sábado, 21 de março de 2009

Guiné 63/74 - P4061: De regresso a Mampatá (Zé Manel Lopes) (3): Do Trópico de Câncer à Mauritânia (2.ª Parte)








Fotos: © José Manuel Lopes (2009). Direitos reservados.

1. Continuação da publicação do diário de bordo do nosso camarada e amigo José Manuel Lopes, ex- Fur Mil, CART 6250, > CART 6250 , Os Unidos de Mampatá (Mampatá, 1972/74)

24 de Fevereiro

Às 9 horas estamos de partida, percorridos apenas 12 Kms uma paragem num controle, mais um “cadeau”, logo a seguir aos 16 Km.s outra paragem, na travessia da Mauritânia foram, nada mais nada menos que 15 em 561 Kms. Ao km 495 após Nouadhibou, passamos por Nouakchott a capital da Mauritanea, seguindo logo em direcção à fronteira com o Senegal, pois o objectivo era ir ficar a St. Louis. Para evitar a travessia do rio em Rosso, onde a burocracia da passagem é muito complicada, tivemos de fazer um desvio de mais 100 Kms numa estrada de terra muito difícil e já de noite. Controlados na fronteira em Djama seguimos até St Loius para o Niji Hotel Souwo, o grupo separou-se indo os de Coimbra jantar a casa de um comerciante português, depois de uma cena caricata em que o sujeito nos tentava despachar (ao grupo de Matosinhos), e lá se foi o jantar surpresa anunciado em Coimbra.. A malta de Matosinhos jantou muito bem num restaurante ali ao lado servidos por 3 bonitas emigrantes da Guiné Conakry, simpáticas e eficientes. St. Louis é uma cidade bonita com um movimento muito intenso, constituída por uma ilha e um istmo aos quais se chega por duas bonitas pontes provavelmente da autoria de Eiffel, muito semelhantes às que existem no Porto, na Régua e no Pinhão. A cidade tem uma actividade piscatória muito grande e pela quantidade de camiões deve fornecer peixe para todo o Senegal e países vizinhos.

Percorridos 854 Kms


25 de Fevereiro

Logo pela manha saímos de St. Loius, mas já o transito era muito intenso. Depois da travessia das pontes, houve que trocar Euros por CFAS, na proporção de 1€ por 650 CFAS, atestar as viaturas e andar que já se fazia tarde. A paisagem ia mudando, mais vegetação, mais gente e mais povoações, andados 73 Kms passamos por Louga, aos 196 Kms Thies uma grande cidade a visitar com tempo, andados 272 Kms Diourbel, depois Kaulach após 336 e finalmente Tambacounda com 654 Kms percorridos após St. Louis. A viagem foi mais longa pois contornamos a Gambia, mas a estrada estava em construção e o caminho paralelo estava lastimoso. Por breves períodos na parte final íamos pela estrada já construída, mas estava impedida frequentemente por barreiras de arvores, havia que descer o talude até à estrada lateral, por vezes com algum risco. Chegamos já de noite a Tambacounda. Neste percurso se passou um episódio desagradável. Um militar demasiado zeloso pretendeu multar duas viaturas que ao desviar-se duma vaca que atravessava a estrada, pisaram o risco continuo, numa recta enorme que atravessava uma povoação. Irregularidade feita a pequena velocidade (20 a 30 Kms/hora), mas o senhor estava irredutível e não recuava nas suas pretensões. O Santos protestava, em sua ajuda aproxima-se o condutor do Nissan e deita a culpa para a vaca, e a vaca era mesmo culpada, atravessou sem dar cavaco a ninguém onde não havia passadeira, numa estrada feita para carros e ela nem ia a puxar carroça.

O militar estava intransigente e alguém diz “isto é uma merda” em português, sem se lembrar que merda em francês é muito parecido. O militar toma-se de brios confisca as cartas dos condutores e o caldo está entornado. Então aparece o António, Guineense radicado em Coimbra, que foi de uma utilidade extrema, e com paciência fala suponho que em Fula com o militar e muito diplomaticamente resolve o conflito. António tem a família em Buba para irá com o grupo de Mampata. Pessoa afável, bom companheiro e com quem trocamos impressões sobre a Guiné, as suas potencialidades na agricultura e no turismo.

A Guiné precisa de investidores e mais Antónios e muita paz, para trilhar o caminho certo.

Percorridos 654 Kms


26 de Fevereiro

Estamos perto da Guiné Bissau, mais precisamente a 200 Kms da fronteira e depois serão 235 até Bissau. A ansiedade nos “periquitos” é enorme e a vontade de partir até Pirada ainda maior. Na fronteira da parte do Senegal enquanto esperávamos metemos conversa com alguns Senegaleses, falavam português e um deles conhecia Lisboa e tinha vivido 10 anos em Nova York. Simpáticos e conversadores, ainda se tornaram mais afáveis quando lhes dissemos que éramos ex- combatentes e o que nos trouxe até à Guiné. Não foi difícil esta ultima fronteira e em Pirada os militares foram muito simpáticos, um deles acompanhou-nos até Bissau. De Pirada seguimos para Gabu (ex Nova Lamego), depois Bafatá que a malta dos Unidos não conhecia, pois apenas estivemos em Bolama e depois no Sul em Mampata Forrea. Bafatá é uma cidade bonita, mas em mau estado de conservação. A estrada é boa e a viagem segue até Bambadinca, Conturé, Matu Cão, Porto Cole, Mansoa, Nhacra e depois Bissau. Parece muito maior a cidade, mas algumas ruas estão muito más, nem sei como dizer, se são alcatrão com buracos, ou buracos com alcatrão. Vamos almoçar a um restaurante dum português de Campanhã na rua da Pensão Coimbra, local muito agradável e de boa comida. Nota-se a presença de muitos portugueses e encontro um Reguense de Alvações. Os vendedores ambulantes são mais que muitos. Depois do almoço vamos até João Landim onde ficaremos dois dias antes de partir rumo à “nossa” terra Mampatá. Gostava de encontrar Bissau melhor, mais asseada e limpa, estou confiante que as novas gerações se houver mais Antónios vão melhorar o aspecto da cidade. De Bissau para João Landim também há um controle militar. È agradável o local onde vamos ficar, com várias casas de um dois e quatro quartos, uma sala para almoços e uma piscina. Depois de um banho está na hora de jantar, o que fazemos nesta unidade hoteleira de João Landim.

Foram percorridos desde a Covilhã 5.725 Kms. Portugal, Espanha, Marrocos, Mauritânia, Senegal (contornamos a Gambia) e Guiné Bissau.

Depois de jantar alguns foram até Bissau, a maioria preferiu recuperar da viagem e deixar para o outro dia a visita à capital.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 15 de Março de 2009 >
Guiné 63/74 - P4034: De regresso a Mampatá (Zé Manel Lopes) (2): Do Trópico de Câncer à Mauritânia

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