum do esquecimento”… Não é a História com H grande, nem dos heróis com direito a Panteão Nacional. Mas sabemos, desde Fernão Lopes, que não há História com H grande sem as pequenas histórias da “arraia-miúda”. Este é também um livro de homenagem à “arraia-miúda”. (...)

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Guiné 61/74 - P17538: "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é já hoje", da autoria do 2.º Sargento Ref António dos Anjos, Tipografia Académica, Bragança, 1937 (2): Págs. 15 a 23 (Alberto Nascimento, ex-Soldado Condutor Auto)


1. Segunda parte da publicação do livro "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é hoje", da autoria do 2.º Sargento António dos Anjos, 1937, Tipografia Académica, Bragança, enviado ao Blogue pelo nosso camarada Alberto Nascimento [na foto à esquerda] (ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 84 (Bambadinca, 1961/63).


(Continua)
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Nota do editor

Primeiro poste da série de 29 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17523: "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é já hoje", da autoria do 2.º Sargento Ref António dos Anjos, Tipografia Académica, Bragança, 1937 (1): Até à pág. 14 (Alberto Nascimento, ex-Soldado Condutor Auto)

Guiné 61/74 - P17537: (D)o outro lado combate (9): Regime de Sékou Touré e PAIGC: propostas de reforço da cooperação militar, elaboradas por Amílcar Cabral, 4 meses antes de ser assassinado (Jorge Araújo) - Parte II















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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P17536: Notas de leitura (974): “a Presença Portuguesa na Guiné: História Política e Militar 1878-1926”, Caminhos Romanos, 2016 (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Junho de 2017:

Queridos amigos,
A investigação de Armando Tavares da Silva não ilude (pelo contrário, ilumina) as vicissitudes da vida da província, a partir de 1879, as sublevações, os conflitos, os tratados, a paz instável. Fica-se com a noção de que neste período que vai até 1890 avultam atos de heroísmo e de galhardia militar, como Marques Geraldes, e regista-se uma governação exímia, a de Pedro Ignacio de Gouveia.
Somam-se as dificuldades, há muita tropa indisciplina, os degredados são problema, não há dinheiro para desenvolvimento. É um verdadeiro jogo do empata e da manha para tentar ocupar o território, na ausência de uma administração efetiva.

Um abraço do
Mário


A presença portuguesa na Guiné: história política e militar 1878-1926, 
Por Armando Tavares da Silva (2)

Beja Santos

Dentre os mais importantes trabalhos historiográficos referentes à Guiné, é da mais elementar justiça pedir a atenção de todos os interessados para uma investigação de grande fôlego: “a Presença Portuguesa na Guiné: História Política e Militar 1878-1926”, Caminhos Romanos, 2016.

Que o leitor se previna: são mais de 960 páginas, uma belíssima apresentação gráfica, poder-se-á mesmo adjetivar que é inexcedível, um bom acervo fotográfico e um conjunto de mapas que facilitam a leitura de tão avultado miolo. O investigador escolheu aquele período peculiar que vai das primícias da autonomização da Guiné face a Cabo Verde até à chegada da Ditadura Nacional, correspondente na colónia a uma fase que prometia arranque económico, num quadro de uma certa pacificação, em que a administração colonial se estava a disseminar por pontos importantes no território.

Armando Tavares da Silva é imbatível nos elementos carreados, não hesito em dizer que doravante, quem se quiser abalançar a revisitar este período histórico, tem que percorrer esta obra, sem prejuízo das outras investigações que fazem parte da bibliografia obrigatória.

Pedro Ignácio de Gouveia é o segundo governador da Guiné  [1881-1884, 1º mandato] , tem uma prosa exemplar nos seus relatórios e considero que o seu texto sobre a epopeia do Alferes Marques Geraldes que foi resgatar a Selho gente tirada de S. Belchior uma obra-prima, já o disse num dos meus livros. O autor descreve as preocupações deste governador, ele é contemporâneo de uma nova expedição contra os Beafadas de Jabadá, é favorável a tratados de paz e pressente a gravidade do que se está a passar no Forreá, um fenómeno ainda mal estudado, tem a ver com a crescente pressão dos Fulas que vieram do Futa Djalon e puseram em alvoroço o mosaico étnico, fazendo avivar guerras entre Fulas Forros e Fulas Pretos.

