sábado, 7 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15338: Inquérito 'on line' (16): Para 42% dos respondentes (num total de 69), "100 pesos" era de facto dinheiro, era bastante patacão... Segundo a Companhia Seguros Douro, que oferecia na época um "seguro militar", cobrindo o risco de morte ou de incapacidade (total ou parcial) em teatro de guerra, cem contos (pouco mais de 28 mil euros, hoje) era quanto podia valer a vida de um herói!

1. Inquérito de opinião que decorreu na semana que findou: 

"NO MEU TEMPO, CEM PESOS ERA MANGA DE PATACÃO"


1/2. Era muito  (n=3) ou bastante dinheiro (n=26) > 29 (42,0%)


3. Era assim-assim, nem muito nem pouco  > 19 (27,6%)


4/5. Era pouco (n=12) ou muito pouco dinheiro  (n=5) > 17  (24,6%)


6. Não sei / não tenho opinião  >  4 (5,8%)

Votos apurados: 69 (100,0%)

Votação fechada: 5/11/2015. 14h30

2. Comentário do editor:

Segundo o nosso camarada António Tavares (ex-Fur Mil da CCS/BCAÇ 2912, Galomaro, 1970/72), havia no mercado um seguro militar, dos Seguros Douro, que cobria o risco de morte e invalidez nos TO da Guiné, Angola e Moçambique. O capital seguro era de cem contos (100 mil escudos), o que daria hoje qualquer coisa como pouco mais de 28 mil euros (, usando o conversor de escudos para euros, disponibilizado pelo portal Pordata - Base de Dados Portugal Contemporâneo).

Houve quem pagasse 200 contos para livrar um filho ou um neto da "subida honra" de servir a Pátria no ultramar... Em face disto, convenhamos que 100 pesos, para a generalidade dos nossos militares (os de 1ª e os de 2ª classe),  eram bastante patacão!... (**)
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Notas do editor:

(*) 4 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15328: Inquérito 'on line' (15): quatro em cada dez respondentes acha que uma nota de 100 pesos era muito ou bastante patacão... Votação termina 5ª feira, dia 5, às 14h30

2 comentários:

Luís Graça disse...

... E a propósito alguém se lembra da atribuição da "pensão de preço de sangue" ?

Luís Graça disse...

Um poste sobre o boato, da autoria de um dos nossos grandes contadores de histórias, o Juvenal Amado (que vai, dentro de dias, lançar um livro seu, com a chancela da Chiado Editora):


7 DE FEVEREIRO DE 2008

Guiné 63/74 - P2510: Estórias do Juvenal Amado (2): O boato: nós, o Sardeira e a Maria Turra (J. Amado, CCS/BCAÇ 3873, Galomaro, 1972/74)

http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2008/02/guin-6374-p2509-estrias-avulsas-14-o.html


(...) O bom do Sardeira (...) tinha por missão ir às Duas Fontes (...), local a 6 km do quartel, com o Unimog, mais conhecido por burro do mato, encher o autotanque de água.

E assim durante muito tempo, logo de manhã, com uma Secção de homens armados, lá ia picada fora aproveitando para dar boleia às bajudas (...) que, nisto de andar de carro, estavam sempre prontas.

Iam... e depois vinham.

O meu amigo Sardeira usava uns óculos que mais pareciam o fundo de duas garrafas, tal era a grossura das lentes. Mais tarde, no nosso primeiro almoço de confraternização, passados vinte anos, em Seia, reparei que ele não trazia os famosos óculos. Quando lhe perguntei por eles, com ar maroto respondeu-me que os tinha deitado fora, mal tinha saído do Niassa em Lisboa. Verdade ou não, deixa de ser sempre tema de conversa e brincadeira, entre nós quando nos juntamos. (...)

Mas voltando atrás no tempo, o camarada ia encher o autotanque, duas vezes de manhã e duas vezes de tarde. Assim foram passando os meses e como foram passando, ele foi abrandando o cuidado e, de vez em quando, pegava na viatura e lá ia ele direito às Duas Fontes, sem escolta.

Escusado será dizer que, em situação de guerra de guerrilha, esta atitude era uma tonteira e era assunto de conversa entre nós. Até que ele passou a ir mais vezes sem escolta do que com ela.

Nós, meio a sério meio a brincar, dizíamos:
- Qualquer dia ainda te lixas - e ele respondia a gozar que éramos medricas e que não havia perigo nenhum.

O tempo foi passando. Um dia lá vinha ele a chegar do seu passeio, o Caramba gritou-lhe que ele estava a forçar a sorte. Ele riu-se e disse que não havia azar, ao que o Caramba retorquiu:
- Ah, pois, vai ter com o Narciso das transmissões que ele diz-te o que a Maria Turra (...) disse sobre apanhar o condutor da água de Galomaro à mão!

O Sardeira mudou de cor e num riso um bocado amarelo, ainda disse:
- Estás a gozar!

O Caramba disse muito sério, na sua forma falar de alentejano dos quatro costados:
- Não se está vendo? Andas brincando com a sorte.

Nós entretanto fartámo-nos de rir, mas a mentira passou a ser uma verdade e nenhum de nós se desmanchou.

A estória correu o quartel e à boa maneira de quem conta um conto, acrescenta um ponto, a peta alastrou.

O que foi certo é que o camarada passou a querer mais segurança e nunca mais lá foi buscar o precioso líquido, sozinho. (...)