quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15331: Os nossos seres, saberes e lazeres (125): Obras escultóricas urbanas de Armando Ferreira, ex-Fur Mil da CCAV 8353 (2)

1. Relembrando o que nos dizia a certa altura da sua apresentação ao Blogue o nosso camarada Armando Ferreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 8353, Cumeré, Bula e Pete, 1973/74):  

[...]
Nasci em Alpiarça e aos dez anos parti para Lisboa, aí estudei em escola de artes e trabalhei, e muito mais tarde regresso para ter espaço físico na realização com o meu trabalho.
Tenho dois filhos e dois netos, e estou disposto a fazer seja o que for para que a minha família e as outras, terem direito ao país onde nasceram e receberam a sua própria cultura, TER A VIDA COM FELICIDADE.
Sou escultor de profissão, o meu trabalho está entre o Realismo e Expressionismo e tenho neste Portugal muitas esculturas urbanas, representando: feitos, heróis, individualidades, conjuntos escultóricos de grande dimensão, alegorias etc.
Trabalho em pedra e em bronze. Estou representado em vários países.
[...]


Publicação do segundo grupo de fotos enviadas enviadas ao Blogue*:

Ao Senhor Jesus dos Lavradores


 Homenagem a Passos Manuel


Homenagem Nacional a Maria Lamas



Homenagem à Juventude




José Saramago - Azinhaga


 Marcolino Nobre - Rio Maior

O Oprimido
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Notas do editor

(*) Poste anterior de 3 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15321: Os nossos seres, saberes e lazeres (123): Obras escultóricas urbanas de Armando Ferreira, ex-Fur Mil da CCAV 8353 (1)

Último poste da série de 4 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15324: Os nossos seres, saberes e lazeres (124): Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (5) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P15330: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (XX Parte): Hospital Militar 241; Mamadú; Fuga? e Só água fria por baixo

1. Parte XX de "Guiné, Ir e Voltar", enviado no dia 5 de Novembro de 2015, pelo nosso camarada Virgínio Briote, ex-Alf Mil da CCAV 489, Cuntima e Alf Mil Comando, CMDT do Grupo Diabólicos, Brá; 1965/67.


GUINÉ, IR E VOLTAR - XX

1 - Hospital Militar 241 

Foi acordando à medida que tomava consciência do que se passava naquele quarto e do local onde estava. 
Lembrava-se vagamente do que se tinha passado, de querer dizer que não era preciso, mas não conseguia falar, só ouvia vozes, o médico do batalhão de Mansoa a dizer que o iam levar, o Furriel Valente de Sousa a dizer que talvez não fosse necessário e a voz do Tenente-Coronel Lemos a dizer que o médico é que sabia. A seguir, deve ter adormecido, a ideia de ir numa maca, de o terem metido numa cama, de acordar encharcado em suor, de mudança de lençóis, de tiritar de frio, mas nem tinha a certeza de que tivesse sido assim, que é que interessava também agora! 
Passou o dia agitado, inquieto. Barulhos de motores, vozes altas no corredor. Dormia, acordava com as vozes e os motores, adormecia outra vez, motores e vozes de novo acordavam-no. De vez em quando, um enfermeiro perguntava-lhe qualquer coisa, enquanto lhe dava uma injecção ou mexia num frasco dependurado ao lado da cama. 

Bissau, Hospital Militar. Imagem da net. 

Dois companheiros no quarto, um capitão e um alferes. O capitão apanhou com estilhaços de uma granada de morteiro no braço esquerdo, já tinha sido operado duas vezes e ouviu-o dizer que ia ser evacuado para a metrópole. O alferes tinha pisado uma mina, amputaram-lhe uma perna acima do joelho e cortaram-lhe mais qualquer coisa, segundo depreendeu da conversa entre o enfermeiro e o capitão. 

Está muito melhor, o sargento enfermeiro virado para ele. Sem febre desde ontem. Agora é comer e beber uns uísques. Se tivesse bebido alguns talvez não tivesse apanhado paludismo. Para ele, não deve ter sido por falta de uísque, foi a picada do mosquito e o Dar-a-Prim1 que já não tomava desde que saíra de Cuntima.
O médico não tinha vindo de manhã, apareceu para fazer a visita a seguir ao almoço com o sargento enfermeiro atrás. 
Entrou por ali dentro bem-disposto. Olhou-o de relance, trocou algumas palavras com o enfermeiro, perguntou-lhe se já se tinha posto a pé. Claro, como é que havia de ir aos lavabos? Acha que pode ter alta hoje? 
Parabéns senhor capitão, isto está a evoluir muito melhor do que pensávamos, talvez já nem seja necessário evacuá-lo, não sei, amanhã vamos tirar-lhe umas radiografias e depois tomamos a decisão. 
Veja lá, doutor, eu tenho que ficar completamente bom. Em Lisboa há outros recursos, é melhor tratarem da minha evacuação. Não estou a duvidar da competência do doutor, claro, mas em Lisboa há outras possibilidades. 
Vamos ver, amanhã vamos radiografar esse braço e depois decidimos. 
E depois, para o alferes da ponta, então, este artista tem cantado muito? 
O alferes não lhe respondeu, mantinha-se com um ar ausente, não estava ali. E o major médico a insistir, então, gastou o gás todo a noite passada, não? O alferes tinha passado uma noite como as anteriores, uma noite muito má. As luzes estiveram quase toda a noite acesas, duas ou três vezes, que tenha dado por isso, entrou gente lá dentro, para o picarem, sem perguntarem nada ao desgraçado. 
E, de repente, falou. Você é médico ou palhaço, o alferes desalmado, ouça lá, seu cabrão, se acha que tem graça vá trabalhar para o circo! 
O coitado do médico, a cara desconsolada como se tivesse levado com um balde de chichi velho pela cabeça abaixo, o artista da ponta cheio de gás outra vez, filho da puta, nós no mato a dar os braços, as pernas, o coiro todo e este palhaço a vir para aqui gozar com a malta. Respeitinho, seu cabrão! 
O médico virou costas, a murmurar qualquer coisa que ninguém ouviu. 

Ao olhar para a janela, deu-lhe a vontade de sair porta fora. Pôs o pé no chão, a cabeça rodou-lhe lá dentro, frio pelo corpo abaixo, manchas esbranquiçadas a subirem pelas paredes, a cabeça outra vez na almofada, o coração disparado, suor a correr. O vizinho do lado, não se sente bem? 
Enfermeiro à beira da cama, mão na testa, deixe-se estar quieto, deve ser tensão. Alguém lhe meteu um termómetro enquanto o sargento lhe via as tensões. É, estão baixas. Umas punhetas de bacalhau agora é que lhe faziam bem, levantam-lhe tudo. 
Por volta das 6, hora de jantar, entraram carrinhos a deitarem fumo pelos pratos. O da cama da ponta não conseguia, aos arrancos, aguadilha a escorrer-lhe da boca, engasgava-se, tossia-se todo. 
Quando chegou a sua vez, empurrou o carrinho do prato para o lado, uma massa com carne picada no meio, tudo muito branco. 
E a minha punheta? Quê, a jovem guineense, solas brancas dos pés maiores que ela. 

