Foto nº 1 > Lisboa > s/d > Sede do BNU - Bnaco NacionalUltramarino (Hoje sede do MUDE - Museu do Design)

Fonte: BNU. (Reproduzido com a devida vénia...)
Foto nº 4 > Guiné > s/d > s/ l > A embarcação "Bubaque", ostentando a bandeira portuguesa... Antiga LP 4 (Lancha de Patrulha 4, da nossa Marinha, no ativo entre 1963 e 1964), terá sido anteriormente uma traineira de pesca, algarvia... Depois de abatida ao efetivo, foi comprada pelo pai do nosso camarada Manuel Amante da Rosa, antigo embaixador da República de Cabo Verde em Roma.
Foto (e legenda): © Manuel Amante da Rosa (2014). Todos os direitos reservados. 8Edição: LG]
1. Os colonos na África Portuguesa não eram só cidadãos portugueses da metrópole, mas também das ilhas atlânticas (Madeiras, Açores e Cabo Verde) e igualmente estrangeiros como os libaneses, ou sírio-libaneses (oriundos do antigo império otomano, que emigraram para a África Ocidental nos anos de 1910/20) (*) sem esquecer os luso-indianos de Goa, Damão e Diu, e até os macaenses.
Já aqui destacámos os sírio-libaneses., "comerciantes e empreendedores" (*), e falámos da sua presença na Guiné até à independência (em 1974). Falemos agora de outros grupos e comunidades, começando pelos cabo-verdianos (que eram, na altura, cidadãos portugueses).
(i) Funcionários e Trabalhadores: A Diáspora Cabo-Verdiana
A emigração de cabo-verdianos para as outras colónias portuguesas em África foi um fenómeno de grande relevo.
Impulsionados por secas e fomes cíclicas (1901-1904, 1920-21, 1941-43, 1947/49) e pela escassez de recursos (agricultura, indústria, educação, saúde, emprego, transportes, etc.) no seu arquipélago, muitos cabo-verdianos procuraram melhores condições de vida na Guiné, em Angola, Moçambique e, especialmente, em São Tomé e Príncipe, onde chegaram a constituir uma parte significativa da população.
Dada a sua familiaridade com a língua e a administração portuguesas, foram frequentemente empregados em cargos de baixa e média hierarquia na função pública, nos correios, nas alfândegas, na banca, bem como em atividades comerciais, transprotes marítimos, etc. e em geral como mão de obra qualificada.
Esta posição intermédia na hierarquia social colonial era, por vezes, fonte de tensões com as outras comunidades como aconteceu na Guiné-Bissau, antes e durante a guerra colonial, bem como depois da independência (golpe de Estado de 'Nino' Vieira, primeiro-ministro, contra o presidente da república, Luís Cabral, em 14 de novembro de 1980, em que os cabo-verdianos foram "demonizados").
Os cabo-verdianos tiveram um papel inportante na colonização da África portuguesa, e em especial a Guiné, onde foram comerciantes, "ponteiros", e ocuparam lugares de nível médio (na administração civil, banca, correios, educação, etc.).
A presença e o papel dos cabo-verdianos na colonização da África portuguesa, especialmente na Guiné, foram marcantes e multifacetados. Desde o início da ocupação portuguesa na África Ocidental, a história da Guiné e de Cabo Verde esteve profundamente entrelaçada, não apenas por laços geográficos, mas também por interesses económicos e sociais compartilhados.
Os cabo-verdianos atuaram como comerciantes, estabelecendo-se principalmente na zona costeira e nas margens dos rios guineenses, donde desenvolveram intensas atividades mercantis. Esses comerciantes envolveram-se no tráfico de escravos (até meados do séc- XIX), além de serem depois detentores de lojas e proprietários de transportes coletivos, fluviais e rodoviários, exercendo influência significativa no mercado local.
Além do papel comercial, muitos cabo-verdianos ocupavam posições médias na administração colonial: eram funcionários na banca, nos correios, na educação, e em outros setores de serviços públicos. Na realidade, ocuparam lugares que os protugueses da metrópole não queriam, devido à "má fama" do território (insegurança, atraso, clima, paludismo e outras doenças tropicais, etc.).
Registe-se, a par disso, a atividade agrícola como “ponteiros”, ou sejam, pequenos agricultores que exploravam "pontas" (geralmente hortas, pequenas quintas), em zonas férteis, nas bacias hidrográficas: Cachu. Mansoa, Geba, Corubal, Buba, etc.
Os cabo-verdianos na Guiné também foram proprietários de pequenas embarcações e prestadores de serviços de transporte local. Esses serviços fluviais e costeiros eram essenciais para a interligação das comunidades em regiões onde o rio e o mar eram os principais meios de circulação.
Essa posição como donos e operadores de embarcações permitiu_lhes ser intermediários cruciais nas trocas comerciais e no transporte de pessoas e mercadorias.
Além disso, essa função conferia-lhes um papel importante como intérpretes culturais, sociais e económicos, mediando entre as autoridades coloniais e as populações locais de diversas origens étnicas e culturais.
