1. Mensagem de Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70):
Em louvação dos nossos camaradas, da sua estima, do seu esforço e da nossa memória
Meu Querido Henrique Matos Francisco (1), eu posso imaginar amanhã a estupefacção e a alegria do Queta quando, no dealbar da manhã, eu lhe mostrar a tua foto e o teu ingresso no blogue. Vai haver risada pela certa, o Queta é muito disciplinado, sabe que a nossa agenda de trabalho tem a ver com a ida ao Enxalé, o patrulhamento dos piriquitos da CCAÇ 12 perto de Madina, os trabalhos em Finete nos finais de Julho de 69 e a dolorosa emboscada em Malandim onde alguém me chamou branco assassino (sic).
Mas tenho quase a certeza que o Queta te vai mandar um grande abraço, tu fazes parte do imaginário do Cuor, nas noites de narrativa oral o teu nome vinha à baila, vai ser bom colarmos a existência do 52 aos seus diferentes comandantes, a começar por ti. Quando, no sábado, depois de ler os resumos do Guardian e do El Pais, entrei na nossa pátria de recordações e tu apareceste, quero que saibas que me escorreram algumas lágrimas por ver vincar-se a memória das nossas lutas, tornar-se possível ler a história do combate dos nossos soldados e saber que tu estás bem.
A outra alegria que tive foi saber que tu és jorgense, ilha onde passei férias na região da Calheta. Deves ter orgulho nas belezas naturais do teu chão, não há hortênsias com azul mineral mais intenso que aquelas que vi entre a Calheta e o Topo. E para quem não sabe, a Caldeira do Espírito Santo é uma formusura de lava que transcende todos os espaços mágicos dos ambientes vulcânicos.
Tens aqui no blogue toda a história que se iniciou a 4 de Agosto de 68, tu não estavas, há meses que o Saiegh comandava o 52. Dentro em breve, estaremos em Agosto de 69, aqui findará, mas sem interrupção, o primeiro ano do meu diário de bordo, continuam as idas a Mato de Cão, volto ao Xime, caio novamente doente a ponto de ditar as minhas cartas mais íntimas, assistirei ao desmoronamento psíquico do meu lugar-tenente, farei mais emboscadas, Missirá continuará a sofrer pequenas flagelações, como eu esperava Finete será dura e longamente flagelada, teremos depois uma mina anti-carro não muito longe onde se volatizou um burrinho do pelotão do Zagalo (a propósito, nunca chegaste à fala com o Zagalo?) e por aí adiante.
Amanhã à tarde o teu nome será falado na comunidade guineense que se reúne no Rossio. Depois, pelo telefone, farei constar ao Cherno que Matos Francisco existe e tem coisas para contar. Ele irá a Missirá dar a notícia ao régulo Bacari Soncó. Brindo à tua chegada, desejo-te longa vida e quero contar contigo e o Mexia Alves e o Nelson Wahnon Reis para que a história do 52 fique na memória de Portugal e da Guiné-Bissau.
Recebe um abraço do
Mário Beja Santos.
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Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1871: Tabanca Grande (15): Henrique Matos, ex-Comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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1 comentário:
Sinto-me honrado em tão boa companhia!!!
Sempre ao dispor.
Abraço do
Joaquim Mexia Alves
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