1. Mensagem do nosso camarada Carlos Fortunato, (ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 13, "Os Leões Negros", Bissorã, 1969/71, e presidente da direcção da ONG Ajuda Amiga):
Luís
Tenho-me lembrado mais frequentemente do nosso falecido amigo, o Pepito, porque o Sporting esta época arrasou e isso seria uma grande alegria para ele.
Quando do seu falecimento escrevi o texto que envio em anexo, que era para integrar um livro de memórias, mas que não se concretizou e que poderiamos publicá-lo no blog. Juntem uma foto minha com ele se acharem bem.
A primeira fase do projeto da construção da escola em Nhenque pela Ajuda Amiga, está nos seus acabamentos finais, terminando este mês, depois farei um pequeno texto e enviarei fotos da mesma, mas fica ja aqui mais uma vez o nosso agradecimento pelo apoio dado a esta obra, que também é vossa.
Esperemos que a consignação do 0,5% do IRS nos ajude a concluir a mesma, relembramos que o nosso NIF é o 508617910. As fotos do andamento da construção estão no site da Ajuda Amiga http://www.ajudaamiga.com
Um grande obrigado a todos pelo empenho e dedicação que têm dado ao blog e um alfa bravo romeo alfa charlie oscar.
Carlos Fortunato
Ex-Furriel da CCaç 13 (1969-1971)
Presidente da Direção da Ajuda Amiga
Guiné-Bissau > Bissau > C. 2006 > Pepito (1949-2012) e Carlos Fortunato
Foto: © Carlos Fortunato (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Pepito, o amigo sportinguista
A minha amizade com o Pepito foi algo que me honrou e me marcou, porque são raros os homens com as suas qualidades, e não digo isto apenas por dizer, a sua obra na AD fala por si, relembro apenas um episódio que se passou entre nós, para mostrar a sua grandeza e amizade.
Um dia ofereci-lhe uma carrinha de caixa aberta que comprei na Guiné-Bissau, para me poder deslocar durante as curtas estadias que ali faço (3 semanas uma vez por ano ou de 2 em 2 anos), ele poderia fazer dela o que quisesse, era dele, o que lhe pedia era que, enquanto estivesse na sua posse e operacional, me disponibilizasse a mesma quando eu ali me deslocasse, pois era difícil alugar carrinhas.
A carrinha estava legalizada, o seu estado era impecável, tinha tido uma grande reparação, parecia nova, ficar proprietário dela seria, para qualquer um, uma tentação, no entanto a resposta do Pepito foi negativa, não aceitou, e apesar de ter muito trabalho ofereceu-se para ficar responsável pelo seu aluguer, e por assegurar a sua manutenção, colocando o dinheiro deste aluguer no banco em meu nome.
Não aceitei a sua oferta amiga, porque não era minha intenção sobrecarregá-lo com trabalho, mas não pude deixar de admirar o seu desprendimento pelos bens materiais.
O Sporting era o nosso tema de brincadeira e quando lhe disse que não tinha clube, "batizou-me" de sportinguista, e confessou-me que quando via o Sporting jogar se exaltava e vivia aqueles momentos com uma estranha intensidade.
Um dia uns amigos animistas, na fé de o protegerem, convidaram-no a ir ao anoitecer fazer uma cerimónia secreta, junto a um poilão sagrado, o Pepito aceitou, curioso em conhecer esse ritual.
A cerimónia envolveu um banho, mas nesse dia jogava o Sporting e, atrasado para o jogo, o Pepito vestiu-se à pressa sem se enxugar, ficando a camisa toda molhada.
A esposa, Isabel, ao ouvir a sua entrada em casa, foi à sala saber dele, e conhecedora da sua paixão pelo Sporting, quando o viu assim todo molhado a olhar para a televisão, pensou que era devido ao jogo, e admirada por o ver já naquele estado, exclamou:
- Já começou! - e saiu da sala, porque, se já estava assim, as coisas não estavam a correr bem, e o melhor era deixá-lo sozinho.
O Pepito contou-me esta história a rir, comentando:
- Não sei explicar o porquê de ficar assim. No resto das coisas, no dia a dia, isso nunca acontece.
Por isso Pepito, aqui fica um "VIVA O SPORTING!".
J. Carlos M. Fortunato
____________
Nota do editor
Último poste da série de 14 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22280: (De)Caras (137): Manuel Maurício, fur mil, chefe da equipa do BENG 447, que fez a construção das instalações do aquartelamento de Dulombi, ao tempo da CCAÇ 2700 (1970/72)
A minha amizade com o Pepito foi algo que me honrou e me marcou, porque são raros os homens com as suas qualidades, e não digo isto apenas por dizer, a sua obra na AD fala por si, relembro apenas um episódio que se passou entre nós, para mostrar a sua grandeza e amizade.
