sexta-feira, 31 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17192: Ser solidário (201): A ONG Ajuda Amiga lança um livro solidário com contos da Guiné-Bissau para distribuição gratuita pelas escolas, associados e doadores da ONG presidida pelo Carlos Fortunato



1. Mensagem do nosso camarada Carlos Fortunato (ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 13, Os Leões Negros, Bissorã, 1969/71), Presidente da Direcção da ONG Ajuda Amiga:

Camaradas e amigos
Junto em anexo um documento de proposta de poste, que coloco à vossa apreciação.

Um abraço e continuação do vosso excelente trabalho.
Carlos Fortunato


Lendas e contos da Guiné-Bissau – um livro solidário distribuído gratuitamente

A ONG Ajuda Amiga lançou um livro solidário que não estará à venda, é apenas para distribuição gratuita, e está a ser distribuído às escolas onde existem grandes comunidades guineenses, bem como aos seus associados e a todos os doadores da Ajuda Amiga que façam doações a partir de 10 euros.

O objetivo do livro é ser uma ferramenta para promover o ensino multicultural, permitindo aos professores poderem incluir lendas e contos da Guiné-Bissau nas suas aulas, esta ação irá decorrer durante o ano de 2017 e será distribuído a todas as escolas e bibliotecas que o peçam, sendo enviado pelo correio.

Membros da Ajuda Amiga irão deslocar-se (a expensas próprias) à Guiné-Bissau em 2018 e ai farão também uma distribuição para as bibliotecas públicas e bibliotecas escolares.

Trata-se um livro escrito por mim, Carlos Fortunato, com o apoio de artistas, professoras de português e técnicos da arte gráfica, e que foi entregue pronto a imprimir à Ajuda Amiga, para o fim referido anteriormente, não existindo aqui quaisquer fins lucrativos ou direitos de autor envolvidos. A edição teve igualmente o apoio de uma outra Associação que tem colaborado connosco, a MIL – Movimento Internacional Lusófono.







O livro tem 102 páginas e 43 ilustrações.

A Ajuda Amiga além desta distribuição do livro que tem o seu maior impacto a nível nacional, tem em preparação outras ações de apoio ao ensino, em que a mais ambiciosa é a construção de uma escola na Guiné-Bissau.

Fazendo um rápido balanço da atividade da Ajuda Amiga desde o inicio em 2008, até 31-12-2016, esta enviou 144,6 toneladas de bens em contentores para a Guiné-Bissau, nas quais se incluem 201.000 livros, o que para um grupo de jovens com mais de 60 e muitos anos, que sem quaisquer apoios se reuniu em 2008 para discutir esta ideia, foi um grande desafio que apenas com um grande trabalho de equipa conseguiu ser superado.

Presentemente o foco da nossa intervenção está na construção de infra-estruturas na área do ensino, mas não vamos deixar de enviar alguns bens por contentor, mas em sistema de grupagem e pagando todas as taxas e impostos, porque o envio de contentores nos moldes que fazíamos anteriormente já não é possível, tendo-se tornado muito difícil, complexo e inviabilizando o acompanhamento que queremos fazer no terreno quando da sua distribuição.

Voltando à questão do livro, as recolhas para o mesmo foram feitas na Guiné-Bissau e em Portugal junto da comunidade guineense, além do estudo feito sobre a bibliografia existente.

As pessoas contactadas foram das mais diversas deste o contador de histórias, que conta as lendas ao som do corá, como foi o caso de Seco Canté, passando por todo o tipo de pessoas, como o ex-presidente Kumba Yalá, crianças, etc.

Seco Canté

Seco Canté é um artista de corá da Guiné-Bissau, que transmite as histórias e as lendas mandingas através das canções que entoa no seu cora. São histórias que passam de pais para os filhos, e remontam ao seu antepassado Djali Uali Dgebatê que desempenhava essa função, como djali bá do Mansa bá Djanqui Uali, o último Imperador de Cabú, cuja capital Cansalá, fica perto da atual cidade de Gabú.