Sentou-se a desenrolar o pacote de cartas que o Valente de Sousa lhe tinha trazido de Mansoa. Separou-as, as dos pais para cima da cama que os bons conselhos têm tempo, as outras em cima dos joelhos. Abriu-as, ordenou-as por datas, como de costume, o perfume dela a entrar-lhe pelo nariz afinado. 
A olhar pela janela fora, não a via, mas desenhava-lhe as bochechas redondas na cara, os gestos dela, o andar alegre, despachada. Começou a ler devagar como gostava, a ver-lhe as letras apressadas, desenhadas em redondo, até as riscadas, o capitão a interrompê-lo, a querer ler a Bola. 

O alferes a esta hora já está a caminho da metrópole. Para onde? Agora deve ir para a Estrela, para o anexo dos oficiais, um edifício novo junto à Basílica, depois deve fazer o itinerário do costume, Alcoitão, Alemanha, é conforme. Põem-lhe as próteses onde puderem, que há outras que ainda não se fazem, não é? Depois? Depois, se o comandante da companhia dele fez as coisas como devia, o louvor já deve vir a caminho, a seguir dão-lhe uma Cruz de Guerra, 2.ª Classe, talvez, e até podem promovê-lo a tenente. Para onde vai? 
Sair, sair daqui, é o que vou fazer depois de arrumar esta tralha.
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Nota
1 - Anti-palúdico
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2 - Mamadú

Os turras também têm os seus problemas, tal como nós, até mais agudos, espero. Uma organização como a deles, muito jovem ainda, a crescer uns por cima dos outros, claro que alguns que ficam por baixo, mais corajosos ou imprevidentes, tomam o freio nos dentes, ultrapassam as directivas do Partido, põem-se a fazer coisas. Se resultam, se nos causam mossa, são louvados e às vezes, como aconteceu com o Nino no Sul, ficam outra vez em cima, são promovidos e tal. Se o custo da imprevidência for pesada, ou que os comissários considerem demasiado alta, pagam-na cara, claro! Parece, parece que estamos num caso desses. 

Acampamento do PAIGC. 
Fonte: Nordic Documentation on the Liberation Struggle on Southern Africa. Com a devida vénia. 

Um tal Mamadú Injai, não, não deve ser esse em que estão a pensar, Mamadús há-os às centenas aqui, Injais nem tantos, mas muitos também. Adiante, para atalhar caminho, o tal Mamadú Injai que, até este momento, só eu e o nosso major aqui conhecemos, apresentou-se há dois dias na tabanca aqui atrás, a um parente dele. 
Estes Mamadús como todos sabemos têm parentes no Oio, no Gabú, no Cantanhez, têm primos e sobrinhos, em toda a Guiné Portuguesa, Senegal, Gâmbia, Guiné-Conacri, Mauritânia, por aí fora. 
Bom, em conversa com o tal parente manifestou o desejo de falar com o chefe da tabanca, apresentar-lhe uma questão, sem avançar mais nada. Este Mamadú já há muito que sabia que o chefe da tabanca é um tipo da nossa confiança, total não digo, mas enfim, até agora tem dado provas de ser um aliado da nossa maneira de estar na Guiné. Temos tratado de algumas necessidades da tabanca, consegui, inclusive, que o Governo-Geral aprovasse uma espécie de tença anual. 
O homem grande da tabanca sabia com quem estava a falar, recebeu-o com prudência, que só queria o bem-estar da população, que mantinha com as nossas tropas relações amistosas, que eram bem tratados, que tinham médico à disposição para o que fosse preciso, que ainda há tempos tinha sido incansável na assistência aos nascimentos, dois partos numa noite, que elas resolvem parir quase todas ao mesmo tempo, não sei bem como combinam, se têm algumas regras entre eles e elas, se calhar até têm. 

Parto na Guiné. 
Fonte: Nordic Documentation on the Liberation Struggle on Southern Africa. Com a devida vénia. 

Bem o nosso homem grande lá lhe foi dizendo que compreendia as razões do Partido, os esforços gigantescos que faziam contra a tropa, com aviação, marinha e tudo, mas o partido também tinha de compreender, que ele como chefe da tabanca, tinha a obrigação de entender as necessidades da população, ir ao encontro delas, etc, etc, etc. 
Para grande surpresa dele, o Mamadú, começou a dizer que alguns do Partido, principalmente os cabo-verdianos, não gostavam do entendimento dele com a nossa tropa, mas o Injai estava de acordo, o Partido sim, mas só depois das necessidades do povo. Que, assim, não só via com bons olhos o trabalho que o homem grande estava a fazer, como tomava a liberdade de lhe dizer que se todos fossem como o homem que estava à sua frente, muitos problemas nem sequer existiam. 
E mais, que o Partido estava a passar por grandes dificuldades, tão grandes que até o Abel Djassi, nome de guerra do Amílcar Cabral, como sabem, tinha tido alguns problemas com camaradas que não viam com bons olhos tanto cabo-verdiano na cúpula e tanto balanta, tanto manjaco, tanto mandinga, tanto fula até, tanto guineense afinal, na frente armada. 
Muito problema, homem grande, para tão pouco guerrilheiro e tanta tropa, esta luta vai durar anos e anos, no nosso tempo não vai acabar de certeza. 
Pelos vistos, no essencial, os dois estavam de acordo. 
Qual então a razão da visita de Mamadú, para além de partir mantenhas? Bom, ele Mamadú, bem gostaria de prestar apoio ao homem grande da tabanca, mas este desconfiado, disse que tudo estava a correr bem com a nossa tropa. 
Continuando, dizia eu que o homem grande da tabanca agradecia muito a visita, que dissesse ao Partido que, afinal, ambos deveriam querer o bem da Guiné, e que se estavam a dar muito bem com a tropa de Mansoa. 
Mamadú não despegava e o chefe da tabanca estava cada vez mais desconfiado, mas seguro dos dois homens seus da tabanca, cá fora para o que desse e viesse. Então o Mamadú, de repente, disse-lhe que se vinha entregar a ele, para fazer dele o que quisesse, entregá-lo à tropa até. 
Os senhores estão a ver a cara do homem grande, não é difícil de imaginar, não é? Pois, nosso alferes, tem à sua disposição um homem que o vai levar a Morés.

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3 - Fuga? 

