As tabernas de antigamente na minha aldeia, e a importância que elas tinham...
Recuando no tempo, a conversa, hoje, é sobre as tabernas que existiam na aldeia de Molianos por volta do ano de 1950 do século passado, e aquilo que elas representavam na vida das pessoas de então. Por essa altura, e ainda durante mais alguns anos… foram as tabernas os locais onde os homens se juntavam ao domingo, assim como nos dias santos… ou, no inverno quando não era possível trabalhar nas terras.
Durante o tempo que estavam nas tabernas, eles, para além de muita conversa, aproveitavam para beberem uns copos do tinto e também do branco, ainda, que, por aqui, fossem poucos o que trocavam o tinto pelo branco, o bagaço também fazia parte das bebidas que eles consumiam. Outras havia que não faziam parte dos seus hábitos: a cerveja, a gasosa, a laranjada e ainda o pirolito que, entretanto, acabou!... Para beberem vinho, algumas vezes, nem necessitavam de copo, bebiam todos pela mesma garrafa, a olho como naquele tempo por aqui se dizia.
As tabernas, para além das bebidas… eram também o local onde se vendia quase tudo que as pessoas necessitavam para o dia a dia: o açúcar, o café (para fazer na cafeteira), a massa, o arroz, o colorau, o petróleo, o bacalhau, o sebo para as botas, entre muitas outras coisas. Um pouco mais tarde, em algumas, até comprimidos para a constipação... vendiam, eram uma espécie de supermercado da época.
Naquele tempo, na aldeia de Molianos, as mulheres não frequentavam as tabernas, a não ser para irem fazer as compras e logo regressavam a casa. Diziam os homens que as tabernas não eram para as mulheres. Mas não se pense que algumas, mesmo sem estarem na taberna, de vez em quando, não apanhavam também a sua piela de tal tamanho... que as fazia ziguezaguear, não conseguindo passar despercebidas junto das pessoas com quem se cruzavam.
Por aquela altura não existiam na aldeia coletividades ou outros espaços públicos onde os homens se pudessem juntar, a não ser nas tabernas, ou no tempo da apanha da azeitona em que também os lagares eram sítios onde muitos se encontravam no fim do dia, apesar de ser no inverno, os lagares eram locais onde existia um ambiente confortável a que eles não estavam habituados, um espaço aquecido… e com boa iluminação, coisa inexistente nas casas da aldeia.
Naquele tempo, as pessoas não saíam para fora da terra a não ser para trabalhar, algumas vezes para muito longe. Os transportes públicos apenas havia à segunda-feira, para Alcobaça, por ser o dia em que lá tinha lugar o mercado. Os transportes particulares também não haviam. Apesar de existirem muitos homens na aldeia, apenas, quatro ou cinco, possuíam uma bicicleta. O transporte mais utilizado pelas pessoas para se deslocarem, não só para o campo, mas também para ir às compras, à sede do concelho, eram os burros, animais esses que havia muitos na aldeia.
Só à segunda-feira, havia a camioneta da carreira como as pessoas lhe chamavam, mas mesmo assim nem todos a utilizavam, eram muitos os que faziam os dez quilómetros para cada lado a pé, para pouparem o valor do bilhete… que era pouco, mas necessário para ajudar nas compras que iam fazer, o pouco dinheiro de que dispunham a isso os obrigava.
Se as tabernas durante algum tempo era o sítio onde os homens se encontravam quando não era possível trabalhar… também havia algumas épocas em que os frequentadores eram poucos. Isso acontecia, quando quase todos os homens e rapazes, alguns com doze ou treze anos, saíam da aldeia para irem trabalhar para as vindimas para a região saloia, assim como para outros serviços, em particular, para a zona de Lisboa.
