Pasta: 07197.164.011
Assunto: Relatório da viagem a Hamedalaye e Sansalé
Termos de referência: Relatório da viagem a Hamedalaye e Sansalé: encontro com Daouda Camara, missão a Cacine, dificuldades em contactar Pedro Duarte, informações sobre os elementos de confiança do partido e elementos da PIDE, dados militares de Cacine, Gadamael e Catió.
Data: s/d
Observações: Doc. incluído no dossier intitulado Relatórios XIII.
Nível 2: 04.PAI/PAIGC Nível 3: Relatórios/Directivas
Fundo: Relatórios/Directivas
formato .pdf 07197.164.011
Fonte: Fundação Mário Soares > Dossiês > Guiledje · Simpósio Internacional · Bissau, Guiné-Bissau · 1 a 7 de Março de 2008 > Arquivo Amílcar Cabral > PAI/PAIGC > Relatórios/Directivas
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PAIGC > Docs (2) > Relatório da viagem (*)
Tr. do francês: L.G. (**)
Chegados a Hamedalaye [Amedalai, na Guiné-Conacri], recebemos instruções do camarada Secu Na Bayo para nos encontramos em Sansalé e contactar as organizações militares e administrativas [do Partido], afim de nos conduzirem até ao pé da fronteira.
Em Sansalé, depois das formalidades, obtivemos instruções respeitantes à nossa estadia.
Em Tanéné fomos recebidos pelo camarada Tomás Queta, chefe da aldeia. Por seu intermédio, conseguimos falar com o camarada do Partido, Daudá Camará, de Cacoca. Depois de uma longa sessão informativa sobre a vida do Partido no chão dos nalús e mais particularmente sobre a sua organização do interior da região, o camarada Daudá Camará mereceu a nossa confiança. E foi assim que nós o encarregámos de uma missão junto do camarada Pedro Duarte, em Cacine.
No regresso, recebemos as seguintes informações:
(i) É difícil contactar o Duarte, é vigiado dia e noite por um Alferes Indiano, que trabalha no mesma repartição com o seu adjunto, um caboverdiano de nome Carvalho, que é um grande inimigo da nossa causa, juntamente com o régulo de Cacine, de seu nome Tomás Camará, igualmente nefasto.
(ii) A casa do Duarte é guardada dia e noite por soldados africanos; já não tem jipe de serviço, desloca-se agora num jipe do exército. A sua mulher, que o denunciou, regressou a 7/12/1961;
(iii) Todos os régulos nalus foram convocados a Cacine, para receber as seguintes informações: Supressão do sistema de registo de denominação indígena; deixa de haver distinção entre brancos e negros, tanto os grandes como os pequenos devem passar a possuir um bilhete de identidade de cidadão português; este bilhete de identidade deve ser pago, mas ainda não foi fixado o respectivo preço. Supressão do imposto indígena. O preço dos produtos agrícolas passam a ser fixados pelos proprietários (sic). As regiões convocadas foram Catió, Cacine, Buba, Fulacunda, Gadamael, Bedanda, Cacoca, Quitafine, Sanconhá, Camissoro, etc.,
(iv) Que é preciso ter muito atenção a Álvaro Queta, de Sanconhá, Munini Camará (Lumba jodo), de Cacoca, que são elementos muito perigosos da PIDE. Circulam por todas as regiões (do sul).
(v) Os elementos de confiança do Partido são: em Cacoca, Daudá Camará, Abdulai Conté, Mbadi Bonhequi ; em Cacine, Laminé Camará, o relojoeiro, e Cassamá, motorista; em Missidé (Quebo), Aliu Embaló, e o grande marabu Cherno Rachid. [Negritos de L.G.] (**)
Informações de carácter militar:
A entrada da Cacoca é guardada por elementos da polícia administrativa [cipaios] dos quais 8 são africanos e um europeu. Entre os africanos, figuram: Lopes (Malagueta), Lassana Turé, Alséni Jaló, Samba Sanhá e José, que são muito violentos,
(i) Em Cacine encontram-se estacionados 140 portugueses, com o seguinte equipamento: 2 jipes, 2 anti-aéreas, 1 grande canhão (sic), 2 cargas de napalm; a pista de aviação é alcatroada, pode receber aviões modernos e é guardada, dia e noite, por saoldadoa europeus;
(ii) Gadamael: 50 soldados equipados com 2 canhões, 1 jipe e 1 anti-aérea.
