Jornal "Alvorada", quinzenário regionalista, Lourinhã, 13 de setembro de 1964.
1. Um poema meu, publicado aos 17 anos... Foi aqui, no jornal "Alvorada", que comecei a publicar os meus primeiros poemas. Foi aqui que tive a minha primeira atividade remunerada como jornalista, embora sem carteira profissional. Foi, aliás, esta a profissão que dei para a tropa, quando aos 18 anos fui à inspeção militar.
Comecei por estar ligado, à criação de uma secção, ou de uma página, a que chamámos "Alvorada Juvenil", com outros jovens da terra, estudantes e outros, com destaque para os meus amigos e colegas de escola, Álvaro Andrade de Carvalho, hoje psiquiatra, e o saudoso Rui Tovar de Carvalho (Lourinhã, 1948-Lisboa, 2014), que haveria, depois, de fazer carreira no jornalismo desportivo.
Criámos a seguir um secção dedicada ao correio dos soldados do ultramar, e mais outra onde demos voz aos nossos emigrantes. No "Alvorada Juvenil", abrimos um inquérito aos jovens lourinhanenses e alimentámos o "cantinho dos poetas"...
Havia da nossa parte alguma irreverência e inquietação, próprias da idade e das circunstâncias da época. Acabei por exercer as funções de redator coordenador deste jornal, quinzenário regionalista, que ainda hoje se publica. Foi fundado ao em 1960, pelo padre António Pereira Escudeiro (Tomar, 1917-Lisboa, 1994), um homem a quem a Lourinhã muito deve e que fez uma aposta forte na formação das elites locais, ou seja, na educação, para além do apostolado e do mister sacerdotal. Foi o fundador e o primeiro diretor do Externato Dom Lourenço, que permitiu aos jovens do concelho da Lourinhã prosseguir os seus estudos depois do ensino obrigatório (que era apenas de 4 anos no meu tempo)-
O padre António Escudeiro fora igualmente fundador do jornal "Redes e Moinhos" (1954-1960). Antes de vir para a Lourinhã como pároco, em 1953, estivera em Alcanena, terra da indústria dos curtumes, onde fundara o jornal quinzenário "O Alviela", entretanto supenso pela censura por ousar publicar um artigo sob o título "A fome em Alcanena" (onde se critica a banca pelos juros usurárips que levavam à falência das empresas locais, ao desemprego e à fome)... Estava-se em plena campanha eleitoral do general Norton de Matos. "O Alviela" retomaria a publicação depois de, mediante requerimento, ser expressamente autorizado a versar também "assuntos sociais"...
À frente do "Alvorada", como redator-coordenador, de 1964 a 1966, "fiz-me esquecido" e deixei de mandar o jornal à censura... A entrada de jovens fora uma pedrada do charco da pasmaceira e do conformismo em que se vivia nesta terra do oeste estremenho. Estava-se em plena guerra colonial mas já na fase de fim de ciclo da história..."Cadáver adiado", o regime do Estado Novo ainda estrebuchava e metia medo a muitos. Não admira que o diretor do jornal tenha recebido um intimidatório ofício da direcção geral de censura a perguntar por que é que se permitia o luxo de ultrapassar a lei...
Metade do ofício, que era apenas de duas linhas, correspondia a uma assinatura em letra garrafal, símbolo máximo da arrogância totalitária quem se sentia dono e senhor deste país... A assinatura, ilegível, seguia-se à fórmula, obrigatória, no tempo do Estado Novo (1926.1974), "A bem da Nação, com que terminavam todos os ofícios (e todas as demais comunicações escritas, internas, incluindo discursos, requerimentos, petições, etc.)
O pobre do vigário geral, já com ficha na PIDE (por causa do "Alviela"), lá teve que arranjar uma desculpa esfarrapada aos senhores coronéis da censura e, a mim, puxou-me as orelhas... Doravante, tínhamos que mandar os artigos em duplicado para a tipografia, sita em Torres Novas, que por sua vez mandava uma cópia para a censura... E no entanto nunca nenhum de nós escreveu o que que fosse que pudesse pôr em causa a sagrada tríade "Deus, Pátria e Família"!...
Eu acho que os censores embirraram sobretudo com os nossos jovens poetas. Não entendiam nada da poesia moderna e receavam à brava que os jovens lourinhanenses e outros, que colaboravam connosco, escrevessem também nas "entrelinhas", mandassem em código, entre si, perigosas, subversivas e dissolventes mensagens...
Nunca se sabe o que se passa no coração dos poetas nem muito menos na cabeça dos censores...
Foto (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
2. A Igreja do Castelo, antiga igreja matriz da Lourinhã, monumento nacional, é um belíssimo tempo de arquitetura gótica do dos finais do séc. XIX. Os seus capitéis, de motivos vegetalistas, são verdadeiras obras-primas.
É obrigatória uma visita a esta jóia do nosso património arquitetónico que, ao longo dos séculos, sofreu muitos maus tratos, incluindo a sua reconstrução e restauro no tempo do Estado Novo, pela Direção Geral dos Monumentos Nacionais...
Foi nela que fui batizado, em 1947... Fica na minha rua, a rua onde nasci, a rua do Castelo (ou rua dos Valados, hoje rua Dr. Adriano Franco), no alto da pequena elevação que domina a vila da Lourinhã, conquistada aos mouros por Dom Afonso Henriques, em 1147. É um dos ex-libris da Lourinhã.
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Nota do editor:
Último poste da série > 2 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17572: Manuscrito(s) (Luís Graça) (120): A notícia da morte do Zé Belo, comido por uma úrsula menor quando ia à pesca do salmão lá na Lapónia... foi um bocado exagerada!
2. A Igreja do Castelo, antiga igreja matriz da Lourinhã, monumento nacional, é um belíssimo tempo de arquitetura gótica do dos finais do séc. XIX. Os seus capitéis, de motivos vegetalistas, são verdadeiras obras-primas.
É obrigatória uma visita a esta jóia do nosso património arquitetónico que, ao longo dos séculos, sofreu muitos maus tratos, incluindo a sua reconstrução e restauro no tempo do Estado Novo, pela Direção Geral dos Monumentos Nacionais...
Foi nela que fui batizado, em 1947... Fica na minha rua, a rua onde nasci, a rua do Castelo (ou rua dos Valados, hoje rua Dr. Adriano Franco), no alto da pequena elevação que domina a vila da Lourinhã, conquistada aos mouros por Dom Afonso Henriques, em 1147. É um dos ex-libris da Lourinhã.
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Nota do editor:
Último poste da série > 2 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17572: Manuscrito(s) (Luís Graça) (120): A notícia da morte do Zé Belo, comido por uma úrsula menor quando ia à pesca do salmão lá na Lapónia... foi um bocado exagerada!