Quando regressavam à terra voltava a ser grande o ajuntamento nas tabernas aos domingos à tarde, onde a bebida e as conversas à mistura eram sempre muitas. Por vezes, apareciam por lá poetas populares com jeito para cantar ao desafio o que era sempre do agrado de todos. Quando o álcool já era quem mais ordenava… por dá cá aquela palha, algumas vezes, aconteciam cenas de pancadaria, nada que passado alguns dias os contendores, por iniciativa própria ou com a ajuda de alguém, não resolvessem fazendo as pazes. Chegava a acontecer a alguns ficarem mesmo amigos.
As tabernas, para além do já referido… desempenhavam também uma "função social" não davam nada a ninguém, mas tornavam possível, sem aumento de preço… a algumas pessoas adquirir bens essenciais para o dia a dia das famílias, quase sempre numerosas, permitindo-lhe comprar fiado com a promessa de vir pagar quando tivessem dinheiro. Se assim não fosse, as pessoas não podiam comprar e as dificuldades que eram sempre muitas, seriam ainda mais.
Naquele tempo, na aldeia de Molianos, as mulheres não frequentavam as tabernas, a não ser para irem fazer as compras e logo regressavam a casa. Diziam os homens que as tabernas não eram para as mulheres. Mas não se pense que algumas, mesmo sem estarem na taberna, de vez em quando, não apanhavam também a sua piela de tal tamanho... que as fazia ziguezaguear, não conseguindo passar despercebidas junto das pessoas com quem se cruzavam.
Por aquela altura não existiam na aldeia coletividades ou outros espaços públicos onde os homens se pudessem juntar, a não ser nas tabernas, ou no tempo da apanha da azeitona em que também os lagares eram sítios onde muitos se encontravam no fim do dia, apesar de ser no inverno, os lagares eram locais onde existia um ambiente confortável a que eles não estavam habituados, um espaço aquecido… e com boa iluminação, coisa inexistente nas casas da aldeia.
Naquele tempo, as pessoas não saíam para fora da terra a não ser para trabalhar, algumas vezes para muito longe. Os transportes públicos apenas havia à segunda-feira, para Alcobaça, por ser o dia em que lá tinha lugar o mercado. Os transportes particulares também não haviam. Apesar de existirem muitos homens na aldeia, apenas, quatro ou cinco, possuíam uma bicicleta. O transporte mais utilizado pelas pessoas para se deslocarem, não só para o campo, mas também para ir às compras, à sede do concelho, eram os burros, animais esses que havia muitos na aldeia.
Só à segunda-feira, havia a camioneta da carreira como as pessoas lhe chamavam, mas mesmo assim nem todos a utilizavam, eram muitos os que faziam os dez quilómetros para cada lado a pé, para pouparem o valor do bilhete… que era pouco, mas necessário para ajudar nas compras que iam fazer, o pouco dinheiro de que dispunham a isso os obrigava.
Se as tabernas durante algum tempo era o sítio onde os homens se encontravam quando não era possível trabalhar… também havia algumas épocas em que os frequentadores eram poucos. Isso acontecia, quando quase todos os homens e rapazes, alguns com doze ou treze anos, saíam da aldeia para irem trabalhar para as vindimas para a região saloia, assim como para outros serviços, em particular, para a zona de Lisboa.
Quando regressavam à terra voltava a ser grande o ajuntamento nas tabernas aos domingos à tarde, onde a bebida e as conversas à mistura eram sempre muitas. Por vezes, apareciam por lá poetas populares com jeito para cantar ao desafio o que era sempre do agrado de todos. Quando o álcool já era quem mais ordenava… por dá cá aquela palha, algumas vezes, aconteciam cenas de pancadaria, nada que passado alguns dias os contendores, por iniciativa própria ou com a ajuda de alguém, não resolvessem fazendo as pazes. Chegava a acontecer a alguns ficarem mesmo amigos.
As tabernas, para além do já referido… desempenhavam também uma "função social" não davam nada a ninguém, mas tornavam possível, sem aumento de preço… a algumas pessoas adquirir bens essenciais para o dia a dia das famílias, quase sempre numerosas, permitindo-lhe comprar fiado com a promessa de vir pagar quando tivessem dinheiro. Se assim não fosse, as pessoas não podiam comprar e as dificuldades que eram sempre muitas, seriam ainda mais.
