Lê-se no portal das Aves de Portugal:
"Com o seu incessante movimento de balanceamento da cauda, o maçarico-das-rochas é uma das mais irrequietas limícolas, que raramente é vista em repouso. Estatuto de conservação em Portugal:
Vulnerável
"Identificação > Pequena limícola castanha e branca. A cabeça, o peito, o dorso e as asas são castanhas. O ventre é branco, sem riscas, sendo a linha divisória bastante bem marcada. As patas são cinzentas ou esverdeadas. A característica identificativa que mais facilmente permite separar esta espécie de outras limícolas é a pequena “língua” branca que a plumagem forma de ambos os lados do pescoço.
"Abundância e calendário > O maçarico-das-rochas é uma espécie relativamente comum em Portugal e distribui-se um pouco por todo o país, mas como raramente forma grandes bandos não pode ser considerado uma espécie abundante. Frequenta todo o tipo de zonas húmidas, sejam elas de água doce, salobra ou salgada. Pode ser observado ao longo de todo o ano. Na época de reprodução é relativamente escasso e ocorre sobretudo na metade interior do território. Fora da época de reprodução é mais comum, ocorrendo então com regularidade em praticamente todas as zonas húmidas do litoral português." (...)
Fotos (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Na tropa e na guerra (colonial), Maçarico era o "soldado que ainda não terminou a instrução militar", o recruta, o novato, o que acaba de chegar (ao teatro de operações) (*)...
O termo começou a ser usado em Angola, em 1961, depois estendeu-se à Guiné, sendo aqui substituído por "periquito" ou "pira"... Em Moçambique dizia-se "checa"... O termo aparece nas letras de canções do Cancioneiro do Niassa (**)
A razão de ser desta(s) designação (ões), não sei. O único vocábulo com esta aceção, da gíria militar, que vem grafado no dicionário, é "maçarico".
maçarico | s. m.
ma·ça·ri·co
(origem duvidosa)
substantivo masculino
1. Aparelho com um tubo pelo qual sai uma chama que se faz incidir sobre a peça que se quer soldar ou derreter.
2. [Informal] Pessoa com pouca experiência. = APRENDIZ, NOVATO
3. [Informal] Soldado que ainda não terminou a instrução militar. = RECRUTA
4. [Ornitologia] Ave pernalta aquática.
5. [Regionalismo] Lebracho com malha branca na frente.
"maçarico", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/ma%C3%A7arico [consultado em 12-10-2019].
Talvez algum leitor nos possa ajudar a perceber o porquê destas designações... Porquê "periquito" na Guiné, porquê "checa" em Moçambique ?
O nosso camarada Santos Oliveira já aqui nos deu, em tempos, uma explicação para a origem do termo "Maçarico", usado na Guiné em 1964 (***). Maçarico teria a ver com a cor do caqui amarelo das primeiras tropas. Em comentário o José Colaço dá uma explicação importante para a mudança do nome para "periquito": "Quando apareceram as fardas verdes deixaram de ser maçarico, e foram cognominados de periquitos.Aliás nem fazia sentido um maçarico verde."
Parte da capa do livro sobre a família Maçarico, que tem centenas de descendentes, originários de Ribamar, Lourinhã. Estão hoje espalhados pela diáspora lusitana (por ex., Brasil, Estados Unidos, Canadá). Há um ra,o em Mira, que deve ter emigrado para lá no séc. XIX. Uma das caraterísticas dos Maçaricos é que sempre viverem junto ao mar, e ligados a atividades maritímas (desde a marinha mercante à marinha de guerra, desde a pesca à construção naval
2. No livro "A Vila de Ribamar" (edição de autor, Ribamar, 2002), Américo Teodoro Maçarico Moreira Remédio, (n. Ribamar, Lourinhã, 1943, 1º tenente reformado,) reconstruiu a árvore da família (ou clã) Maçarico, cuja origem remontaria, pelo menos, à época dos Descobrimentos.
Nesta época, Ribamar seria um importante centro de construção naval, tendo ainda existido até cerca de 1930 um estaleiro que situava no local onde está hoje antiga a escola primária. E já nesses tempos idos os Maçaricos eram reconhecidos como especialistas nessa área, tendo acompanhado diversas expedições navais. E provavelmente estabeleceram-se também noutras localidades onde existiam estaleiros, possível explicação para haver outras famílias Maçarico espalhadas pelo País, como por exemplo em Mira.
Uma das minhas bisavós, avó materna do meu pai. era Maria Augusta Maçarico (Ribamar, 1864-Lourinhã, 1932). Caso com um Sousa, família de negociantes de peixe. (LG)
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 13 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20237: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (3): 2ª edição, revista e aumentada, Letra B
(**) "Checas" é uma das famosas canções do Cancioneiro do Niassa;
I
Ó checa, amigo checa,
Cacimbado ando eu,
Já estou farto disto tudo,
Aqui em Nova Viseu.
II
Já estou farto de picar,
De fazer operações,
De rios atravessar
Com água até aos calções.
III
Já estou farto de buracos,
Feitos pelas marmitas [, minas,]
Já estou farto de ir ao ar
E sem ver os terroristas.
IV
Ó checa, amigo checa,
Na picada, faz favor,
Tu serás paraquedista
Ou piloto aviador.
V
Comes feijão ao almoço,
Comes feijão ao jantar
E quando não é feijão
É punga para variar.
VI
Uma sopa de mosquitos,
E de formas esquisitas,
Dia sim, dia não,
Lá virão os ciclistas.
