Foto 1 > Capa do livro do Nuno Rubim, sobre as tapeçarias de Pastrana (edição de autor, 2005)
Foto 2 > O Intante D. Henrique representado nas tapeçarias de Pastrana, segundo Nuno Rubim.
Fotos: © Nuno Rubim (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados
1. Hoje, dia 29 de Setembro de 2010, temos festejo porque está de parabéns um dos nossos camaradas mais velhos, a quem vimos endereçar os nossos parabéns pela feliz data.
O Fernando de Portugal [, aqui eventualmente representado em termos pictóricos, nos célebres painéis de São Vicente, que estão hoje no Museu Nacional de Arte Antigo,] esteve em Tânger, depois de ter feito uma pequena paragem em Ceuta. Ainda esteve em Arzila e Fez, mas sabemos que desses tempos não guarda gratas recordações.
Caro Fernando, são desejos da Tabanca Grande que tenhais um bom dia de anos, alegre, com oportunidade para ver aqueles familiares e amigos que durante os outros dias do ano estão mais distantes.
Que o vosso nome se prolongue na memória dos Portugueses, ainda por muitos e bons anos. Sabemos que hoje é dia de festa na Sala do Fundador, na Batalha, onde se reunirá toda a família.
Os vossos amigos e camaradas desta Tabanca Virtual estarão por aqui atentos e aliar-se-ão à vossa alegria em cada dia dos vossos aniversários. (*)
Pela tertúlia e pelos editores,
José Martins [, foto à direita]
2. Comentário de L.G.:
Este nosso camarada, para quem não sabe ou está esquecido dos tempos de escolinha, ficou na história também conhecido como o
Infante Santo. Nasceu a 29 de Septembro de 1402: faria hoje, portanto, 608 aninhos, se entretanto não tivesse morrido em 5 de Junho de 1443 (, portanto aos 41 anos, o que na época já era uma provecta idade, dada a então baixa esperança média de vida dos portugueses e demais europeus ). E
morrido pela Pátria (,díriamos hoje, se bem que o conceito de
Pátria não fosse talvez exactamente o mesmo que nós temos hoje).
Fernando era o oitavo filho do rei D. João I de Portugal, fundador da 2ª Dinastia, a de Aviz, e de sua mulher, a inglesa Filipa de Lencastre, e portanto o mais novo dos membros da
Ínclita Geração. Feito refém no decurso de uma controversa e desastrada expedição militar no Norte de África em 1437 (mais exactamente, na tentativa de conquista de Tânger, no reinado do seu irmão D. Duarte), é usado como
moeda de troca na processo de tréguas, que implicavam também a exigência da devolução da praça de Ceuta, conquistada pela coroa portuguesa em 1415. Acabou por morrer, como é sabido, no cativeiro, em Fez, em 1443, sem que Ceuta tivesse sido entretanto devolvida pelos portugueses. Pelo sacríficio (supremo) da sua vida, passou a ser conhecido, pela
vox populi, como o
Infante Santo.
Depois da tomada de Arzila, em 1471, e de Tânger (abandonada pelos mouros logo a seguir), no tempo D. Afonso V, o
Africano, sobrinho do Infante Santo, e agora também
rei de Fez, foi possível trazer para Portugal os seus restos mortais. (Repousam desde então no Mosteiro da Batalha, na Capela do Fundador).
Alguns capítulos da
Crónica do Infante Santo Dom Fernando (redigida em meados do Séc. XV, por Frei João Álvares, seu secretário e que esteve com ele na prisão, tendo circulado pelo reino e pela cristandade sob a forma manuscrita, antes de ser impressa, pela primeira vez, em Lisboa em 1527, sob o título
Trauado da vida e feitos do muito vertuoso Sor Iffante D. Fernando) podem ser
consultados aqui, em documento em formato pdf.
E, a propósito, meus amigos e camaradas, ainda estão a tempo de ver (com
olhos de ver...) até 3 de Outubro próximo, a excepcional exposição,
A Invenção da Glória. D. Afonso V e as Tapeçarias de Pastrana, que está no
Museu Nacional de Arte Antiga, nas Janelas Verdes, em Lisboa. Antes que elas, as tapeçarias, voem de novo do nosso território...
Tomem boa nota: Visitas Guiadas (
obrigatório, sozinhos não entendem o texto e o contexto...): Sábados e Domingos: 11h30 e 15h30 (excepto dias 2 e 3 de Outubro); Terças, Quartas, Quintas e Sextas-feiras: 15h00. Sem inscrição prévia. Participação com o bilhete de entrada do Museu. Encontro no átrio principal. Duração: cerca de 1h. (As dicas são do Museu...).