Dá relevo a desavenças que ocorrem em Geba e em Buba, vive-se numa turbulência constante de saqueios de povoações, roubos, atos hostis. É nesse contexto que irão ocorrer operações em Nhacra, os Balantas tinham aprisionado uma embarcação e foram assassinados alguns tripulantes. Mais negociações com rei de Safim, obteve-se uma submissão temporária. No seu segundo relatório, com data de 26 de Janeiro de 1884, o governador volta a dizer algumas verdades como punhos: insuficiência da guarnição, indisciplina militar (recomenda que se realize o recrutamento na província), propõe reformas, pede recursos para lançar empreendimentos essenciais.

Os incidentes no Casamansa vão ser uma constante a partir de 1884, a França pressiona, percebe-se claramente que quer arredar qualquer presença portuguesa na região. Problemas não faltam, o autor fala-nos de um habitualmente omitido na historiografia, o dos degradados. O governador solicitara que fosse abonada a passagem para a metrópole aos indivíduos que houvessem completado o tempo de degredo em Angola; mas este problema não se limitava às questões de patrulhamento, como escreve: “De Angola e de S. Tomé estavam sendo enviados degredados para a Guiné, onde não existia colónia penal, nem condições para evitar a fuga dos presos como já tinha acontecido”.

Pedro Ignácio de Gouveia teve uma governação sem descanso, até houve guerra entre os Beafadas e Mandingas e Fulas-Forros. Volta a fazer minucioso relatório e chega novo governador em 1885, o Capitão-Tenente Francisco de Paula Gomes Barboza [1885-1886], também não teve a vida descansada, por esse tempo uma figura que irá dar muitas dores de cabeça, Mussá Moló, ameaçou fechar o rio Geba, houve que fazer uma incursão a Sambel Nhantá, então a capital do regulado do Cuor. Marques Geraldes passa à chefia de presídio de Geba, aqui granjeará fama.

O autor desenvolve os acontecimentos do Casamansa que irão desaguar na Convenção de Maio de 1886, é capítulo de primordial importância, convém não esquecer que houve perdas graúdas como o Casamansa, mas Portugal que tinha ali uma colónia de praças e presídios ganhou território para o interior, praticamente desconhecido, sobretudo no Leste e no Sul.

No período de 1886-1887 continua-se na efervescência de todo o fenómeno da expansão do Reino de Alfa Moló que encontra apoios em Mussá Moló, entre outros, para espalhar a guerra. Marques Geraldes escreverá que “Moló lutou até ao último dia da sua vida, tendo conseguido destruir quase todo o poder dos Beafadas e Mandingas nos territórios de Geba até Gâmbia (…) As margens do rio Geba, desde a sua embocadura, eram povoadas por Beafadas e Mandingas que ainda não tinham sentido a mão do vencedor. Mussá, por meio de planos bem combinados, soube vencer aqueles restos dos grandes povos que dominaram na Guiné e que em poucos anos tinha suplantado Beafadas e Mandingas, ficando possuidor de ambas as margens do rio Geba desde a sua embocadura, e nós à sua perfeita disposição”.

Houve que fazer expedições, tiveram à frente Marques Geraldes. Em Setembro de 1886, virá novo governador, o Tenente-Coronel João Eduardo Brito [1886-1887], prosseguem as operações, os tratados de paz, sempre efémeros. Marques Geraldes preparou um ataque à capital Sancorlã, teve que suspenda a guerra, assinou-se um tratado como Mussá Moló.

Chegou o momento de tentar um esforço de síntese para apreciar o trabalho de Armando Tavares da Silva. Compila muitíssimos dados, desde as primícias da consagração da Guiné como província, mostra os meios de que o governador dispõe para proceder a operações militares, a natureza buliçosa das diferentes etnias que não se reconhecem na soberania portuguesa. Repertoria as sucessivas operações e não esconde as diferentes deceções dos governadores perante uma quase indiferença dos políticos de Lisboa, que não correspondem ao apelo de mais meios.

O período subsequente, 1887-1890, traz acontecimentos na esteira dos anteriores. Agora o governador é o Contra-Almirante [Francisco] Teixeira da Silva [1887_1888]. Problemas em Buba não faltam. Mussá Moló continua a atacar tabancas. Marques Geraldes, até então um militar de comprovado brio e heroísmo, termina a sua presença na Guiné de forma inglória. Incidentes não faltam, um pouco por toda a parte. Demarcam-se fronteiras para a província, há nova operação contra os Balantas de Nhacra. Com dor e mágoa, abandona-se Ziguinchor. Teixeira da Silva escreve relatório, é documento com laivos de amargura. O relato de conflitos e rivalidades prossegue, ocupa-se Cacine, a contragosto dos franceses. E em 1890 chega novo governador, o Major Augusto Rogério Gonçalves dos Santos [1890-1891].