Um turra, apresentado ainda por cima, sem ninguém pedir, nem apanhado foi, a querer agora levar-nos a Morés? Qual Morés, já conheci três ou quatro, acho que isto traz água no bico, o meu alferes é que sabe, mas isto cheira mais a uma armadilha montada para nós cairmos, interroga-se alto o Valente de Sousa. Ele também tem a perder se as coisas correrem para o torto, não é, o furriel Ázera a contrapor. 
Bom, temos nas mãos um guerrilheiro que até há pouco esteve do lado deles, e que agora se oferece para nos levar a Morés. Algo deve ter corrido mal com ele, o que foi não sabemos. Ele conhece os cantos à casa, os trilhos da zona, os acampamentos maiores e as barracas à volta, ninguém o obrigou, oferece-se para nos guiar até à arrecadação das armas, material pesado e tudo. E nós não acabámos de chegar, já temos uns meses disto, já vimos muito, até guias a fugir. Se nos apercebermos que as coisas estão a fugir do nosso controlo lá estaremos para decidir o que fazer. O que temos a perder? 
A esta hora já mudaram as bases todas! Acho a história mal contada, não sei, não me cheira, se calhar estou a pensar mal, a deitar areia na engrenagem, não sei, insiste o furriel. 
A ideia é irmos na coluna de reabastecimentos para Mansabá, saltamos das viaturas na zona de Cutia, aqui por estes lados e um pouco antes deste trilho metemos para dentro, a apontar o dedo para o mapa da zona. Amanhã, ao anoitecer convocam o pessoal, material conferido, metem-no nas três últimas Mercedes, lonas corridas até baixo, quando houver ordem para sair, temos um minuto para o fazer, as viaturas nem abrandam sequer, rádios sempre ligados. 
A tarde de Mansoa devagar, civis nas calmas pelas ruas, crianças a correr atrás de um aro de bicicleta, um grupo pequeno de soldados numa esplanada, uma tarde igual a outras, um pouco escura, calor sem sol, fardas colada à pele, sovacos encharcados, grandes rodas molhadas nas costas, um peso vindo do céu, em cima de todos, a empurrá-los para o chão, o costume nesta época. 
Ainda não estava completamente refeito das febres, as pernas parece que bamboleavam em vez de andar, manchas claras às vezes. 

Amanhã como vai ser, vais ter força para andar, vais-te aguentar nas canetas? Ora, quando as coisas aquecem, as forças vêm de todo o lado, poupa-te no início, reserva-te para a hora, depois deixa as coisas acontecerem. 

Com o Ázera ao lado, a fazerem horas, sentados a uma mesa da esplanada, o Valente de Sousa apareceu-lhes por trás. O Tenente Coronel Lemos quer falar consigo. 

Como foi não sei, apenas que o homem grande me apareceu muito constrangido, a contar o que tinha acontecido e que você já sabe, agora como foi não sei, não sei mais nada. A olhar para ele, a cara desolada do tenente-coronel. 
Custava-lhe a acreditar no que o velho negro de barba branca estava a dizer, a voz aguda, aos solavancos, os olhos com manchas vermelhas. 
Mamadú desapareceu na tabanca, foi Fatma quem chamou, ninguém sabe nada, juntei pessoal, perguntei quem sabia, ninguém viu, ninguém sabe, eu também não, nosso alfero! A túnica a arrastar-se pelo chão, as sandálias de plástico, pó fino a levantar-se, como posso saber como fugiu, nosso alfero, mas fica descansado, vou saber quem sabe. 
Fácil, não é, homem grande? 
Eu não dizia? Era uma história mal contada, meu alferes! Ainda por cima, deixaram-no andar por aí, a falar com este e aquele, a visitar as instalações como se fosse um convidado. 

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4 - Só água fria por baixo 

A Teresa fora um simples conhecimento, no início só para passar o tempo. Engraçou com dela, os olhos, primeiro que tudo, atraíram-no, meteram-lhe medo, quis espreitar, e ela mostrou-lhe outras coisas que tinha. Uma moça diferente das que conhecera aqui, estas sim só para passar as mãos pelas redondezas delas e depois parágrafo. 
Com a Matilde nem conseguiu viver debaixo do mesmo tecto. Adiantou-lhe um mês de renda para a casa, a caminho do Cupilom, equipada com tudo, apenas para os intervalos das guerras, tomar uma chuveirada com ela, levá-la ainda molhada nos braços para o quarto, um banho outra vez, vou dar uma volta, hoje não posso ficar, tardes e noites seguidas, sempre assim. Nem conseguiu dormir com ela uma noite inteira que fosse, no início ainda disse que tinha compromissos no quartel, um serviço qualquer para fazer, ela a desconfiar que fosse outro motivo, mas não. 

Estou habituado à minha almofada, trá-la então, à minha cama, trá-la também, traz tudo contigo. Ainda não percebeste, quero homem que viva comigo! 
E deixou-a sempre. Teve pena muitas vezes de a deixar, custava-lhe suportar os olhos dela. Chatices que arranjou e arrumou sempre, melhor ou pior. Porquê? Matilde, gosto de ti, do teu rosto, do cabelo negro que te fica tão bem assim, do teu peito pequeno e tão bem feito, da tua barriga lisa, das tuas coxas redondas, das pernas como nunca vi, da tua cor. A tua figura toda, mas acho que tu e eu queremos outras coisas que os dois não temos. Mais nada, Matilde. É melhor seguirmos cada um o seu destino, amigos para sempre. 
Sacana, porquê? Matilde, não posso ficar mais tempo, tenho que me ir embora! Fica aqui um mês de renda para te arranjares. Não queres, deita-o pela janela fora, faz o que quiseres dele, esse dinheiro é teu, um beijo, Matilde, não dás? 
Os outros casos foram entretimento para dois, sem dinheiros nem nada. 

A Teresa já não é só Teresa como se apresentou da primeira vez, foi muito mais do que aquilo que esperavas. 
Os olhos, o sorriso, a figura, o andar dela, foi o que te interessou, de início, não? Depois viste outras coisas nela, de que não estavas à espera e muito menos aqui? O gosto pela leitura, de assuntos em que nem tu próprio estavas sensibilizado, nem estás, a solidariedade, o interesse pelo povo guineense. A cultura geral, invulgar para a idade dela. 
E a disposição para te afrontar, para lutar contra ti, contigo, puxar por ti, lutar pelos ideais dela. Para te dizer na cara, com aqueles olhos magníficos, aquilo que ela achava no seu direito de dizer. Os teus olhos a fugirem, os ouvidos que não queriam ouvir, tu a disfarçares, com a mão nela, como quem diz, vamos mas é ao que interessa. 
Um merdas, um merdas como aquele que viste em Bigene, nem sempre com cheiro a uísque azedo, mas um merdas na mesma. A aproveitares-te da sensibilidade dela, a fazeres-te caro, de um momento para o outro, a invadi-la com as tuas mãos, ela a acreditar em ti. 
Nem tanto assim? O que fizeste com ela este tempo todo, o que fizeram os dois juntos, afinal? 
Nada do outro mundo, brincadeiras, uma vez ou outras mais ousadas, mas nada mais do que isso, sempre travaste as tuas incursões e as dela também, e bem te custou às vezes, nem o céu imagina. De resto, das tuas mãos está inteira, ou quase, não te lembras de lhe deixar marcas irreparáveis, fisicamente falando, claro. Então porquê esta atrapalhação toda, porque não vais falar com ela, directa nos olhos, assim, Teresa, já não há razões para continuar, vamos dar por terminado o nosso conhecimento, começámos porque achámos graça um ao outro e, pelos vistos, este tempo passado diz-nos que é melhor acabarmos, e pronto. Já agora, continua merdas até ao fim! 