Há já muitos anos, fiz parte de um rancho folclórico, que então dava os primeiros passos… na minha aldeia, e que ainda hoje existe. Algumas vezes, apesar da distância no tempo em que isso aconteceu, que é muita, dou comigo a recordar conversas que tínhamos com as pessoas mais idosas em que procurávamos que eles nos contassem aquilo que sabiam, que tivesse a ver com os usos e costumes do povo da nossa aldeia... talvez por isso, hoje tenha vindo falar das tabernas e daquilo que elas representavam naquele tempo, para os nossos antepassados.
Não sou muito de pensar no passado. O que foi bom já não volta. E o menos bom é melhor esquecer para que não nos continue a fazer companhia!... Mas, por vezes, recordar situações mesmo menos boas que nos tenham acontecido, se as olharmos e as soubermos situar com a devida distância… também podem contribuir para ajudar a ultrapassar alguns momentos mais aborrecidos com que agora venhamos a ser confrontados!...
António Eduardo Ferreira
____________
Nota do editor
Último poste da série de 25 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22316: (In)citações (186): As várias idades ou "Estar vivo é o contrário de estar morto" (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR da CCS/BCAÇ 3872)
Não sou muito de pensar no passado. O que foi bom já não volta. E o menos bom é melhor esquecer para que não nos continue a fazer companhia!... Mas, por vezes, recordar situações mesmo menos boas que nos tenham acontecido, se as olharmos e as soubermos situar com a devida distância… também podem contribuir para ajudar a ultrapassar alguns momentos mais aborrecidos com que agora venhamos a ser confrontados!...
António Eduardo Ferreira
____________
Nota do editor
Último poste da série de 25 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22316: (In)citações (186): As várias idades ou "Estar vivo é o contrário de estar morto" (Juvenal Amado, ex-1.º Cabo CAR da CCS/BCAÇ 3872)
10 comentários:
A taberna/Mercearia da minha aldeia
Da minha memória de infância tenho bem viva (já que vivi por dentro), a importância da mercearia da aldeia, que a partir das 19 horas, nos dias de trabalho e aos fins de semana, se transformava na taberna, local de convívio dos trabalhadores das pedreiras, das fábricas e dos campos.
Abria de madrugada para o “mata bicho” dos trabalhadores, geralmente (ou seja, sempre) 2 copinhos de cachaça. E lá iam eles mais aconchegados para os campos, para as pedreiras (de extração de granito) ou para as fábricas.
Durante a manhã a mercearia enchia-se de mulheres que vinham comprar (a crédito: assente Sr. José, diziam elas) os produtos necessários para a confeção do almoço que depois levavam, em pequenas cestas, aos maridos ou aos filhos que trabalhavam perto. Para os que trabalhavam longe o almoço era feito de véspera, ou de madrugada, aconchegados nas respetivas marmitas.
Durante a manhã, como dizia o meu pai, a mercearia parecia um galinheiro, dado a algazarra que faziam as mulheres. A partir das 19horas chegavam exaustos os homens e aí confraternizavam, jogando as cartas (e bebendo), jogando dominó ( e bebendo ) cantando ao desafia (e bebendo), e às vezes zangando-se, lutando e depois fazendo as pazes bebendo. Regressavam a casa com um (ou muitos) grãos na asa, mas recompostos de mais um dia de trabalho.
As minhas irmãs foram quem manteve em funcionamento, com a ajuda do meu pai, e a minha preciosa (des)ajuda o funcionamento da mercearia ao longo de vários anos. Na mercearia para além do trabalho havia muitos momentos de diversão com as conversas “sui generis” de todo aquele “mulherio” ali reunido, em que muitas vinham comprar o que não precisavam só para participarem naquele extraordinário “fórum”. Muitas vezes me obrigaram a sair dado o “picante” dos assuntos tratados...