(Continua)
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Nota do editor

Poste anterior de 30 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17526: Notas de leitura (973): “a Presença Portuguesa na Guiné: História Política e Militar 1878-1926”, Caminhos Romanos, 2016 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17535: Parabéns a você (1282): António Nobre, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2464 (Guiné, 1979/71)

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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17530: Parabéns a você (1281): Silvério Lobo, ex-Soldado Mecânico Auto do BCAÇ 3852 (Guiné, 1971/73)

domingo, 2 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17534: Blogpoesia (517): "Fugaz e passageiro..."; "Os boicotes..." e "Armazém da boa disposição...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728



1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Fugaz e passageiro...

Tudo na vida é fugaz e passageiro,
A começar por ela mesma.
Tudo seca, por mais verde.
Tudo passa e tudo esquece.

Vão-se os dias e os anos, às centenas,
Num abrir e fechar de olhos.
Quem, na infância,
Vendo os avós,
Se não lembra de fitar a velhice ao longe.

Aquela sensação tão forte
De se estar na eternidade...
A juventude, carregada de miragens.
A voragem do dia-a-dia, a caminho do trabalho.

O sonho fremente de ter uma casa sua.
Aquela luta ingente pelo melhor dos nossos filhos.
O ver descer à terra,
Um a um, aqueles a quem mais queremos.

Até que, um dia,
Vemos no espelho,
Os sulcos fundos do nosso rosto
E o branco de nossos cabelos.

Para onde foram as nossas forças?
E o que resta?
É chegada a hora da saudade abençoada!...

Berlim, 26 de Junho de 2017
16h42m
Jlmg

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Os boicotes...

Surgem boicotes aos magotes
Pelas sendas que trilhamos.
Origem desconhecida.
Vêm de fora.
Vêm de dentro.
Quando menos se espera.

Nos enlaçam, embaraçam
E, quase, nos estrafegam.

Vai-se a força e a paciência.
Ó que sina!

As fronteiras,
As portagens,
As coimas e as multas,
Em torrente,
São barreiras
E algemam nossos pulsos.

Nos retalham e escurecem
O infinito horizonte
Onde nascem nossos sonhos.

Bem armados nos desarmam,
Com as artes maquiavélicas
Onde impera o capital
E a política desumana.

Que é das fontes de água pura
E das searas inocentes
Onde o amor é combustão?...

Berlim, 30 de Junho de 2017
7h7m
Jlmg

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Armazém da boa disposição...

O corpo é a casa onde habito.
Tem várias dependências.
Numa delas, guardo a boa disposição.

Um armazém.
Procuro abastecê-lo no dia-a-dia.
A minha dispensa.

Nela deixo só a recordação
De tudo de bom que me aconteceu.
Há que amealhar.

Nossa vida é como o tempo.
É sazonal.
Ora, frio
Ora, quente.
Ora, chove
Ora, sol.
Quando é normal.

Mas, como em tudo,
Por vezes, desafina.
Vêm as secas.
Vêm as cheias.
Com elas vêm as sombras
Da tristeza e da angústia.

Pouco adianta buscar remédio
Onde o não há:
Os excessos artificiais.

Quando vem a carestia,
O refúgio para onde eu vou
É, sempre, a despensa
Que alimentei...

Berlim, 2 de Julho de 2017
9h19m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 25 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17510: Blogpoesia (516): "Paz e a justiça..."; "Sermão da natureza" e "Raridade...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

sábado, 1 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17533: Falsificações da história (3): (i) Oliveira Muzanty foi um governador-geral controverso; (ii) nunca houve nenhuma coluna de operações proveniente da metrópole em 1891; (iii) aventuras e desventuras no Oio do "herói" Graça Falcão... (Armando Tavares da Silva, historiador)


Guiné > Região de Bafatá > Bafatá > c. 1970 > Parque da cidade com a estátua de Oliveira Muzanty (governador-geral, 1907-1909) e, ao fundo, a Casa Gouveia.