É importante destacar ainda a forte componente crioula presente nesse contexto, já que boa parte dos grupos intermediários que atuavam nesses espaços eram de origem mista, fruto de séculos de convivência e intercâmbio entre Cabo Verde e a região da Guiné. Essa dinâmica reforçou a ligação social e cultural entre ambas as regiões. Por exemplo, Amílcar Cabarl, nascido em Bafatá em 1924, era filho de pai cabo-verdiano, o professor primário Juvenal Cabral, e de mãe guineense, de etnia fula, Iva Pinhel Évora.
Em resumo, os cabo-verdianos desempenharam um papel crucial na economia e na administração da África portuguesa, especialmente na Guiné, forma verdadeiros marginais-secanmtes, exercendo funções estratégicas como comerciantes, ponteiros, donos de barcos de cabotagem e ocupantes de cargos de nível baixo e médio na sociedade colonial.
Sublinhe-se que a atuação dos cabo-verdianos na sociedade colonial da Guiné foi muito além do comércio e da administração, incluindo também um contributo notável na agricultura de pequena escala e de subsistência.
Apresenta-se a seguir um esquema detalhado sobre o papel dos cabo-verdianos na colonização da Guiné, então colónia portuguesa, com enfoque no século XX, complementada por alguns exemplos históricos
(ii) Papel dos cabo-verdianos na Guiné colonial (séculos XIX e XX)
(Pesquisa: IA / Gemini / Perplexity / ChatGHPT LG | Revisão / fixação de texto, negritos: LG)
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(*) Vd. poste de 17 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27128: A nossa guerra em números (34): Colonos - Parte I: os sírio-libaneses
(**) Último poste da série > 22 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27141: A nossa guerra em números (36): Auxiliares da administração colonial: régulos, sobas e liurais...
Na metade do século XX, a presença de cabo-verdianos na então Guiné Portuguesa era uma realidade demográfica significativa, especialmente nos centros urbanos e na administração colonial.
Com base nos dados disponíveis, é possível apresentar uma estimativa detalhada para 1950 e informações mais gerais para 1960 e 1970.
(i) 1950: Uma Presença Notável no Estrato "Civilizado"
No censo de 1950, a população total da Guiné Portuguesa foi registada em 517.290 habitantes. Deste total, a esmagadora maioria, 508.970 indivíduos, era classificada como "não-civilizada".
A população "civilizada" ascendia a 8.320 pessoas (1,61% do total), e é neste grupo que os dados permitem uma análise mais detalhada da presença cabo-verdiana.
De acordo com estudos demográficos da época, nomeadamente os do investigador António Carreira, os cabo-verdianos representavam uma fatia importante deste estrato:
População de origem cabo-verdiana: Cerca de 1.478 indivíduos.
Proporção de cabo-verdianos na população "civilizada": Aproximadamente 17,8%.
Proporção de cabo-verdianos na população total: Cerca de 0,29%.
Esta expressiva percentagem na população "civilizada" reflete o papel que muitos cabo-verdianos desempenhavam como funcionários públicos, comerciantes e em outras profissões liberais na estrutura colonial.
(ii) 1960: Crescimento Populacional e Lacunas nos Dados Detalhados
Em 1960, a população total da Guiné Portuguesa era de aproximadamente 525.437 habitantes, um ligeiro aumento em relação à década anterior. Contudo, os dados detalhados sobre a composição da população "civilizada" por naturalidade para este ano são mais difíceis de apurar a partir de fontes abertas.
Embora o censo de 1960 tenha sido realizado e analisado em publicações como o "Boletim Cultural da Guiné Portuguesa", os números exatos da população de origem cabo-verdiana não estão facilmente acessíveis. É razoável presumir que a tendência de uma presença cabo-verdiana significativa nos centros urbanos e na administração se mantivesse, mas a sua quantificação precisa para este ano permanece um desafio.
(iii) 1970: O Impacto da Guerra e a Incerteza Estatística
A década de 1970 foi marcada pela intensificação da guerra de libertação/guerra colonial, o que torna os dados demográficos para este período particularmente complexos e, por vezes, divergentes. As estimativas para a população total em 1970 variam consideravelmente, situando-se entre 571.000 (550.000 a 600.000 habitantes para 1970 seria uma estimativa mais realista e alinhada com os dados históricos).
A realização de um censo em 1970 é documentada, mas a sua execução e a fiabilidade dos dados em todo o território foram certamente afetadas pelo conflito em curso. Além disso, a abolição do estatuto do "indigenato" em 1961 alterou as categorias de recenseamento, o que dificulta uma comparação direta com os censos anteriores.
Não foram encontrados dados específicos que permitam quantificar a população de origem cabo-verdiana na Guiné-Bissau em 1970. É de notar que, durante a luta pela independência, a relação entre as populações da Guiné e de Cabo Verde foi complexa, com muitos indivíduos de origem cabo-verdiana a participarem ativamente no movimento de libertação (PAIGC), que lutava pela independência de ambos os territórios.