A lenda de Djanqui Uali e da batalha de Cansalá é uma lenda muito interessante, porque aparece pela primeira vez uma versão mandinga, nela Djanqui Uali com 600 guerreiros destrói um exército com 40.000 guerreiros, embora não evite que seja o fim do Império de Cabú.

A lenda mandinga de Sundiata Keita é sem dúvida a mais importante, porque se trata da epopeia que levou à construção do maior império da África Ocidental e um dos maiores da África, o Império do Mali, e é também a mais conhecida, pois existem várias obras sobre ela, nomeadamente em francês e inglês, sendo referida aos alunos nas escolas. Esta lenda conta a história do menino que só aos oito anos começou a andar e que aos dez, teve que fugir com a sua família para não ser morto, e sem nada apenas com a profecia que iria tornar o Mali grande, a sua coragem e a sua inteligência, criou um império.

 Kumba Yala e Carlos Fortunato

A minha conversa com Kumba Yala foi interessante, falamos sobre as lendas da Guiné e nela pude confirmar a origem da história sobre o seu nome “Foi mesmo assim.” – respondeu ele, na verdade o seu nome teve origem no facto de quando era menino, um porco o ter agarrado e fugido com ele para o mato. Porco em balanta diz-se kumba e Yalá era o dono do porco, dai o seu nome Kumba Yalá.

 O jovem Binham Indam

O mais jovem contador de histórias foi o Binham Indam, com o conto “O menino e o patu-feron”. O Binham é um menino com dez anos, e que me disse logo “Não sei contar em português ou crioulo, só em balanta”, o que faz pensar que ainda existe um grande trabalho por fazer na área da educação, e nas enormes dificuldades que deve ter uma criança quando entra para a escola.

O “O menino e o patu-feron”, é um conto que alerta as mães para os perigos quando estão no mato, pois devem levar sempre os filhos amarrados à cintura, fala de coragem, de solidariedade e do prazer de comer arroz. O fim deste conto faz-me sempre sorrir, porque depois do valente caçador conseguir salvar o menino de um patu-feron que o tinha levado, o menino não queria comer arroz porque o patu-feron só lhe dava peixe, mas o caçador com muita paciência foi-lhe dando arroz aos poucos, e depois o menino acabou por perceber o imenso prazer que é comer arroz, e foi assim que o caçador o convenceu a comer arroz ao pequeno almoço, ao almoço e ao jantar.

Ao contrário de outros países na Guiné-Bissau não existem crianças abandonadas, existe sempre um familiar, um amigo, um vizinho que toma conta dela, este conto reflete também esse espírito de solidariedade, mas não quero dizer com isto que a criança não possa passar por vezes fome e não tenha uma vida dura, porque isso infelizmente é frequente.

Aproveito a oportunidade para fazer um apelo à feitura de um IRS solidário em 2017, e para visitarem o nosso site em http://www.ajudamiga.com, estão lá mais detalhes sobre este projeto “Uma escola para todos” e sobre o livro, bem como os nossos relatórios de contas, atividades, fotos, vídeos, etc., etc.

Um alfa bravo romeo alfa charlie oscár.
Carlos Fortunato

Ajuda Amiga - Associação de Solidariedade e de Apoio ao Desenvolvimento
Escritório - Rua do Alecrim, nº 8, 1.º Dtº, 2770-007 - Paço de Arcos
Telef. 937 149 143, e-mail: ajudaamiga2008@yahoo.com
http://www.ajudaamiga.com

ONGD – Organização Não Governamental para o Desenvolvimento
NIF 508617910
IBAN PT50 0036 0133 99100025138 26
Joaquim Carlos Martins Fortunato - Presidente da Direção da Ajuda Amiga
Telef. 935 247 306, e-mail: jcfortunato@yahoo.com
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de outubro de 2016 > Guiné 63/74 - P16607: Ser solidário (200): Associação "Fidju di Tuga", com sede em Bissau, vai realizar um recenseamento dos lusodescendentes, filhos de antigos militares portuguieses (Cherno Baldé)

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