segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20240: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (4): 2ª edição, revista e aumentada, Letras M, de Maçarico, P de Periquito e C de Checa... Qual a origem destas designações para "novato, inexperiente, militar que acaba de chegar ao teatro de operações" ?







Lourinhã > Praia da Areia Branca > Vale de Frades > 3 de setembro de 2019 > O Maçarico-das-rochas [Actitis hypoleuco]...


Lê-se no portal das Aves de Portugal:

"Com o seu incessante movimento de balanceamento da cauda, o maçarico-das-rochas é uma das mais irrequietas limícolas, que raramente é vista em repouso. Estatuto de conservação em Portugal:
Vulnerável


"Identificação > Pequena limícola castanha e branca. A cabeça, o peito, o dorso e as asas são castanhas. O ventre é branco, sem riscas, sendo a linha divisória bastante bem marcada. As patas são cinzentas ou esverdeadas. A característica identificativa que mais facilmente permite separar esta espécie de outras limícolas é a pequena “língua” branca que a plumagem forma de ambos os lados do pescoço.

"Abundância e calendário > O maçarico-das-rochas é uma espécie relativamente comum em Portugal e distribui-se um pouco por todo o país, mas como raramente forma grandes bandos não pode ser considerado uma espécie abundante. Frequenta todo o tipo de zonas húmidas, sejam elas de água doce, salobra ou salgada. Pode ser observado ao longo de todo o ano. Na época de reprodução é relativamente escasso e ocorre sobretudo na metade interior do território. Fora da época de reprodução é mais comum, ocorrendo então com regularidade em praticamente todas as zonas húmidas do litoral português." (...)



Fotos (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Na tropa e na guerra (colonial), Maçarico era o "soldado que ainda não terminou a instrução militar", o recruta, o novato, o que acaba de chegar (ao teatro de operações) (*)... 

O termo começou a ser usado em Angola, em 1961, depois estendeu-se à Guiné, sendo aqui substituído por "periquito" ou "pira"... Em Moçambique dizia-se "checa"... O termo aparece nas letras de canções do Cancioneiro do Niassa (**)
A razão de ser desta(s) designação (ões), não sei. O único  vocábulo com esta aceção, da gíria militar, que vem grafado no dicionário, é "maçarico".

maçarico | s. m.

ma·ça·ri·co
(origem duvidosa)

substantivo masculino

1. Aparelho com um tubo pelo qual sai uma chama que se faz incidir sobre a peça que se quer soldar ou derreter.

2. [Informal] Pessoa com pouca experiência. = APRENDIZ, NOVATO

3. [Informal] Soldado que ainda não terminou a instrução militar. = RECRUTA

4. [Ornitologia] Ave pernalta aquática.

5. [Regionalismo] Lebracho com malha branca na frente.

"maçarico", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/ma%C3%A7arico [consultado em 12-10-2019].

Talvez algum leitor nos possa ajudar a perceber o porquê destas designações... Porquê "periquito" na Guiné, porquê "checa" em Moçambique ?

O nosso camarada Santos Oliveira já aqui nos deu, em tempos, uma explicação para a origem do termo "Maçarico", usado na Guiné em 1964 (***). Maçarico teria a ver com a cor do caqui amarelo das primeiras tropas. Em comentário o José Colaço dá uma explicação importante para a mudança do nome para "periquito": "Quando apareceram as fardas verdes deixaram de ser maçarico, e foram cognominados de periquitos.Aliás nem fazia sentido um maçarico verde."




Parte da capa do livro sobre a família Maçarico, que tem centenas de descendentes, originários de Ribamar, Lourinhã. Estão hoje espalhados pela diáspora lusitana (por ex., Brasil, Estados Unidos, Canadá). Há um ra,o em Mira, que deve ter emigrado para lá no séc. XIX. Uma das caraterísticas dos Maçaricos é que sempre viverem junto ao mar, e ligados a atividades maritímas (desde a marinha mercante à marinha de guerra, desde a pesca à construção naval


2. No livro "A Vila de Ribamar" (edição  de autor, Ribamar, 2002),  Américo Teodoro Maçarico Moreira Remédio, (n. Ribamar, Lourinhã, 1943,  1º tenente reformado,) reconstruiu a árvore da família (ou clã) Maçarico, cuja origem remontaria, pelo menos, à época dos Descobrimentos.

Nesta época, Ribamar seria um importante centro de construção naval, tendo ainda existido até cerca de 1930 um estaleiro que situava no local onde está hoje antiga a escola primária. E já nesses tempos idos os Maçaricos eram reconhecidos como especialistas nessa área,  tendo acompanhado diversas expedições navais. E provavelmente estabeleceram-se também noutras localidades onde existiam estaleiros, possível explicação para haver outras famílias Maçarico espalhadas pelo País, como por exemplo em Mira.

Uma das minhas bisavós, avó materna do meu pai. era Maria Augusta Maçarico  (Ribamar, 1864-Lourinhã, 1932). Caso com um Sousa, família de negociantes de peixe. (LG)
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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 13 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20237: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (3): 2ª edição, revista e aumentada, Letra B

(**) "Checas" é uma das famosas canções do Cancioneiro do Niassa;

I
Ó checa, amigo checa,
Cacimbado ando eu,
Já estou farto disto tudo,
Aqui em Nova Viseu.

II
Já estou farto de picar,
De fazer operações,
De rios atravessar
Com água até aos calções.

III
Já estou farto de buracos,
Feitos pelas marmitas [, minas,]
Já estou farto de ir ao ar
E sem ver os terroristas.

IV
Ó checa, amigo checa,
Na picada, faz favor,
Tu serás paraquedista
Ou piloto aviador.

V
Comes feijão ao almoço,
Comes feijão ao jantar
E quando não é feijão
É punga para variar.

VI
Uma sopa de mosquitos,
E de formas esquisitas,
Dia sim, dia não,
Lá virão os ciclistas.

VII
Ó checa, amigo checa,
Isto aqui é muito chato,
Aturar a chicalhada
Que nunca saem para o mato.