Em suma, enquanto para 1950 é possível apresentar um retrato relativamente claro da população cabo-verdiana dentro do quadro estatístico da época, para 1960 e 1970 os dados são mais escassos, impedindo um cálculo preciso da sua dimensão e proporção na população total da Guiné-Bissau.
2 comentários:
Os dados a seguir foram retirados do trabalho do jornalista do "Diário de Lisboa", Avelino Rodrigues, enviado em julho de 1972, à Guiné, por convite (e com garantias) de Spínola .
Merecem o devido destaque, salvaguardadas as necessárias reservas por não se tratar de uma fonte independente... Nomeadamente, os que respeitam aos efetivos do PAIGC e à população sob o seu controlo. Não é por acaso que o jornalista deu ao conjunto desses quatro artigos de reportagem o título de "Guiné, uma crónica imperfeita".
TERRITÓRIO:
(i) "a superfície cresce e diminui todos os dias, consoante as marés, situando-se numa média de 32 mil quilómetros quadrados, com 193 quilómetros na extensão Norte-Sul e 330 de Leste a Oeste";
(ii) "a estas condições geográficas tão difíceis para um exército tradicional, vem juntar-se uma fronteira de 750 quilómetros, completamente aberta tanto no aspecto físico como no povoamento".
POPULAÇÃO:
(iii) "Bissau afirma controlar 487 448 habitantes (foram os que se deixaram recensear em 1970)",
(iv) "mantendo-se outros 27 174 em 'zonas de duplo controle' ".
(iv) "no Senegal vivem 60 000 refugiados, e na Guiné 20 000, segundo informa o Comando-Chefe, apoiando-se em dados da Comissão de Refugiados da ONU";
(v) "a ser assim, 89,5 por cento dos guinéus viveriam no interior do TO (teatro de operações) e 82 por cento do total estariam sob controle português."
(vi) "numa população que em 1970 era de 594 622 habitantes"
(vii) "os balantas seriam em 1963 perto de 200 mil, isto é, cerca de metade dos guinéus [ erro de cálculo do jornalista, é um terço e não metade];
(viii) "uma maioria trabalhadora e explorada que forneceu à guerrilha os seus primeiros combatentes";
(ix) "um povo dividido, combatendo, com o PAIGC os fulas, dominadores, e contra o PAIGC, ao lado de outros fulas da Força Africana".
PAIGC:
(x) "os dois mil combatentes que (...) actuam dentro das fronteiras, manobram a partir das 'zonas sob duplo controle' (...), situadas ao longo do corredor florestal e particularmente nas proximidades de Bissorã / Mansabá / Canjambari, confluência do Geba/Corubal, e sobretudo na zona ao sul do rio Buba, à volta de Catió".
(xi) "outra zona 'quente' situa-se perto do Cacheu, junto ao rio do mesmo nome, alastrando pelas florestas ao norte do Bachile e do Pelundo";
(xii) "calculam-.se em 7 000 os combatentes do PAIGC actuando a partir de 25 bases da fronteira senegalesa e de 8 da República da Guiné, incluindo aqueles que se encontram dentro do TO";
(xiii) "militarmente, as forças do PAIGC estão estruturas em 'corpos de exército' integrados por um comandante, um comissário político, dois chefes de destacamento e três unidades: um grupo de bazookas, ou lança granadas foguete; uma bateria de artilharia, ou de armas pesadas de infantaria, como morteiros ou canhões sem recuo; e quatro bi-grupos";
(xiv) "cada bi-grupo é constituído por dois agrupamentos de trinta e cinco homens (agora reduzidos a vinte e cinco)".
(Continua)
(Continuação)
FORÇA AFRICANA:
(xv) "compõem a Força Africana perto de 5 mil soldados regulares, cerca de 6 mil milícias e mais de 6 mil auto-defesas, além de outros 5 mil homens enquadrados na guarnição normal";
(xvi) "os regulares negros estão enquadrados em companhias de comandos africanos (uma outra está a ser constituída) com oficiais nativos, destacamentos de fuzileiros (e mais um em constituição) com alguns quadros negros, e ainda doze companhias de caçadores instaladas no 'chão' das suas etnias e igualmente comandadas por alguns graduados nativos";
(xvii) "são a grande tropa de elite da guerra da Guiné, capazes de aguentar uma operação de quatro a cinco dias nas zonas mais 'quentes' do mato, e sempre com um arrojo e ferocidade de fazer tremer a selva",
(xviii) "o corpo de milícias (nove semanas de instrução) é constituído por elementos novos com farda e soldo; são uma espécie de militares em part-time, com a missão fundamental de defesa das populações que habitualmente protegem durante a noite e acompanham nos trabalhos do campo; são todos voluntários, mas só em circunstâncias especiais participam em operações".
(xix) "as auto-defesas são constituídas por civis nativos, sem instrução militar".~
Fonte:3 de maio de 2022 > Guiné 61/74 - P23224: A nossa guerra em números (16): A "força africana" em 1972: mais de 20 mil homens em armas, segundo o enviado especial do "Diário de Lisboa" ao CTIG
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