Fundação Mário Soares / Documentos Amílcar Cabral > s/d > Amílcar Cabral em reunião com combatentes nas Regiões Libertadas. Distinguem-se Constantino Teixeira, Aristides Pereira, Bacar Cassamá, José Turé e André Gomes.
Fundação Mário Soares / Documentos Amílcar Cabral > Abril de 1972 > Região de Tombali > "Visita da Missão Especial da ONU a Cubucaré [, a sul do Rio Cacine,] distinguindo-se Fidelis Cabral de Almada e José Araújo. Com a inscrição manuscrita a lápis no verso: Recebida, com entusiasmo pela população, a missão especial chega ao local de um grande meeting popular, em Cubucaré". Guiné-Bissau, 2 a 8 de Abril de 1972."
Fundação Mário Soares / Documentos Amílcar Cabral > Região de Tombali > "Missão Especial da ONU visita uma tabanca destruída pela aviação portuguesa. 2 a 8 de Abril de 1972."
Fundação Mário Soares / Documentos Amílcar Cabral > Rgeião de Tombali > "Grupo de diplomatas do Comité de Descolonização da ONU visita quartel destruído. 2 a 8 de Abril de 1972."
Fotos e legendas: Cortesia de Fundação Mário Soares / Documentos Amílcar Cabral (2003)
1. No 37º aniversário da morte de Amílcar Cabral (1924-1973), que se celebra hoje, tanto na Guiné-Bissau como em Cabo Verde, vale a pena evocar aqui a célebre (e inédita) visita da de uma missão da ONU, a convite do PAIGC, às então chamadas Regiões Libertadas, missão essa que correu no sul, à actual região de Tombali entre 2 e 8 de Abril de 1972. Foi uma maiores vitórias diplomáticas de Amílcar Cabral. A Região de Tombali engloba, hoje, os sectores de Bedanda, Catió, Como, Quebo e Quitafine, tendo um total de cerca de 3700 km2 e 90 mil habitantes.
Segundo Carlos Matos Gomes e Aniceto Afomo (Os Anos dfa Guerra Colonial, Vol 13, 1972 - Negar uam solução política para a guerra, Matosinhos, QuidNovi, 2009, pp. 20-21), "a missão que visitou a Guiné era constituída por três membros efectivos, representantes do Equador, Suécia e Tunísia e por dois funcionários da ONU"...
Os diplomatas estiveram nas zonas de Catió e Quitafine onde, segundo o relatório observaram "estuturas militares, escolas e aramazéns". Mais concretamente, do relatório "constam apreciações sobre a situação no campo do ensino, da saúde, da administração da justiça, da reconstrução da economia e da formação de uma assembleia nacional".
Segundo os autores citados, "esta visita (...) contribuiu decisivamente para uma crescente aceitação daquilo que veio a tornar-se inevitável - a declaração unilateral da independência da Guiné-Bissau", em 24 de Setembro de 1973, na região do Boé.
Ainda de acordo com os mesmos autores, entre 2 de Novembro e 14 de Dezembro de 1972, a Assembleia Geral da ONU produziu 11 resoluções condenando abertamente a política africana do regime de Marcelo Caetano. "As mais significativas foram as 2 e 14 de Novembro e a de 12 de Dezembro" (op. cit., p. 97)
Qual foi, entretanto, a resposta das autoridades portuguesas à visita da missão da ONU de 2 a 8 de Abril de 1972 ?
Sabe-se que "enquanto decorreu a visita, as forças portuguesas tentaram perturbá-la com acções militares, mas sem porem em em risco a a vida dos membros das ONU" (sic)... Escrevem Carlos Matos Gomes e Aniceto Afonso:
"As grandes acções ocorreram após a visita. Para demonstrar a inexistência de regiões libertadas, condição essencial para a Guiné viessse a ser reconhecida como Estado independente, foram realizadas várias operaçõe no Cantanhez e nas zonas onde o PAIGC tinha uma forte componente militar - regiões de Bedanda, Cabolol, Tombali, Guileje".
A 23 de Novembro de 1972, é a vez de uma missão da OUA - Organização para a Unidade Africana, tendo à frente o seu secretário executivo, o major Mbita, visitar as mesmas regiões, durante cinco dias. Desse dia é a Directiva 23/72, de Spínola, com ordens para a reocupação do Cantanhez...
A Op Grande Empresa, conduzida pelo recém-criado COP 4, teve início em 8 de Dezermbro, com desembarque de forças e a sua instalação nas tabancas de Cadique Ialala, Caboxanque e Cadique. "Seria tmbém ocupada a região de Jemberém e construída uma estrada táctica a ligar as duas margens da península do Cantanhez" (op. cit., p. 70). Na sua mensagem de Ano Novo 1973, Amílcar Cabral denuncia e reconhece as tentativas de reocupação do Cantanhez, aos microfones da Rádio Libertação, três semanas antes de ser assassinado (Oiça-se o registo aúdio, disponível no Dossier Amílcar Cabral, da Fundação Mário Soares).
Um dos diplomatas que visitou o sul da Guiné, de 2 a 8 de Abril de 1972, foi o equatoriano Horácio Sevilla Borja, neste momento em visita a Cabo Verde.