Os olhos dela não queriam acreditar, insistentes, as mãos amarradas aos braços dele, depois largou-os de uma vez, um passo para trás a tomar balanço. 
Como quiseres! Não me vou perder a chorar por aí, não penses. Fui ingénua, enganei-me, pensei que eras verdadeiro, que tinhas sentimento. É melhor assim. Olha, há tempos, quando estava a ler um livro ali, algo me fez pensar em ti, de uma forma diferente do costume. Pensei que fosse só impressão minha, mas não, agora já sei porque me lembrei de ti naquele momento. Afinal, és exactamente o que pareces, dentro de ti não há calor nenhum. Como o gelo, quando se quebra é só água fria por baixo. Só tens água fria por baixo. 

(Continua)
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Nota do editor

Poste anterior da série de 29 de outubro de 2015 Guiné 63/74 - P15303: Guiné, Ir e Voltar (Virgínio Briote, ex-Alf Mil Comando) (XIX Parte): Chegou a 3.ª Companhia de Comandos e Pesadelo

Guiné 63/74 - P15329: (Ex)citações (299): A tripla vacinação que tínhamos de fazer, antes de embarcar para o CTIG: febre-amarela, cólera e varíola (António M. Sousa de Castro, ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74)













Cópias dos certificados internacionais de vacinação contra a febre-amarela, cólera e varíola, emitidos pela Direção do Serviço de Saúde do Ministério do Exército. 


Fotos: © Sousa de Castro (2015). Todos os direitos reservados. (Edição: LG]




1. Mensagem, de 1 do corrente, do [António M. ] Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), na sequência do poste P15307 (*):


Caros amigos,

Não foi só a vacinação contra a febre-amarela (*), foi também contra a varíola e a cólera, conforme se pode constatar no meu certificado de vacinas internacional, passada na Província da Guiné.

Este certificado foi pedido por mim, creio que em Bissau antes de vir embora,  no sentido de poder emigrar. 

Para além disso, tenho os três certificados individuais aquando da vacinação obrigatória antes de embarcar, passado pela Direcção do Serviço de Saúde do Ministério do Exército. (**)

Ao dispor,

A. Castro




2. Comentário do editor:

Segundo o Portal da Saúde  [, Consulta da Saúde do Viajante],  "o Regulamento Sanitário Internacional em vigor estipula que a única vacina que poderá ser exigida aos viajantes na travessia das fronteiras é a vacina contra a febre amarela. Nesse sentido, todos os Centros de Vacinação Internacional devem administrar a vacina contra a febre amarela a todos os utentes que a eles se dirijam, desde que portadores de prescrição médica."

Há, no entanto,  alguns países não autorizam a entrada no seu território sem o comprovativo de vacinação contra outras doenças. "É o que acontece com a vacina contra a doença meningocócica, imposta pela Arábia Saudita aos peregrinos que se dirigem a Meca. A Arábia Saudita exige ainda, como outros países, a vacina contra a poliomielite, a quem é proveniente de um dos quatro países onde o vírus é endémico (Afeganistão, Nigéria, Paquistão e Índia)."

Na época da guerra colonial, havia ainda o risco de cólera e varíola em territórios como a Guiné. O último caso de varíola ocorreu em 1977, na Somália. Foi uma das mais devastadoras doenças infetocontagiosas que os seres humanos conheceram, Foi considerada erradicad pela OMS em 1980. A cólera é uma doença endémica, havendo de tempos a tempos surtos epidémicos em países onde a saúde pública ainda é defiociente (como é o caso da Guiné-Bissau, Angola ou Brasil). A doença é de notificação obrigatória mas a vacinação já não o é, de acordo com o  Regulamento Sanitário Interncional (RSI).

A vacina contra a cólera é recomendada pela OMS para aplicação em viajantes com destino às áreas onde ocorrem casos de cólera, e possa haver contacto com doentes,  mas não é disponibilizada pelo  nosso Programa Nacional Vacinaçãom, não garantindo de resto imunidade duradoura. As únicas vacinas obrigatórias em Portyfgal, hoje em dia, é a do tétano e difteria. Em, setembro de 1971 houve surto de cólera na área metropolitana de Lisboa. Em 1969, o pessoal militar era apenas vacinado contra a febre-amarela, a crer no depoimento do nosso camarada António Tavares.

O atual Regulamento Sanitário Interncional (RSI) está em vigor nos 193 Estados membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 15 de Junho de 2007. É um acordo internacional juridicamente vinculativo. Tem por objectivo a prevenção e o combate às ameaças de saúde pública mundial. (Ver versão em português do RSI, disponível no sítio do INSA).




"Uma caderneta que todo o militar teve no dia da vacinação [contra a febre-amarela]. É de notar que a vacina era dada quase no fim da recruta talvez por hipotéticas reacções negativas do organismo dos militares. Recruta dispendiosa para a Fazenda Pública e a necessidade, maior ou menor, consoante a época do ano, do 'despacho' dos Homens para a guerra. Assim, uma recruta não podia ser perdida nem repetida. Seria tempo perdido para os militares. Os governantes da época pensavam nos 'Prós e Contras' "... Repare-se que o certificado é emitido, em 1969, pela Escola Nacional de Saúde Pública de de Medicina Tropical, criada em 1966.

Foto (e legenda) : © António Tavares  (2014). Todos os direitos reservados. (Edição: LG]

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(...) Cumpridos os procedimentos administrativos que antecederam o embarque para o CTIG, como seja a vacinação obrigatória efectuada no Hospital do Ultramar, sito na Junqueira, Freguesia de Alcântara [Lisboa], uma unidade de saúde que, a par do Instituto de Medicina Tropical [IMT], funcionavam na dependência do Ministério da Marinha e Ultramar e que se destinavam a dar assistência médica aos funcionários civis e militares em trânsito, de e para o Ultramar Português, incluindo os casos com doenças tropicais e infecciosas. (,,,) 

(...) Concluído o processo de vacinação sem efeitos secundários e expirados os dias de férias atribuídos no processo de mobilização, eis que é chegado o dia «D» – o da despedida – e, concomitantemente, o da partida aprazada para 23 de Março de 1972, uma 5.ª feira. (...)