VIII
Esta guerra é dos soldados
E também dos furriéis,
O resto dos graduados
Faz a guerra dos papéis.

IX
Assim é Nova Viseu
E isto ainda aumenta,
Isto é uma charanga
Na trinta e quatro setenta.


Comentário de L.G.:

 Referência à Companhia 3470, aquartelada em Nova Viseu, na região do Niassa.

Desconheço a proveniência do termo checa, o qual designa, se bem entendo, o soldado que acaba de chegar da Metrópole, sem experiência de combate, em suma, o maçarico, o periquito, como nós dizíamos na Guiné em 1969/71: Checa é pior que turra, é o título de uma obra de ficção, publicada em 1996 por Manuel Maria, que esteve em Moçambique entre 1972 e 1974. O romance, edição de autor (Porto, 1996), tem como subtítulo: Caricaturas da guerra colonial.

Quanto ao termo punga, não sei se está está correcto, no contecto em que é usado: segundo o Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, o termo seria de origem suaíli e designaria "uma espécie de samba cantado, marcado por tambor, com versos improvisados e que é dançado em roda"...Mas não me parece que seja nesse sentido que o termo é aqui empregue: "Comes feijão ao almoço,/Comes feijão ao jantar / E quando não é feijão / É punga para variar"..

Quanto ao termo picar, significava detectar minas utilizando para o efeito um pau tendo na extremidade um ferro aguçado ou um prego com que se picava o chão, a picada, os trilhos suspeitos de esconderem marmitas ou minas anticarro ou antipessoal). 

Por sua vez, o termo chicalhada era uma forma de se referir, em termos depreciativos, os oficiais e sargentos do quadro das Forças Armadas, o pessoal da carreira militar, os quais eram em geral muito mais velhos do que os soldados do contingente geral, os furriéis milicianos e os alferes milicianos. Meter o chico era um termo depreciativo, designando uma acção desprezível de um furriel ou alferes miliciano que, no final da comissão, optava pela continuação na vida militar: veja-se por exemplo o Fado do Miliciano que o J.M.AS Santos diz ser a versão do Exército do Fado da Marinha.

(***) Vd. poste de  11 de abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4173: Humor de caserna (10): Como se caçavam Maçaricos em 1964 (Santos Oliveira)


(...) A Guerra do Ultramar veio criar a necessidade de, aos Militares para lá deslocados, um fardamento adequado ao clima, de caqui amarelo-torrado.Os que haviam seguido pelos anos de 1961 ainda sofreram as agruras da regulamentar farda utilizada no Contingente Metropolitano, inadequada, de fazenda cerdosa, grossa, de cor cinzenta (quentíssima cá, como seria por lá???...).

Estes foram os verdadeiros criadores do termo e apelido que nos era atribuído, pela semelhança de cores com a do Maçarico, um tipo de ave, muito comum na Guiné. Com a evolução e renovação do tal fardamento inadequado, todos ficaram amarelos, pelo que somente aos novatos e inexperientes no Ultramar eram apelidados com tal epíteto. (...)

Guiné 61/74 - P20239: Consultório militar do José Martins (45): Das leis do Reino e da República, às leis da Igreja, com influência nas Forças Armadas (1)

 

Damos hoje início uma série de cinco postes com mais um trabalho do José Martins (ex-Fur Mil TRMS, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), desta vez dedicado aos Capelães Militares, com um enquadramento histórico, como só ele sabe fazer, fruto de muita pesquisa e paciência.

Desde já o nosso obrigado ao Zé Martins por mais esta preciosa colaboração que vem enriquecer o espólio deste Blogue.
 




(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 14 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20057: Consultório militar do José Martins (44): as medalhas que não foram entregues: o caso da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole, Missirá, 1965/67)

Guiné 61/74 - P20238: Notas de leitura (1226): "O Alferes Eduardo", por Fernando Fradinho Lopes; Círculo-Leitores, 2000 (1) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Agosto de 2019:

Queridos amigos,
Desta vez, inesperadamente, ruma-se para Quipedro, Angola, uma narrativa que começa em tom muito ameno e ordeiro, com o ritmo de uma memória a funcionar pela infância e juventude, o contexto familiar, a recruta e as especialidades, este alferes Eduardo vive numa grande tensão, dorme horrivelmente, precisa de Vesparax, estamos a pensar que se trata de uma máquina literária formal, a sua companhia irá ser transferida para o Leste e iremos ser confrontados com uma prosa truculenta, jamais me fora dado ler prosa tão sanguinária, tanto ódio à solta naquela frente de guerra.
E fica a pergunta no ar: Como é possível ter passado à margem da crítica este violentíssimo e chocante "O Alferes Eduardo"?

Um abraço do
Mário


Uma das mais explosivas obras da literatura da guerra colonial: 
“O Alferes Eduardo”, por Fernando Fradinho Lopes (1)

Beja Santos

No início, tudo parece formal, um tanto estereotipado, rotineiro, já abordado em muitíssimas outras obras. E subitamente, no leste de Angola, entra-se numa atmosfera de chacinas, assassinatos, terríveis execuções. Esta edição do Círculo de Leitores data de 2000, não conhecia qualquer referência ao título, não conhecia igualmente qualquer menção ao chocante do seu conteúdo. Na introdução refere algo que está longe de ser verdade, imagine-se que o autor é praticamente desconhecedor das toneladas de papel publicado neste subgénero literário das guerras de África, veja-se o que diz:
“Alguns escreveram ao longo das últimas décadas sobre as suas vivências em África, sem grande preocupação de verdade e de isenção, utilizando quase sempre um estilo literário patrioteiro de cariz colonialista ou então uma linguagem eivada de oposicionismo balofo. Disseram apenas aquilo que lhes convinha dizer no contexto do momento em que escreveram, ocultando factos relevantes e distorcendo a realidade histórica.
Exceptuando trabalhos jornalísticos avulsos sobre um ou outro acontecimento em particular, nunca vi qualquer obra feita com a objectividade e a imparcialidade adequadas à apresentação de um quadro real sobre a experiência dos jovens combatentes da geração de Eduardo, que consumiram uma parte das suas vidas nas florestas africanas para manterem, pela força das armas, a presença de Portugal naquelas paragens”.

