1. Texto do editor do blogue:O António da Silva Batista (1) foi vítima de um processo kafkiano: primeiro, morreu, não fisicamente, mas socialmente. Depois, roubaram-lhe a memória, roubaram-lhe os dias e as noites que passou no cativeiro!
Caído numa emboscada com o seu grupo de combate, foi feito prisioneiro e levado para as prisões do PAIGC, primeiro em Conacri e depois em Madina do Boé; o Exército deu-o como morto, tendo alguém (que não o Alf Mil Médico Azevedo nem o Fur Mil Enf Basto) passado uma falsa certidão de óbito.
O Batista foi contabilizado entre o monte de cadáveres desmembrados e calcinados, que ficaram na picada do Quirafo e levados - os restos - para os balneário do Saltinho. Quem tomou essa decisão, de ânimo leve ? O Capitão da CCAÇ 3490, do Saltinho ? O comandante do BCAÇ 3872, de Galomaro ? No mínimo, há aqui descuido, incompetência, grosseira insensibilidade, desumanidade!...
O Exército (e a PIDE/DGC que deve ter interceptado as cartas que ele enviava do cativeiro para a família, através da Cruz Vermelha…) nunca mais quis saber dele… E a prova é que o mantiveram na lista dos mortos… durante muito tempo… Hoje, felizmente, já não consta, pelo menos, da lista (oficiosa) dos Mortos do Ultramar da Liga dos Combatentes...A odisseia do Batista, no pós-25 de Abril, do Porto a caminho de Lisboa, munido de um certidão de óbito (!), gastando tempo, dinheiro e emoições para recuperar a sua identidade (como vivo!) e a sua dignidade (como português, homem, cidadão e militar!) é outro processo kafkiano!...
Amigos e camaradas: este caso, mesmo passados muitos anos, deveria incomodar-nos a todos e sobretudo indignar-nos! Como ao Paulo Santiago, que aqui escreveu: Filhos da puta!... Roubaram-lhe, na caderneta militar, os 27 meses de cativeiro!...
O Exército ainda deve uma reparação, mesmo que seja meramente simbólica e moral, ao nosso camarada António da Silva Batista, a quem eu proponho que aceite figurar na nossa lista de amigos e camaradas da Guiné!
É o gesto mais elementar de solidariedade que nós, todos nós, podemos ter para com ele, acarinhando-o e ajudando-a lidar melhor com uma vida passada feita de pesadelos. Espero que o Paulo e o Álvaro possam fazer-lhe chegar esta singela homenagem do nosso blogue, e que ele a aceite!
O editor do blogue, Luís Graça.
____________
Nota de L. G.:
(1) Vd. posts de 22 de Julho de 2007:
Guiné 63/74 - P1983: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (1) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)
Guiné 63/74 - P1985: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (2) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)
2 comentários:
Absolutamente de acordo.Quantos mais casos,como este ,haverá ?
Um abraço,
antónio pimentel
Mail: a44_pimentel@hotmail.com
Correcção:
(...) O Exército nunca mais quis saber dele… E a prova é que o mantiveram na lista dos mortos… durante muito tempo… Hoje, felizmente, já não consta, pelo menos, da lista (oficiosa) dos Mortos do Ultramar da Liga dos Combatentes...
Deixem-me abrir aqui um parênteses para falar do longo braço da PIDE/DGC (mais mito que realidade ?): a PIDE/DGS deve
ter interceptado as cartas que ele enviava do cativeiro para a
família, através da Cruz Vermelha; mesmo admitindo que o seu braço não
fosse assim tão longo, a PIDE/DGS tinha agentes infiltrados no PAIGC,
e estava em Conacri... Quem pode falar disto, ex-cátedra, é o nosso
Doutor Leopoldo Amado...
Mas alguém se iria preocupar com a
insignificante existência de um pobre coitado como o Batista ? (...)
L.G.
Enviar um comentário