sexta-feira, 9 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22354: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte II: Ficha técnica, prefácio de Leopoldo Amado, lendas balantas (pp. 1-14)



Lendas balantas - ilustração do pintor guineense Ady Pires Baldé, pág. 11. 

In: Lendas e contos da Guiné-Bissau / J. Carlos M. Fortunato ; il. Augusto Trigo... [et al.]. - 1ª ed. - [S.l.] : Ajuda Amiga : MIL Movimento Internacional Lusófono : DG Edições, 2017. - 102 p. : il. ; 24 cm. - ISBN 978-989-8661-68-5


1.  Transcrição das págs. 1 a 14 do livro "Lendas e contos da Guiné-Bissau", com a devida autorização do autor (*)


Capa do livro. Ilustração de
Augusto Trigo


J. Carlos M. Fortunato > 
Lendas e contos da Guiné-Bissau


Nota ortográfica

As palavras que surgem nos textos em letra itálica, 
tratam-se de termos ou expressões que não são usados 
em português.

Os textos apresentados não incluem palavras alteradas pelo novo acordo ortográfico, a fim de o livro ser compatível com o antigo e com o novo acordo ortográfico.








Contracapa do livro. Ilustração de Augusto Trigo



Ficha Técnica


Título: Lendas e contos da Guiné-Bissau
Autor: Joaquim Carlos Martins Fortunato

Ilustrações:
Capa e contra capa - ilustrações do mestre luso-guineense Augusto Trigo, pai da pintura guineense e grande ilustrador, a sua obra é uma referência
Página de abertura - ilustração do pintor guineense Ady Pires Baldé
Lendas balantas - ilustração do pintor guineense Ady Pires Baldé
Lendas bijagós - ilustrações do pintor guineense Ady Pires Baldé
Lendas mancanhas - ilustrações do pintor e escultor português José Hilário da Silva Portela
A lenda de Sundiata Keita - ilustrações do mestre Augusto Trigo
A lenda de Djanqui Uali - ilustrações do mestre Augusto Trigo
A lenda de Alfa Môlo - ilustrações do mestre português José Ruy, um dos maiores ilustradores portugueses
A lenda da canoa papel - ilustrações do pintor guineense Lemos Djata;
Contos - ilustrações do mestre Augusto Trigo.

Revisão: Luísa Barbosa
Paginação gráfica do miolo: João Filipe Feitor Pais
Edição: Ajuda Amiga/MIL/DG Edições
Impressão e acabamento: VASP DPS
1ª Edição: Fevereiro de 2017

Depósito legal: 419793/16
ISBN: 978-989-8661-68-5

2017 Copyright © Joaquim Carlos Martins Fortunato
Reservados todos os direitos, de acordo com a legislação em vigor

Ajuda Amiga – Associação de Solidariedade e de Apoio ao Desenvolvimento
ONGD - Organização Não Governamental para o Desenvolvimento
Site http://www.ajudaamiga.com

Índice

Nota ortográfica

3

Prefácio

7

Prólogo

9

Lendas balantas

11

Lendas bijagós

15

Lendas mancanhas

23

A lenda de Sundiata Keita

29

A lenda de Djanqui Uali

43

A lenda de Alfa Môlo

49

A lenda da canoa papel

55

Conto - A lebre e o lobo no tempo da fome

59

Conto - O camaleão ganha a corrida ao lobo

63

Conto - O casamento do lebrão

65

Conto - O hipopótamo dá boleia ao lobo

69

Conto - O leão e o javali no tempo da sede

73

Conto - O lobo e a lebre vão à pesca

75

Conto - O lobo que queria comer os filhos da lebre

79

Conto - O menino e o patu-feron

81

Breve história do Império do Mali

85

Breve história do Império de Cabú

89

Bibliografia

93

Notas Finais

95


Prefácio

Foi com redobrado prazer e honra que acolhi o privilégio de ter sido convidado pelo meu amigo Carlos Fortunato para prefaciar o seu livro “Lendas e contos da Guiné-Bissau”, de resto, um livro em que se entrecruzam dois campos de pesquisa, em cujas intercessões torna-se possível divisar a constatação de que, infelizmente, persiste ainda um enorme muro de desconhecimento e de incompreensão que adejam África e, mais especificamente, sobre os guineenses e a Guiné-Bissau, donde a razão de ser do livro que agora o Fortunato dá à estampa, com o claro fim de reduzir os fossos de incompreensão existentes.

Com efeito, apesar de a longevidade deste período temporal ser relativamente longa, por nele perpassar o colonialismo e o pós-colonialismo, antecedidos ambos por um outro longo período de presença litorânea e comercial dos europeus em África, iniciada ainda no século XV, apesar disso tudo, como dizíamos, ainda não se proporcionaram, mesmo nos dias de hoje, formas mais clarividentes e mais racionais (entenda-se inteligíveis, eficientes e mesmo eficazes,) de propiciar um mais vasto interconhecimento sobre os guineenses e a Guiné-Bissau, os quais curiosamente personificam, pelo menos na obra em questão, a África. E a esta opção do autor, convém que se diga, não é alheia nem a sua vivência na Guiné e nem a sua ligação profunda com os guineenses e a Guiné-Bissau (dir-se-ia, a sua África), concorrendo tudo neste seu livro, para alicerçar uma visão de compreensão e entendimento do “outro” civilizacional.

Aliás, neste livro, para além de ser patente e inequívoca a simbolização de África pela via da personificação da Guiné-Bissau e dos guineenses, torna-se também curioso a aferição da forma como o autor, deliberadamente, procede a transposição biunívoca entre um mundo da realidade vivida e experimentada (assaz estudada e, por isso, imensamente publicitada), e, essoutra, menos conhecida, mas nem por isso menos importante, mas prenhe de lendas e mitos nos quais também se entrecruzam umampostulação teórica e empírica estribada na efabulação e na qual pontuam – numa harmoniosa triangulação explicativa – os ensinamentos que dão corpo a profunda sabedoria popular, em suma, uma espécie inteligibilidade ética e racional negligenciadas e mesmo desprezadas, mas igualmente cosmológicas e mesmo ontológicas na interpretação do autor.

E é justamente sobre essa abissal dimensão do desconhecimento, que o autor nos propõe combinações curiosas de inteligibilidade alternativas, sumamente criativas como antídotos subsidiários em prol de uma compreensão mais simples e, porventura, mais solidária, discorrendo sintomaticamente os esteios temáticos, curiosamente, por narrativas e modalidades literárias que, longe de pretenderem subestimar a cientificidade das abordagens comuns sobre África, também privilegiam histórias transmitidas pelos griots (uma espécie de embaixadores andarilhos da cultura), para além do fabulário, dos mitos, dos mitos fundadores, das lendas, dos enigmas e outras formas de expressão cultural igualmente genuínas e que podíamos, legítima e cumulativamente, apelidar de “estruturas mentais”, parafraseando o Philippe Ariès, estudioso francês que, à semelhança de Michel Foucault, seu compatriota, logrou colocar em relevo a importância do estudo das mentalidades.