VII
Ó checa, amigo checa,
Isto aqui é muito chato,
Aturar a chicalhada
Que nunca saem para o mato.
VIII
Esta guerra é dos soldados
E também dos furriéis,
O resto dos graduados
Faz a guerra dos papéis.
IX
Assim é Nova Viseu
E isto ainda aumenta,
Isto é uma charanga
Na trinta e quatro setenta.
Comentário de L.G.:
Referência à Companhia 3470, aquartelada em Nova Viseu, na região do Niassa.
Desconheço a proveniência do termo checa, o qual designa, se bem entendo, o soldado que acaba de chegar da Metrópole, sem experiência de combate, em suma, o maçarico, o periquito, como nós dizíamos na Guiné em 1969/71: Checa é pior que turra, é o título de uma obra de ficção, publicada em 1996 por Manuel Maria, que esteve em Moçambique entre 1972 e 1974. O romance, edição de autor (Porto, 1996), tem como subtítulo: Caricaturas da guerra colonial.
_________________
Notas do editor:
(*) Último poste da série > 13 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20237: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (3): 2ª edição, revista e aumentada, Letra B
(**) "Checas" é uma das famosas canções do Cancioneiro do Niassa;
I
Ó checa, amigo checa,
Cacimbado ando eu,
Já estou farto disto tudo,
Aqui em Nova Viseu.
II
Já estou farto de picar,
De fazer operações,
De rios atravessar
Com água até aos calções.
III
Já estou farto de buracos,
Feitos pelas marmitas [, minas,]
Já estou farto de ir ao ar
E sem ver os terroristas.
IV
Ó checa, amigo checa,
Na picada, faz favor,
Tu serás paraquedista
Ou piloto aviador.
V
Comes feijão ao almoço,
Comes feijão ao jantar
E quando não é feijão
É punga para variar.
VI
Uma sopa de mosquitos,
E de formas esquisitas,
Dia sim, dia não,
Lá virão os ciclistas.
VII
Ó checa, amigo checa,
Isto aqui é muito chato,
Aturar a chicalhada
Que nunca saem para o mato.
VIII
Esta guerra é dos soldados
E também dos furriéis,
O resto dos graduados
Faz a guerra dos papéis.
IX
Assim é Nova Viseu
E isto ainda aumenta,
Isto é uma charanga
Na trinta e quatro setenta.
Comentário de L.G.:
Referência à Companhia 3470, aquartelada em Nova Viseu, na região do Niassa.
Desconheço a proveniência do termo checa, o qual designa, se bem entendo, o soldado que acaba de chegar da Metrópole, sem experiência de combate, em suma, o maçarico, o periquito, como nós dizíamos na Guiné em 1969/71: Checa é pior que turra, é o título de uma obra de ficção, publicada em 1996 por Manuel Maria, que esteve em Moçambique entre 1972 e 1974. O romance, edição de autor (Porto, 1996), tem como subtítulo: Caricaturas da guerra colonial.
Quanto ao termo picar, significava detectar minas utilizando para o efeito um pau tendo na extremidade um ferro aguçado ou um prego com que se picava o chão, a picada, os trilhos suspeitos de esconderem marmitas ou minas anticarro ou antipessoal).
Por sua vez, o termo chicalhada era uma forma de se referir, em termos depreciativos, os oficiais e sargentos do quadro das Forças Armadas, o pessoal da carreira militar, os quais eram em geral muito mais velhos do que os soldados do contingente geral, os furriéis milicianos e os alferes milicianos. Meter o chico era um termo depreciativo, designando uma acção desprezível de um furriel ou alferes miliciano que, no final da comissão, optava pela continuação na vida militar: veja-se por exemplo o Fado do Miliciano que o J.M.AS Santos diz ser a versão do Exército do Fado da Marinha.
(***) Vd. poste de 11 de abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4173: Humor de caserna (10): Como se caçavam Maçaricos em 1964 (Santos Oliveira)
(...) A Guerra do Ultramar veio criar a necessidade de, aos Militares para lá deslocados, um fardamento adequado ao clima, de caqui amarelo-torrado.Os que haviam seguido pelos anos de 1961 ainda sofreram as agruras da regulamentar farda utilizada no Contingente Metropolitano, inadequada, de fazenda cerdosa, grossa, de cor cinzenta (quentíssima cá, como seria por lá???...).
Estes foram os verdadeiros criadores do termo e apelido que nos era atribuído, pela semelhança de cores com a do Maçarico, um tipo de ave, muito comum na Guiné. Com a evolução e renovação do tal fardamento inadequado, todos ficaram amarelos, pelo que somente aos novatos e inexperientes no Ultramar eram apelidados com tal epíteto. (...)
(***) Vd. poste de 11 de abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4173: Humor de caserna (10): Como se caçavam Maçaricos em 1964 (Santos Oliveira)
(...) A Guerra do Ultramar veio criar a necessidade de, aos Militares para lá deslocados, um fardamento adequado ao clima, de caqui amarelo-torrado.Os que haviam seguido pelos anos de 1961 ainda sofreram as agruras da regulamentar farda utilizada no Contingente Metropolitano, inadequada, de fazenda cerdosa, grossa, de cor cinzenta (quentíssima cá, como seria por lá???...).
Estes foram os verdadeiros criadores do termo e apelido que nos era atribuído, pela semelhança de cores com a do Maçarico, um tipo de ave, muito comum na Guiné. Com a evolução e renovação do tal fardamento inadequado, todos ficaram amarelos, pelo que somente aos novatos e inexperientes no Ultramar eram apelidados com tal epíteto. (...)