domingo, 24 de junho de 2007

Guiné 63/74 - P1874: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (2)... (António Pinto / Joaquim Mexia Alves)

1. Mensagem do nosso veterano António Pinto , respondendo ao desafio do post P1872 (1):


Bons Amigos

De acordo com o que o COMANDANTE pede, lembro-me de mais algumas expressões:

Goss, goss - Anda depressa

Jamtum Tanala Talifanala - Cumprimentos perguntando pelas mulheres, gado, família, etc. etc., repetindo esta expressão várias vezes

Maçarico - Camarada recém-chegado


Um abraço

Pinto


2. Contribuição do nosso camarada Joaquim Mexia Alves para o glossário:

Africanas - Tropas da Guiné
Apanhados do clima
Apanhados à mão
Aponta, Tomás!- Expressão do Caco para o ajudante
Bolanha
Corpo di bó ? Jantum -
Goss-goss - Depressa (como é que raio isto se escreve?)
Macaréu
Peluda
Tá no ir
Tarrafo

E vamo-nos lembrando...

Abraço do Joaquim Mexia Alves

3. Do Camarada N. R. (não se identifica)...

Dualidades do "calão" militar?

Algumas expressões tinham um significado civil diferente ou mais profundo. Por exemplo:

Bajuda - Menina virgem (e não apenas rapariga)
Bianda - Arroz (e não comida em geral)
Bué - Nunca ouvi esta palavra por lá nessa altura
Cibe - Os troncos das palmeiras, usados como madeira, eram os cipós
Djubi - Cá fora era mesmo só "olha" ou "repara"
Mantenhas - Saudades (nunca ouvi empregar como saudações)
Psico - Tambem conhecida por "Psique"
Quico - Não era um boné qualquer, era o boné da tropa, camuflado, com pala e protecção da nuca com dois bicos. Aliás, não lhe conheço outro nome, continua a ser o "quico".


Omissões importantes... Falta aqui, por exemplo:

Metrópole - Portugal continental
Mocar - Fornicar
Patacão - Dinheiro (massa, pilim...)
Piriquito - Recém chegado à Guiné (designação que se prolongava por algum tempo e era algo discriminadora e pouco elogiosa)

E já agora Embrulha e manda pelo SPM que tinha um significado dúbio mas que pode ser sintetizado em algo como "o que não tem remédio, remediado está" ou algo similar.

Cumprimentos e continuem

NR

4. Comentário dos editores do blogue:

Amigos e camaradas: Obrigados, eu e o Carlos, pela vossa rápida resposta... Já agora, um reparo:

De acordo com o autorizado e utilíssimo Ciberdúvidas da Língua Portuguesa, deve escrever-se periquito:

Todos os dicionários consultados, nomeadamente o Grande Dicionário, da Porto Editora, e o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, da Academia das Ciências de Lisboa, registam periquito para o «nome vulgar extensivo a várias aves trepadoras, exóticas, especialmente da família dos Psitacídeos, com grande variação de cor (embora a ave bravia seja sempre verde e amarela) e mais pequenas que os papagaios». O termo vem do castelhano "periquito".

Achamos que já era altura de os nossos dicionaristas registarem a acepção (militar, da guerra colonial da Guiné) que nós damos ao termo Periquito ou pira... Só no nosso blogue, tem sido muito utilizado.

Já agora, deixem-nos introduzir mais um termo novo: Corta-capim como sinónimo de carta ou aerograma (2)... Quanto a Bué, o nosso N.R. tem toda a razão: é um vocábulo pós-25 de Abril... Na Guiné dizíamos: Manga de (Muito). Sobre Bué e outros termos do luandês, ver artigo de Rui Ramos no Ciberdúvidas > Luandês, a nova língua da lusofonia...

Por fim, uma chamada de atenção: não escondemos que alguns termos da nossa linguagem de caserna era (é) baixo calão, palavrão... Os puristas, os meninos de coro ou os ouvidos sensíveis que nos perdoem, mas é pena algumas destas expressões correrem o risco de irem parar à cova connosco, se não ficarem registadas aqui, para a posteridade... A propósito, consulltem o Dicionário Aberto de Calão e Expressões Idiomáticas, de José Jão Almeida (2003) (3)... Um projecto em construção. Porque quem faz a língua portuguesa, são os seus falantes...