Foto: © Benjamim Durães (2011). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O historiador Armando Tavares da Silva mandou-nos os seguintes comentários ao poste P17532, sobre o trabalho de António dos Anjos “Resumo do que era a Guiné há vinte anos…” (edição de autor, Bragança, 1937). (*)

[Foto à direita: Armando Tavares da Silva, membro da nossa Tabanca Grande, autor de “A Presença Portuguesa na Guiné, História Política e Militar (1878-1926)” (Porto: Caminhos Romanos, 2016, 972 pp.). ]


 (i) A demarcação das fronteiras da Guiné

No início do Post apresenta-se uma imagem da estátua de Oliveira Muzanty erigida em Bafatá. A inclusão desta imagem neste Post leva-me a um comentário. Eu creio que essa estátua se destinou mais a homenagear o oficial que desempenhou um papel importante na chefia da parte portuguesa da comissão luso-francesa que procedeu à demarcação das fronteiras da Guiné, do que o governador a quem esteve confiado o território entre 1906 e Janeiro de 1909.

Nesta qualidade [, como governador,]  a sua actuação não deixou boas recordações nem resultados úteis, tendo mesmo no final do seu mandato sido objecto de fortes críticas. Muitas das campanhas militares que empreendeu, ou redundaram num efectivo fracasso, ou foram desnecessárias.

Notemos que a inutilidade da campanha de Muzanty de 1908 em Bissau fora também referida no relatório de inspecção das alfândegas da Guiné, a que procedera o comissário Henrique Gonçalves Cardoso em 1912, e que determinou uma reorganização destes serviços. No índice do relatório, na parte referente à apreciação da vida da província, são mencionados os seguintes parágrafos: “As guerras de Bissau”, “A intriga dos proprietários em Bissau”, “Necessidade de pacificação de Bissau”, “A campanha de 1908 foi inútil”. 

Caso curioso é o facto de as páginas deste relatório que conteriam estes parágrafos, não se encontrarem presentes no relatório, fazendo crer terem dele sido removidas propositadamente, talvez para esconder factos que alguém desejaria que ficassem desconhecidos.

A efectiva demarcação das fronteiras da Guiné para dar cumprimento às disposições da Convenção de Maio de 1886 desenvolveu-se em várias fases. A primeira decorreu entre Janeiro e Março de 1888, e nela foi feita a demarcação da fronteira sul, sem que problemas de maior tivessem sido levantados. Porém, a demarcação da fronteira norte vai ser fonte de dificuldades, pois obrigava Portugal a abandonar Zeguichor [, Ziguinchor ou Zinguinchor], facto contra o qual várias vozes se levantaram, originando resistências e um atraso nessa entrega, que só ocorrerá em 12 de Abril.

Após esta entrega, os trabalhos de demarcação ficam suspensos, pois a França pretendia agora que se fizesse uma alteração à Convenção de 1886, substituindo o cabo Roxo pela ponta Varela, donde partiria a linha de fronteira, o que não fora aceite. Parecia, de resto, que, conseguida a ocupação de Zeguichor, os franceses se desinteressaram de prosseguir os trabalhos de demarcação.

Estes só serão retomados no começo do ano de 1900, passados mais de 10 anos desde os trabalhos daquela primeira missão, e na sequência de uma série de diligências iniciadas com a apresentação, pelo governo português, junto do governo francês, de uma proposta com aquele objectivo, no início de 1898.


(ii) O papel do 2º tenente João Augusto d'Oliveira Muzanty na chefia da parte portuguesa da comissão luso-francesa para a demarcação das fronteiras

É para chefiar a parte portuguesa desta segunda missão que é nomeado o 2.º-tenente João Augusto d’Oliveira Muzanty. Porém, os novos trabalhos de demarcação iniciam-se pela fronteira sul, uma vez que os franceses rejeitavam o traçado fixado pela comissão de 1888, realizado com base em cartas que apresentavam erros, colocando exigências que se traduziam para Portugal na perda de territórios no Forreá. Isto conduz à ruptura das negociações e à necessidade de um levantamento rigoroso das zonas fronteiriças, e a aceitar a cessão recíproca de territórios se indicações geográficas ou outras a tornassem indispensável e fosse justificada.

Os trabalhos só são retomados em Janeiro de 1901, ficando os delegados portugueses instruídos a cingir-se, tanto quanto possível, à Convenção de 1886, mantendo-se os pontos iniciais da fronteira sobre o litoral, tanto ao norte como ao sul, nela mencionados, de modo a não diminuir a extensão da costa portuguesa. A fronteira sul ficará demarcada em Maio desse ano.