Já a taberna, a partir das 19 horas, eram os meus irmãos, que entretanto tinham regressado do trabalho, que asseguravam o seu funcionamento. Este novo “fórum” era muito mais difícil de controlar...
Com um abraço
Joaquim Costa
"As tabernas de antigamente da minha aldeia, e a importância que elas tinham", de António Eduardo Ferreira, um escritor que estamos agora a conhecer.
Então as mulheres não entravam nas tabernas, a não ser para fazer alguma compra, melhor dizendo não entravam para se porem à conversa bebendo uns copos.
Não me lembro das tabernas da minha terra, taberna de permanência e a beber copos de vinho. Mas em Lisboa conheci algumas e bem castiças, em locais e de fregueses variados, como uma cova funda próximo dos Restauradores, com passagem para o outro lado, frequentada por escritores, jornalistas, bancários, farmacêuticos, escriturários, operários, polícias, carteiristas, e por vezes mulheres quando serviam almoços. Já não vou lá há mais de 25 anos.
As tabernas sempre foram locais de encontros, pelo menos no início da rodada, e nas das localidades alentejanas são para confraternização, e o pior que podia ter acontecido numa dessas tabernas já a atirar para o finório foi aparecer na parede uma lousa com "É proibido cantar".
"Não sou muito de pensar no passado. O que foi bom já não volta. E o menos bom é melhor esquecer para que não nos continue a fazer companhia"
Ferreira, eu diria que o menos bom é melhor não esquecer para que não nos volte a fazer companhia.
Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz
taberna
taberna | n. f.
ta·ber·na |é|
(latim taberna, -ae, cabana, choupana, loja, armazém, taberna)
nome feminino
1. Loja onde se vende vinho a retalho. = BODEGA
2. Loja modesta de comes e bebes. = TASCA
3. [Figurado] Casa imunda, desordenada.
"taberna", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2021, https://dicionario.priberam.org/taberna [consultado em 03-07-2021].
Obrigado, António, tens aquilo a que eu chamo "sensibilidade sociocultural"... A taberna era, no nosso tempo, nas nossas aldeias, vilas e cidades (vd. Lisboa, Bairro Alto, Alfama e outros bairros populares, a ligação entre fado e taberna), um importante factor de socialização, sociabilidade, convívio, aculturação, transmissão de notícias e ideias... mas também foco de doenças infecto-contagiosas... Era também "venda", em zonas de povoamento disperso. E até funcionava como "caixa de correio". Algumas vendas deram origem a novas povoações. E houve tabernas que depois deram origem a restaurantes... A histórias das tabernas de Lisboa é fascinante. Estudei algumas onde se ainda cantava o "fado vadio", em 1978, no Bairro Alto... A"Princesa da Atalaia", por exemplo...
Claro que os meninos bem comportados não frequentavam a taberna, "antro de vício"... Quando muito ia-se lá fazer um recado ou chamar alguém...
O tema dá pano para mangas, se a gente se põe a recordar... Na minha terra, os mangas de alpaca (funcionários do tribunal, conservatórias, finanças, gente dos escritórios...) frequetavam um tasca célebre, que era conhecida como o "Macaco" (animal que alguém trouxe da guerra colonial)... Os mais "letrados" chamavam-se a "SOciedade de Geografia": à trade ia-se fazer ou ouvir uma "conferência científica", ou seja, petiscar, beber um copo...
A "Sociedade de Geografia" está associada, antes do 25 de Abril, na Lourinhã, à figura do saudoso Mariano Vicente, meu amigo, contabilista e poeta popular... Vivia na Lourinhã, mas era natural de Peniche.
Peço desculpa pela autocitação...
(...) "Canção de vencidos", "cocaína de Portugal", o fado era visto por certas personalidades da direita integralista e nacionalista (incluindo escritores e musicólogos) como um "herança maldita vinda do ultramar" (referência ao lundum, "avô do fado", que nos terá chegado do Brasil, com o regresso da corte de D. João VI), subproduto de uma "raça abastardada" e que entre nós se havia expandido justamente "nos bairros onde, há trinta anos ainda, se albergavam o vício, o crime e a vadiagem" (sic!), em contraste com as "canções alemãs, fulgurantes e alegres" das cervejarias de Munique e dos wanderfogel (Moita, 1936, pp. 217-218).
