1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau,
1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre
outros, ao nosso blogue durante a semana, que continuamos a publicar com prazer:
Sou filho de Adão
Como os demais.
Sou filho de Adão.
Sinto fome e frio
Se não como e não me agasalho.
O medo me ataca, de vez em quando.
Minha chave é a alegria com sabor de liberdade.
Nada compro e nada dou
Que não tenha utilidade.
Volta e meia dá-me a saudade dos bons tempos de criança.
Mal eu sabia para o que vinha.
O que eu queria era ser grande.
Para ver como era o mundo.
Com certezas e muitas dúvidas,
Aprendi a viver com pouco.
Errei nalgumas encruzilhadas.
Se pudesse voltava atrás.
Tive sorte e tive azares.
Me contento com o que tenho.
Não choro o que perdi.
Apesar de tudo, foi bom como vivi…
Berlim, 29 de Setembro de 2019
14h52m
Jlmg
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Guidinha padeira
Vivia na santa.
No pé de um monte.
Santa Quitéria.
Cada manhã, de canasta à cabeça,
Cheio de pão, vinha a pé,
Vendendo o pão,
Até Varziela.
Uma linda senhora.
Vestia de escuro.
Os olhos luziam.
Sorria para todos.
Com muito respeito,
- Bom dia, Guidinha!
Subia as escadas, em Pedra Maria.
Ali tinha a filha e dois netos queridos.
Eu era um deles.
A minha madrinha.
Que eu tanto queria.
A outra, a Delfina.
Também cá não está.
Me dava uma “bica”,
Um pão saboroso.
E muitos beijinhos
Que eu guardo no peito.
Beijinhos de Avó.
Mais doces não há…
Berlim, 30 de Setembro de 2019
10h9m
Jlmg
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Valor da paz
Orvalho de luz e calor a raiar ao sol.
Brisa suave que inebria feliz, os rostos carregados de sombra, por debaixo da cruz, no calvário da vida.
Promessa cumprida ao alcance de todos, basta querer e partir.
A arma serena e eficaz que vence e apaga as feridas do ódio que a guerra deixou.
A taça-troféu de alguém que sofreu e venceu.
Bandeira de esperança, desfraldada ao vento, saudando quem chega feliz, extenuado da luta.
Um mar de bonança, abarrotado de peixes, onde vale a pena pescar.
Uma praia de sol, regada de ondas e espuma do mar.
Caravela imponente, de mastros erguidos e velas ao vento, sulcando oceanos, à volta do mundo.
Planície de verde, regada de sol, celeiro abundante que o Outono encherá.
Fonte incessante de água pura e fresquinha onde todos podem beber.
Ouvindo Rachmaninoff, Rapsodia
Berlim, 5 de Outubro de 2019
9h56m
Jlmg
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Nota do editor
Último poste da série de 29 de setembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20188: Blogpoesia (637): "O acabar do dia", "Luminoso amanhecer de Setembro Outunal" e "Cicatrizes", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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