Esta é, a nosso ver, a escolha essencial que o autor privilegiou nesta linda obra em que, na verdade, a interpretação do real e/ou a sua representação (verdade ou crença) é frequentemente feita a partir dos sentidos e do conhecimento adquirido, numa roda vida de indagação incessante sobre o que é real, de facto, pois que na aceção do autor, na medida em que as nossas explicações, estribadas ou não na cientificidade das coisas ou na sabedoria popular, afiguram-se mais como um conjunto de normas do que evidências, na justa medida em que um facto ou um ato é-nos sempre apresentado – tal como uma certa cosmovisão africana – através de um campo enorme de intrincados contextos, passíveis sempre estes de suscitar inúmeras escolhas interpretativas, a partir de interface cultural que jaz entre a aprendizagem e o desejo de melhor conhecer e de melhor explicar as coisas, os fenómenos e a própria cultura.

Nesta despretensiosa obra do Fortunato, sobressai, com efeito, uma narrativa em que, por via de regra, a verdade ampara toda uma narrativa próxima da realidade, a partir de um inextricável e enorme manto de esplendor cultural e de grandeza histórica.

Leopoldo Amado 
[1960-2021]

Dir. Geral do INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa



Prólogo

Conheci a Guiné-Bissau em 1969, quando ali prestei serviço militar, e uma parte de mim lá ficou, obrigando-me a lá voltar, e ligando-me a ela para sempre, como uma segunda pátria.

A Guiné-Bissau é um país cativante, pois o guineense faz de cada visitante um amigo, recebendo como mais ninguém o faz.

A Guiné-Bissau é o ponto de encontro de muitas culturas, e isso dá-lhe uma enorme riqueza humana e cultural. As lendas e os contos são uma pequena parte dessa riqueza.

A razão de ser do presente livro é, preservar o passado e promover a compreensão intercultural, mostrando alguns momentos de grandeza da história da Guiné-Bissau, alguns dos nomes que a marcaram e um pouco da sua cultura.

As lendas e contos apresentados neste livro, são histórias que continuam a ser contadas à volta da fogueira ou cantadas pelos artistas, povoando o imaginário de quem as ouve. As recolhas das lendas e dos contos foram feitas ao longo dos anos, em contactos que tive na Guiné-Bissau, e em Portugal junto dos imigrantes guineenses.

Este livro foi escrito a pensar nos jovens, e tem por isso uma escrita simples e muitas imagens. O estudo do período histórico onde se desenrolam as lendas, permitiu acrescentar informação adicional, complementando e enquadrando um pouco as mesmas.


Cabe-me por fim agradecer aos que empenhada e entusiasticamente colaboraram desinteressadamente na construção desta obra. Sem eles, ela não teria sido possível.

A todos, o meu muito obrigado.

O autor [Carlos Fortunato, ex-fur mil arm pes inf, MA, CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71, é o presidente da direcção da ONGD Ajuda Amiga]




Lendas balantas

Segundo uma lenda balanta, durante a criação do Mundo, Deus colocou os primeiros balantas junto ao rio Mansoa, na tabanca (aldeia) de Mancalã, perto da cidade de Mansoa. Os balantas eram ali felizes e prosperavam - arroz, milho, feijão, óleo de palma, mangas, cajus, limões, nada faltava aos balantas.

Com as suas enormes pás os balantas lavraram as bolanhas (1), construíram diques e ouriques, e o verde encheu os seus arrozais.

Os espíritos malignos espreitavam, e viam com inveja a felicidade dos balantas, pois Deus ao criar o Mundo colocou na terra espíritos bons e espíritos maus, afastando-se e deixando os homens à sua sorte.

Junto ao rio Mansoa, vivia um espírito maligno, o qual com inveja da felicidade dos balantas fez um dia transbordar a água do rio, o que destruiu as suas casas e inundou com água salgada as suas plantações.

Foram assim os balantas obrigados a abandonar as suas terras, e a espalharem- se pelo mundo.

Esta é a lenda, que explica a razão de os balantas se terem separado, dando origem a vários subgrupos.

A dispersão dos balantas por diversas regiões, segundo o historiador Carlos Lopes (2), ocorreu a partir da região do Óio, na qual Mansoa se inclui, existindo assim uma certa convergência com o que é referido na lenda.

Os balantas teriam partido do Óio, à procura de outros terrenos adaptados ao seu tipo de rizicultura, acabando por se instalar num território mais vasto, que vai desde Casamansa até ao rio Corubal.

O nome da tabanca de origem dos primeiros balantas varia consoante, a pessoa que conta a lenda.

&&&

A organização tradicional da sociedade balanta, sempre foi pouco hierarquizada, dado não aceitarem a existência de reis ou outras figuras semelhantes.

A única figura tradicional que representa o poder é o chefe da tabanca, o qual ouve o conselho dos homens grandes.

A organização dos balantas e a sua força, derivam dos seus sentimentos de igualdade, solidariedade e unidade. Não existem classes ou castas, nunca tiveram escravos ou servos e não aceitam que um membro seja evidenciado ou destacado.

O subgrupo dos balantas-mané foge à regra do que foi dito anteriormente, pois durante um breve período de tempo possuíram reis, mas a tirania e crueldade do último rei levou-os a regressarem à organização tradicional, convictos que uma só pessoa nunca deveria ter tal poder.

Os balantas-mané também chamados de balantas-bejaa (3), são balantas com ligações à etnia mandinga, e a sua cultura mostra essa ligação.

Os balantas-mané estão concentrados no sul do Senegal e na zona de fronteira da Guiné-Bissau.

Grandes trabalhadores, os balantas destacam-se também pelo seu espírito guerreiro. A palavra “balanta”, é uma palavra de origem mandinga, que significa “aquele que resiste”, foram assim designados face à sua resistência ao domínio mandinga.
 
&&&

Na cultura balanta o valor individual é minimizado, por isso não destacam os seus heróis ou grandes líderes, pois todos os membros da sociedade são importantes.

Apesar do que foi dito anteriormente, apresenta-se a seguir uma breve história, de um nome que se destacou.

Na tabanca balanta de Kone, perto de Bula, nasceu um menino muito franzino, mas que, apesar do seu pouco peso e tamanho, era resistente.