É uma declaração que não pode passar sem um breve comentário. Basta atender-se à antologia “Os Anos da Guerra”, com organização de João de Melo, Publicações Dom Quixote, em 1988 e 1998, ler os nomes de Álvaro Guerra, José Martins Garcia, Álamo Oliveira, Abílio Teixeira Mendes, Lobo Antunes, João de Melo, Carlos Vale Ferraz e perceber a grave injustiça ínsita ao que Fernando Fradinho Lopes apresenta como um retrato acabado. E vamos adiante.

Há algo de diarístico, nesta obra. Estamos em 14 de janeiro de 1967, Eduardo parte da Covilhã, vai para a guerra, rememora as etapas por que passou nas Caldas da Rainha, Vendas Novas, Figueira da Foz, Lamego e Abrantes, transitou do curso de sargentos para o curso de oficiais, comeu o pão que o diabo amassou em Lamego, tudo isto lhe aflora ao espírito enquanto viaja de comboio até chegar a Abrantes. A 21 de janeiro, embarca no Vera Cruz com destino a Luanda, dias antes rompera namoro e não parte feliz. Não avisou a família da sua partida, os seus familiares viram-no por mero acaso no telejornal. Ruma com os seus homens para o Grafanil. O seu batalhão, o BCAÇ 1901, encaminha-se para a região dos Dembos. Há uma curta paragem em Nambuangongo, é uma viagem extenuante, são amistosamente recebidos na fazenda do Quixico, alguns quilómetros à frente começam as viaturas a atascarem-se na picada, e assim se chega ao destino, aqueles quarenta e tantos camiões chegam a Quipedro. “O Batalhão 1901 atravessou a ponte sobre o rio Lué, guardada por um pelotão aquartelado no local. Finalmente, nove quilómetros depois, atingiu Quipedro. A Companhia 1638 ficou e as restantes continuaram para Micula, a uns quarenta quilómetros a norte”. Eduardo fica em Quipedro, um lugar isolado, situado num vale encravado entre montanhas. “Naquela região as populações haviam desaparecido totalmente. Apenas a fazenda do Lué era habitada por algumas centenas de trabalhadores contratados no Centro de Angola. Antes de 1961 existira em Quipedro uma bela fazenda cujos vestígios quase haviam desaparecido. Os rebeldes, seis anos antes, haviam assassinado selvaticamente muitos brancos e seus criados negros”. Começa o reconhecimento da região, o maravilhamento daquelas densas florestas, as plantas, os sons, os animais, os cheiros, as cores. Sente-se impressionado pela fauna, pelas formigas-brancas e pelas bisontes, o alferes adapta-se, prosseguem os patrulhamentos de rotina, voltou à montanhosa zona de Catembo, constava que era bastante elevado o número de guerrilheiros na região. Sente-se profundamente confrontado com usos e costumes, um grupo de militares a rezar o terço na capela leva-o até à sua adolescência, onde se iniciara o seu agnosticismo.


São avistados grupos de guerrilheiros muito próximo de Quipedro. Começam as escoltas a camiões civis, a escassos quilómetros de Quixico um tiro isolado, à queima-roupa, veio gerar a confusão no pelotão de Eduardo. Há um ferido, o “Travanca”, uma bala entrara-lhe pela anca esquerda e alojara-se na anca direita, foi impossível contar com um helicóptero, o “Travanca” morre. Prosseguem as incursões na zona de Catembo, são recebidos pelos guerrilheiros com extenso tiroteio, impunha-se retirar, o comandante de companhia não gostou, manda repetir. Eduardo fala-nos de Pereira que cumpria a sua segunda comissão em Angola, desta vez como voluntário. Era um aldeão que não se deu bem com o regresso à vida civil e aos trabalhos da lavoura, sentia-se bem no Exército. “Preferia a insegurança das matas de Angola à infelicidade que sentia na sua pacata aldeia natal. Nem sequer era motivado pelo dinheiro. Ia de novo combater a troco de quase nada”. Entretanto o cabo enfermeiro atira-se para o chão, está aterrorizado, o medo domina-o, houve necessidade de o fazer regressar à unidade. E o grupo interna-se pela floresta. Eduardo medita as consequências de avançar para território francamente hostil, onde não pode contar com quaisquer apoios. “Reuniu o pelotão em círculo e disse aos rapazes que, em consciência, teria de desistir outra vez da missão que lhe fora imposta pelo comandante de companhia. Se caminhavam pelo único trilho que conheciam, seriam flagelados e, além disso, corriam o risco de encontrar o terreno armadilhado. Se entravam pela mata virgem, perdiam-se nela. Portanto, regressariam a Quipedro”. Surpreendentemente, o capitão deu razão ao Alferes. Dias depois, deslocação ao comando do batalhão em Micula, com imenso calor e chuva torrencial, depois de muitas peripécias, regressa-se a Quipedro. Nova saída desta vez com rumo a Quixico, a missão é proteger Engenharia Militar. Eduardo gosta do ambiente humano de Quixico, daquela verdejante fazenda cuja principal cultura era o café.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20229: Notas de leitura (1225): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (27) (Mário Beja Santos)

domingo, 13 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20237: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (3): 2ª edição, revista e aumentada, Letra B

 

Guiné >  Região de Bafatá >  Galomaro >  CCS/BCAÇ 3872 (Galomaro, 171/74)

Binta, a bajuda mais bonita de Galomaro e arredores. Foto da coleção de Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), autor do livro "A Tropa Vai Fazer de ti um Homem".