__________

Notas de L.G.:

(1) Vd. post de 23 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1872: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (1)...(Luís Graça)


(2) Aerograma. Também conhecido por corta-capim (o correio era, muitas vezes distribuído em cima de uma viatura, e o aerograma lançado por cima das cabeças dos soldados, à maneira de um boomerang). Os aerogramas foram uma criação do Movimento Nacional Feminino, dirigida pela célebre Cecília Supico Pinto desde 1961, e o seu transporte era assegurado pela TAP ("uma oferta da TAP aos soldados de Portugal"). Os aerogramas também foram usados na guerra da propaganda do regime, ostentando carimbos de correio com dizeres como "Povo unido, paz e progresso", "Povo português, povo africano", "Os inimigos da Pátria renunciarão" ou "Muitas raças, uma Nação, Portugal" (vd. Graça, L. - Memória da guerra colonial: querida madrinha. O Jornal. 15 de Maio de 1981).

Vd. post de 23 de Abril de 2004 > Guiné 69/71 – I: Saudosa(s) madrinha(s) de guerra (Luís Graça)

(3) Vd. introdução, no respectivo sítio > Dicionário aberto de calão e expressões idiomáticas

"Acreditamos que as expressões idiomáticas e o calão são uma parte nobre e rica da língua Portuguesa. Ao mesmo tempo que inclui verdadeiros tesouros, este domínio é frágil e muitas vezes os termos têm um tempo de vida curto.

"Este dicionário é simultaneamente um exercício de linguística, de linguagens de programação e de PERL.

"Detalhes acerca do modo como ele está construído podem ser obtidos do autor.

"Este dicionário contem presentemente cerca de 4000 entradas e precisa desesperadamente da sua colaboração. Deve ser olhado não como um dicionário completo mas como uma colecção amadora que tem contado com a colaboração de vários informantes a quem muito agradecemos

"Tecnicamente, este dicionário está a usar a linguagem pregramação DPL, do projecto Natura

"Sempre que se lembrar de uma expressão idiomática, de um termo calão (por mais carroceiro que seja!) que não encontre aqui...,

Fontes:

http://natura.di.uminho.pt/~jj/pln/calao/calao.dic
http://natura.di.uminho.pt/~jj/pln/proverbio.dic

Documentação variada:

documentaçao rudimentar
dicionário em formato PS, gziped (85 páginas)
dicionário em formato PDF (85 páginas)

1 comentário:

Anónimo disse...

NR é Nuno Rodrigues, mas não se pode identificar como camarada (no bom sentido em uso no blog). Só veio ao mundo em 62, altura em que os camaradas já andavam nestas andanças. Mesmo assim é capaz de bater alguns em "tempo de serviço": uma "comissãozita" na Guiné, entre 69 e 74, antecedidade de outra de 2 anos em Angola mas da qual nada se lembra (aliás, 2 anos devia ser também a idade nessa altura).

Porém completou o 3ª ano no Liceu Honório Barreto (o antigo 3º ano), o que lhe deu manga de experiência no crioulo e nas bajudas... é uma idade danada, nada se esquece.

O camarada era o pai, 2º sargento páraquedista que estava no BCP12.

Vai daí que por arrasto passava o tempo nos mesmos circuitos (excepto no mato, claro), frequentava os mesmos hospitais, bares (só podia beber Coca-Cola ou 7UP), cinemas (também não havia muitos, o do da Base e do da UDIB) e festas.

Embora com menos vitalidade muitos dos "camaradas" do Liceu dessa altura também ainda se mantêm em contacto, fazem blogs e outras coisas do género e discutem e recordam esses tempos... aliás, é por isso que "vasculhamos" o blog.

Seria alguma coisa do clima?

Um abraço a todos
A ver se as memórias não se perdem!