Um dia, sem ninguém perceber porquê, um porco agarrou-o pela roupa com os dentes e largou a fugir para o mato com o menino.

As mulheres apontavam para o porco e gritavam:

- Kumba Yalá, kumba Yalá - em balanta, o porco é chamado de kumba,  Yalá era o dono do porco.

Veio gente acudir aos gritos de kumba Yalá. Todos corriam atrás do porco do Yalá, mas este continuou a correr sem ninguém o conseguir fazer parar, e acabou por desaparecer no mato, deixando para trás os seus perseguidores.

A sua mãe N´Tutituti já desesperada pensava o pior, mas, depois de muito procurar o menino foi encontrado ileso, assim como o kumba do Yalá, que estava perto dele, e que afinal só o tinha querido levar a “passear”.

A partir desse dia, as pessoas que passavam pela tabanca perguntavam pelo menino do kumba Yalá.

E assim, seguindo a boa tradição balanta, em que são os acontecimentos que devem dar o nome às pessoas, ficou o menino com o nome de Kumba Yalá (4).

O menino cresceu, jogou futebol no Louletano, licenciou-se em filosofia, tornou-se um poliglota, um político, e no ano 2000 tornou-se no 8º Chefe de Estado da Guiné-Bissau. O nome de Kumba Yalá sempre o acompanhou, mesmo quando se converteu ao islamismo e mudou de nome.

Figura polémica e marcante da política guineense, Kumba Yalá, era também conhecido como o homem do barrete vermelho, do qual nunca se separava.

(Continua)

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Notas do autor:

(1) Bolanha - terreno pantanoso.

(2) Balantas - pag. 63 Kaabunké - Espaço, território e poder na Guiné-Bissau, Gâmbia e Casamance pré-coloniais - Carlos Lopes.

(3) Reino Balanta - pag. 133 do Texto “Agricultura e Resistência na
História dos Balanta-Bejaa”, de Cornélia Giesing.

No seu estudo sobre a identidade dos balantas-mané Cornélia Giesing refere o seguinte:

“Os Bejaa tinham instituições monárquicas, cujo centro se localizava entre a margem sul do rio Cacheu e Armada, em Baiabo (Faja, Jaa) e, juntamente com Kasa em Casamansa, formavam um Reino que é associado aos Banhuns e aos Mandingas (Kasangas), cuja capital Birkana, foi destruída por volta de 1830 pelos Bejaa ....”

O historiador Mamadú Mané refere igualmente a luta dos balantas-mané, mas com uma visão diferente:

“Na Média Casamansa, os Balantas conseguiram suplantar em parte os Mandingas e aí estabeleceram, por volta de 1830, a sua hegemonia sobre o reino baynunk do Kasa de cuja capital, Birkama, se apoderaram. É o nascimento do Balantakunda, que não é um Reino, mas uma zona de ocupação”, pag. 29 do texto “O Kaabu” de Mamadú Mané.
´
Balantakunda, significa lugar balanta, pois a palavra kunda na língua mandinga significa lugar.

(4) Kumba Yala - história corrente entre os balantas daquela zona, confirmada pelo próprio Kumba Yalá ao autor.


[Adaptação, revisão/fixação de texto e inserção de fotos e links para efeitos de edição deste poste no blogue: LG]

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2. Como ajudar a "Ajuda Amiga" ?

Caro/a leitor/a, podes ajudar a "Ajuda Amiga" (e mais concretamente o Projecto da Escola de Nhenque), fazendo uma transferência, em dinheiro, para a Conta da Ajuda Amiga:

NIB 0036 0133 99100025138 26

IBAN PT50 0036 0133 99100025138 26

BIC MPIOPTP


Para saber mais, vê aqui o sítio da ONGD Ajuda Amiga: 

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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P22353: Parabéns a você (1976): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enfermeiro da CART 2412 (Bigene, Binta, Guidage e Barro, 1968/70) e Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381 (Ingoré, Buba, Aldeia Formosa e Empada, 1968/70)


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Nota do editor

Último poste da série de 4 de Julho de 2021 > Guiné 61/74 - P22341: Parabéns a você (1975): Jorge Ferreira, ex-Alf Mil da 3.ª CCAÇ (Nova Lamego, Buruntuma e Bolama, 1961/63)

quinta-feira, 8 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22352: In Memoriam: Cadetes da Escola do Exército e da Escola de Guerra (actual Academia Militar), mortos em combate na 1ª Guerra Mundial (França, Angola e Moçambique, 1914-1918) (cor art ref António Carlos Morais Silva) - Parte VII: Óscar Monteiro Torres, cap pilav (Luanda, 1889 - França, CEP, 1916), o primeiro e único piloto-aviador militar português a tombar em combate na I Grande Guerra.



Óscar Monteiro Torres (1889 - 1916)

Nome: Óscar Monteiro Torres

Posto:  Cap PilAv (ex-Tenente de Cavalaria)

Naturalidade:  Luanda

Data de nascimento;  26 de Março de 1889

Incorporação:  1907 na Escola do Exército (nº 128 do Corpo de Alunos)

Unidade Serviço de Aviação:  Escola de Aeronáutica Militar

Condecorações; Medalha da Cruz de Guerra 1ª classe (a título póstumo)

Promoção a Major por Distinção (a título póstumo)

TO da morte em combate:  França (CEP)

Data de Embarque; 23 de Dezembro de 1916

Data da morte: 20 de Novembro de 1917

Sepultura;  Sepultado com honras militares alemãs no cemitério de Laon. O seu corpo foi transferido em 1920 para o cemitério Vieille Chapelle e daí, em 1925, para o cemitério de Richebourg l'Avoué. Transladado para Portugal,  teve funeral nacional em 22 de Junho de 1930 para o Cemitério do Alto de S. João (Jazigo particular).

Circunstâncias da morte: Primeiro e único piloto-aviador militar português a tombar em combate. Em 19 de Novembro de 1917, em combate aéreo contra aeronaves alemãs, foi abatido e recolhido por forças alemãs que o hospitalizaram no hospital militar de Laon onde faleceu no dia seguinte, 20 de Novembro de 1917.



António Carlos Morais da Silva, hoje e ontem



1. Continuação da publicação da série respeitante à biografia (breve) de cada um oficiais oriundos da Escola do Exército e da Escola de Guerra que morreram em combate, na I Guerra Mundial, nos teatros de operações de Angola, Moçambique e França (*).

Trabalho de pesquisa do cor art ref António Carlos Morais da Silva, cadete-aluno nº 45/63 do Corpo de Alunos da Academia Militar e depois professor da AM, durante cerca de 3 décadas; é membro da nossa Tabanca Grande, tendo sido, no CTIG, instrutor da 1ª CCmds Africanos, em Fá Mandinga, adjunto do COP 6, em Mansabá, e comandante da CCAÇ 2796, em Gadamael, entre 1970 e 1972.