(**) Último poste da série > 3 de novembro de 2015 >  Guiné 63/74 - P15319: (Ex)citações (298): Um peso era manga de patacão... para a bajuda de Mansoa (César Dias, ex-fur mil sapador, CCS/BCAÇ 2885, 1969/71)

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15328: Inquérito 'on line' (15): quatro em cada dez respondentes acha que uma nota de 100 pesos era muito ou bastante patacão... Votação termina 5ª feira, dia 5, às 14h30

1. INQUÉRITO DE OPINIÃO: 

"NO MEU TEMPO, CEM PESOS ERA MANGA DE PATACÃO"


1/2. Era muito ou bastante dinheiro  > 
26 (40,6%)

3. Era assim-assim, nem muito nem pouco > 17 (26,6%)
4/5.  Era pouco ou muito pouco dinheiro >  
 17 (26,6%)

 6. Não sei / não tenho opinião > 
4 (6,2%)


Votos apurados: 64 (100,0%)
A votação termina dia 5, 5ª feira, às 14h50


2. Comentário de Ernesto Ribeiro (ex-1.º cabo, CART 2339, Fá Mandinga e Mansambo, 1968/69), com data de ontem:

Boa Tarde, Luís

O meu obrigado pelo teu trabalho com o Blog.

Lembrei-me de um episódio com o Patacão.

Tenho uma filha que nasceu em abril de 1968, ou seja,  passados cerca de 4 meses de ter chegado a Fá de Cima. Claro que logo se colocou a possibilidade de vir à Metrópole para a conhecer, vai daí,  e como o Capitão da minha companhia iria estar no Porto,  cidade onde também residia, pedi-lhe para que fosse portador do dinheiro para eu pagar as passagens aéreas. 

O senhor,  muito solícito,  acedeu ao meu pedido.  Vai daí, levou com Bruta Pescada Fresquinha, pois a minha sogra tinha uma banca de peixe, e o valor das passagens em escudos (da metrópole)... Já não lembro qual foi o quantitativo [, mas deve ter sido 6 contos e tal]. 

O mais engraçado foi que o senhor entregou-me o mesmo valor mas em pesos [escudos da Guiné, que valiam menos 10%...]. 

Enfim, teve um ganho de mais de 600 escudos, manga de patacão! Grande negociante!...

Mas haja alegria e algum... patacão.

Guiné 63/74 - P15327: Louvores e condecorações (10): Os bravos Copá, da 1ª C/BCAV 8323/73, que resistiram durante mais de um mês ao cerco do PAIGC


Guiné > Zona leste > Setor L6 > Pirada > BCAV 8323/73 (1973/74) > 14 de fevereiro de 1974 > O 4º Grupo de Combate da 1ª C/BCAV 8323/73, homenageado na parada pelo ten cor Jorge Matias, um dia depois da sua retirada do destacamento de Copá,

Foto: © António Rodrigues (2015). Todos os direitos reservados. (Edição: LG]





António Rodrigues,
um dos bravos de Copá
Louvor aos "bravos de Copá": ordem de serviço nº 9, de 12 de abril de 1974, da 1ª C/BCAV 8323/73. Copá veio à baila na sequência do poste P1523 (*)...

Depois de um dos dias mais violentos de toda a guerra da Guiné, em 7/1/1974 (**) a guarnição de Copá, junto à fronteira com o Senegal [vd. carta de Canquelifá], fica reduzida a escassas três dezenas de militares metropolitanos, mas conseguiu resistir por mais um mês ao ternaz cerco do PAIGC, abandonando  depois aquela posição em 12/13 de fevereiro de 1974, por decisão do Com-Chefe. (**)

Em 14/2/1974, o comandante do batalhão, o ten cor Jorge Matias, presta uma homenagem pública (e emocionada), na parada de Pirada, aos bravos de Copá (***).

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 4 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15323: Em busca de... (239): Pessoal de Pirada ao tempo do BCAV 8323/73... Quem ouvir falar do episódio em que o ten cor cav Jorge Matias terá recebido, em janeiro de 1974, por intermédio do comissário político do PAIGC, em Velingará, um tal Biai, um pedido de Luís Cabral para entabular conversações com as autoridades portuguesas? (José Matos, historiador)

(**) Vd. postes de:

7 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14128: Memórias de Copá (3): Janeiro de 1974 (António Rodrigues, ex-sold cond auto, 1ª CCAV / BCAV 8323, Bolama, Pirada, Paunca, Sissaucunda, Bajocunda, Copá e Buruntuma, 11973/74)


(...) 7 de Janeiro de 1974: o dia mais infernal por que já passei

Na mesma altura em que saiu o pelotão, partiu também para outra zona do mato, nos arredores de Copá na direcção da fronteira com o Senegal, um Africano civil que era nosso informador, que passadas algumas horas chegava com más notícias, disse-nos ele que ali próximo o PAIGC estava estacionado com várias viaturas carregadas de munições para atacar Copá, o que na verdade se veio a concretizar nesse mesmo dia.

Na verdade esse dia 7 de Janeiro de 1974 foi para a minha companhia e particularmente para o pelotão destacado em Copá, o dia mais infernal que lá passamos e que, eu já mais esquecerei.

Entretanto do local da emboscada chegava-nos via rádio a notícia mais concreta do que tinha acontecido, dois mortos – o Soldado Rui Silveira Patrício e o 1.º Cabo António Aguiar Ribeiro (...)  os primeiros mortos do meu Batalhão. (...)

Ataque a Copá no mesmo dia durante várias horas (das 17h00 às 22h20), ficando a guarnição reduzida a 29 homens

Mas nesse dia as coisas más não tinham terminado, aí, às cinco horas da tarde desse mesmo dia, com apenas pouco mais de um homem em cada posto (porque o restante do pelotão ainda se encontrava no local da emboscada) concretizavam-se as informações que tinhamos recebido de manhã e Copá às dezassete horas em ponto começava a ser atacado de novo pela artilharia do PAIGC.

Os poucos que ali nos encontravamos metemo-nos nas valas de G3 na mão à espera do que desse e viesse, pois mais uma vez não tinhamos armas com capacidade de lhes darmos resposta e com dois homens em cada posto lá fomos aguentando o fogo de morteiros 120 e 82 que carregava sobre nós persistentemente, só cerca das 20H00 é que entrou o restante pelotão em Copá debaixo de fogo, quando a maioria da população aos gritos se punha em fuga das suas tabancas que ardiam infernalmente e fugiam em direcção à Republica do Senegal cuja fronteira ficava dali a 3 Kms.

Juntamente com a população fugiram (desertaram) praticamente todos os militares Africanos que ali se encontravam em reforço da Guarnição, ficando apenas em Copá,  naquela noite, um Alferes e um furriel Europeus que comandavam esse Pelotão de Africanos, juntamente connosco o 4.º Grupo de Combate da 1.ª CCAV/BCAV 8323 num total de 29 homens.



