, de José Teixeira (1º cabo aux enf, CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá, Empada, 1968/709 (*) [Originalmente publicado, em 18 postes, na
Empada, 19 de Setembro de 1969
Preciso de desabafar, de me abrir com alguém. Dentro de mim existe uma tremenda confusão. Quero fugir deste ambiente bélico, em que só se pensa na sobrevivência. Em que se mata para não morrer. Em que não se faz nada a não ser estar atento para ouvir uma possível saída de morteiro, que pode ser a nossa desgraça. Em que se parte ao desconhecido numa terra vermelha, estranha, inóspita, que esconde armadilhas fatais.
Sou inocente, nesta guerra que me recuso a fazer. Procuro na solidão e no estudo, melhor na simples leitura, pois não consigo concentrar-me, as forças que me faltam, já que ninguém consegue compreender o meu estado de espírito. Também não encontro ninguém com quem possa conversar estas coisas. Ninharias, dirão.
Em cada dia que passa a confiança em mim mesmo vai-se abaixo enquanto sinto crescer dentro de mim um estado de espírito de revolta contra todos os homens que fomentam as guerras. Queria ir a Bissau fazer história mas não sou capaz.
Empada, 24 de Setembro de 1969
O IN ainda não decidiu deixar-me em paz. No dia 20 à noite apareceram por esta terra. Aliás, no dia dezoito também cá estiveram, mas foi de muito longe. Só notei porque o 81 funcionou, para que não se entusiasmassem. O ataque do dia 20 foi fraco, talvez o mais fraco ataque que sofri até à data e me fez correr para o abrigo. Poucas granadas rebentaram e caíram todas fora do arame. Também utilizaram a costureirinha, mas sem quaisquer efeitos. Também fizeram duas visitas a Buba. Apenas assustaram.
Empada, 16 de Outubro de 1969
Do pelotão que está em Buba chegam novidades. Há dias houve por lá um terrível ataque com tentativa de assalto. Atacaram do sítio habitual do lado do rio com 10 Canhões s/r, enquanto do lado da pista fazia o desenvolvimento do assalto, procurando apanhar a tropa desprevenida.
Segundo dizem os meus colegas eram mais de duzentos, a avançarem em arco para que se as nossas forças saíssem as envolverem. Felizmente estava emboscado um Pelotão que os detectou. Parece que foi um tremendo fogachal, enquanto os Fuzas perseguiam os que atacaram do lado do rio que pretendiam reforçar as forças de assalto.
Ao fazer-se o reconhecimento, foi encontrado um rádio, sinal de que o ataque foi bem comandado e o fogo controlado por sentinelas avançadas. Foram descobertas e desenterradas 180 granadas de canhão s/recuo. Foi também ouvido ruído de viaturas.
Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > 2005 > Restos de abrigos construídos nos antigos quartos dos furréis da CCAÇ 2381, aqui aquartelados em 1969.
Foto: © José Teixeira (2006). Todos os direitos reservados
Quando os Fuzas voltaram ao quartel, foram seguidos pelo IN que os atacou muito perto de Buba. Assim caíram entre dois fogos, o do IN e o de Buba que reagiu a um possível ataque sem saber que o fogo era destinado ao grupo de fuzas..
No dia anterior tinha havido uma coluna a Nhala ,onde apenas foi encontrada uma A/P com dispositivo anti-levantamento eléctrico que felizmente não funcionou por ter as pilhas gastas.
Nesta mina havia uma mensagem escrita: "Esta é para Alferes Gonçalves". Infelizmente este furriel (e não alferes) já está em Lisboa devido a um estilhaço que apanhou noutro ataque a Buba.
Há tempos apareceu aqui por Empada um turra. Deu várias informações e foi para Buba integrado no Grupo de fuzas, para fazer de guia. Parece que conseguiu fugir levando uma G3 (1).
Empada, 26 de Outubro de 1969
Vejo-te, nesta manhã radiosa, em que o sol parece sorrir enamorado. A brisa bate de leve no teu rosto, ciumenta do teu olhar. Os pássaros, nos seus chilreios cantam hinos de louvor à tua beleza. Até as pedras da rua se sentem orgulhosas por te servirem de trono.