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Guiné 61/74 - P22351: Agenda Cultural (774): A segunda decoração d’A Brasileira: Lembranças de José-Augusto França e de bela azulejaria no Corpo Santo, ao Cais do Sodré (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Julho de 2021:

Queridos amigos,
A minha colaboração no jornal "O Templário" centra-se, obviamente, em personalidades e factos familiares ou tomarenses. Acontece que ao longo do século XX Tomar foi terra natal de duas personalidades de grande prestígio nacional e internacional: o compositor Fernando Lopes-Graça e o historiador de arte José-Augusto França, este a caminho dos 99 anos de idade. Bastante arredio a homenagens post-mortem, tenho procurado divulgar a obra do historiador, impressionante pela qualidade e quantidade, vai desde a Lisboa Pombalina até à análise das Artes Plásticas no fim do século XX. José-Augusto França é seguramente o historiador que mais estudou a primeira e a segunda decoração de A Brasileira, a primeira encetada em 1926 e a segunda em 1971. O Museu Nacional de Arte Contemporânea resolveu homenagear com uma evocação a propósito do cinquentenário da segunda decoração, está patente uma exposição documental com inéditos referentes à primeira decoração, perdeu-se o rasto a um conjunto de obras, mas a evocação mostra duas obras icónicas de Almada Negreiros e uma obra de António Soares. E o visitante tem oportunidade de ver imagens daquele dia em que A Brasileira mudou de pele, em 1971. À saída, e estando uma tarde aprazível, desci a Rua do Ferragial até ao Corpo Santo, gosto muito de cirandar dali, se possível beber uma cerveja de gengibre no British Bar e percorrer a Ribeira das Naus. Mas não resisti a registar a bela azulejaria de uma velha casa de ferragens, felizmente que ainda temos algum acervo representativo de Arte Nova e Arte Deco de estabelecimentos comerciais. Espero que apreciem.

Um abraço do
Mário


A segunda decoração d’A Brasileira:
Lembranças de José-Augusto França e de bela azulejaria no Corpo Santo, ao Cais do Sodré


Mário Beja Santos

A exposição evoca a segunda decoração d’A Brasileira, está patente no Museu Nacional de Arte Contemporânea, revela documentação em grande parte inédita da decoração anterior e podemos ver fotografias da colocação de pinturas nas paredes, que aconteceu na noite de 26 de junho de 1971, assim foram apeados os que lá estavam desde 1926. O visitante poderá obter informação do trabalho da primeira decoração que coube aos pintores Eduardo Viana e António Soares, e apareceu mesmo a obra deste último que se julgava perdida, como escrevem Maria de Aires Silveira e Raquel Henriques da Silva, a quem coube comissionar esta evocação, mesmo com muitas cumplicidades e apoios e muito estudo, não se encontraram vestígios do espólio documental do antiquário e decorador Joachim Mitnizky, que comprara, em 1970, os quadros envelhecidos da montagem de 1926. E alertam-nos as duas investigadoras, no quadro desta celebração, da importância histórica que teve e que tem A Brasileira, “para a urgência de salvaguardar e estudar os espólios de personalidades que, sendo nossas contemporâneas, estão sujeitas a um processo injusto de esquecimento”.
José-Augusto França no centro de um grupo que acompanhou a segunda decoração, ele é o autor privilegiado dos estudos da primeira e segunda decoração, inclusive romanceou um quadro de Almada e aparece numa obra de Nikias Skapinakis da segunda decoração
Imagem do transporte das obras de arte, em 26 de junho de 1971
Imagens dos quadros já montados na segunda decoração
Duas obras de Almada Negreiros que faziam parte da primeira decoração
Quadro "As Banhistas" em pormenor, permitindo analisar a mestria, a inovação e a revolução das formas que Almada trouxe ao 2.º Modernismo
Não é por acaso que A Brasileira goza da fama de estar entre os mais belos cafés do mundo
Uma imagem alusiva a um quadro de Jorge Barradas que fazia parte da primeira decoração, depois desaparecido
Quadro de António Soares, também presente na primeira decoração
Imagem alusiva a um recanto da icónica A Brasileira

Conhecedor dos trabalhos de José-Augusto França sobre as duas decorações d’A Brasileira, não posso deixar de felicitar quem organizou esta singela homenagem e revelou pormenores inéditos sobre a primeira. Feliz por tudo quanto visitara, desci a Rua do Ferragial, que anda bastante remoçada, até ao Corpo Santo, comecei por olhar para o escritório na esquina da Rua do Arsenal onde Fernando Pessoa escreveu algumas das suas obras memoráveis e virei-me para um estabelecimento que conheço desde pequeno e cuja azulejaria admiro tão profundamente. Felizmente há também quem estude os azulejos semi-industriais de fachada, as cartelas, os letreiros e painéis publicitários, até as estações de caminho-de-ferro, de um modo geral o nosso património de Arte Nova e Arte Deco guarda primores de valor incontestável, pois bem, aqui fiquei regalado frente a estes detalhes, até me apetece partir daqui para a Avenida Almirante Reis ou ir ver a fachada da Fábrica Viúva Lamego, depois deu-me na veneta e daqui vou em excursão sem, porém, vos deixar esta grata lembrança que captei no Corpo Santo. Laus Deo.
____________

Nota do editor

Último poste da série de 22 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22307: Agenda Cultural (773): Convite para ver a entrevista de Carlos Vale Ferraz a Mário Carneiro, no programa da RTP-África, Mar de Letras, onde o autor fala do seu romance "Angoche - Os fantasmas do Império", uma abordagem ao misterioso caso ocorrido há 50 anos na costa de Moçambique e ainda hoje não resolvido

Guiné 61/74 - P22350: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XII: A primeira noite em Nhacobá (Op Balanço Final)


Foto nº 1  > Guiné > Região de Tombali >  Nhacobá > CCAV 8351 > O furriel Costa: depois do assalto,  a primeira noite na nova casa 

Foto (e legenda): © Joaquim Costa (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Foto nº 2  > Guiné > Região de Tombali >  Nhacobá >
 Dias depois do assalto > Foto A. Murta  / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné,  com a devida vénia



Foto nº 3  > Guiné > Região de Tombali >  Nhacobá > CCAV 8351 > Operação “Balanço Final” > Assalto e ocupação da base do PAIGC > A grande e bonita bolanha de Nhacobá

Foto de A. Murta com a devida vénia



Foto nº 4 > Guiné > Bissalanaca > BA 12 > Um caça Fiat G.91 R/4 dos “Tigres” da Guiné. Crédito: Paulo Alegria






Joaquim Costa, ontem e hoje. Natural de V. N. Famalicão,
vive em Fânzeres, Gondomar, perto da Tabanca dos Melros.
É engenheiro técnico reformado.



Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74)

Parte XII: A primeira noite em Nhacobá (Op Balanço Final) 



Consumado com sucesso o assalto a Nhacobá, tomámos posse definitiva da base do PAIGC pernoitando aqui, evitando a sua reocupação. Não era hora de questionar decisões superiores pelo que, conscientes que nos esperava uma visita do IN antes do anoitecer (belo filme tendo como cenário o parque do Prater em Viena de Áustria, onde o Porto, em 1987, foi muito feliz bem como a minha família quando o visitamos em 2011), lá metemos mãos à obra com cada um de nós a abrir um pequeno abrigo com o que tinha mais à mão, neste caso, a faca de mato. Pela primeira vez (e única) fiquei com bolhas nas mãos.

Com a certeza da visita do IN, como o da Páscoa ao domingo (ou vitória do Porto na Luz), lá nos enroscamos no pequeno buraco cavado com a nossa faca do mato, numa espera “stressante”, estranhamente desejando que as “coisas” começassem, já que não suportávamos mais esperas. Já estávamos por tudo. Falando baixinho (com receio de me considerarem já por irremediavelmente apanhado), dizia para com os meus poucos botões do camuflado: "Já que tem que ser,  vamos a isto", permitindo assim algum descanso até ao amanhecer. No momento, era mais violenta a espera do que o confronto com o IN.

A resposta do IN (felizmente?), chegou cedo e com tudo a que “tínhamos direito”: desde morteirada a RPG, através da outra margem do rio. Dada a distância,  “amochámos” assistindo impotentes ao espetáculo das explosões das granadas de RPG nas copas das árvores, com pedaços de árvore caindo sobre as nossas cabeças, fazendo-se dia com os contínuos clarões e os rebentamento das granadas de morteiro por todo o lado, pois as nossas armas dificilmente alcançariam a outra margem, deixando essa tarefa aos obuses do Cumbijã.

Entretanto acontece o impensável: ao pedirmos apoio da artilharia a Cumbijã as granadas dos nossos obuses começam a cair, também, em cima das nossa cabeças (o chamado fogo amigo), o rápido contacto rádio, já em desespero (… e a ajuda preciosa do amuleto/mapa do Machado?), fez com que a segunda leva de granadas, com grande alívio do grupo, já passassem por cima das nossas cabeças. Felizmente não teve consequências. 

Quando chegámos no dia seguinte ao Cumbijã,  o Alferes artilheiro (um engenheiro químico, meu amigo, da Póvoa do Varzim) pediu desculpa e chorou perante o grupo. Não fossem os buracos cavados com as facas de mato e por ventura esta narrativa seria bem mais dramática… ou simplesmente, não haveria narrativa!?

Foi uma noite muito difícil, com uma grande sensação de impotência, dada a quase impossibilidade de ripostarmos ao ataque pois que nem o pequeno morteiro nem a bazuca conseguiam intimidar o IN muito mais bem equipados que nós. Ao mesmo tempo respiramos de alívio já que o nosso receio (não medo?) era um confronto direto tendo em conta as nossas precárias condições de defesa. O IN também receou e atacou da outra margem do rio…

Não obstante o volume e intensidade do fogo IN, e o fogo amigo, não tivemos nem baixas nem feridos graves, apenas feridos ligeiros. Enfim, algum descanso até ao amanhecer, como era o meu desejo.

Exaustos, sujos, desidratados e mal alimentados (não confundir com: feios, porcos e maus), fomos rendidos ao amanhecer (belo filme…).

Ao ver chegar os nossos camaradas que nos vinham render, depois de um longo dia de canseiras, tivemos de refrear um pouco o nosso entusiasmo pois o nosso desejo era atirarmo-nos aos braços destes “anjos” que chegavam e beijá-los.  Fo
i aquela sensação, tão agradável, do regresso a casa do lavrador, depois de um dia intenso de trabalho no campo! 

Esperava-nos um banho de água com gasóleo, umas “bejecas” fresquinhas, um arroz com estilhaços (do qual já tínhamos saudades) e, depois do jantar, um jogo de cartas (King) com um whisky Johnnie Walker, em amena cavaqueira sobre tudo (como ouvir as lições de política do Furriel Aleixo ) menos guerra.

Entretanto! Mais uma visita do “paizinho” General Spínola.

Não nos podemos queixar de sermos ignorados pelo Homem Grande da Guiné: Boas vindas no Cumeré; visita a Aldeia Formosa onde lhe prestei guarda de honra (com a minha farda “acabadinha” de ser lavada pela minha simpática lavadeira); visita a Cumbijã e agora visita relâmpago a Nhacobá

O homem sempre fez questão de mostrar que estava na linha da frente com os seus homens visitando zonas onde ocorreram sucessos militares com alguma complexidade. Foi neste contexto que, consolidado o assalto, fez uma visita relâmpago a Nhacobá sem antes mandar na sua frente dois aviões Fiat para bater a zona em frente na outra margem do rio de onde éramos atacados. 

Esta foi uma visita “de médico” já que uma mina rebentou acionada por uma máquina, felizmente sem consequências a não ser a projeção de terra para o impecável camuflado do General. Sendo de facto um militar destemido não deixou de sacudir a terra e dizer para os seus ajudantes de campo: "Vamos, vamos embora daqui!...

Foi a primeira vez que assisti (de camarote VIP), à atuação dos nossos Fiat (caças bombardeiros), fazendo voo picado sobre o objetivo largando as bombas e disparando as metralhadoras colocadas nas asas. Se não fosse a situação periclitante em que estávamos, e as bombas fossem de carnaval, teria batido palmas como se estivesse numa das espetaculares exibições dos “Asas de Portugal” (Li em algum lado, ou sonhei, que o Piloto “strelado” Miguel Pessoa chegou a fazer parte dos Asas de Portugal – Faz sentido!)


Continua...
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Nota do editor:

Último poste da série > 23 de junho de  2021 > Guiné 61/74 - P22308: Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-Furriel mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74) - Parte XI: Op Balanço Final: Assalto a Nhacobá ou o dia mais longo

Guiné 61/74 - P22349: "Lendas e contos da Guiné-Bissau" : um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte I: Vamos dar início a uma nova série, um mimo para os nossos leitores




Lendas e contos da Guiné-Bissau / J. Carlos M. Fortunato ; il. Augusto Trigo... [et al.]. - 1ª ed. - [S.l.] : Ajuda Amiga : MIL Movimento Internacional Lusófono : DG Edições, 2017. - 102 p. : il. ; 24 cm. - ISBN 978-989-8661-68-5


Livro disponível em pdf no sítio da Ajuda Amiga.