Devo dizer que nessa noite vivemos um autêntico ambiente infernal e de terror com tantas chamas à nossa volta, das tabancas e do milho, que ardiam como gasolina, para além do perigo que representava o calor das chamas próximas das nossas munições que podiam explodir em qualquer momento e nós debaixo de tanto fogo, chamas e bombas não sabíamos onde protegê-las. (...)


Novo ataque às 23h50 junto ao arame farpado, com apoio de viatura blindadas e artilharia... Mas Copá resistiu!

E as viaturas encaminhavam-se a toda a força na direcção de Copá e cerca das 23 horas e 50 minutos tudo parou e o ruído deixou de se ouvir, (a falta de iluminação facilitou-lhes as manobras e a instalação à vontade de todo o seu dispositivo) e ficamos na expectativa à espera de mais um momento terrível daquela noite e o meu pressentimento veio a concretizar-se, era exactamente meia noite e dez minutos quando se ouviu o já típico rebentamento que dava início aos ataques do inimigo.

Aí teve início mais uma hora e cinco minutos horrorosos, infernais e terríveis de enfrentar, aí o inimigo estava 10 metros à nossa frente e trazia uma táctica que estava muito bem montada, tinha junto ao arame farpado 3 secções, separadas alguns metros, o que lhe permitiu fazer fogo de armas ligeiras ininterruptamente durante 1 hora e 5 minutos, porque o fazia por secções e quando uma estivesse sem munições a outra estava já preparada para disparar e assim sucessivamente, mas para além destas secções de homens armados de metralhadoras tinham um auto-blindado (tipo ZIG Russo) junto a uma das secções a apoiá-la com os disparos do seu canhão e na retaguarda destas secções tinham toda a artilharia com que nos tinham atacado durante a tarde, esta encontrava-se a cerca de 1 Km também apoiada por outro auto-blindado do mesmo tipo. (...)



31 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14208: Memórias de Copá (4) : Janeiro e Fevereiro de 1974. Memórias da guerra. O abate do último avião na Guiné (António Rodrigues)

(...) Logo que os aviões Fiat começaram a sobrevoar a área de Copá, como de costume, o inimigo calou-se, os Pilotos pediram ao homem das transmissões as referências necessárias e prepararam-se com as manobras que entenderam para bombardear o local indicado, um de cada vez, o primeiro sobrevoou o local, depois baixou de altitude e largou a primeira bomba sobre Sinchã Jadi, enquanto o segundo se mantinha à distância, mas quando o primeiro descarregou a bomba, começou a ganhar novamente altitude, embora estivesse a acontecer uma coisa estranha, ouviu-se um segundo rebentamento e o avião levava lume na cauda, a determinada altura, quando ele já ia bastante alto, vimos perto dele uma pequenina sombra que nos parecia um pássaro a voar, mas logo de seguida o avião guinou para o lado esquerdo, neste caso para o lado do Senegal e começou de novo a baixar, e nessa altura pensávamos nós em Copá que ele iria largar a segunda bomba numa outra base inimiga, que nos estava a flagelar a partir daquela direcção, (PANANG R) mas era puro engano, o avião ia acabar por se despenhar, talvez próximo ou dentro do território Senegalês a cerca de 3 a 4 Kms de Copá, enquanto o piloto que era a pequena sombra que antes tínhamos visto junto ao avião se tinha ejectado ao aperceber-se que fora atingido por um Míssil Russo (Strela Terra-Ar) e desceu de pára-quedas sem qualquer problema, só que, a área onde ele desceu era perigosa, porque era aquela onde se encontrava o inimigo e distante de Copá cerca de 5 Km. (...)

(...) E a nossa vida em Copá era assim diariamente um autêntico inferno, sem um momento de sossego e a toda a hora à espera do pior, os bombardeamentos de artilharia do PAIGC eram em Copá o pão nosso de cada dia, a situação era cada vez mais insuportável, pois éramos apenas 30 a 40 homens, para aguentar aquele aquartelamento, além disso não tínhamos armas capazes de responder às do inimigo, até que depois de tantos bombardeamentos a Copá sem resposta da nossa parte, talvez o PAIGC se tenha convencido de que nós tivéssemos fugido de Copá ou que estaríamos todos mortos, pelo que no dia 11 de Fevereiro de 1974, mandou os seus homens junto de Copá, portanto perto do arame farpado, disparar uns tiros e atirar umas granadas, provavelmente para verificar se ainda lá haveria alguém com vida, o que graças a Deus ainda acontecia com todos nós. (...)

13 de fevereiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14245: Memórias de Copá (6): Fevereiro de 1974 (António Rodrigues)

(...) Entretanto, nesses dias chegava ao comando do meu batalhão em Pirada, uma ordem emanada das autoridades de Bissau para desactivar e abandonarmos Copá, pelo que, no dia 12 de Fevereiro de 1974 logo ao romper do dia chegava a Copá uma forte coluna militar para nos evacuar. (..:) 

Neste dia [13] em que chegamos a Pirada, quando à hora do almoço entramos no refeitório, apareceu-nos lá o nosso Comandante de Batalhão, o [tenente] coronel Jorge Matias, que fez questão de abraçar os homens de Copá um por um,  e quando chegou a vez de abraçar o Alferes Manuel Joaquim Brás, eu que estava a seu lado, tive a oportunidade de ouvir as palavras emocionadas que ele lhe dirigiu, que foram as seguintes: “Ó Brás, tu trazes os teus homens todos vivos? Eu tenho que te pedir desculpa porque em Bolama te chamei básico e afinal és o oficial mais operacional que tenho no Batalhão. " (...)

Logo no dia seguinte, 14 de Fevereiro de 1974, depois do almoço, o comandante de Batalhão [tenente] coronel Jorge Matias mandou formar na Parada do quartel de Pirada a 3.ª Companhia, bem como o pelotão de Copá em frente uma do outro e a seguir fez um discurso emocionado de homenagem aos homens de Copá, durante o qual nos explicou os esforços que tinha feito durante as horas dramáticas de Copá para nos socorrer com reforços e outros auxílios, nomeadamente, na noite de 7 para 8 de Janeiro de 1974, que culminou com a chegada a Copá no fim da tarde do dia 8 de um pelotão de Pára-quedistas. Dizia-nos isto ao mesmo tempo que dizia que nesses momentos rezava a Deus por nós, dizia-o com tal emoção que as lágrimas lhe chegaram a correr pela cara, findo o discurso fez desfilar em continência para nós a 3.ª Companhia, o que também nos emocionou um pouco. 

Foi-nos ainda dado conhecimento de nova mensagem de S. Exa. o Comandante-Chefe que, citando a guarnição de Copá, enalteceu o relevante comportamento da mesma. A culminar esta cerimónia foi-nos dado um louvor colectivo que saiu à ordem com o nome de cada um de nós, falava-se ainda que teríamos um mês de férias na metrópole, o que não veio a concretizar-se, porque passados cerca de dois meses e pouco veio a dar-se a revolução de 25 de Abril. (...).