Daí a cruzada do musicólogo e conferencista pela educação nacional contra a licença, pela saúde contra a deliquescente morbidez, pelo folclore nacional e pelo canto coral contra os "caldos de cultura" do fado gemido, de cigarro na boca e copo de vinho na mão, numa taberna imunda onde espreitavam o bacilo de Kock, a sífilis e até, hélàs!, as ideias subversivas no meio de versos heróicos, "entrelaçados na foice e no martelo"... (...)
Fonte: Graça, L. (2000) - Representações Sociais da Saúde, da Doença e dos Praticantes da Arte Médica nos Provérbios em Língua Portuguesa. Parte V : 'Pés Quentes, Cabeça Fria, Cu Aberto, Boa Urina - Merda para a Medicina!'
https://www.ensp.unl.pt/luis.graca/textos77.html
OO nosso querido JERO, o "último monge de Alcobaça", também aqui escreveu sobre a "taberna" da nossas terras e infâncias...
BLOGANDO E ANDANDO (11); OS ”PEQUENOS NADAS” DA VIDA…
https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2010/12/guine-6374-p7446-blogando-e-andando.html
(...) O Pedro, um jovem de 13 anos, acompanhava habitualmente o pai nas idas à taberna da aldeia. Vivia numa zona rural e depois da “escola” ajudava nas tarefas caseiras.
Na fazenda, que circundava a casa dos seus pais e avós, pegava na sachola ou no ancinho dia sim, dia sim e ia aprendendo o que a vida custa. Os trabalhos agrícolas eram duros e as idas à taberna com o seu pai eram sempre momentos bem-vindos. (...)
A Mercearia/Taberna para além do já descrito também funcionada: Os correios como depósito de correspondência; Telefone público (ainda de manivela); barbeiro ao fim de semana; engraxador de sapatos ao fim de semana e onde funcionava um simulacro de banco (denominada caixa económica dos 20 amigos) onde se faziam depósitos (recebendo juros pelo mesmo) e se faziam empréstimos para fazer face a uma doença ou construção de uma rudimentar casa, onde eram acertados os juros e as mensalidades adaptadas aos seus recursos. Etc
Joaquim Costa
Um abraço.
PARABENS PELA EXCELENTE DESCRIÇÃO DAQUILO QUE NA MINHA ALDEIA ( A ACIDADE DO PORTO ) SE CHAMADA DE 'TASCA'.
O NOVO NOME PARA MIM, JÁ É UMA COISA RECENTE, ASSOCIADO A NOVAS MODERNICES,
A TABERNA DO INFANTE ERA UMA CASA DE ALTERNE POR EXEMPLO, NOS ANOS 80-90!
E MUITAS MAIS.
AGORA SÃO AS TAVERNAS PARA TURISTA VER.
TASCA ERA MESMO O NOME , QUE É SINÓNIMO DE TAVERNA, OU TABERNA, ERA NA TASCA DO TIO ZÉ QUE TINHAM UMA BOAS ISCAS DE BACALHAU, PARA ACOMPANHAR UMA CANECA DE VINHO TINTO, OU A TASCA DO TIO JOAQUIM PARA ONDE SE PODIA IR COMER UMAS CASTANHAS ASSADAS COMPRADAS NA RUA, E ACOMPANHAR COM UM NÉGUINHO DE VINHO TINTO.
E DEPOIS HAVIA OUTRAS COISAS PARA LEVAR, QUEM QUISESSE COMPRAR.
BONITO TEMA PARA FUGIR À ROTINA, MAS AINDA TINHA MAIS PARA DIZER, TALVEZ FALE DA TASCA DO AMANDIO, QUE TINHA UMA BOA SOBRINHA, E ALI, QUANDO A TV APARECEU, PODIAMOS IR VER A TV E APALPAR O TRAZEIRO DA SOBRINHA, QUE NÃO SE IMPORTAVA!
