quinta-feira, 19 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4052: Por que é que, no auge da Op Tridente, não se decapitou o PAIGC em Cassacá, em Fevereiro de 1964 ? (José Colaço)

1. Comentário de José Colaço (*) ao poste de 18 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4047: Resumo das actividades do Pel Mort 912 (OUT63/OUT65) (Fotos) (Santos Oliveira)

Cachil, Como ou Komo, e como eu conheci aquela estância [turística], seu residente entre 23/01/64 e 27/11/64. Onde a ementa nos primeiros 55 dias foi, todos os dias, ração de combate - carne de vaca à jardineira ou feijão branco com chouriço -, para não falar da água que nos primeiros dois dias foi racionada (0,5 litro por dia), as noites mais longas que passei, cerca de 90, a dormir; não a passar sem mosquiteiro, os mosquitos de noite atacavam em força, repelentes não havia, o único meio de protecção que tinha algum efeito era o pano da tenda de campanha, porque cobertores, roupa, aquele ferrão longo e pontiagudo furava tudo até encontrar o pêlo do militar.

As fotos são-me familiares.

Acabo de ver na RTP1 o programa do Joaquim Furtado, A Guerra [, 2ª Série, 11 episódios, às 4ªs feiras]. O congresso do PAIGC realizado em Cassacá, Ilha do Como, 27 de Abril de 1964.

Interrogo-me, depois da Operação Tridente, com tantos meios envolvidos, segundo se consta ter sido a maior operação realizada na guerra do ultramar e com um final feliz para as nossas tropas.

Depois do falhado golpe a Cassacá no início de Abril, nunca mais o comandante chefe general Arnaldo Schultz e o seu ajudante de campo brigadeiro Fernando Louro terem, ao que parece, esquecido completamente toda aquela zona , desde Cassacá, Cauane e Caiar. Chegando ao ponto a partir de certa altura, o comandante da Companhia de Caçadores 557 sediada no subsector do Cachil receber ordens do comando de sector Catió, de BCAÇ 619, para parar com as explorações à mata do Cachil. (***)

Termino, que isto dava era um poste muito extenso e não um comentário.

Um alfa bravo.
Colaço

PS - Uma questão, estes inimigos [mosquitinhos] não terão também culpas no cartório com a sua contribuição na morte de ex-combatentes, embora a longo prazo?
___________

Notas de L.G.:

(*) (*) José Colaço, ex-Sold de Trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65

Vd. postes de:

2 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2912: Tabanca Grande (73): José Botelho Colaço, ex-Soldado de Trms da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65)

20 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2970: Ilha do Como, Cachil, Cassacá, 1964: O pós-Operação Tridente (José Colaço)

9 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3287: Controvérsias (2): Repor a realidade vivida, CCAÇ 557, Cachil, Como, Janeiro-Novembro de 1964 (José Colaço)

19 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3334 O meu baptismo de fogo (14): Cachil, Ilha do Como, meia-noite, 25 ou 26 de Janeiro de 1964 (José Colaço)


(**) (2) SSobre a Op Tridente (ou Batalha do Como), vd. postes de:

28 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2892: A verdade e a ficção (2): Ilha do Como, Op Tridente: Queres vender a tua água ? Dou-te 100, dou-te 200 pesos (Anónimo)

27 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2889: A verdade e a ficção (1): Op Tridente, Ilha do Como, Jan / Mar 1964 (Mário Dias)

23 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2874: Um dia na Ilha do Como: Operação Tridente, Fevereiro de 1964 (Valentim Oliveira, CCAV 489/BCAV 490)

15 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLI: Falsificação da história: a batalha da Ilha do Como (Mário Dias)

15 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2352: Ilha do Como: os bravos de um Pelotão de Morteiros, o 912, que nunca existiu... (Santos Oliveira)

23 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2375: RTP: A Guerra, série documental de Joaquim Furtado (8): A Batalha do Como (Mário Dias / Santos Oliveira)

17 de Novembro 2005 > Guiné 63/74 - CCXXVI: Antologia (25): Depoimento sobre a batalha da Ilha do Como

12 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2435: PAIGC - Quem foi quem (6): Pansau Na Isna, herói do Como (Luís Graça)

1 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1907: PAIGC: O Nosso Primeiro Livro de Leitura (2): A libertação da Ilha do Como (A. Marques Lopes / António Pimentel)

17 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXCV: A verdade sobre a Op Tridente (Ilha do Como, 1964)

15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXII: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): Parte I (Mário Dias)

16 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXV: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): II Parte (Mário Dias)

17 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXX: Op Tridente (Ilha do Como, 1964): III Parte (Mário Dias

17 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXCV: A verdade sobre a Op Tridente (Ilha do Como, 1964)

15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXX: Histórias do Como (Mário Dias)

Vd. ainda os vídeos e documentários da RTP, sobre a Operação mais mediática da guerra da Guiné, no sítio Guerra Colonial (1961-1974) > Multimédia > Operações > Operação
Tridente


(***) Sobre a importância do Congresso de Cassacá, o I Congresso do PAIGC, realizado de 13 a 17 de Fevereiro de 1964, a 15 Km da Ilha do Como, no auge da Batalha do Como (designação usada pelos guerrilheiros) ou da Op Tridente (nome de código dada à operação pelas NT), dv. documentário (em francês), dsiponível em Guerra Colonial (1963-1974) > Multimédia > Vídeos e documentários da RTP > PAIGC - Documentário francês

(...) "O presente documentário trata, de uma forma muito eficaz, toda a estratégia de luta do PAIGC a partir de 1964. Com efeito, tendo como base as declarações de Amílcar Cabral em três blocos, o documentário sublinha e enfatiza com imagens, as grandes linhas de força saídas do Congresso de Cassacá (na proximidade da Ilha de Como e da fronteira com a Guiné-Conacri) realizado em Fevereiro de 1964.