Foto (e legenda): © Juvenal Amado (2014). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação do Pequeno Dicionário da Tabanca Grande (*), de A a Z, em construção, com o contributo de todos os amigos e camaradas da Guiné  que se sentam aqui à sombra do nosso poilão, e que até têm um livro de estilo.  Entradas da letra B:




BA12 - Base Aérea nº 12 (Bissau, Bissalanca)

BAC1 – Bataria de Artilharia de Campanha nº 1, mais tarde GAC7

  
Bacalhau - Aperto de mão

Badora – Regulado da região de Bafatá; morteiro 120 mm (PAIGC)

Baga baga – Termiteira (crioulo)

Baguera - Abelha (crioulo); ‘Baguera, baguera’!!!, era a expressão de aflição dos africanos quando atacados por abelhas, no mato

Bailarina – Mina A/P que rebentavam acima do solo, a meia altura

Bajuda - Rapariga, donzela, moça virgem (crioulo; lê-se badjuda)

Balafon - Instrumento da música afro-mandinga, antecedor do xilofone (crioulo)

Balaio - Cesto grande (crioulo)

Balanta Mané - Balanta islamizado

Baloba - Local de culto dos irãs, em geral uma pequena cabana, nas tabancas de populações animistas (crioulo)

Balobero - Feiticeiro ou curandeiro, sacerdote animista que realiza cerimónias nos locais sagrados, as balobas; cada balobero coloca o seu pote com água na baloba, junto ao poilão sagrado, para receber os poderes do mesmo e a poder usar nas cerimónias que realiza (crioulo): em português, Balobeiro

Banana - Rádio, equipamento de transmissões, AVP-1

Bandalho – Membro do “Bando do Café Progresso”, do Porto, tertúlia de ex-combatentes da Guiné

Bandim - Mercado de Bissau

Bandoleira - Correia permitindo o transporte de uma espingarda ao ombro ou a posição de tiro a tiracolo

Barraca - Acampamento temporário no mato (PAIGC)

BART - Batalhão de Artilharia

Básico - Soldado dos serviços auxiliares (afeto sobretudo à cozinha)


Batata - Nome de guerra do ten pilav António Martins de Matos (BA12, Bissalanca, 1972/74), autor de "Voando sobre um ninho de Strelas" (Lisboa: 2018)

Bate-estrada - Aerograma, carta, corta-capim

Bazuca (i)- LGFog (lança-granadas foguete, 8,7 cm); cerveja de 0,6 l (gíria)

Bazuca (ii) - Alcunha, na Academia Militar, do cap cav Fernando José Salgueiro Maia

Guião da CCP 122 /
BCP  12.
Fonte: Cortesia de
Tino Neves (2006)
Bazuca China - Lança Granadas-Foguete RPG-2 (PAIGC, gíria)

BCAÇ - Batalhão de Caçadores 

BCAV - Batalhão de Cavalaria


BCP - Batalhão de Caçadores Paraquedistas (o BCP nº 12 esteve na Guiné, o nº 21 em Angola e os nºs 31 e 32 em Moçambique);  o BCP era composto pelas CCP 121, 122 e 123



Bêbeda - Alcunha dada à viatura Fox MG-36-24, que pertenceu aos Pipas, foi sendo sucessivamente rebaptizada: BêbedaDiabos do Texas; esteve em Guileje desde 1965 a 1973.

Beijuda - Corruptela de Bajuda (gíria)

BENG - Batalhão de Engenharia

BENG 447 – Batalhão de Engenharia nº 447, Bissau

Bentém - Banco, baixo, onde os homens grandes se sentam, a conversar, em geral, à sombra do poilão da tabanca(crioulo)

Biafra - (i) Clube de Oficiais, no Quartel General, em Santa Luzia, Bissau; (ii) Bar dos pilotos, na BA12, Bissalanca (gíria)

Bianda - Comida; arroz, base da alimentação da população na época (crioulo)

Bicha de pirilau - Progressão, em fila, no mato, mantendo cada homem uma distância regulamentar de segurança (gíria); o mesmo que fila indiana

Bideiras - As vendedeiras ambulantes, que andam nas ruas de Bissau (crioulo)

Bigrupo - Força IN equivalente a c. 30: reforçado: c. 40 homens  (PAIGC)

BINT - Batalhão de Intendência

Bioxene – Álcool; estar com os copos (gíria)

Blufo - (i) Rapaz balanta não circuncidado;

Fonte: Casa Comum > Fundação Mário
Soares > Arquivo Amílcar Cabral
(com a devida vénia
rapaz inexperiente (crioulo; (ii) Orgão dos Pioneiros do PAIGC, publicação mensal
Boinas Negras - Fuzileiros


Boinas Pretas - Pessoal, africano, dos Pel Art, BAC1 / GAC7; nome do pessoal do CCAV 2482 (Tite e Fulacunda, 1968/70)

Boinas Verdes - Paraquedistas

Boinas Vermelhas - Comandos (depois de 1974); na Guiné, usavam a boina castanha do exército

Bolanha - Terreno alagadiço, próprio para a cultura do arroz (crioulo)

Bombolom - Instrumento musical, feito a partir do tronco de uma árvore; instrumento tradicional de comunicação entre aldeias balantas e manjacas (crioulo)

Bonifácio - Obus 11,4 cm, TR m/917, da I Guerra Mundial (termo da gíria dos artilheiros)

BOP - Bombardeameno a picar (FAP)

BOR - Embarcação civil, que navegava no Geba, com umas estranhas pás na popa

Brandão - Família da região de Tombali (Catió), mas também de Bambadinca (região de Bafatá), onde eram proprietários de "pontas" (hortas)

Bué - Muito, manga de (Não vem de Boé; termo do quimbundo de Angola; não se usava no nosso tempo) (gíria)

Bunda - Cú, traseiro (crioulo)

Burmedjus - Mulatos, mestiços, crioulos, cabo-verdianos (crioulo)

Burrinho - Viatura automóvel Unimog 411, a gasolina (mais pequena que o 404, a gasóleo) (NT) 





Guiné > Região de Tombali > Guileje > A Fox MG-36-24, que pertenceu aos Pipas, foi sendo sucessivamente rebaptizada: Bêbeda, Diabos do Texas... (Bêbeda, porque possivelmente gastava... "cem aos cem"!)...