Guiné 63/74 - P15326: Blogpoesia (423): E é esta a História de Portugal (Mário Vitorino Gaspar, ex-Fur Mil Art MA da CART 1659)

1. Em mensagem do dia 30 de Outubro de 2015, o nosso camarada Mário Vitorino Gaspar (ex-Fur Mil At Art e Minas e Armadilhas da CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68), enviou-nos este poema da sua autoria alusivo à História de Portugal:


E é esta a História de Portugal

Mário Vitorino Gaspar

Portugal é Pátria/ Mátria.
O seu Povo tem História!
O Povo possui sua mestria:
– Contos vastos da memória!

Mas o Povo foi esquecido…
Narrados feitos da fidalguia
Povo sem nome naufraga perdido.
O Povo tem seu cenário do dia-a-dia.

História de reis. Povo a lutar:
– Fica História, Político e o Doutor!
O Povo ergue-se sempre a batalhar.
Republica? História do rei e senhor!

Guerra Colonial? É a Liberdade…
Meio século de povos colonizados.
Aos oprimidos reposta a verdade.
Opressores/oprimidos os Soldados.

Nostalgia da Revolução dos Cravos:
– Militares junto do Povo, é a Liberdade!
A luta foi vencida pelo Povo, seus bravos.
Vitória do Político, que mente de verdade.

O Povo! Tem sua História esquecida?
Heróis, evaporadas as façanhas na escrita.
E a História sem o Povo é empobrecida
Esta e a nossa História. Acredita?

Como sempre lá está a sofrer o Povo…
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Nota do editor

Último poste da série de 31 de outubro de 2015 Guiné 63/74 - P15308: Blogpoesia (422): Com trastes e trapos velhos... (J. L. Mendes Gomes)

Guiné 63/74 - P15325: Inquérito "on line" (14): Spínola sendo muito popular entre a tropa em geral, era impiedoso perante chefes militares seus subordinados que ousassem discordar dele e que não demonstrassem submissão perante o Chefe (Francisco Baptista)

1. Mensagem do nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), com data de 30 de Outubro de 2015, dando a sua opinião sobre a incontornável figura que foi o General Spínola:

O General Spínola foi sempre o Com-Chefe nos dois anos em que estive na Guiné. Confesso que não gostava do estilo emproado dele, de monóculo e bengalim, não sei se copiado dum antigo general inglês ou alemão.

Sobre as suas capacidades de comandante militar, não se pode negar que não desse apoio aos soldados com as suas palavras e a sua presença nas visitas frequentes aos quartéis espalhados pelo território ou mesmo às tropas em algumas operações no mato.

Uma guerra de guerrilha, a história recente do século XX, têm-nos ensinado que não se consegue vencer militarmente. Só se poderá vencer se forem criadas condições sociais e políticas que possam retirar argumentos aos defensores dessa via armada e, acrescento eu, às potencias que apoiam essa solução. Sobre a condução da guerra, do que vi e ouvi, não achei que fosse um grande estratega. A grande operação "Mar Verde" realizada sob o seu comando, planeada e comandada pessoalmente pelo Comandante Alpoim Calvão, já muito debatida no blogue, foi um enorme fiasco. Dos vários objectivos militares e políticos somente se conseguiu realizar com êxito, a libertação dos nossos camaradas presos em Conakry. Já se falou muito nela, havendo opiniões diversas e nem sempre coincidentes. A minha opinião baseia-se no testemunho que ouvi ao Tenente dos Fuzileiros Lucas, natural de Coimbra, infelizmente já falecido.
Depois dessa operação o destacamento de fuzileiros africanos que ele enquadrava, regressou a Buba, donde tinha saído, talvez um mês ou dois antes. O Lucas, um grande camarada, sempre alegre e bem disposto, o maior cómico do quartel, veio triste, cabisbaixo e horrorizado com cenas de saque e selvajaria que presenciou. Já li no blogue descrições bastante pormenorizadas que se assemelhavam muito à descrição feita por ele, pelo que me abstenho de a reproduzir.

Tenho também presente uma grande operação, planeada em Bissau, como todas as grandes operações, realizada perto de Mansabá, que duas companhias de comandos africanos fizeram largadas de helis no Morés, depois da aviação e da artilharia terem bombardeado dois dias antes a zona. A aviação com todos os aviões de guerra disponíveis e a artilharia com obuses de longo alcance transportados para o destacamento de Cutia . Após esse bombardeamento intenso, ao terceiro dia, manhã cedo, foram largadas de helis duas companhias de comandos africanos. Um major, que comandava o COP 6, em Mansabá, no rescaldo da operação foi lá de helicóptero e disse-me, no regresso ao quartel, que não viu guerrilheiros e disse-me ainda que não gostou do que viu. Não lhe fiz perguntas pois pareceu-me entender o que ele disse. Pedimos cada um o seu whisky e a conversa ficou por aí.

 General Spínola

A política de Spínola em relação à população "Por uma Guiné melhor" foi inteligente, mas nada tem de original já que os manuais de contra-guerrilha, há muito tempo, ensinavam isso. Terá agradado a alguns naturais da Guiné mas não a tantos que conseguisse retirar o apoio popular suficiente que a guerrilha precisava para prosseguir o seu esforço de guerra. Também não sei se o Caco Baldé conseguia agradar à população controlada pelo inimigo. Sendo muito popular entre a tropa em geral, era impiedoso perante chefes militares seus subordinados que ousassem discordar dele e que não demonstrassem submissão perante o Chefe. Já se falou aqui do caso do Tenente-Coronel Agostinho Ferreira, um homem recto, vertical, valente e sem medo de acompanhar tropas no mato, que foi Comandante do BCAÇ 2898, a que pertenci, depois de, por castigo, lhe ter sido retirado o comando doutro batalhão. Como o caso deste tenente-coronel houve outros com ou sem motivos justificáveis.

Spínola na Guiné tinha uma corte de fiéis que o adulava e era sobretudo a esses que ele apreciava. Sendo muito popular entre os mais humildes, isto é a população indígena e os soldados, penso que era uma atitude que sendo humana seria também bastante política. O General terá pensado no poder e com o livro "Portugal e o Futuro" vai inspirar o 25 de Abril e procurar abrir espaço para impor o seu ideário político ao país e que em relação às colónias, todos o sabem, preconizava não a independência, mas uma autonomia gradual. A ideia não seria má, só me parece que a guerrilha e muitos países que os apoiavam, alguns descaradamente e outros pela calada, já não estavam para esperar mais. Era uma experiência que a marcha da história já não consentia.