Eu vejo-te passar através do meu espírito, do meu coração enamorado. Sinto ciúmes de tudo o que te rodeia, de tudo o que amas, pois é amor que me roubas. Quem me dera ter-te a meu lado e de mãos dadas, cabeça erguida, altivos, felizes e confiantes, palmilharmos o caminho da vida . . .
Ontem procedeu-se à rendição do Pelotão estacionado em Buba. Parece que Sector está em brasa. Durante um mês foram atacados sete vezes. Num ataque de tiro ao alvo, meteram nove canhoadas numa parede de caserna . . sem ninguém. Que sorte.
Empada, 16 Novembro de 1969
O Marinho Caixeiro Conceição morreu (2). Era querido e estimado por todos. Passava o dia a cantar a cantar a morte o surpreendeu, quando no ataque do dia 14 estava na retrete. Talvez porque estivesse a cantar, não ouviu as saídas nem os gritos de avisos dos colegas que iam tomar banho. Quando sentiu o primeiro rebentamento junto à caserna tentou fugir, mas já era tarde, uma das primeiras granadas rebentou no telhado e meteu-lhe alguns estilhaços no corpo - o que lhe perfurou a nuca foi fatal -, e ainda foi projectado contra a parede, aumentando os estragos.
Eram vinte e uma e trinta, quando começou. Utilizaram seis morteiros 82, treze lança roquetes, bazucas, morteiro 60 e, claro, a costureirinhas, algumas com balas tracejantes. Tiveram sorte na pontaria e conseguiram metê-las quase todas dentro do quartel e povoação. Só junto às casernas rebentaram oito granadas. Junto ao arame caíram manga delas.
Além do Conceição,que morreu, ficaram feridos o Açoreano e quatro nativos. Na morança da Fátima (prostituta) caíram duas, mas não houve azar, pois os camaradas que lá estavam já se tinham escapulido.
Foram perseguidos até ao fundo da pista, mas às duas da manhã voltaram, aproximaram-se mesmo do arame junto à pista. Felizmente, desta vez não causaram danos. Se desta vez a pontaria fosse idêntica à do primeiro ataque, teria sido uma catástrofe.
Empada, 21 de Novembro de 1969
É uma família muito simpática. Ela, Bijagó, e ele, Cabo Verdeano. Têm quatro filhos: Marcos, Lucas, Júlia e Victória. Muito trabalhadores, aproveitam o terreno cultivável, na impossibilidade de se dedicarem à pesca, a sua profissão, por medo da guerra.
A Júlia está muito marcada pelo ambiente militar que a rodeia, tem até um filho de branco e creio que foi prostituta, em tempos, em Bissau. Tem três filhos todos de tenra idade e é uma tentação cá para a malta. A sua liberdade de linguagem é um dos factores para que qualquer homem se sinta tentado a persegui-la e receber as suas benesses, por troca de umas moedas. A Victória, essa tem porte digno, alguns de nós já se lançaram ao engate, mas ela troca-lhe as voltas.
Até há pouco tempo, toda esta gente - três homens, três mulheres e cinco crianças - dormiam no mesmo compartimento da morança. Com os ataques seguidos de há dias, o medo aumentou, o que se compreende, pois na mesma noite tiveram de pegar por duas vezes nas crianças e fugir para o abrigo rasgado na terra e coberto com cibes, tendo caído duas granadas muito perto da sua casa.
Na luta pela sobrevivência, decidiram passar a dormir no minúsculo abrigo, pondo lá dois pequenos colchões, tendo como companheiros lagartos, formigas, cobras, etc. Os dois velhos da família, por falta de lugar no abrigo, continuam a dormir na morança.
Um clima muito quente e húmido, a terra muito húmida, uma pequena abertura para entrar, a enorme quantidade de bichos, a urina das crianças, o suor dos corpos... são estas as condições desta família. Quantas famílias, quantas Júlias haverá por esta terra !?
Guiné-Bissau > Região de Quínara > Emapada > 2005 > O reencontro do Zé Teixeira com o Keba (à esquerda)... À direita, o Xico Allen, com quem o Zé Teixeira viajou em 2005, e que também tinha estado em Empada, embora noutra época (1972/74). De óculos, e vestido de azul, o Braima, que foi ajudante de enfermeiro do Zé Teixeira.