Os trabalhos de demarcação só serão retomados em finais de 1902, e Oliveira Muzanty mantinha-se a chefiar a delegação portuguesa. Novamente devido a inexactidões das cartas, nomeadamente ao facto de se ter reconhecido que, de acordo com estas, Cadé ficaria dentro do território português, contrariando os termos da Convenção de 1886, foi necessário proceder a compensações territoriais. Os trabalhos desta nova comissão ficam concluídos em Maio de 1903.

Só em Janeiro de 1904 serão retomados os trabalhos de demarcação da parte mais importante, a fronteira entre o Casamansa e o rio Cacheu, que obrigava ao levantamento destes rios, o qual fica terminado em Maio. Reiniciados no final de 1904, depois de passada a época das chuvas, virão finalmente a terminar em Abril do mesmo ano, com a colocação de um marco no cabo Roxo. Terminava assim um longo período, durante o qual a chefia da delegação portuguesa nestas comissões estivera confiada a Oliveira Muzanty.


(iii) O opúsculo de António dos Anjos contém inúmeras inexatidões, erros e omissões

O trabalho de António dos Anjos pretende transmitir a ideia de que foram múltiplas as dificuldades que se depararam às autoridades no estabelecimento de uma administração no território e, sobre este aspecto, cumpre o objectivo. Porém, devo advertir o leitor de que este trabalho contém muitas inexactidões, podendo criar uma ideia errada de alguns dos acontecimentos que procura relatar. O que é natural, pois o próprio diz “não consultei relatórios nem Boletins Oficiais”, baseando-se no que ouvira, e também no que tinha visto depois de chegar à colónia em 1911. E sabe-se quanto a transmissão oral do conhecimento leva à adulteração dos factos.

Não vamos ser exaustivos na análise do que escreve António dos Anjos. Digamos, como exemplo, que menciona a ida para a Guiné de uma coluna de operações proveniente da metrópole, aquando dos problemas de Bissau de 1891. Ora, o que é facto, é que nenhum contingente metropolitano foi enviado para Bissau nessa altura. Foram os efectivos lá existentes que protagonizaram os acontecimentos da altura.

Mas há uma parte do escrito de António dos Anjos que merece um comentário mais desenvolvido, pelas convicções que transmite e por me parecer estar bastante longe da realidade dos factos. Diz respeito ao que se passou no Oio em Março de 1897, na desastrada incursão desencadeada por Graça Falcão.


(iv) O mito do herói Graça Falcão

Jaime Augusto da Graça Falcão (e não António) tem um extenso historial desde que, como alferes, foi transferido de Angola para a Guiné por questões disciplinares em 1892, até ao momento em que, em 1926, foi aposentado compulsivamente pelo governador Vellez Caroço, por desrespeito a este. Extenso historial que não vou aqui desenvolver, acrescentando apenas que durante este período foi expulso por três vezes da Guiné, tendo a sua liberdade de movimentos na Guiné sido coarctada uma outra vez.

Digamos que a operação que ele promoveu no Oio em Março de 1897, que já tinha sido precedida de outra incursão entre Janeiro e Fevereiro do mesmo ano, que se saldara num “revés” e que o governador Pedro Inácio de Gouveia mandara sindicar, foi realizada à revelia deste, e para a qual não tinha autorização, deixando de cumprir a determinação de que os comandantes militares estavam proibidos de sair das sedes dos comandos sem ordem ou licença. 

Responsável por este desastre é também o 1.º tenente Álvaro Herculano da Cunha que, como delegado do governo no presídio de Farim, determinara a 6 de Março a organização de uma coluna de operações do Oio. Nesta incursão perderam a vida dois oficiais, dois sargentos além de vários soldados. Uma tentativa do governador de última hora, ao tomar conhecimento, através das autoridades do Senegal, de que os oincas pretendiam a paz, não resultou, alegadamente por tal intervenção ter chegado ao conhecimento de Herculano da Cunha e Falcão depois de iniciado o ataque.

Este lamentável episódio, deu origem a dois autos de averiguações, quatro relatórios, em que se procurava fazer luz sobre as razões últimas que levaram Graça Falcão a invadir o Oio, servindo-se de uma força apreciável de auxiliares.