Segundo Nuno Rubim, "a matrícula da Fox é a mesma que consta numa fotografia tirada por elementos do PAIGC em 25 de maio de 1973, quando ocuparam o quartel, três depois depois do seu abandono por ordem do comandante do COP 7. Portanto a Bêbeda ( que  fica para a história, representada com essa mesma inscrição no diorama de Guileje, que foi construído por Nuno Rubim para o Núcleo Museológico Memória de Guiledje ....) terá servido desde 1965 até 1973, integrada nos sucessivos Pel Rec Fox que por lá passaram"... A foto de baixo  foi gentilmente cedida pelo Teco (Alberto Pires), da CCAÇ 726.

Fotos (e legendas): © Nuno Rubim (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


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Guiné 61/74 - P20236: Blogpoesia (639): "Nossa fatalidade", "Revolta das cores" e "Hoje, não vi esquilos", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue durante a semana, que continuamos a publicar com prazer:


Nossa fatalidade

Tem de haver uma razão profunda que explique esta nossa fatalidade como país independente e soberano.
Somos um punhado de gente capaz, a viver num pedacito de terra pedregosa, plantada junto ao mar.
Apesar das pedras, tem muito húmus e muita gema.
Rios muitos e poderosos; vales férteis e planícies; lezírias d’oiro e arrozais; um mar imenso, que dá e sobra de peixe à farta.
Nosso solo contém minério e carvão. Abundantes e variados.
Não caiam no engodo de explorar petróleo! Seria fatal para o nosso povo…
Então, que praga nos rogou o satanismo?
Não saímos da cepa torta. Uns pelintras e pedinchões.
Penhoramos nossos cordões aos grandes e metalistas desumanos. Uns milhafres.
Para que apenas meia dúzia viva como nababos. O resto, geme e vê-se aflito para sobreviver.
Tem de emigrar para todo o mundo para salvar sua vida e dignidade.
Tantos cérebros brilhantes que rendem oiro por esse mundo…
Quando virá a hora de inverter este fado negro e desolador?
Abraenuntio!... Vade retro!...

Para vivermos todos em paz e abundância.

Ouvindo O melhor de Pachelbel.
Berlim, 6 de Outubro de 2019
11h14m
Jlmg

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Revolta das cores

Cansadas de ser o que foram e são,
Cada uma por si, decidiu mudar sua cor.
A primeira foi o cinzento.
Insecto imperfeito.
Nem preto nem branco.
Pintou-se de azul,
Invejando o céu.
O vermelho retinto,
Conotado ao sangue,
Vestiu-se de preto,
Espantando a morte.
O verde serrano,
Amarrado à terra,
Nem carne nem peixe,
Desatou a correr
E banhou-se no mar.
O amarelo, crestado do sol,
Fugiu para a sombra
E vestiu-se de cinza.
Por fim, o azul.
Do que se havia de lembrar.
Cansado do céu e do mar,
Tornou-se grenã.
As aves e os peixes,
Em se vendo a sangrar,
Clamaram aos céus,
Não queriam morrer.

Só o branco ficou.

Pouco tempo passou.
A chuva as lavou.
A serra floriu.
Brilhando ao sol,
De todas cores.

Mudar nunca mais.
Melhor ser como é...

Berlim, 7 de Outubro de 2019
11h24m
Jlmg

********************

Hoje, não vi esquilos

Hoje, não vi esquilos na minha caminhada.
Só corvos e melros pretos.
Têm o mesmo espaço que partilham bem.
Debicam tudo. Para se sustentarem.
Ficam na mesma quando lhes passo ao lado.
Mestres da boa convivência.
Venho e vou e por ali os deixo.
Já os conheço há anos.
Apresentaram-me os esquilos.
Corredores nas árvores, como se fosse o chão.
Seu condão é o silêncio.
Cada qual na sua vidinha.
Ninguém se intromete com os outros.
Ignoram guerras.
Exemplares.
Visitá-los cada dia, faz-me bem…

Berlim, 10 de Outubro de 2019
9h52m
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de Outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20209: Blogpoesia (638): "Sou filho de Adão", "Guidinha padeira" e "Valor da paz", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

Guiné 61/74 - P20235: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (2): 2ª edição, revista e aumentada, Letra A



Guiné > Bissau > Amura ou Fortaleza de São José da Amura ou simplesmente Fortaleza da Amura > Construção iniciada em finais do séc. XVII, arrasada em 1707 e reconstruída em 1753, restaurada em meados do séc. XIX (1858-1860), bem como um século depois, a partir da década de 1970, sob orientação do arquiteto Luís Benavente.


Foi quartel-General durante a guerra colonial. É hoje panteãio nacional da República da Guiné-BissaU. Foto nº 17/199 do álbum Guiné, disponível na página do Facebook, do João Martins. qui estava instalado o QG/CCFAG [Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné], com as suas 4 Rep[artições]. Nas proximidades ficava a 5ª Rep, o Café Bento, o maior "mentidero" de Bissau, onde se ganhavam ou perdiam todas as batalhas.



Foto: © João José Alves Martins (2012)  Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: 
Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. São cerca de meio milhar de "entradas":

(i) abreviaturas, siglas, acrónimos e termos técnico-militares usadas pelas NT (Nossas Tropas) / Forças Armadas Portuguesas:

(ii) abreviaturas, siglas e acrónimos e termos técnico-miliatres usadas pelo IN (inimigo) (guerrilha / PAIGC):

(iii) topónimos da Guiné, vocábulos e expressões etnográficas e/ou em crioulo e línguas gentílicas

(iv) vocábulos e expressões da gíria ou calão tanto do IN como das NT...

Acrescentamos também algumas figuras populares, do "Caco Baldé" ao "Manel Djoquim", do "alfero Cabral" ao "Tigre de Missirá", do Pepito ao "Metro e oito"...

É um pequeno património linguístico que já não nos pertence... Alguns destes vocábulos, do calão ao crioulo,  já estão grafado pelos dicionaristas: por exemplo, bianda, bideira, blufo, bolanha, morança ... Outros poderão vir a sê-lo, se não caírem em desuso.. Muitos morrerão na "vala comum do esquecimento", nomeadamente expressões usadas na caserna: pira, periquito, checa, partir punho, partir catota ... 