Foto: © José Teixeira (2006). Todos os direitos reservados.
Empada, 20 de Novembro de 1969
O Kebá (3) aparecia todos os dias na Enfermaria. É o nosso ajudante no tratamentos da população. Trata as pequenas feridas. Elas já sabem:
- Kebá põe mercuro ! - e ele põe.
- Kebá, parte quinino! - e ele vai buscar LM. Vão-se embora todos contentes.
Ao Almoço lá lhe trazemos uma cantina cheia de comida. É a nossa paga. Há dias deixou de aparecer. Estranho, mas como tem duas mulheres e vários filhos no mato, admiti que tivesse ido embora.
Ontem vi-o a carregar barricas de água, da fonte para o jardim do chefe de posto. Perguntei-lhe porque deixou de aparecer e fiquei horrorizado. Estava preso por não pagar o Imposto de Pé Descalço (4).
Vim para o Quartel e a minha revolta fez-me agir. Um quarto de hora depois estava a casa do Chefe de Posto cercada por militares armados de G3 a exigirem a libertação do Kebá.
Safou a situação o nosso capitão que, apercebendo-se dos acontecimentos, dirigiu-se ao local e conseguiu a libertação do homem. Como não desarmámos, pois queríamos que o bandido fosse castigado, foi-nos prometido pela capitão que ia fazer uma exposição a Bissau para que fosse retirado de Empada (5).
Acalmada a situação fiquei à espera do castigo, mas parece que me foi dada razão.
Empada, 26 de Novembro de 1969
Na semana passada os Paras fizeram ronco em Gandembel, no “carreiro da morte” , matando 10 e aprisionando um capitão cubano, ferido com uma rajada no braço.
Este confessou ser de origem cubana e estar na Guiné há cinco anos, mobilizado por Fidel Castro (6). Dirigia-se a Conakry para uma reunião com o comando turra. Cerca de duas horas antes tinha passado no mesmo local o Nino com as rampas de lançamento de mísseis.
Já no Hospital em Bissau, foi visitado e reconhecido pelas senhoras do MNF – Movimento Nacional Feminino. Vivia no Bairro da Ajuda, quase em frente do hospital, com a esposa e três filhos. Foi apanhado na sexta feira e tinha no bolso um bilhete do UDIB da terça feira anterior.
A febre e o fim da Comissão atingiu completamente toda a malta da companhia... Nota-se um grande nervosismo, por sentirem que ainda faltam dois meses (7).
Dizem que é costume o IN atacarem nos últimos tempos de comissão. A nós já nos deram recentemente um morto. Por isso a preocupação é enorme.
Empada, 24 de Dezembro de 1969
É Natal. No ar uma camada de cacimbo que nos dificulta a visão. Ao longe o troar das armas, o ribombar dos canhões, lembram os sinos da paz e, pela sua insistência, recordam-nos que é Natal.
Então, o espírito, o coração, todo o nosso ser, sente o Natal. Não o Natal que vivemos na hora presente, preocupados com a morte que nos espreita pela boca de um canhão, atentos ao menos sinal de perigo, para de arma em posição de rajada fazermos frente ao Inimigo.
Sente-se o Natal de nossas casas, a paz dos nossos lares e sofre-se não propriamente por estarmos em guerra, mas porque nos lembramos dos nossos. O seu Natal, não é Natal, porque falta alguém querido, alguém que sente e vive o Natal e outra maneira, em circunstâncias muito difíceis. Eles nem sonham !
Empada, Ano Novo de 1970
A felicidade é o supremo desejo de todos os homens. A História não é mais que uma longa e louca aventura dos homens à busca da felicidade.
O homem, na ânsia de atingir a felicidade, esmaga o seu irmão. A moral diz-nos que a felicidade se constrói com a vida na medida em que nos mentalizamos da nossa missão como seres humanos, viver a vida em comunidade e agir em conformidade. No entanto esquecem-se rapidamente estes princípios morais. Os governantes, responsáveis pelo bem estar do seu povo, guerreiam, ensanguentam, matam. Destroem para atingiram os seus fins. Alegam que buscam a felicidade para o povo, que é preciso sacrificar uns para que outros vivam felizes, enquanto eles vivem nos seus palácios de egoísmo.
