O meu baptismo de fogo
Torcato Mendonça
ex-Alf Mil da CART 2339, Mansambo > 1968/69.
Tenho tentado recordar, quando, como e onde foi o meu baptismo de fogo.
A memória, tão pronta de outras vezes, nada me diz agora. Atraiçoa-me.
Leve, levemente, recordo, sem uma certeza ter sido logo na primeira Operação a solo, num dia de Carnaval. Se foi aí tratou-se de um assalto e destruição do acampamento inimigo do Galo Corubal.
Ou teria sido antes com algumas flagelações para os lados do Enxalé? Mas quando e onde foi ao certo? Não tenho a certeza, quando me vi debaixo de fogo.
Atrevo-me até a fazer uma certa analogia com a perda da virgindade, ou quase. Ou é logo trabalho completo ou pode ir aos poucos. Devagarinho, quase a perdê-la hoje, mais ou menos amanhã, um dia acontece e tudo estremece.
Salvo, as devidas comparações parece-me ter sido no Galo Corubal, o baptismo de fogo claro. A analogia atrás citada é problema íntimo…
Podia perguntar aos camaradas do Grupo ou da Companhia. Quase de certeza que foi no assalto ao Galo Corubal. Eu conto:
Avançamos devagar, devagarinho, o meu Grupo a fazer o assalto, os outros três a protegerem. Entrámos na mata, guia a indicar o trilho e, de repente, uma sentinela inimiga, sentada num palanque em cima de uma árvore detectou-nos. Lançou uma granada, felizmente não chegou ao destino, tudo estremeceu e seguiu-se o tiroteio breve e fraco. Esperámos um pouco e mandaram-nos regressar.
Pouco depois aí estavam os T6 e avançámos novamente. Claro que o INpôs-se a milhas. Revistámos rapidamente as “palhotas” e puxámos fogo a tudo o que poderia arder.
Decorreu tudo bem e fez-se a festa do baptizado. Se foi aqui…
Passado pouco tempo caímos em emboscadas, ataques ao aquartelamento e por vezes, a rotina levava a deixar andar.
De outras vezes, cuidado pois eram violentas demais. Os internacionalistas cubanos, davam uma ajuda aos libertadores da pátria e aí estava um arraial dos diabos.
Quantas horas debaixo de fogo? Não sei. Certo é que não me lembro do local do baptismo, digamos que foi no Galo Corubal num dia de Carnaval…
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Notas de vb:
artigos da série em 28 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3377: O meu baptismo de fogo (19): Como, porquê e não só (Belarmino Sardinha)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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