sexta-feira, 2 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22337: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XI: Japão, Hakone, março de 2014






Japão, Hakone, situada no Parque Nacional Fuji-Hakone-Izu, a oeste de Tóquio,   2014

Foto: © António Graça de Abeu  (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Continuação da série "Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo" (*), da autoria de António Graca de Abreu [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74.

Escritor e docente universitário, sinólogo (especialista em língua, literatura e história da China); natural do Porto, vive em Cascais; é autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); "globetrotter", viajante compulsivo com duas voltas em mundo, em cruzeiros. É membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem mais de 280 referências no blogue.


Montanhas de Hakone, Japão, Março 2014

Duzentos vulcões polvilham, enxameiam as grandes ilhas japonesas.

Venho desde Kyoto no célere Shinkansen. O rapidíssimo comboio fura o vento e encurta os espaços. Não dá para ver colinas em chamas, nem castelos de daimios e samurais. Encaminho, todavia, a toda a brida, os meus passos por caminhos certos.

Jornadeio pelas serranias de Hakone, ao encontro do fogo de mil séculos, apaziguador ou brutal, borbulhando desde as entranhas da terra. Vapores de enxofre, fumarolas, nascentes de água quente para mergulhar o corpo. Dias inteiros respirando, enxaguando pedaços da alma. Num grande complexo termal até existem duas piscinas onde, na água, se misturam vinho cálido e chá verde.

Os labirintos no olhar, ao longe a montanha Fuji adormecida, imensa, levanta-se para o céu, um cone de neve cintilante. Todo o esplendor da Primavera. De teleférico, subo, desço pelos ossos dos montes. O Fujiyama por companhia, o vulcão, o mais sagrado e reverenciado de todos, silencioso há trezentos anos, para eu afagar com os dedos. Em Owakudani, cai neve no cristal frio da manhã, à noite, é só prata ao luar.

Humedeço o bater do coração no lago Ashinoko, atravesso-o numa falsa barca de piratas, nuvens desfazem-se em bruma e descem para acariciar as águas.

Passeio-me no templo xintoísta, datado do século VIII, junto ao lago. Rochas, quedas de água, pequenos pavilhões escarlate, esculturas de animais sagrados, o beijo da natureza para enobrecer o dia.

Despeço-me das terras de Hakone nos três telhados sobrepostos do castelo branco de Odawara. Já não há gueixas, nem flores de cerejeira. No horizonte, ainda, sempre, a imponência perpétua da montanha Fuji.

António Graça de Abreu

Texto enviado em 25/6/2021

1 comentário:

Anónimo disse...


Antonio Graca de Abreu
sábado, 3/07/2021, 21:58

Obrigado, Luís. Continuo bem vivo.

Abraço amigo,

António Graça de Abreu