Ah ! esses que se arvoram em condutores do povo, que conduzem as guerras dos seus palácios de vidro, se vivessem no seu sangue, no seu corpo, no seu espírito o que se passa nas frentes de batalha !
Se sentissem o sofrimento de tantos que, num último esforço, se tentam agarrar à vida, no meio de atrozes dores. Se sentissem a dor dos que têm de abandonar tudo o que é seu e fugir, na esperança de escaparem à morte.
Se sentissem a dor daqueles que vêm os seus entes queridos, os seus amigos, ali à sua frente, mortos por uma granada traiçoeira, quando ainda há escassos segundos viviam felizes.
Se sentissem o que é ficar sem uma perna, um braço, ficar inutilizado para a vida e quantas vezes rejeitado pelos seus, como quem deita fora o que já não presta.
Se sentissem o que sente o jovem a quem lhe roubaram os melhores anos da sua vida, a quem atrasaram a sua construção como homem.
O ingrato de tudo isto, é que alegam que se trata de uma causa justa. O Inimigo também afirma que luta por uma causa justa e que esta justifica ao vida e o esforço de todos. De que lado estará Deus, se ambas as frentes lutam por uma causa justa ?
Dizem que estão dentro da razão e mandam os outros para a frente. Eles não vão. Lá longe traçam os planos, jogam com as vidas, indiferentes ao sofrimento. . .
A eterna busca da felicidade . . . Pobre homem cego, que procuras a felicidade e julgas que a consegues, esmagando os outros, servindo-te do teu poder. Esqueces-te que a felicidade, não é mais que a construção de ti mesmo, procurando atingir o HOMEM perfeito.
O Grande drama do homem, é o ser limitado nos seus meios naturais e infinitos nos seus desejos. Procura então, por meios anti-humanos, conseguir os seus desejos. Pobre bocado de terra que esqueceu a sua origem e o final que o espera . . .
Empada, 11 de Janeiro de 1970
Ainda cá estamos e eles continuam por perto. No dia 9 nove, as 22.30 h. vieram dar-nos as boas festas. Roquetes, bazucas e costureirinhas e um quarto de hora debaixo de fogo. Só atingiram a tabanca, queimando algumas moranças. Além do susto houve um ferido nativo que teve de ser evacuado.
[Foi a minha despedida da guerra. Poucos dias depois dei baixa ao hospital e fiquei em Bissau a aguardar o embarque que se concretizou em fins de Abril ].
Brá, 20 de Março de 1970
Continuo em Bissau a aguardar o transporte para junto dos meus. Desde Dezembro que o embarque em sido adiado sucessivamente. Agora dizem-nos, mais uma vez ,que está por dias. Será o retorno à sociedade, o retorno a vida: dentro de mim continua a revolta pelo que vi e vivi, mas também há uma grande vontade de reagir.
Guiné-Bissau > Região de Quínara > Empada > 1970 > Um militar da CCAÇ 2381, Os Maiorais, na fase final da sua comissão.
Foto: © José Teixeira (2006). Todos os direitos reservados.
Leça do Balio, 17 de Fevereiro de 2006
Ao reler o
Meu Dário (que não era diário) onde apontei algumas das situações mais marcantes da minha guerra, apetecia-me queimar tudo e recomeçar de novo. Tudo o que escrevi, não foram historinhas para depois (agora) de velho, contar aos netinhos. São factos verdadeiros escritos a quente, para não perderem o “sal” da realidade que o tempo teima em dissolver
Hoje, com as feridas saradas, talvez romanceasse um pouco. Talvez lhe juntasse outros pormenores, que com o calor dos acontecimentos foram posto em secundário. Talvez lhe juntasse outras situações que vivi e não escrevi, umas por desleixo, falta de motivação de momento, ou até por não encontra razões de história. Outras por medos “pidescos” de poder ser apanhado.
Com o tempo e com a ajuda provocatória do Luís Graça e dos camaradas tertulianos as estórias irão surgindo. Mas eu, na Guiné, não vivi e presenciei só e apenas cenas de guerra. Vivi bons e felizes momentos com os camaradas. O termo camarada reflecte amizade criada em tempos de luta, em tempos difíceis, daí o seu valor e a sua aplicação que devemos usar. Geramos amizades inesquecíveis.