NÃO ERA EU, ERAM OS OUTROS...
NINGUEM É SANTO E COM 15, 16 ANOS MUITO MENOS.
ABRAÇOS, AO EDUARDO FERREIRA, E DEMAIS.
VIRGILIO TEIXEIRA
TABERNAS E TASCOS PARTE II:
Caro Eduardo Ferreira:
Como gostei deste tema, simples, com palavras e situações que todos conhecem, vou alongar-me mais. Vou escrever as minhas memórias destes tempos, apenas como exercício daquilo que me vou lembrando, sem nenhuma ideia que não seja participar num tema tão antigo e tão presente ainda.
1. Até fui consultar o Google e não vejo nada parecido com aquilo que falas e os leitores comentam. Lamento não ter a minha aldeia, mas aquilo que presenciei, vivi e me lembro vai cair no mesmo.
2. As minhas tascas são as vossas tabernas, deve ser uma questão de posição geográfica, no Sul dizem uma imperial, aqui um fino é tudo cerveja a copo.
3. Tenho muitas situações, mas vamos começar pelo fim da minha intervenção anterior, que participei à pressa pois tinha de sair, mas já voltei e vou continuar por este dia fora.
4. A ‘Tasca do Amaro’, chamava se, e ainda hoje existe com ligeiras modernices, é a Casa Amaro. Balcão, vinhos a copo, pequenos, grandes e muito pequenos com o nome de 'neguinho', um tipo shot (de vinho tinto) de hoje. Apareceu a RTP, novidade e lá ia a rapaziada ao fim do jantar ver a caixinha das surpresas. Agora, depois da TV, em vez do balcão e uns bancos na entrada, abre uma pequena sala, com mesas e bancos. O serviço são petiscos, copos de vinho e pouco mais. Aliás havia o cafezinho de saco que sabia bem nas noites de frio. Clientes não faltavam porque TV não havia, não havia democracia e mesmo que houvesse, não tinha chegado aos bolsos da maioria.
5. Para ajudar agora com mais clientes o Amaro manda vir uma sobrinha da aldeia. Não sei de onde, pouco interessa, muita rapariga veio por aí abaixo pousar no Porto.
Rapariga de uns 20 ou mais anos, portanto mais velha que eu, bem arranjadinha de curvas, boa rapariga e a malta abusava. Ora com um aperto nos seus enormes seios, ora umas apalpadelas no rabo rechonchudo.
Ela não se importava, e nunca foi mais além disso, a verdade é que a aposta foi ganha pelo Amaro, homem rude do país profundo, pois era correr bem para arranjar um lugar, se possível onde ela passava para se ter mais hipóteses, de toques
A tasca do Amaro tinha outras coisas para se levar para casa. Foi o sítio onde vi TV a primeira vez.
6. Hoje lá se mantém, há 2 anos tirei la umas fotos na minha peregrinação pelos locais da minha juventude. Fica na rua Capitão Pombeiro, que liga o antigo cinema do Vale Formoso e desagua na rua Antero Quental, em frente segue para a quinta do Covelo. Não posso deixar de lembrar o saudoso cinema, depois adquirido pela IURD. Hoje não funciona nada.
7. Estamos da maior freguesia do Porto – Paranhos, local da minha residência, mas não de nascença – Cedofeita.
Por aqui passamos uns bons bocados, á noite, pois de dia era para trabalhar, e mesmo à noite só nos fins de semana, pois havia a escola da noite a frequentar, mas a TV veio alterar por uns tempos as velhas rotinas.
Por hoje fico aqui, amanhã haverá mais, sempre Tascos, nunca Tabernas.
Vou-me lembrando de um grande manancial de recordações, escondidas e nunca passadas ao papel, algumas escrevi por alto no meu livro.
Continua...
Ab. Virgilio Teixeira
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