Enfim, são mais de quinze anos a blogar, o que dá, pelo menos  sete comissões no TO da Guiné...

Pequeno dicionário, de A a Z, em construção, com o contributo de todos os amigos e camaradas da Guiné (*) que se sentam aqui à sombra do nosso poilão, e que até têm um livro de estilo (**)... 

Mas falta-nos "a gíria e o calão" de outras armas como as da Marinha, por exemplo ... Infelizmente temos poucos marinheiros e fuzileiros na Tabanca Grande.

Quanto ao resto (e nomeadamente ao uso de um "calão" mais grosseiro, ou mais obsceno...), é bom lembrar que o nosso blogue não é politicamente correto, justamente porque é plural, é um rio com muitos afluentes, é filho de muiats mães e pais... Aos nossos/as amigos/as e camaradas mais "sensíveis", incluindo os/as nossos/as  amigos/as guineenses, pedimos desculpa de "qualquer coisinha"... 

Desnecessário é lembrar que o nosso blogue rejeita todos os ismos: colonialismo, racismo, sexismo, moralismo... , etc. Não somos um blogue de causas, só queremos parti(lha)r memórias (e afetos)... LG


Pequeno Dicionário da Tabanca Grande,  de  A a Z: 

[Em construção, desde 2007]


1º Cabo Aux Enf – 1º cabo auxiliar de enfermagem

2TEN FZE RN - 2º Tenente Fuzileiro Especial da Reserva Naval (Marinha)

5ª Rep - (i) Café Bento, o ‘mentidero’ de Bissau, que ficava junto ao Forte da Amura onde estava instalado o 
QG/CCFAG [Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné], com as suas 4 Rep[artições]

A/C - Anticarro, mina

A/D - Autodefesa (tabanca em)

A/P - Antipessoal. mina

AB - Alfa Bravo ou alfabravo, abraço (alfabeto fonético internacional, usado pelos nossos Op Trms)

Abibe - Novato na BA 5 (Monte Real) (FAP)

Abo - Você, tu (crioulo)

ACAP - Assuntos Civis e Acção Psicológica (REP / ACAP) 

AD - Acção para o Desenvolvimento - ONGD guineense que teve a marca histórica da liderança do Pepito (1949-2014)

ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas (, fundada depois do 25 de Abril)

Aero - Aerograma, carta, bate-estrada, corta-capim

Afilhado - Militar que tinha uma madrinha de guerra

Água de Lisboa – Vinho (da intendência) (gíria)

Água do Geba (Beber a) - Apaixonar-se pela Guiné

AGUltramar - Agência Geral do Ultramar

Agr - Agrupamento

AICC Área de Intervenção do Comando-Chefe

AKA - Kalash, Espingarda Automática Kalashnikov (AK) Cal. 7,62 mm (PAIGC)

AL II - Alouette II, helicóptero, de origem francesa (FAP)

AL III - Helicóptero Alouette III, de origem francesa (FAP)

Alf - Alferes

Alf Mil - Alferes Miliciano

Alf Mil Med - Alferes miliciano médico

Alfa Bravo / Alfabravo - Abraço


Alfaiate - Crocodilo (gíria)

Alfero - Alferes (crioulo)


Alfero Cabral - Jorge Cabral, alf mil  art, cmdt Pel Caç Nat 63 (Fá Mandinga e Missirá, 1969/71),autor da série "Estórias cabralianas"

AM - Academia Militar (sucedeu, em 1959, à Escola do Exército, remontando a sua origem apo séc. XVII)


Amura - Velha fortaleza militar colonial, em Bissau; sede do QG/CCFAG [Quartel General do Comando Chefe das Forças Armadas da Guiné]; hoje Panteão Nacional da Guiné-Bissau




AN/PCR-10. 
Imagem: Blogue Luís Graça
& Camaradas da Guiné
AN/GRC-9 - Rádio, equipamento de transmissões (NT)

AN/PRC-10 AVF - Rádio emissor-receptor (MT)

Animistas - Povos ribeirinhos(balantas, manjacos, papéis e outros) que praticam o culto dos irãs

Anti-Aérea ZPU-4 - Anti-aérea  quádrupla, de 14,5 mm (PAIGC)[Também tinham peças AA de 37 mm e, depois, o Strela, em 1973]


Anti-G - Fato que ajudar a suportar os Gês (FAP)

AOE - Associação de Operações Especiais

Ap - Apontador

APAR - Apoio aéreo (FAP)

Ap Arm Pes Inf - Apontador de Armas Pesadas de Infantaria (morteiro, canhão s/r, metralhadora 12.7...)

Ap Dil - Apontador de Dilagrama

Ap LGFog - Apontador de Lança-granadas foguete

Ap Met - Apontador de Metralhadora

Ap Mort - Apontador de morteiro

Apanhado - (i) Diz-se do combatente afectado pela guerra e pelo clima; (ii) cacimbado (em Angola)

APsic - Acção Psicológica

Aqt - Aquartelamento
 
Arre-macho - Tropa de infantaria, tropa-macaca (termo depreciativo, usado pelas tropas especiais)

Art Artilharia

Arv - Arvorado, Soldado



Anúncio da ASCO (1956). 
Fonte: Blogue Luís Graça
 & Camaradas da Guiné


ASCO - Acrónimo da Aly Souleiman & Ca - Casa comercial, de origem sírio-libanesa, com sede em Bissau e filiais no interior, incluindo Gadamael.
Asp Of Mil - Aspirante a Oficial Miliciano

At Art - Atirador de Artilharia

At Cav - Atirador de Cavalaria

At Inf - Atirador de Infantaria

Atacadores da PM -  Esparguete (gíria) (Ex: Atacadores com PM com estilhaços)

ATAP - Missão resultante de um pedido de fogo imediato, com a saída da parelha de alerta; ataque em alerta (FAP)

ATIP - Missão de apoio de fogo, pré-planeada; ataque independente (FAP)

ATIR - Ataque e reconhecimento (FAP)


(Continua)
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Notas do editor:




30 de dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2389: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (6): Racal (José Martins)

29 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2388: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (5): Periquito (Joaquim Almeida)