"Este Congresso foi a primeira grande reunião do PAIGC com a presença da quase totalidade dos quadros responsáveis. A grande importância das decisões ali tomadas teve a ver, especialmente, com:

"- a necessidade de definir muito claramente a subordinação da estrutura militar ao poder politico; Amílcar Cabral fez sempre declarações em diferentes ocasiões afirmando explicitamente que o PAIGC era um partido de militantes armados e não de militaristas;

"- a criação de uma nova estrutura militar operacional, os "bigrupos", com uma chefia bicéfala com um comandante militar e um comissário politico; estas unidades eram constituídas por 40 elementos bem armados e em constante movimento, dando assim início a fase da guerra de movimento;

"- a orientação para a organização das zonas libertadas, dotando-as de recursos básicos essenciais, nomeadamente de saúde, educação e justiça, que foi, evidentemente, o projecto mais importante e conseguido para o controlo e apoio das populações" (...).

4 comentários:

Santos Oliveira disse...

Caro Colaço
Vou repetir a Mensagem Comentário que havia aposto a seguir ao teu Comentário agora, justamente, em destaque

Qui Mar 19, 02:09:00 AM
Blogger Santos Oliveira disse...

Amigo Colaço

No meio daquela Praça Forte, ainda temos forças (hoje) para sentir diferenças entre uma qualquer Penitenciária, o Dever (imposto pela Lei da época) e a Vida Livre.
Da vida livre, não há Comentários. Mas das apropriações indevidas de feitos, permanências, sofrimentos que, também a CCaç 557 sofreu, nisso estou solidário, por haver sido, exactamente, o que se passou com a minha mini-Unidade
(Sec.P.Mort.912).

Aos regressados do inferno, foi-lhes registado o nome, nos escritos, e participação como Tropa Combatente no conjunto do Efectivo da OP TRIDENTE. Os que, além do exercício da mesma missão, infelizmente, acabaram por permanecer no terreno,em condições infra-humanas (piores que a tal Penitenciária)afim de guarnecerem a Posição, nem a simples menção do nome da Unidade.

O seu a seu Dono.

Apropriações e injustiças, não!

Por isso, amigo, entendo bem que o que terás que "dizer" não é apenas um Comentário simples, mas um Post em que a CCaç557 possa ter o lugar que merece, tanto na Participação na Tridente, como na Guarnição da Posição, mas sobretudo na criação e Registo da sua própria História.

Para a frente, amigo. Também podes contar comigo.

Abraços, do
Santos Oliveira

Qui Mar 19, 11:35:00 AM

Anónimo disse...

Caro José Colaço.,
Quão pertinente é a tua pergunta meu amigo!
Recordo-me já a C.CAÇ. 763 em Cufar, e naquele forte Apache a 728 os Palmeirins, e o Santos Oliveira já saboreando a liberdade de Cufar Nalu. O comandante de Sector, pertencia-mos a Bolama, e que ao qual atríbuia-mos o epiteto de " Mula Branca". Este sr. que queria que a malta apanhace os invólucros em combate, ser acossado numa conversa com o na altura Cap. Costa Campos:
Cap. Costa Campos: _ Ó meu coronel, porque é que mantem aquela porcaria do Cachil, só a queimar pessoal, quando eles faziam falta era aqui junto de nós do outro lado do Rio em Cadique ou Caboxanque? Ou então limpem o Como de uma vez para sempre.
Resposta do "Mula Branca":_ Você ainda é novo sr. capitão!
O Costa Campos sabia mais de contra-guerrilha a dormir do cinquenta mulas brancas acordados.

Tens razão é um mistério que pode ser desvendado, analizando os chefes que tinha-mos.
Pode ser polémica a minha afirmação, mas já nessa altura se olhava para o PAIGC como um "Mito"
em vez de Guerrilha.

Um abraço do tamanho do Cumbijã.

Mário Fitas

Anónimo disse...

Para quem nos lê, o brigadeiro Fernando Louro de Sousa fez dupla com o governador comandante Vasco Rodrigues, abandonou o CTIG em Maio de 1964 com a nomeação do governador general Arnaldo Schultz que ocupou as duas pastas.
Colaço

Luís Graça disse...

Pergunta o José Colaço;

2009/3/19 Colaço josebcolaco@gmail.com


Título do poste 4052: Porquê Fevereiro?

A minha pergunta está a partir da tal gorada ida à mata do Cassacá em início de Abril.

Em Fevereiro decorria em bom ritmo a Operação Tridente com ataque e contra-ataque.

Será que me fiz entender?

Um alfa bravo.
Colaço


Resposta do editor L.G.:

Colaço: O I Congresso do PAIGC foi de 13 a 17 de Fevereiro de 1964, em plena Op Tridente...

Em Abril, eles (a cabeça do PAIGC) já não estava lá... Sem cabeça, não há decapitação...

Um abraço. Luís