quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15324: Os nossos seres, saberes e lazeres (124): Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (5) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Outubro de 2015:

Queridos amigos,
Dou-vos mais um poucochinho desta cidade imponente, cheia de tesouros artísticos e onde os monumentos dos séculos XVI e XVII dialogam bem com a contemporaneidade. É uma cidade amistosa, o que mais me impressionou é a preservação do património. Recomendo vivamente a quem se lançar pelas campinas belgas aqui faça paragem, não há o caos arquitetónico de Bruxelas, a cidade entende-se bem com o seu rio e não deixa de impressionar a consideração que é dada aos peões.
Agora tomo um comboio para Bruxelas e antes de partir para as Ardenas vou mergulhar nas minhas frivolidades, caso do bricabraque.

Um abraço do
Mário


Entre Antuérpia e as Ardenas, e algo mais (5)*

Beja Santos

Cá estou enclausurado durante as horas de expediente, a conferência é muito interessante e o tempo lá fora está adverso. Por uso e sistema, regalo-me com umas sanduíches ao almoço e desarvoro, quero o centro da cidade por minha conta. Antuérpia, ao que consta, tem meio milhão de habitantes, mas devem estar muito bem repartidos, no centro histórico não se sente nenhuma onda febril, há espaços para todos. A Catedral de Nossa Senhora domina a cidade, aquela torre é mesmo para ser vista, é o tal dedo apontado a Deus. Cirando à volta do centro, a catedral está sempre perto, e para que não me chamem mentiroso faço a volta dos 360 graus. Ora vejam.




 Não há monotonia nesta arquitetura, ela funciona como um bilhete-postal do grande centro económico, dos lapidadores, dos construtores da moda, dos artistas gráficos. Antuérpia é também um grande centro artístico, está equipada com galerias de arte, tem museus de primeira qualidade e o seu equipamento musical é soberbo, a começar pela Ópera da Flandres. Parece que o mundo inteiro cabe dentro destes quarteirões, temos as igrejas, os centros comerciais de luxo e os destinados a todo o mundo, o museu da fotografia, as ruas dos antiquários e do bricabraque e há as livrarias, mais adiante falarei delas.



Esta é a cidade de Rubens. A catedral é magnífica, espraia-se graciosamente como templo de três naves, é um finíssimo gótico, melhor dizendo tardo-gótico, é longilínea. Estou proibido de usar a minha maquineta, aqui é o não flash, delicio-me e à saída adquiro dois postais representativos, um que permite verificar que é grandiosa sem ter o ar de calhamaço, tem conservação rigorosa e está pejada de pintura e escultura de primeiríssima água. Basta ver esta subida para a cruz que Rubens pintou entre 1609 e 1610. Impressiona, nas naves laterais uma exposição de pinturas do século XVI e XVII de obras de arte que pertenceram aos grandes corporativos. São obras de arte, mas são réplicas, os originais estão no Museu Real de Belas Artes de Antuérpia. Como se disse, aqui pontifica Rubens, quatro grandes telas aludem à morte e crucificação, assunção e ressurreição de Cristo.


No passado, chegaram aqui os nossos avoengos, aqui desembarcaram e comerciaram. Antuérpia continua a ter um porto de respeito, agora está afastado do centro da cidade. Juntei duas imagens, uma que extraí de uma visita ao Museu da Linha Red Star, é uma partida para o novo mundo, e a outra tem a ver com um batelão que era a imagem, não há muitas décadas, da circulação de mercadorias por toda esta miríade de canais que atravessam alguns países.




Cheiro os templos de papel à distância de metro, e não resisto em entrar, mesmo sabendo que olho para a língua flamenga como boi para palácio. Esta livraria chama-se Ballade, ao fim da tarde venho sobretudo mirar os desenhos e pinturas, peço licença para me sentar, e ali fico uns minutos em transe a contemplar a bela luz que ilumina este espaço tão íntimo.


Despeço-me com a imagem de um dos ícones da arrojada arquitetura moderna, o Mas, uma torre-museu que garante uma vista panorâmica de cortar o fôlego sobre a cidade e o seu rio. Tinha mais coisas para vos contar, até porque visitei um pouco do Rubens em que a cidade é próspera. Guardo os elementos em carteira, mostro-vos para a próxima, agora vou para a gare central e regresso a Bruxelas, tenho amanhã o dia livre e depois marcho para as Ardenas. Nem me passa pela cabeça as surpresas que tenho à minha espera.

(Continua)
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Notas do editor

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Último poste da série de 3 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15321: Os nossos seres, saberes e lazeres (123): Obras escultóricas urbanas de Armando Ferreira (ex-Fur Mil da CCAV 8353)

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