1. No passado dia 16 de junho, mandámos ao Carlos Fortunato (ex-fur mil arm pes inf, MA, CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71, e presidente da direcção da ONGD Ajuda Amiga, com 60 referências no nosso blogue)  a seguinte mensagem:

Data - quarta, 16/06, 18:03

Assunto - Lendas e contos da Guiné-Bissau

Carlos: Publicámos em 2017 um poste teu sobre o teu/vosso livro "Lendas e contos da Guiné-Bissau" (*)
 
Pena que não tenha tido comentários... Apesar de tudo, foi dos teus postes com um bom nº visualizações (c. 280), mesmo assim abaixo de outros (com 700, 600, 500).

O teu/vosso projeto (da "Ajuda Amiga") é muito original e merece ser melhor conhecido. Se não vires inconveniente, podemos reproduzir o livro, no nosso blogue, numa série, seguindo o índice...

Far-se-ia uma apresentação / sinopse, com base na vossa página (ou pode ser um texto teu inédito)... Dá-se visibilidade a um projecto pedagógico, lusófono e solidário, e ao mesmo tempo reforça-se o pedido de apoio à "Ajuda Amiga", enquanto ONGD.

Naturalmente haverá em cada poste um link para a vossa página... E a série pode ter o teu nome: "Lendas e contos da Guiné-Bissau:um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte I: Apresentação...; Parte II - Ficha técnica,capa, índice, prefácio, prólogo...; Parte III - Lendas balantas, etc-

Que achas ?

O nosso blogue continua, apesar do "cansaço" de 17 anos, a ter uma média de 70 mil "visitas/visualizações" por mês... (mais de 100 mil, nos últimos trinta dias). E a Tabanca Grande já vai em mais de 840 membros (dos quais 100 já morreram)...

Mantenhas. Luís

2. Resposta do Carlos Fortunato, com data de 18 de junho passado:

Data: 18/06/2021, 00:04

Luis: Sim, podemos reproduzir no blog Luis Graça &  Camaradas da Guiné o Livro Lendas e Contos da Guiné-Bissau. Não era essa a ideia inicial, mas parece-me bem, pois o blog é também um parceiro da "Ajuda Amiga" e eu tenho gosto em participar.

Em cada post transcrevias um conto ou uma lenda, foi isso que percebi. Certo?

Como os textos recorrem muitas vezes para as notas finais, no primeiro post teríamos que inclui-las e os dois textos com a "Breve História de ..." também complementam algumas lendas...

Queres também incluir o prefácio do nosso falecido amigo Leopoldo  Amado e o Prólogo que escrevi? Não sei se vale a pena,n as pessoas raramente têm interesse nestes textos ... Deixo isto ao teu critério.

A apresentação desta série pode ser feita com base no texto que está na página do site da "Ajuda Amiga".

À medida que forem publicados as lendas e os contos, farei nalguns casos alguns comentários, para esclarecer ou salientar coisas que podem passar despercebidas.

Só um esclarecimento sobre outro assunto, eu fui furriel de armas pesadas, embora tivesse andado quase agarrado à G3, que também era pesada ..., ainda me especializei depois em minas e armadilhas.

Obrigado e um alfa bravo

Carlos Fortunato

3. Resposta do nosso editor LG, na volta do correio:

 Obrigado, Carlos, pela tua generosidade. Acho que, com esta iniciativa, daremos mais visibilidade e notoriedade à "Ajuda Amiga" e ao vosso excelente trabalho na Guiné. Haverá sempre um link para a página da "Ajuda Amiga. Vou seguir as tuas indicações. E voltar a apelar, até ao fim do mês, para a consignação dos 0,5 % do IRS. (**)

E desculpa o lapso. a troca de especialidade: afinal fomos os dois de armas pesadas de infantaria, mas na prática bravos infantes da G3, eu na CCAÇ 12, tu na CCAÇ 13.

Gostei muito da tua belíssima homenagem ao nosso comum amigo Pepito. A Isabel Levy também gostou. (***)

Mantenhas. Luís

4. Como ajudar a "Ajuda Amiga" ? 

Caro/a leitor/a, podes ajudar a "Ajuda Amiga" (e mais concretamente o Projecto da Escola de Nhenque) (*), fazendo uma transferência, em dinheiro, para a Conta da Ajuda Amiga:


NIB 0036 0133 99100025138 26

IBAN PT50 0036 0133 99100025138 26

BIC MPIOPTP


Para saber mais, vê aqui o sítio da ONGD Ajuda Amiga
: http://www.ajudaamiga.com

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 31 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17192: Ser solidário (201): A ONG Ajuda Amiga lança um livro solidário com contos da Guiné-Bissau para distribuição gratuita pelas escolas, associados e doadores da ONG presidida pelo Carlos Fortunato

(***) Vd. poste de 15 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22283: (De)Caras (138): Pepito, o amigo sportinguista (Carlos Fortunato, ex-fur mil trms CCAÇ 13, "Os Leões Negros", Bissorã, 1969/71, e presidente da direção da ONGD Ajuda Amiga)

quarta-feira, 7 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22348: (In)citações (188): Lembrando a nossa CCAÇ 1439 (João Crisóstomo, ex-Alf Mil Inf, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67)


1. Mensagem do nosso camarada João Crisóstomo, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 1439 (Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67), enviada para conhecimento ao nosso Blogue em 3 de Julho de 2021:

Caríssimos,
Parece-me que estou a tentar fazer chover no molhado… mas sempre fui teimoso, que hei-de fazer? Eu sei que "estamos todos a ficar velhos para estas coisas”… mas, eu também estou e ainda sou capaz de arranjar tempo para o que acho vale a pena… e acreditem que por vezes tenho mesmo de me “de me dobrar e desdobrar”; embora eu, para me convencer tenha de dizer a mim mesmo que "quem trabalha por gosto não cansa…”

Tenho pena que a nossa CCAÇ 1439 esteja tão pouco representada em meios escritos. Para que a nossa CCAÇ 1439 num futuro próximo não passe quase despercebida será bom que mais alguém apareça e dê a cara.