Vivi bons e felizes momentos, em sadio convívio com as populações locais e muito aprendi com elas. Costumo dizer que aprendi ali, na Guiné, as primeiras noções do que é viver em democracia.
Mas... As injustiças por essa Guiné que presenciei foram imensas:
(i) Vi Chefes de Posto, a fazerem justiça pelas suas próprias mãos, julgando e condenando ao chicote homens sem direito a defesa, sem processo, sem inquirição, sem confronto;
(ii) Vi Africanos a serem empurrados pela força da baioneta, obrigados a irem viver para sítios que não queriam ( Antotinha), alegando que ali nasceram, ali queriam morrer, sobretudo os mais velhos; quantos fugiram para o IN !?;
(iii) Vi Africanos a serem condenados a prisão por não terem dinheiro para pagar o Imposto do Pé Descalço;
(iv) Vi Gente carregada de frutos que iam vender à loja do branco e saíam desta bêbados e sem tostão, graças à estratégia montada, para deixar lá os miseráveis pesos que lhe davam pelo sacos de coconote;
(v) Vi gente a vender o saco de mancarra a um peso e depois o homem branco da loja vender o mesmo saco por 15 moedas, tendo ainda o desgraçado do produtor de o carregar até ao barco; ele que teve de rasgar a terra, semear, tirar as ervas daninhas, proteger dos animais selvagens e dos pássaros, proteger das investidas do Inimigo;
(vi) Vi e senti quão tão grande era o desprezo que a Mãe Pátria votava aqueles que dizia serem seus filhos iguais aos que do Minho ao Algarve se orgulhavam de serem Portugueses; onde estavam as escolas, a assistência mínima à saúde, o desenvolvimento ?
(vii) Vivi uma guerra que em consciência não queria.
Mas estou aquiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!
Zé Teixeira
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Notas do autor:
(1) A história foi muito mal contada na altura pelos Fuzas. No meu regresso em fim de Comissão vinha também no Niassa um fuza que tinha sofrido um castigo e foi expulso da Guiné. Contou-me este, que o tal Turra não fugiu. Um dos Fuzas tinha perdido a G3 e era preciso justificá-la. Por outro lado as suas informações eram a causa para eventuais futuras acções de combate, com assaltos a bases do IN, o que era sempre arriscado. A solução foi amarrar o gajo e atirá-lo ao rio fazendo-o desaparecer e passando a informação que tinha conseguido fugir.
(2) Vd I Série, poste de 11 de Fevereiro de 2006 >
Guiné 63/74 - DXXIV: Estórias do Zé Teixeira (2): o Conceição ou o morrer de morte macaca
(3) O Kebá passava o dia na Enfermaria. Não quis ser milícia, o que suponho se devia ao facto de ter 2 mulheres e vários filhos com o IN.
Conversámos várias vezes sobre este assunto. Disse-me que em tempos tinha deixado Empada e ido para o mato, localizou as mulheres e tentou convencê-las a virem com ele, mas estas não quiseram ou não as deixaram vir. Vivia este drama. Quando éramos atacados, ele mesmo dizia que não sabia se as suas mulheres estavam do outro lado.
Quando em 2005 tive o prazer de voltar a Empada, senti uma mão nas costas e alguém a perguntar-me se me lembrava dele. Olhei, o rosto dizia-me alguma coisa, mas o nome, esse, fora-se.
- Sou o Kebá.
Quantas histórias ali foram revividas. Imaginem o resto.
(4) Pelo que vim a saber era um pequeno (grande) imposto que toda a gente tinha de pagar, quer trabalhasse quer não, por isso lhe puseram o nome do Imposto do Pé Descalço.
(5) Tal veio a acontecer uns dias depois, ficando o Capitão na função de Chefe de Posto até à substituição.
(6) Esta não será, com certeza, a verdade (verdadeira) dos factos, mas foi assim que ma contaram. Estou apenas a transcrever o que escrevi na altura. Isso permitirá ajuizar como as mensagens eram passadas e eventualmente os factos deturpados por conveniência ou não.
(7) Na realidade, tivemos que esperar mais cinco meses...
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