Os relatos que até agora têm sido feitos sobre este incidente, tendentes a transformar Graça Falcão num herói, e a enaltecer o facto de este ter escapado com vida, desconhecem toda a realidade envolvida nesta lamentável aventura não autorizada, e cuja realização parece que fora previamente decidida. (**)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 29 de junho de  2017 > Guiné 61/74 - P17523: "Resumo do que era a Guiné Portuguesa há vinte anos e o que é hoje", de autoria do 2.º Sargento Reformado António dos Anjos, 1937, Tipografia Académica, Bragança (1) (Alberto Nascimento, ex-Sold. Cond. Auto da CCAÇ 84, 1961/63)

(**) Último poste da série > 31 de maio de 2017 > Guiné 61/74 - P17417: Falsificações da história (2): o ataque a Bambadinca em 28/5/1969: eu estava lá !... e vou enviar em breve um texto conjunto com o Fernando Calado com a nossa versão dos acontecimentos (Ismael Augusto, ex-alf mil manut, CCS/BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70)

Guiné 61/74 - P17532: O nosso livro de visitas (191): Américo Santos, ex-Fur Mil TRMS, retratado, enquanto recruta do CSM, em foto publicada no nosso Blogue (Américo Santos, Fur Mil TRMS / César Dias, Fur Mil Sap Inf)


Tavira > CISMI > Almoço do dia do Juramento de Bandeira > Meados de 1968 > Tony Levezinho de lado (elipse encarnada), César Dias, de frente (a azul) e, em segundo plano, o Fernando Hipólito (a amarelo). O Hipólito, que descobriu o César Dias através do nosso blogue, foi mobilizado para Angola. O António Levezinho, por sua vez, vou conhecê-lo, mais tarde, no Campo Militar de Santa Margarida, nos princípios de março de 1969, aquando da formação da nossa companhia (independente), a CCAÇ 2590 (futura CCAÇ 12). Foi um dos grandes amigos que eu fiz na Guiné.


Foto: © César Dias (2010). Todos os direitos reservados
Legenda: Luís Graça

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1. Mensagem do nosso camarada e leitor Américo Santos, com data de 28 de Junho de 2017, a propósito da foto que acima se reproduz referente ao Juramento de Bandeira do 3.º Turno de 1968, da Recruta do CSM, no CISMI, em Tavira, publicada pelo nosso camarada César Dias no Poste 12703[1]

Boa tarde,   Camarada Luís Graça,

Sou o Américo Branco dos Santos, moro no Montijo, trabalhei na TAP e estou reformado.

Assentei praça no dia 16 de julho de 1968 no 3.º turno no CISMI em Tavira, na 3.ª Companhia, se não me engano. Lembro-me que era a primeira caserna do lado direito quando se entra na parada. Se não estou enganado, tinha o n.º 435/68.

Agora passo a explicar como cheguei aqui. Andava na Net e lembrei-me de ver se existia ainda o CISMI, pensava eu que já tinha sido vendido para construção. Pois fiquei a saber que ainda não através do teu blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné.

Ao percorrer o blogue vejo uma foto em que apareço eu e restantes camaradas no jantar do dia do juramento de bandeira, nem queria acreditar no que estava a ver, quase me vieram as lágrimas aos olhos, pois passados tantos anos e de tantas vezes me ter interrogado do que seria feito dos camaradas do meu pelotão.

A última vez que vi alguns foi em 1969, em Santa Margarida na messe de sargentos, quando lá fui fazer uns trabalhos no posto de transmissões daquela unidade, estavam a tirar o IAO para depois embarcarem para o ultramar.

Pela foto dá para depreender que fizeste parte do mesmo pelotão e da mesma companhia, tivemos destinos diferentes, eu sai de Tavira e vim para o Batalhão de Telegrafistas em Lisboa, estive quase a ser mobilizado para a Guiné, escapei por um triz porque entretanto chegou pessoal novo e fiquei aliviado até passar a peluda.

Posto isto,  vão ai umas fotos que tenho cá em casa e onde identifico alguns camaradas, já não me lembro de todos porque os anos passam e a cabeça já não funciona bem.


Foto n.º 1 - Com o n.º 1 está o comandante de pelotão, que não me lembro o nome (encontrei-o em 1980 ou 81 na Olivetti em Lisboa trabalhava com as ATM); com o n.º 2 sou eu; com o n.º 3 o Filipe de Lisboa (Alfama?) tinha pavor a saltar para o galho; com o n.º 4 o Cavaco do Algarve (Quarteira?); com o n.º 5 conheço mas não sei o nome; com o n.º 6 penso que era o Luís que acompanhava muito comigo e com o Filipe, eram ambos de Lisboa; com o n.º 7 o camarada que marchava no meu lado direito, não me lembro o nome.