Já vos falei do blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné. É mesmo uma pena que vocês, se ainda não o conhecem deixem de o fazer. O Beja Santos que esteve em Missirá depois de acabada a nossa “peregrinação”; o Henrique Matos que ainda esteve uns dias connosco em Enxalé antes de ir para para Porto Gole; o Júlio Martins Pereira e eu somos os únicos membros desta “tabanca “ que temos falado sobre a nossa estadia na Guiné. O Viegas também tem contribuído especialmente com fotos, mas não sei se alguma vez se chegou a inscrever.

Para tentar dar o meu contributo eu escrevi uma “crónica”: “Companhia de caçadores 1439. A sua história como a lembro e vivi” cópia da qual eu enviei para todos vocês, (creio eu que a receberam). Creio que todos vocês vão gostar de ler o que neste blogue, tem sido narrado e escrito especialmente pelo Beja Santos e Henrique Matos sobre tanta coisa que, eu sei, todos vocês gostam de recordar, embora muitos dos momentos e acontecimentos vividos tenham sido tristes e trágicos. Sei que vão gostar de lembrar, ao lerem os escritos de outros que nem da nossa companhia são a falarem dos lugares onde estivémos e por onde passamos, das situações quase idênticas… e dos nossos camaradas,  muitos deles já falecidos que merecem ser lembrados... Capitão Pires, Zagalo, o Mano, o Manuel Açoriano, Eduardo para falar dos que assim de repente me vieram à memória.

No blogue está descrito o que é preciso fazer e que é bem simples:
Basta ter sido combatente no TO da Guiné, entre 1961 e 1974, e mandar-nos duas fotos (uma atual e outra antiga) e um pequeno texto de apresentação do candidato (posto, especialidade, unidade, locais onde esteve, etc.)... Entra em contacto connosco, onde quer que estejas!... A Tabanca Grande é tua, este blogue é teu.

Os endereços E-mails que sugiro para o fazer (embora hajam mais): luis.graca.prof@gmail.com e, ou carlos.vinhal@gmail.com

Bom, vou ficar por aqui antes que me mandem ir dar uma curva… antes de desligar: o Júlio Pereira é o outro e único membro da nossa Companhia no blogue; mas por motivos de saúde não contacta mais o blogue. De vez em quando telefono-lhe (ele nasceu no mesmo dia mesmo ano que eu; e sofremos “minas" na Guiné no mesmo dia!). Sofreu um AVC e sofreu o COVID de que recuperou. Está em convalescença, mas estas coisas demoram sempre mais tempo a recuperar do que gostaríamos fosse.

Um grande abraço, com esperanças de que alguém apareça para eu não me sentir tão sozinho.

João Crisóstomo
Nova Iorque

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Nota do editor

Último poste da série de 2 DE JULHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22334: (In)citações (187): As tabernas de antigamente na minha aldeia, e a importância que elas tinham (António Eduardo Ferreira, ex-1.º Cabo CAR da CART 3493/BART 3873)

Guiné 61/74 - P22347: Historiografia da presença portuguesa em África (270): O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (7) (Mário Beja Santos)

Sociedade de Geografia de Lisboa > Uma das salas com os tesouros da Sociedade de Geografia de Lisboa


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Novembro de 2020:

Queridos amigos,
O Ultimatum de janeiro de 1890 indignou os sócios da Sociedade de Geografia, mas o trabalho não esmoreceu, como é patente na súmula destas atas. Moçambique passou a ser uma questão de fundo, os heróis da expedição de Lourenço Marques serão alvo de uma grande homenagem com a presença da família real. Mas há outras questões quentes que são os negócios e a necessidade de impulsionar missões constituídas por religiosos portugueses, isto reconhecer-se a crescente necessidade de missionários protestantes. A leitura destas atas, que se prolongarão até ao fim do século, e que terão desaparecido porventura com a morte do grande dinamizador da Sociedade de Geografia de Lisboa nesta época, Luciano Cordeiro, não permite uma leitura absoluta do que era o pensamento imperial, carreia motivações, desvela o papel de alguns protagonistas, mostra inequivocamente a Sociedade de Geografia de Lisboa como uma agência científica e o principal centro de interesses para onde converge a construção do Terceiro Império Português. Aqui se louvam heróis ou figuras dadas como decisivas na implantação imperial, caso de António Enes, em Moçambique, ou Henrique Dias de Carvalho, em Angola. Caminhamos para o fim, o painel de heróis da pacificação organiza-se, a Sociedade de Geografia de Lisboa, sobretudo graças a Luciano Cordeiro, ganhou o seu papel na História.

Um abraço do
Mário


O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (7)

Mário Beja Santos

Passado o choque do Ultimatum, as reuniões dos fundadores prosseguiram, havia as explorações em curso, continuaram as homenagens e os agradecimentos. Recorde-se que em novembro de 1890 fora apresentado um documento intitulado “A questão da Lunda”, tratava-se do agradecimento dos comerciantes da região ao trabalho desenvolvido pelo então Major Henrique Dias de Carvalho. E havia propriamente a pressão exercida junto dos departamentos governamentais, em setembro desse ano a Direção da Sociedade de Geografia enviara um documento ao rei D. Carlos intitulado “As concessões de direitos majestáticos a empresas mercantis para o Ultramar”, curiosamente terminava assim:
“Senhor, gratos ao patriótico incitamento e ao generoso favor com que Vossa Majestade e os seus governos nos têm animado a perseverar no estudo e na defesa dos graves interesses nacionais empenhados na consolidação e na prosperidade do nosso vasto património ultramarino, dedicando a este e aos variadíssimos problemas que nessa causa de contêm, o melhor dos nossos esforços, queremos mais uma vez corresponder a esse incitamento e favor e à confiança oficial e pública que não decerto pelo valor de tais esforços (…), vindo pedir a Vossa Majestade que se reconsidere e não se persista e continue no processo de alienar a administração e a exploração geral de toda ou parte da província de Moçambique em companhias mercantis dotadas de direitos e privilégios majestáticos”.

Já vimos como a composição do núcleo fundador conhecera graduais acréscimos, a dinamização económica que África possibilitava atrai imensos comentários e tomadas de posição. Por exemplo, o sócio João Augusto Barata mandou para a mesa a seguinte proposta:
“As colónias modernas devem ser não só centros de produção, mas também mercados de consumo. E é debaixo deste último ponto de vista que algumas potências manufatureiras procuram estabelecer o seu domínio nas regiões africanas e atropelam todos os direitos para alargar as suas esferas de ação.
A França, a Bélgica, a Itália, a Alemanha e a Inglaterra, todos esses países com excesso enorme de produção que o velho continente não pode consumir, e que a poderosa indústria norte-americana tenta desviar do novo mundo, têm as suas atenções fixadas sobre as terras de África, que civilizam para estabelecer as necessidades materiais das populações a fim de atraí-las ao consumo dos produtos das suas indústrias.
O nosso país tenta, de alguns anos para cá, estabelecer o desenvolvimento das suas colónias, mas esse desenvolvimento nunca se tornará útil à metrópole se no seio desta não se derem progressos industriais notáveis. Não são os produtos agrícolas que a África precisará importar porque segundo as narrações dos abalizados africanistas há zonas naquelas feracíssimas paragens onde as culturas próprias do clima europeu se desenvolvem com prodigiosa exuberância e pasmosa produção.
Mas há muitos produtos que as colónias virão pedir à mãe-pátria e há uma infinidade de artigos que a metrópole lhe deve fornecer. Não deixemos, pois, que o desenvolvimento das possessões portuguesas vá aproveitar às indústrias de outros países; preparemo-nos para delas obtermos o excesso de exportação que tão necessário é ao regime económico da nação portuguesa”
.