26 de junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1887: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (3)... (Zé Teixeira)

Guiné 61/74 - P20234: Parabéns a você (1695): Mário Ferreira de Oliveira, ex-1.º Cabo Condutor de Máquinas Reformado da Marinha (Guiné, 1961/63)

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Nota do editor

Último poste da série de 12 de Outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20231: Parabéns a você (1693): Cátia Félix, amiga Grã-Tabanqueira

sábado, 12 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20233: Os nossos seres, saberes e lazeres (359): A minha ilha é um cofre de Atlântidas (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 9 de Maio de 2019:

Queridos amigos,
Regressa-se à ilha por devoção, jamais por obrigação. A ilha é um lugar, tem referentes e referências afetuosas indeléveis, faz parte da vida corrente. Um dia, numa outra viagem, olhava-se com deleite a fachada da Igreja do Colégio, um dos primores do barroco nesta região arquipelágica, passou rente alguém com pesados óculos escuros, logo se reconheceu o emérito professor de Cultura Portuguesa, professor Machado Pires, houve abraços, o professor levou o antigo aluno a sua casa, ali bem perto, tinha um livro de poesia para lhe oferecer, falou-lhe do que andava a escrever, de um bicho infestante da madeira que tudo carcomia, e depois saíram de braço dado como se fossem para o Teatro Micaelense, pelo caminho falou-se de Cortes Rodrigues e de Canto da Maia.
É assim a relação do viandante que aqui se faz habitante, e está plenamente convicto que será sempre assim, até ao fim dos seus dias, aqui se rende ao amor pela Natureza, vive enamorado pela identidade das ilhas, da sua bruma, dos seus romeiros.
É-se mais português nesta lava vulcânica, tenho dito.

Um abraço do
Mário


A minha ilha é um cofre de Atlântidas (1)

Beja Santos

Este lugar é por definição inesgotável na rota do viandante; inesgotável e incontornável. Tudo começou em outubro de 1967, chegou-se numa noite chuvosa ao porto de Ponta Delgada, rumou-se imediatamente para os Arrifes, esperavam-no duas recrutas em cheio, aqui recebeu instruções para partir para a Amadora, formar batalhão para a Guiné. Foi um tempo de grandes descobertas. Voltou a ler o “Enigma da Atlântida”, de Edgar P. Jacobs, este sumo-sacerdote da banda desenhada belga fez uma ficção científica de um mundo estuante de técnica prodigiosa nas profundezas da Caldeira das Sete Cidades. Criaram-se novas amizades, o viandante, aos poucos, descobriu que era capaz de liderar, coisa insuspeita, neste caso essencial para os anos que tinha pela frente, por lalas e bolanhas. Aqui regressou no regresso da Guiné, em 1970, aqui vem em intermitência, não é uma peregrinação de uma qualquer saudade, é amor ínsito por um lugar que nada tem a ver com poiso de turismo. Chega ao aeroporto, sito num lugar chamado Relva, um amigo do coração chamado Mário Reis leva-o até aos Arrifes, nada estava previsto, o viandante ainda conversou com um magala à Porta de Armas da unidade militar que passou a substituir o Batalhão Independente de Infantaria N.º 18, do seu tempo, foi apontando para lugares por onde cirandou, depois partiram, seguiu-se a Covoada, o passeio interrompe-se no Pico do Carvão, desfruta-se um panorama que vai de S. Vicente Ferreira ao Porto Formoso, é de cortar o fôlego.





Antes de se atingir o primeiro objetivo da estada, as Sete Cidades, ainda se foi à Candelária e depois à Lagoa das Empadadas. O que temos em frente são as Sete Cidades na Vista do Rei, as cores azul e verde, com cambiantes, as nuvens definem os tons da paleta, não se sabe se estamos numa ilha ou num subcontinente, inegável que é uma entrada para o paraíso, abençoado sejas, vulcão adormecido ou coisa que o valha.



À chegada, um enigma da Atlântida, que serás tu, talvez uma palmeira ou da família? O assunto irá resolver-se, se há abordagem que sempre resulte com um micaelense é fazer perguntas sobre a Natureza, perguntar nome de plantas, de pedras, coisas do passado. Imagine-se que o viandante passou pela Igreja-Matriz, de nome S. Nicolau, estava lá uma senhora que com exuberância foi explicando restauros e quando se chegou à imagem do santo patrono observou: “O restauro está perfeito, menos a cara, vamos mandar retocá-la, parece um miúdo, tem que parecer mais velho”.




Entardece, o dia mantém-se claro, passaram umas nuvens escuras, toca de ir passear até à berma da lagoa, é um silêncio de clausura, o viandante senta-se, rememora outras viagens, reza pelos amigos que já partiram, pelos amigos micaelenses que andam bem doentes, tem dois dias pela frente para aqui vagabundear, veio com disponibilidade para fruir, deitou o saco de ansiedades para trás das costas. E respirar esta paz, é março, despede-se do leitor mostrando as azálias em floração, está tudo pintalgado de vermelho, mais vermelho floral aparecerá nas próximas semanas.





Já anoiteceu, nesta calmaria apanham-se estes raios de sol que brilham numa falsa mancha de óleo, esta lagoa é como Proteu, muda de feições, é caleidoscópica, mágica. Por isso é que Edgar P. Jacobs aqui se inspirou para a sua Atlântida.


(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 5 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20208: Os nossos seres, saberes e lazeres (358): Montechoro, Albufeira, Lagos, Sagres (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P20232: Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1 /GAC 7, Bissau, 1969/71) - Parte V: Rumo a Fulacunda, com o 22º Pel Art, passando por Bolama, e com batismo de fogo



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 2 > "Porto fluvial", no Rio Fulacunda > Chegada de uma LDP.