Fotos: © Américo Santos (2017). Todos os direitos reservados

Para terminar, gostava que o camarada se identificasse na foto e identificasse os que se lembrar e, qual a situação de todos ou alguns.

Adeus, um abraço
Obrigado
Américo Santos

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2. Comentário do editor

Caro camarada Américo Santos_

O lema no nosso Blogue é: O Mundo é pequeno... e a nossa Tabanca é Grande, logo não admira que encontrasses aqui uma fotografia onde estás entre camaradas de recruta, no CISMI de Tavira, no almoço do Dia de Juramento de Bandeira.

Vamos recorrer ao César Dias, com quem ainda contemporizei na Guiné, para ver se ele reconhece mais malta do vosso tempo, e se sabe dos seus paradeiros.

Queremos agradecer o teu contacto e as fotos que nos enviaste, aqui publicadas.

Esperamos que nos continues a ler,  apesar de teres sido um dos sortudos a quem não foi oferecida viagem e estadia em África durante 2 anos. Nem sabes o que perdeste.

Em nome da tertúlia e dos editores, deixo-te um abraço.
Carlos Vinhal
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Notas do editor

[1] Vd. poste de 10 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12703: CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, 1968: Guia do Instruendo (documento, de 21 pp., inumeradas, recolhido por Fernando Hipólito e digitalizado por César Dias) (1) : Parte I (1-6 pp.)

Último poste da série de 12 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16950: O nosso livro de visitas (190): Evaristo Pereira dos Reis, 66 anos de idade, residente em Setúbal... Ex-1º cabo condutor auto, de rendição individual, esteve no QG (1971/73), mas na maior parte da comissão foi mestre de obras da Câmara Municipal de Bissau, ao tempo do maj cav Eduardo Matos Guerra, como presidente

Guiné 61/74 - P17531: Memória dos lugares (362): A vibração dos espectros: Uma semana depois da calamidade, o regresso a Pedrógão Grande (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Junho de 2017:

Queridos amigos,
Antropologicamente, um lugar é um território de afinidades, de laços afetivos, de redes de comunicação, de pertença associativa, de conhecimentos humanos, ali se organizam festas, se fazem peditórios, se acompanham os mortos ao cemitério. Uma semana depois daquele estranhíssimo fenómeno da natureza, tinha que regressar, é um género de olhar ao espelho côncavo o que se distorceu, o que jamais regressará ao nosso olhar, tal como foi.
Mas o dado essencial da viagem de peregrinação passa pelas gentes do lugar. Valia a pena ouvi-los, dizem coisas que não circulam nas reportagens nem nas imagens televisivas. Quem ali ficou, depois do devastador vendaval da interioridade, de quem os citadinos não gostam de falar, quer continuar e recuperar. Por isso os abracei tão comovidamente, aquele gente não deserta, não se rende, prosseguirá, daí o meu orgulho por eles.

Um abraço do
Mário


A vibração dos espectros: 
Uma semana depois da calamidade, o regresso a Pedrógão Grande

Beja Santos

Faz-se a viagem com o coração contrito, o objetivo maior é ir abraçar aqueles que sobraram do inusitado vendaval de fogo, os amigos e conhecidos do Outeiro do Nodeirinho, Figueira, Casal dos Matos, Outão, Graça, Pereira. Para contornar os territórios assombrados e calcinados, contorna-se por Vila de Rei, segue-se pela Sertã, aporta-se a Pedrógão Pequeno. Tirando o cheiro a queimado que se evola por quilómetros, ali para os lados de Cabeçudo, Sertã, não há nenhum espetáculo de desgraça, registo que Pedrógão Grande enquanto vila saiu incólume à tormenta do fogo, e do alto da barragem do Cabril, só se avista uma mancha escurecida que no fim da tarde daquela sexta-feira não permite antever qualquer palco de desolação. Começa-se o novo dia enfrentando a realidade do ambiente que o viandante habitou bem mais de 10 anos. Aqui havia pinhal frondoso, as irmãs Maria e Amélia cultivavam couves e tomate, o tio Eduardo tinha o seu campo de batata e a pérgula a encimar o poço cobria-se de vinha, um vinho morangueiro. Por aqui passou o diabo à solta, vai começar a lenta regeneração.