O levantamento das Caldas da Rainha planeado pelos oficiais spinolistas, provavelmente os mesmos que no Quartel General em Bissau planeavam as operações, e rapidamente abortado pelas forças do regime, foi o princípio do fim do General. Tal como a operação "Mar Verde", foi uma operação falhada. Não posso deixar de ressalvar que nessa operação se conseguiu um grande objectivo, o único, a libertação dos nossos camaradas presos.

Os operacionais que fizeram o 25 de Abril deram-lhe a Presidência da República mas não lhe garantiram todo o poder que ele ambicionava. Nesse tempo o país vivia agitado por uma democracia nascente em que os partidos, em guerra verbal, procuravam atrair ou manipular os cidadãos a apoiarem as suas teses e agitavam nas ruas, sobretudo os de esquerda, multidões ruidosas que condicionavam os governos da nação.

Spínola, com um projecto de poder muito pessoal, face à confusão institucionalizada, faz um apelo dramático ao "bom povo português" que não encontra o eco que esperava, e porque a maioria dos militares também não o apoiavam, retira-se para não mais voltar à ribalta da política.
Voluntarioso tal como o General Humberto Delgado, décadas atrás, ainda procura no estrangeiro congregar forças políticas e militares, mas mesmo, o bom povo português , em que ele tinha confiado, já tinha deixado de acreditar nele. A ser o Presidente da nação que ele ambicionava, eu compará-lo-ia ao Major Sidónio Pais por um certo pendor autoritário e por alguma demagogia popular (bom povo português!) . Dada a diferença de idades entre um e o outro, faltou-lhe o élan e o carisma entusiástico da juventude do Major Sidónio Pais ou até do General Humberto Delgado.

Este texto, que procura corresponder a uma ideia lançada pelo grande camarada Luís Graça, escrevi-o também para "calar" dois amigos nossos, o José Dinis, mais conhecido por JD, e o Carlos Vinhal, quando nos encontrámos há cerca de quinze dias, na companhia dum primo do J.D. e da esposa, ambos muito simpáticos, num café em Leça da Palmeira, não para resolver a situação complicada do país, mas para beber umas águas e cavaquear um pouco.

Um abraço a todos.
Francisco Baptista
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 Nota do editor

 Último poste da série de 30 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15305: Inquérito "on line" (13): Os três Comandantes da Guiné (Mário Vitorino Gaspar)

Guiné 63/74 - P15324: Os nossos seres, saberes e lazeres (124): Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (5) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Outubro de 2015:

Queridos amigos,
Dou-vos mais um poucochinho desta cidade imponente, cheia de tesouros artísticos e onde os monumentos dos séculos XVI e XVII dialogam bem com a contemporaneidade. É uma cidade amistosa, o que mais me impressionou é a preservação do património. Recomendo vivamente a quem se lançar pelas campinas belgas aqui faça paragem, não há o caos arquitetónico de Bruxelas, a cidade entende-se bem com o seu rio e não deixa de impressionar a consideração que é dada aos peões.
Agora tomo um comboio para Bruxelas e antes de partir para as Ardenas vou mergulhar nas minhas frivolidades, caso do bricabraque.

Um abraço do
Mário


Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (5)*

Beja Santos

Cá estou enclausurado durante as horas de expediente, a conferência é muito interessante e o tempo lá fora está adverso. Por uso e sistema, regalo-me com umas sanduíches ao almoço e desarvoro, quero o centro da cidade por minha conta. Antuérpia, ao que consta, tem meio milhão de habitantes, mas devem estar muito bem repartidos, no centro histórico não se sente nenhuma onda febril, há espaços para todos. A Catedral de Nossa Senhora domina a cidade, aquela torre é mesmo para ser vista, é o tal dedo apontado a Deus. Cirando à volta do centro, a catedral está sempre perto, e para que não me chamem mentiroso faço a volta dos 360 graus. Ora vejam.




 Não há monotonia nesta arquitetura, ela funciona como um bilhete-postal do grande centro económico, dos lapidadores, dos construtores da moda, dos artistas gráficos. Antuérpia é também um grande centro artístico, está equipada com galerias de arte, tem museus de primeira qualidade e o seu equipamento musical é soberbo, a começar pela Ópera da Flandres. Parece que o mundo inteiro cabe dentro destes quarteirões, temos as igrejas, os centros comerciais de luxo e os destinados a todo o mundo, o museu da fotografia, as ruas dos antiquários e do bricabraque e há as livrarias, mais adiante falarei delas.



Esta é a cidade de Rubens. A catedral é magnífica, espraia-se graciosamente como templo de três naves, é um finíssimo gótico, melhor dizendo tardo-gótico, é longilínea. Estou proibido de usar a minha maquineta, aqui é o não flash, delicio-me e à saída adquiro dois postais representativos, um que permite verificar que é grandiosa sem ter o ar de calhamaço, tem conservação rigorosa e está pejada de pintura e escultura de primeiríssima água. Basta ver esta subida para a cruz que Rubens pintou entre 1609 e 1610. Impressiona, nas naves laterais uma exposição de pinturas do século XVI e XVII de obras de arte que pertenceram aos grandes corporativos. São obras de arte, mas são réplicas, os originais estão no Museu Real de Belas Artes de Antuérpia. Como se disse, aqui pontifica Rubens, quatro grandes telas aludem à morte e crucificação, assunção e ressurreição de Cristo.


No passado, chegaram aqui os nossos avoengos, aqui desembarcaram e comerciaram. Antuérpia continua a ter um porto de respeito, agora está afastado do centro da cidade. Juntei duas imagens, uma que extraí de uma visita ao Museu da Linha Red Star, é uma partida para o novo mundo, e a outra tem a ver com um batelão que era a imagem, não há muitas décadas, da circulação de mercadorias por toda esta miríade de canais que atravessam alguns países.




Cheiro os templos de papel à distância de metro, e não resisto em entrar, mesmo sabendo que olho para a língua flamenga como boi para palácio. Esta livraria chama-se Ballade, ao fim da tarde venho sobretudo mirar os desenhos e pinturas, peço licença para me sentar, e ali fico uns minutos em transe a contemplar a bela luz que ilumina este espaço tão íntimo.


Despeço-me com a imagem de um dos ícones da arrojada arquitetura moderna, o Mas, uma torre-museu que garante uma vista panorâmica de cortar o fôlego sobre a cidade e o seu rio. Tinha mais coisas para vos contar, até porque visitei um pouco do Rubens em que a cidade é próspera. Guardo os elementos em carteira, mostro-vos para a próxima, agora vou para a gare central e regresso a Bruxelas, tenho amanhã o dia livre e depois marcho para as Ardenas. Nem me passa pela cabeça as surpresas que tenho à minha espera.

(Continua)
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Notas do editor

Poste anterior de 28 de outubro de 2015 > Guiné 63/74 - P15300: Os nossos seres, saberes e lazeres (121): Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (4) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 3 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15321: Os nossos seres, saberes e lazeres (123): Obras escultóricas urbanas de Armando Ferreira (ex-Fur Mil da CCAV 8353)