terça-feira, 23 de setembro de 2008

Guiné 63/74 - P3225: Estórias cabralianas (38): O Alferes roncador e a almofada (Jorge Cabral)

1. Mensagem do Jorge Cabral, a quem já não vejo desde há alguns tempos (*). Tenho perguntado por ele às suas antigas alunas (!), quer as do saudoso Instituto Superior de Serviço Social de Lisboa bem como as da Lusófona...

Todas (!) me falam dele, com grande carinho e apreço, como um professor excepcional, que as marcou intelectual e afectivamente... É um sortudo, este Jorge. Um sedutor, um senhor... Sempre bendito entre as mulheres... Ontem como hoje, lá como cá...

Jorge, quero confidenciar-te que aproveito sempre o ensejo para lhes dizer, às tuas ex-alunas, que eu sou teu amigo e admirador... E que é sempre dia de festa e de alegria quando nos manda uma das tuas magistrais short stories... Não te esqueças que te comprometeste a mandar-nos meia centena... Com estas duas últimas, chegamos à nº 39 (**)... O blogue quer publicar-te o livrinho... Eu sei que a tua produção é escassa, mas de primeira água. E que as tuas musas inspiradoras não trabalham propriamente ao ritmo da linha de produção automóvel... Dito isto, aqui vai um grande Alfa Bravo para ti... e para as tuas musas. LG

Amigos,

Tirei férias do computador… E só agora voltei ao nosso Blogue. Envio duas 'estórias' [ Alferes roncador e a amofada; O marido das senhoras] e,
Grande Abraço
Jorge Cabral


PS: Continuo roncador! Quanto ao devoto furriel, claro que não se chamava Paiva.



2. Estórias cabralianas (38) > O Alferes roncador e a almofada
por Jorge Cabral


Desde miúdo que adormeço rápido e de imediato inicío um ressonar fortíssimo, audível até pelos vizinhos. Dizem-me uns que são silvos assustadores, parecendo urros de touro ou de leão. Outros garantem que se assemelham aos sonoros sinais dos antigos vapores, quando iniciavam a marcha.

Ora, ao segundo dia de Bambadinca, mandaram-me à noite montar segurança junto à pista de aviação. Claro que foi chegar, assentar, adormecer e ressonar… O Pelotão quase que entrou em pânico, com o Sambaro a empunhar a bazuca.

Despertei, disfarcei… e ninguém me disse nada.

No dia seguinte, quando me preparava para de novo ir montar segurança, o Monteiro, um pouco atrapalhado, fez-me entrega de um bornal, dizendo-me:
- Tem uma almofada para o meu alferes encostar a cabeça.

Percebi, agradeci e foi remédio santo. Desde então, nunca mais deixei de usar o tal bornal.

Creio que foi em Maio de 71 que os Paras saltaram em Missirá com destino a Madina. Com eles e não sei porquê, também ia eu por ordem do Polidoro. Chegaram e logo notei que a minha ida não era do agrado do Capitão.

Aliás ao ver-me, franziu a testa e deve ter pensado:
- Porra, mas para que preciso deste gajo? - E com razão!

Apresentei-me, como de costume, de galões, sem arma, com o meu pingalim prateado…

Partimos e a uns três quilómetros fomos sobressaltados pelo restolhar do mato. Vem aí alguém!... Os Paras pararam e prepararam-se para o pior… Felizmente antes de ver, ouviu-se:
- Alfero, alfero!!! A almofada!
- Almofada? – interrogaram o Capitão e a Companhia inteira.

Só eu entendi. O meu fiel Soldado Mamadú cumprira mais uma missão.

Jorge Cabral

________

Notas de L.G.:

(*) Ex-Alferes Miliciano de Artilharia, comandante do Pel Caç Nat 63, Fá Mandinga e Missirá, Sector L1 - Bambadinca, Zona Leste, 1969/71 . Actualmente, jurista e professor universitário. Vive em Lisboa.

(**) Vd. último poste da série > 9 de Julho de 2008 >Guiné 63/74 - P3040: Estórias cabralianas (37): A estranha 'missão' do Badajoz (Jorge Cabral)

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá Meu Caro Jorge: deste férias ao fulano e só apareceu uma estória. Daí foi o Luis Graça que se encantou com "algo"* vide acima - e perdeu a dita. Olha que a almofada não trata só o ressonar. Havia na minha Cart e ia para o mato com a almofada, um Camarada que sem ela não se "aquieta" e era bravo...na Lança Afiada - (aquela Operação de estoira mais nossos que deles)- viajou a dita de héli e repousou sorridente o tal militar...aquietou-se. Não se diz o nome. Sabes, como estou sem sono e só, ainda vou tentar encontrar uma (almofada claro)Abraços Torcato - Falta uma estória

Anónimo disse...

Caros Senhores:

Tivemos oportunidade de há cerca de seis meses, lhes enviar o que a seguir transcrevemos. Faço novamente em nome pessoal (sou um dos membros do grupo), porquanto o texto do vosso blogue continua a apresentar o mesmo erro, o que nos leva a crer que o vosso sistema de recepção de mensagens, tenha considerado "spam" o que então foi enviado.



“Somos um conjunto de pessoas interessadas na conservação correcta da nossa língua.
Assim detestamos, em particular, a importação de palavras (estrangeirismos), quando temos palavras na nossa língua que significam o mesmo.
Esta é a parte principal da nossa filosofia.
Dedicamos parte da nossa atenção a pesquisar muito do que se passa nos "blogs"
(aportuguese-se esta palavra para blogues e estamos de acordo, porquanto simplifica tudo o que ela significa), e reparamos no assassínio em massa da nossa língua.
Tomamos a liberdade de chamar a atenção dos seus autores para discrepâncias notadas. Não fazemos a todos, só àqueles que tem nível elevado dentro do que se propõem fazer.
Tivemos o prazer de verificar que o vosso trabalho é de elevado mérito o que muito nos apraz.
Queríamos só chamar a vossa atenção para o facto de aparecer com bastante frequência a palavra "estória", que não faz parte do nosso léxico, ela significa "conto" (é uma versão brasileira de "story").
Mesmo que ela fosse adoptada pela nossa língua, continuaríamos a ter razão, pois que, aquilo que os senhores pretendem é fazer "HISTÓRIA" com "histórias" e não com "contos".
As nossas desculpas pela intervenção e os maiores êxitos na vossa cruzada.

Respeitosos cumprimentos"

Temos agora oportunidade de expressar a nossa satisfação por ver que a nossa opinião é corroborada por elementos da vossa tabanca. Lemos atentamente a vossa troca de impressões sobre o assunto e os fundamentos a que recorreram. Contudo apesar disso, continuaram a utilizar posteriormente a mesma palavra. Compreendemos que seja morosa a correcção de todos os textos, mas pelo menos nos futuros deveriam evitar tal palavra.

Com os melhores cumprimentos e continuação do êxito da vossa obra

Ricardo Avelar