Com já tive a ocasião de vos dizer, em mail interno que circulou pela Tabanca Grande, em 10 de Setembro passado, e citando o
site do Museu,
"a exposição ‘A Invenção da Glória. D. Afonso V e as Tapeçarias de Pastrana’ reúne pela primeira vez em Portugal os quatro monumentais panos, tecidos em Tournai [, Flandres,] por encomenda de D. Afonso V, conservados na Colegiada de Pastrana [, Espanha,] desde o século XVI e recém-restaurados sob o patrocínio da Fundação Carlos de Amberes. Peças de extraordinária monumentalidade e absolutamente únicas em termos da produção borgonhesa, relatando as conquistas de Arzila e Tânger, a sua encomenda e produção — ainda envolta em sombras — enquadra-se num programa mais vasto, de construção mítica da História, que o conjunto de obras em seu redor agora reunidas procura enquadrar e problematizar" (...).
Trata-se de verdadeira
banda desenhada tecida em algodão e seda, com cerca de160 metros quadrados no seu total, e com mais de 500 anos... Sobretudo para a malta da região de Lisboa, seria uma pena perderem esta exposição... Já lá fui duas vezes (E o Carlos Nery, três...). Imprescindível para se perceber também a
guerra colonial (ou
guerra do ultramar, como quiserem)... Importante também para se perceber o
making of da História, o processo de, como nós, seres humanos (dos actores aos historiógrafos), fazemos
história, antes de mais, como representação social... Em resumo, e usando um chavão caro aos sociólogos, a
construção social da História...
Cito a propósito um notável texto do António Filipe Pimentel, director Museu Nacional de Arte Antiga, justamente sobre a exposição
"A Invenção da Glória: D. Afonso V e as Tapeçarias de Pastrana".. Diz ele:
(...) "Poderá talvez dizer-se,com razoável propriedade, que a História é como uma tapeçaria: a tal ponto o desenho final resulta do lento entretecer dos fios que a conformam, sempre dependendo da mão que conduz a urdidura, sempre denunciando olhar do historiador. No fim, uma imensa composição, onde evoluem personagens e acontecimentos, em operação que sempre implica a perspectiva e os valores de luz e sombra" (...).
(Extracto de António Filipe Pimentel -
D. Afonso V e a Invenção da Glória: as Tapeçarias de Pastrana no Museu Nacional de Arte Antiga. Lisboa: MNAA, Junho de 2010, p. 2).
3. Está também na altura de publicar um mail que recebi, em 23 de Junho passado, do
Nuno Rubim (nosso camarada e meu muito especial amigo, aqui na foto, em 2006, no meu gabinete) sobre este tópico...ou com ele relacionado.
Caro Luís:
Terás de confessar que tenho um bom "sistema de informações " no que se refere ao blogue... Sabendo da minha reduzida disponibilidade em eu o consultar com a assiduidade que merece, mais uma vez um amigo me alertou hoje mesmo sobre um poste que hoje mesmo foi publicado, sabendo ele que estudei parte do percurso da vida do Infante D. Henrique.
Fui pois lá ver e deparei-me com o artigo do nosso camarada José Martins, que de facto tem colaborado de forma notável no blogue.
Acontece que publiquei em 2005 um livrinho (edição do autor, porque não surgiu ninguém nisso interessado ..., embora a Fundação Gulbenkian tenha comparticipado) em que é referida essa ainda hoje controversa figura do Infante D. Henrique [Foto 1]
O livrinho não foi comercializado. Recebi pouco mais de 2 centenas de exemplares que já distribuí. a já quase no ocaso da sua vida (três anos antes do seu falecimento ) o velho soldado de África ainda participou na conquista de Alcácer Ceguer em 1458.
Fotografei pessoalmente em Pastrana [, Guadalajara, Espanha,] as tapeçarias que descrevem a acção e numa delas identifiquei o que julgo ser a mais fidedigna representação dessa figura emblemática, que pouco tem a ver com a sua suposta imagem no célebre polítptico dito de S.Vicente, hoje exposto no Museu Nacional de Arte Antiga. [Foto 2].
Claro que em alguns (demais, para o meu gosto...) círculos dos "senhores doutores em história" ... ) essa minha opinião foi pura e simplesmente ignorada, mas mais grave, sem se apresentar sequer qualquer tipo de argumentação contraditória ... O costume ... Sem mais comentários ...
Um abraço
Nuno Rubim
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Notas de L.G.:
(*) Último poste da série > 29 de Setembro de 2010 >
Guiné 63/74 - P7048: Parabéns a você (156): António Bastos, ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953 e Manuel Moreira, ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746 (Tertúlia e Editores)