(iii) Catió: aqui encontra-se a sede da PIDE. Os soldados são em pequeno número.
(iv) Missidé (Quebo): 80 soldados europeus, equipados com 1 camião, 1 jipe, 1 antiaérea, 1 canhão (*).
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Notas de L.G.:
(*) Vd. primeiro poste desta série > 19 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3330: PAIGC - Docs (1): Comunicado de 27 de Abril de 1964 sobre a vitória na batalha do Como (Amílcar Cabral)
(**) O documento, dactilografado, é redigido em francês, com errros ortográficos e de dactilografia. Julgo que às vezes o autor do relatório usa o sistema francês de registo de nomes (Nom + prénom). Nalguns casos, alterei, sendo o apelido (nom) antecido do nome próprio (prénom): por ex., Dauda Camará (no relatório, Camara Daouda)...
No que diz respeito, ao armamento identificado nos nossos quartéis, é bem possível que o autor se queira referir ao obus quando fala de canhão grande, e possivelmente a canhão sem recuo quando fala simplesmente de canhão... Também é possível que tenha confundido a metralhadora pesada e antiaérea...
(***) É um pouco surpreendente, pelo menos para mim, esta confissão do autor do relatório. Não sei se estamos a falar da mesma figura, do dignatário religioso que vivia em Aldeia Formosa, que eu conheci, em Bambadinca, e que no meu tempo (Junho de 1969/Março de 1971) era tido como um dos poderosos aliados dos portugueses, ouvido amiudadas vezes pelo Spínola (dizia-se)...
Havia, por ooutro lado, a lenda de que Aldeia Formosa (Quebo) nunca era atacada pelo PAIGC por deferência, respeito ou temor da figura do Cherno Rachide, ou- segundo outra versão, mais popular entre os meus soldados fulas - devido ao poder (mágico-religioso) do Cherno Rachide, que com os meus mezinhos fazia gorar todas as tentativas de ataque dos turras... Nunca estive em Quebo nessa altura, não posso confirmar ou infirmar nenhuma das versões (ou lendas).
Sobre o Cherno Rachid, vd. postes de:
2 de Abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2714: Antropologia (5): A Canção do Cherno Rachide, em tradução de Manuel Belchior (Torcato Mendonça)
4 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1815: Álbum das Glórias (14): o 4º Pelotão da CCAÇ 14 em Aldeia Formosa e em Cuntima (António Bartolomeu)
18 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCX: O Cherno Rachid da Aldeia Formosa (Antero Santos, CCAÇ 3566 e CCAÇ 18)16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXVIII: Um conto de Natal (Artur Augusto Silva, 1962)
18 de Abril de 2006 > Guiné 63/74 - DCCX: O Cherno Rachid da Aldeia Formosa (Antero Santos, CCAÇ 3566 e CCAÇ 18)
15 de Junho de 2005 > Guiné 69/71 - LVII: O Cherno Rachid, de Aldeia Formosa (aliás, Quebo) (Luís Graça).
Sobre o Islão e a Guiné Portuguesa, vd. também o texto de Francisco Garcia:FRANCISCO PROENÇA DE GARCIA > Os movimentos independentistas, o Islão e o Poder Português (Guiné 1963-1974)
1 comentário:
Conheci um Daudá Camará de Cacoca, em Bissau durante o Simpósio. depois de descobrirmos que por três vezes estivemos frente a frente, uma delas em Novembro de 1968, quando tentaram entrar em Mampatá,criamos uma excelente relação e ficamos "ermons" como ele me tratava e fazia questão de que eu o tratasse. Será o mesmo ?
Sobre o Cherno Rachide, sempre o tive como agente duplo. Recordo que o então Major Carlos Azeredo em 1968, todos os dias o ia visitar, quando ele estava em Quebo. Um dia chegou ao refeitório e deu ordens para irmos todos para a paliçada as 17.30 h. Precisamente a essa hora começou um ataque de armas pesadas. Só que
as granadas rebentaram todas para além da pista, exactamente o lado oposto da população.Comentava-se que era para evitar que o Cherno corresse riscos de vida. Dizia-se por lá que o comandante de zona do PAIGC era sobrinho do Cherno e por isso Quebo, estava bem protegido. De facto ali à volta toda a gente sofria ataques e Quebo apreciava à distância ou enviava granadas de obuz 14 mm para a tabanca atacada,como aconteceu com Mampatá e Chamarra
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