Foto (e legenda): © Jorge Pinto (2014). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]



[ Domingos Robalo:

(i) tem página no Facebook desde março de 2009 e administra também o grupo Artilharia de Campanha na Guiné-BAC1/-GAC7;

(ii) filho de militar, foi fur mil art, BAC 1 / GAC 7, Bissau, 1969/71;

(iii) vive em Almada, está ligado à Universidade Sénior Dom Sancho I, de Almada, onde faz voluntariado, desde julho de 2013, como professor da disciplina de "Cultura e Arte Naval";

(iv) trabalhou na Lisnave; é praticante de golfe;

(v) e passou a integrar a Tabanca Grande, com o nº 795, desde 21 de setembro último]




Recordações e desabafos de um artilheiro (Domingos Robalo, fur mil art, BAC 1/ CAC 7, 1969/71) > Parte V


Ah…já sabia pelo Jacinto onde era Fulacunda, e quem estava por lá. Os Boininhas. Mas o lugar não era dos mais pacíficos...

Cerca de cinco (5) dias depois, não dois como estava previsto, preparamo-nos para embarcar em três LDM (Lancha de Desembarque Média), 3 obuses 10,5cm, 27 soldados, três cabos, dois furriéis e eu próprio como Comandante de Pelotão. Para além destes militares, íamos acompanhados das mulheres dos soldados e dos respetivos filhos. Cada soldado tinha em média duas ou três mulheres, filhos já não sei. 


No dia da partida aportámos a Bolama, onde o pessoal pernoitou o melhor que pôde e eu fui também dormir a uma pensão, cheia de Cabo Verdianos que não se calaram durante toda a noite. 


No dia seguinte e após ter “matado o bicho”, cruzei-me com um amigo e colega de escola, o Abel. Abraço para aqui, abraço para acolá, que fazes por aqui? Vou para Fulacunda, e tu estás aqui em Bolama? Sim, vou entrar de serviço. Vou agora á prisão; anda daí. Fez questão que visitasse o local.

Por fora parecia uma pequena prisão. Quando se abre a porta, meu deus!... Grades de ferro separavam muitas celas, assemelhando-se á jaula dos “macacos” no jardim zoológico. Presos, eram às centenas; uns novos outros mais velhos. Percebi logo que aquelas pessoas estavam presas, não por terem cometido crimes cíveis, mas por serem “terroristas”. Estavam simplesmente a ser tratados “abaixo de cão" ou pior. Não encontro outro qualificativo.

Cerca das 10 horas da manhã,  zarpámos de Bolama com destino a Fulacunda. Trinta a quarenta minutos depois estávamos a ser atacados da margem à morteirada.

Eu ia na LDM que fechava o comboio. A primeira morteirada cai ligeiramente à proa por estibordo, a segunda morteirada cai à nossa proa em alinhamento com o nosso rumo. O intervalo do tiro não foi cadenciado, pelo que a terceira morteirada caiu a ré da LDM, sem nos ter atingido.

Entretanto o patrão da lancha, pede instruções a Bissau se pode bater a zona com as “Boffers”. Pedido recusado,  e lá vamos navegando sem ter respondido com um tiro. Estranha guerra esta, pensei para com os meus botões, agachado entre o resguardo da “Boffer” e a borda falsa da zona da ponte.

Ao princípio da tarde, aportámos ao porto improvisado de Fulacunda, a alguma distância, por caminho de picada e envolto por capim que assustava.

Tenho a imagem de ter sido recebido de forma simpática e informal pelo jovem Capitão, vestindo uma T-shirt branca e com boina na cabeça.

Já não me recordo quem o acompanhava, mas vi, na forma disciplinada e organizada, que aqueles soldados tinham estima pelo seu Comandante.

Como no início referi, desde muito novinho que aprendi, na vivência com o meu pai, que comandar implicava cumplicidade com os subordinados, não só no tratamento e no trato, sem se perder a disciplina e a hierarquia.

No dia seguinte apresentei-me bem uniformizado ao Comandante, com a formalidade que um militar deve ter ao apresentar-se a um seu superior:

-Apresenta-se o Furriel Miliciano, Domingos Robalo, 192618/68, que por estar mal uniformizado não o pude fazer ontem.

O Comandante ficou algo surpreendido, pois certamente não era isto que esperava quando solicitei ao 1º Sargento para ser recebido pelo Comando.

Decidiu-se o local para a posição dos três obuses 10,5cm, recaindo a escolha junto à pista, com espaldões por construir e com algumas árvores a abater para minimizar o “ângulo de sítio” durante o tiro. Daquele local, haveria decerto, algum dia, a necessidade de fazer tiro direto.


(Continua)

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Guiné 61/74 - P20231: Parabéns a você (1694): Cátia Félix, amiga Grã-Tabanqueira

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Nota do editor:

Último poste da série de 11 DE OUTUBRO DE 2019 > Guiné 61/74 - P20227: Parabéns a você (1692): Benito Neves, ex-Fur Mil Cav da CCAV 1484 (Guiné, 1965/67); Eduardo Campos, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 4540 (Guiné, 1972/74) e Patrício Ribeiro, ex-Fuzileiro Naval (Angola 1969/72), residente na Guiné-Bissau

sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20230: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XXIX: Henrique Ferreira de Almeida, alf art (Sátão, 1947 - Guiné, Cabedu, 1968); pertenceu à CART 1689 / BART 1913.







1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um dos 47 Oficiais, oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar que morreram em combate no período 1961-1975, na guerra do ultramar ou guerra colonial (em África e na Ásia). 

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva [, foto atual à direita], instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.


Morais da Silva foi cadete-aluno nº 45/63, do corpo de alunos da Academia Militar. É membro da nossa Tabanca Grande, com o nº 784, desde 7 do corrente.

O alf art Henrique Ferreira de Almeida (1947-1968), morto aos 21 anos, já tem várias referências ni nosso blogue. Pertencia à CART 1689 / BART 1913 (Catió, Cabedú, Gandembel e Canquelifá, 1967/69).
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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de  setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20187: In Memoriam: Os 47 oficiais oriundos da Escola do Exército e da Academia Militar mortos na guerra do ultramar (1961-75) (cor art ref António Carlos Morais da Silva) - Parte XXVIII: cap inf Artur Carneiro Geraldes Nunes (Sá da Bandeira / Lubango, 1934 - Guiné, Cabedu, 1968)