Quartel do Saltinho
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Esta é uma época do ano em que há 45 anos, ainda verdes, conhecemos de perto as agruras da guerra.
Em Março e Abril de 1972, o impensável aconteceu-nos. Quase dezena e meia de camaradas de Cancolim e do Saltinho foram ceifados naquela guerra.
Juvenal Amado
Os Mortos Desse Dia
Os mortos desse dia
Eram magníficos
Eram Jovens
tinham o rosto tisnado pelo Sol
Quase sem barba
Os mortos desse dia
Tinham olhos inocentes e belos
Emoldurados de mato
Eram amados
Tinham pais e os seus amores
O mortos desse dia
Eram perfeitos
tinham o camuflado em farrapos
um olhar incrédulo
Um esgar de espanto
Os mortos desse dia
Formaram um bailado estático
Trágicos
Andam à deriva
Continuam em nós
Os mortos desse dia
Foram na enxurrada das palavras
Diluíram-se nas névoas do tempo
Desapareceram no luto
Na vigília de olhos cansados
Meu amor
Os mortos desse dia
Serão os de todos os dias
Juvenal Amado
Cancolim - Espaldão do Morteiro 81
____________Nota do editor
Último poste da série de 26 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17178: Blogpoesia (501): "Duas rotinas..."; "O pastor alemão..." e "Carta a um amigo desconhecido...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
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