E posta esta advertência o sócio fala nos caminhos-de-ferro, nos produtos siderúrgicos, no carvão e no ferro, alude à enorme montanha de minérios de ferro nas serras de Roboredo e Rates, as serras dos Monges, S. Tiago do Escoural e Alvito, antracites e outras riquezas que não podíamos continuar a descurar.

Em janeiro de 1891, após eleições o Presidente da Sociedade de Geografia passa o ser o Conselheiro António do Nascimento Sampaio. E pela segunda vez se fala da Guiné, através de uma comunicação da Direção que conheceu aprovação unânime: “A Sociedade de Geografia profundamente deplora o desastre sofrido na Guiné por forças encarregadas de guardar, manter e defender a autoridade e o prestígio da Soberania Portuguesa”. Procura-se um novo espaço para a sede da Sociedade, está-se a negociar o palácio da Rua das Chagas, pertencente ao sócio Sr. Carvalho Monteiro (o conhecimento Monteiro dos Milhões, o proprietário da Quinta da Regaleira), onde mais tarde veio a funcionar o Instituto Comercial Lisboa. Fica-se igualmente a saber que há muitos portugueses no Brasil que anseiam emigrar para Angola.

Com uma certa regularidade, os sócios pronunciam-se sobre a questão da missionação e um deles aproveita um artigo publicado no jornal Districto de Lourenço Marques para nos dar conta do que seriam as aspirações para o perfil do novo missionário: “O missionário de hoje tem que ser necessariamente um homem do seu tempo, prático e positivo, como convém ao ideal do seu mister. Só ele pode traduzir bem o pensamento da civilização, envolvendo nas práticas religiosas o nome da nação que representa. A ideia de Deus anda ligada, mais que coisa alguma, com a ideia da pátria. E estes dois nomes, por si tão grandes e tão magnânimos, são os únicos que, espalhados de selva em selva, poderão fazer do preto um bom homem e um ente digno de si. É necessário que sejam portugueses os missionários de terras portuguesas, porque só eles saberão realizar com o máximo proveito para a pátria, a sua missão tão simpática a todos os respeitos. Até há muito pouco tempo, achava-se o distrito de Lourenço Marques desprovido de missionários portugueses”. E refere a preocupante presença dos missionários protestantes, eles andam a educar mulheres indígenas, vê-se agora em Lourenço Marques um grande número de mulheres vestidas com trajes europeus e têm diminuído a embriaguez e a prostituição das mulheres. Seria motivo de reflexão para se tomarem medidas efetivas de lançar no terreno missionários portugueses.

Em 1892 já se fala explicitamente na fusão do Museu Colonial com o Museu da Sociedade de Geografia (o Museu Colonial existia junto do Ministério da Marinha e do Ultramar). Aqui e acolá as sessões debruçam-se sobre temas internacionais, é o caso da Exposição Universal de Chicago que se iria realizar no ano seguinte, havia que fazer um estudo sobre as relações marítimas e comerciais de Portugal com os Estados Unidos. Na sessão de maio desse ano, com a presidência do Dr. Sousa Martins, Luciano Cordeiro faz revelações sobre o Padrão de Diogo Cão que entrara nas coleções do museu. Emite-se parecer sobre a importância das missões ultramarinas, trabalho que coube à Comissão Africana, analisa-se a delimitação de Manica bem como as celebrações do Centenário do Nascimento do Infante D. Henrique, bem como do Centenário do Descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia.

Em meados desta década de 1890 ganha ênfase a glorificação dos heróis e das forças expedicionárias em campanhas de pacificação em Moçambique. E quando o Major Calda Xavier morre a alocução de Luciano Cordeiro é vibrante:
“Quando, penetrada do mesmo santo entusiasmo que agita generosamente a nação, a nossa Sociedade vê, satisfeita e consolada, refletir-se nesse entusiasmo a sua obra de vinte anos de confiada e persistente propaganda e o esforço heroico de tantos dos seus sócios que vão por dias voltar da última campanha de África, chega-nos inesperadamente a notícia de que não voltará com eles, de que não mais veremos entre nós um dos nossos mais antigos e dedicados companheiros, o valente de Mopéa e de Maciquece, o intrépido e rijo explorador do Inharrime e do Limpopo, e que de há tanto e há tão pouco tempo ainda ensinada todos a vencer a insubordinação insolente dos vátuas, e que deu a ideia e a vida para nos redimirmos dessa longa vergonha do Gungunhana; em suma o inspirador experiente, o provedor acrisolado, o guia e o conselheiro autorizado, modesto, obscuro dessa campanha tão brilhantemente dirigida por outro consócio nosso, o Coronel Galhardo, tão heroicamente encerrada por outro consócio ainda, o Capitão Mouzinho.
Caldas Xavier morreu.
Partira deixando na pobreza os pais, a mulher e os filhos.
Morreu deixando-os na miséria. Ao partir, aquele belo coração supunha salvar a família. Depois de ter estragado a saúde na vanguarda dos que seguem a Pátria, não tinha garantido o pão quotidiano dos seus. Morreu na vanguarda dos que morrem por ela, certamente entregando-lhe no último alento a prece pelo futuro dos filhos (…) Por isso, a vossa mesa tem a honra de propor-vos, que, com o registo público do nosso profundo sentimento, a autorizeis a que em vosso nome recomendasse à justiça e à munificência do Estado a família de Caldas Xavier”
.

Confere-se medalha de ouro a António Enes, Comissário Régio. E em 25 de abril de 1896 há uma sessão solene no Real Teatro de S. Carlos, os heróis da expedição de Lourenço Marques vão ser homenageados e vitoriados.

(continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22329: Historiografia da presença portuguesa em África (269): O pensamento colonial dos fundadores da Sociedade de Geografia de Lisboa (6) (Mário Beja Santos)