Penitencio-me de nada saber sobre estes estranhos fogos, que não são tornados, que cospem em todas as direções, que devoram vidas até deixar ossos carbonizados. Mas o que aqui se passou, diz-me o tio Jacinto, foi que a ventania em remoinho fez saltar as telhas e as fagulhas em golfão comeram a madeira, derrubaram as paredes, devoraram móveis e utensílios. O estranho é o apaziguamento em ver que estas paredes-mestras, o mais nobre valor da casa, o belíssimo pátio, feito e refeito, estão prontas para a ressurreição, momentos houve em que me atravessaram pensamentos loucos, vou-me lançar ao trabalho, voltar a comprar a ruína, os sonhos nunca desfalecem, pôr isto de pé deu trabalho e peras, por aqui andou gente aos gritos de alegria, elogiando o que é típico e conforme a tradição. Nunca se sabe até onde pode ir esta minha loucura em voltar, em recomeçar…



O carro aproxima-se de Casal dos Matos, ela ali está, rodeada de um oceano de cinzas, troncos vergados, marcas da passagem do Inferno, biótipos reduzidos a um escombro. Tanto assim é que quando quis comprar um boião do precioso mel desta restinga da Serra da Lousã o senhor Eduardo Paiva foi perentório: acabou, não sei alguma vez mais por aqui passarão abelhas, se haverá carqueja. Não posso adivinhar o que será o novo mundo vegetal do nosso lugar. Ao certo, quando o carro se aproximava, tive a ilusão de que os telhados estavam perfeitos, não passou de ilusão, até porque aquele poste quebrado assinalava a pujança do diabo à solta.



É aquela sensação ambivalente do sentimento da perda de uma coisa que nos custou ideal e foi berçário de felicidade e ao mesmo tempo olha-se para a ruína e diz-se: as paredes de pedra resistiram, a linda varanda está como estava, arranja-se a jangada da vinha e para o ano vão aparecer os cachos dourados. Deus permita que isso venha a acontecer, seja qual for o obreiro da tremenda empreitada, desta mortandade pôr vida ridente.


Chegou a hora de conversar e consolar com gente sofredora. Pelos caminhos, circulam viaturas da televisão, a terra carbonizada e as gentes que cá ficam é pasto mediático. Mas quem cá ficou vive noutro comprimento de onda. Não se diz nem mesmo se confessa, mas há um cadinho de culpa coletiva, todo este plantio até à berma das estradas, todas estas árvores comburentes, esta estouvada indústria da madeira, este restolho e estas carumas abandonadas, ninguém as ignora, espera-se a boa vontade de Deus, muitos proprietários seguiram os filhos e netos, sabe-lhes bem receber de tempos a tempos algum dinheiro da venda da madeira. Fala-se com gente que escapou por minutos da estrada da morte, alguns desses intelectuais de pacotilha que agora vociferam e, qual familiares do Santo Ofício, andam à procura dos responsáveis a todos os níveis, e fica-se com a sensação do que aqui aconteceu foi fenómeno raríssimo, podia ter sido o sol a rodopiar e a deixar a terra em escuridão, as chamas pareciam trazidas por maratonistas olímpicos, chamas que dançavam a toda a volta e confundiam quem queria proteger as suas vidas e as suas casas. Faz-se a peregrinação, abraça-se quem perdeu gente, casas, culturas e aguarda alguma justiça, por compensação. Entre todos estes espectros, depois de beijar e estender a mão a tanta gente que se prepara para refazer a vida e que foi educada na resignação, quem aqui veio de passagem sente-se impelido a regressar. É este o fogo da imaginação, por isso é que existem lugares que nos marcam para toda a vida.
É assim, porque o futuro a Deus pertence.
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Nota do editor

Último poste da série de 24 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17507: Memória dos lugares (361): Mindelo em plena II Guerra Mundial, visto por Manuel Ferreira (1917-1992) (João Serra)

Guiné 61/74 - P17530: Parabéns a você (1281): Silvério Lobo, ex-Soldado Mecânico Auto do BCAÇ 3852 (Guiné, 1971/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 30 de Junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17525: Parabéns a você (1280): Manuel Maia, ex-Fur Mil Inf do BCAÇ 4610 (Guiné, 1972/74)