Um dia ofereci-lhe uma carrinha de caixa aberta que comprei na Guiné-Bissau, para me poder deslocar durante as curtas estadias que ali faço (3 semanas uma vez por ano ou de 2 em 2 anos), ele poderia fazer dela o que quisesse, era dele, o que lhe pedia era que, enquanto estivesse na sua posse e operacional, me disponibilizasse a mesma quando eu ali me deslocasse, pois era difícil alugar carrinhas.
A carrinha estava legalizada, o seu estado era impecável, tinha tido uma grande reparação, parecia nova, ficar proprietário dela seria, para qualquer um, uma tentação, no entanto a resposta do Pepito foi negativa, não aceitou, e apesar de ter muito trabalho ofereceu-se para ficar responsável pelo seu aluguer, e por assegurar a sua manutenção, colocando o dinheiro deste aluguer no banco em meu nome.
Não aceitei a sua oferta amiga, porque não era minha intenção sobrecarregá-lo com trabalho, mas não pude deixar de admirar o seu desprendimento pelos bens materiais.
O Sporting era o nosso tema de brincadeira e quando lhe disse que não tinha clube, "batizou-me" de sportinguista, e confessou-me que quando via o Sporting jogar se exaltava e vivia aqueles momentos com uma estranha intensidade.
Um dia uns amigos animistas, na fé de o protegerem, convidaram-no a ir ao anoitecer fazer uma cerimónia secreta, junto a um poilão sagrado, o Pepito aceitou, curioso em conhecer esse ritual.
A cerimónia envolveu um banho, mas nesse dia jogava o Sporting e, atrasado para o jogo, o Pepito vestiu-se à pressa sem se enxugar, ficando a camisa toda molhada.
A esposa, Isabel, ao ouvir a sua entrada em casa, foi à sala saber dele, e conhecedora da sua paixão pelo Sporting, quando o viu assim todo molhado a olhar para a televisão, pensou que era devido ao jogo, e admirada por o ver já naquele estado, exclamou:
- Já começou! - e saiu da sala, porque, se já estava assim, as coisas não estavam a correr bem, e o melhor era deixá-lo sozinho.
O Pepito contou-me esta história a rir, comentando:
- Não sei explicar o porquê de ficar assim. No resto das coisas, no dia a dia, isso nunca acontece.
Por isso Pepito, aqui fica um "VIVA O SPORTING!".
J. Carlos M. Fortunato
____________
Nota do editor
Último poste da série de 14 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22280: (De)Caras (137): Manuel Maurício, fur mil, chefe da equipa do BENG 447, que fez a construção das instalações do aquartelamento de Dulombi, ao tempo da CCAÇ 2700 (1970/72)
3 comentários:
Caro Carlos Fortunato
As amizades são, ou deviam ser, assim.
Somos todos singulares, cada qual com as suas características próprias, as suas opiniões, posições "sobre isto e aquilo" mas amizade, se verdadeira, sincera, leal, ultrapassa sempre as "diferenças".
Claro que nem sempre é assim. Há quem se comporte de maneira miserável e durma bem, pois ter "rebates de consciência" não será o seu timbre. Enfim, canalhices!
Mas aqui o que interessa é o teu testemunho de mais uma faceta humana do Pepito e também a oportunidade de dizer "viva o Sporting!"
Hélder Sousa
Obrigado, Carlos... Seria uma pena o teu testemunho sobre o Pepito (que também era Carlos...) não chegar ao conhecimentpo da nossa Tabanca Grandw...
Estamos de acordo. aqueles de nós que conheceram o Pepito em vida e tiveram o privilégio de ser seus amigos... Era um homem grande, de corpo e alma. E o seu Sportinguismo, era público e notório...
Mais: era sportinguista e guineense, de paixão... Ele nem sequer tinha dupla nacionalidade... E levou uma bandeira do Sporting e outra da Guiné-Bissau na urna que foi diretamente para o crematório... Vi com os meus olhos, no crematório de Barcarena.
Já lá vão quase dez anos de saudade!... Mantenhas, Carlos
Já passaram 7 anos que o Pepito nos deixou... Foi a 18 de fevereiro de 2014. Nunca é demais recordar o seu exemplo, a sua amizade, a sua liderança cpomo cofundador e dirigente da AD - Acção para o Desenvolvimento e a sua vontade construir pontes entre nós, portugueses e guineenses...
Tem 237 (!) referências no nosso blogue... Um dia destes faço uma listagem de todos os postes. Até sempre, querido amigo, até sempre Pepito!
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