No Arquivo de Amílcar Cabral, a cargo da Fundação Mário Soares, e em boa hora disponível em linha, não há infelizmente muitas imagens desta visita. Selecionamos alguns, reproduzidas acima, com a devida vénia. A missão da ONU integrava um fotógrafo japonês... Se alguém souber como se chamava, que nos diga... Acho que já vi fotos dele tiradas no âmbito dessa visita... E, já agora, seria interessante localizar o relatório da missão, ou obter um cópia, em inglês ou espanhol....
A propósito desta efeméride (o vil asssassínio de um grande intelectual, dirigente africano, homem e cidadão do mundo), e sobre as circunstâncias e o móbil do crime - nunca totalmente esclarecidos -, leia o poste da Diana Andringa Conversas sobre Cabral, com data de hoje, no blogue Caminhos da Memória (de cuja redacção ela faz parte, juntamente com o nosso camarada João Tunes e outros). (LG).
2. Mensagem de 18 do corrente, do nosso amigo Nelson Herbert, guineense, jornalista da Voz da América, enviando-nos o seguinte recorte de imprensa:
Embaixadores da ONU que visitaram as zonas libertadas da Guiné-Bissau em Cabo Verde
No âmbito das comemorações do dia dos Heróis Nacionais, a 20 de Janeiro, estará em Cabo Verde, a convite do Presidente da República, Pedro Pires, os embaixadores Horácio Sevilla Borja, equatoriano, e Folke Lofgren, sueco, para participarem na palestra intitulada "A Diplomacia ao Serviço da Luta de Libertação Nacional", que se realiza no próximo dia 19, pelas 17 horas na Biblioteca Nacional, tendo como oradores a antropóloga Irosanda Barros e o Professor da Universidade de Santiago, Aquilino Barbos.
Os embaixadores Horácio Sevilla Borja e Folke Lofgren são os únicos sobreviventes da missão especial da ONU enviada às áreas libertadas da Guiné-Bissau, em 1972, até então sob a administração colonial portuguesa.
(Fonte: Expresso das Ilhas, Cabo Verde > 18 de Janeiro de 2010 )
3. Mensagem de 19 do corrente, do nosso Nelson Herbert, com envio de outro recorte, que se publica em parte, com a devida vénia ao jornal A Semana, e para o competente conhecimento dos leitores deste blogue.
(...) Retratos > Horácio Sevilla Borja, observador da ONU às zonas libertadas da Guiné: 'Com a nossa missão tudo mudou'
Entrevista de JVL. A Semana, 19 Janeiro 2010 (Excertos, com a devida vénia)
Quase 40 anos depois, Sevilla Borja [, foto à esquerda,] relembra nesta entrevista os significados da missão. (...)
Para os portugueses, na altura, vocês não entraram nunca na Guiné. Tudo não passou de uma ficção.
Isso realmente foi dito por eles, nomeadamente, pelo então ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Patrício. Mas, claro, a nossa missão estava documentada, fotografada, de maneira firme. Fomos perseguidos pelos portugueses, que nos bombardearam quase o tempo todo. Mesmo assim, caminhamos oito dias pelas zonas libertadas pelo PAIGC.
Num dado lugar, Quedanda [, Bedanda ?], se não me engano, passámos ao lado de um quartel português, a dois quilómetros. Portanto, a missão foi real, não foi uma ficção, como quiseram fazer crer. Uma decisão revolucionária,
Como é que se deu a sua escolha para essa missão?
A decisão aconteceu no âmbito do Comité dos 24, da ONU, que se ocupava da descolonização. A proposta, quando submetida à Assembleia Geral, foi aprovada por uma larga maioria. Tratou-se de uma missão inédita, um passo em frente, se quiser, uma revolução nos anais da ONU. Na altura deveríamos ir também a Angola e a Moçambique, também convidados pelo MPLA e pela Frelimo. Mas o primeiro convite surgiu do PAIGC.
Por que diz que foi uma "revolução"?
Foi uma revolução porque, pela primeira vez, na ONU, um movimento de libertação convidou a comunidade internacional a visitar um território. Até aí eram as potências administrantes a convidar as missões de visita da ONU, nelas procuravam mostrar os passos que estavam a dar em benefício dos povos por elas tutelados, com vista à sua autodeterminação e independência.
Com o convite do PAIGC, romperam-se todos os moldes, as formas de trabalho da ONU no processo de descolonização. E dada a tenacidade de Portugal de conservar as suas colónias, negando a realidade, a ONU deu um passo em frente, com a abstenção de uns poucos países que o apoiavam, dentre eles os EUA, a França, etc. Portugal se opôs por todos os meios ao seu alcance.
Vocês eram quantos?
Éramos três e estávamos apoiados por dois membros da secretaria da ONU. O secretário-geral na altura era o austríaco Kurt Waldeim. No caso do Equador a escolha recaiu sobre mim, mas também estavam os meus colegas da Tunísia [, Kamel Belkhiria, ] e da Suécia [, Folke Lofgren]. A distribuição era geográfica. Um dos elementos de apoio era do Senegal, o Sr. Gaye, e o fotógrafo era japonês. Portanto, havia gente de todos os continentes.
E foi com base no vosso relatório que o PAIGC pôde declarar a independência da Guiné-Bissau, não?
Sim. No nosso regresso dissemos que efectivamente o PAIGC controlava a maior parte do território da Guiné-Bissau. Mais do que isso, tinha organizado a sociedade. Era incrível como um movimento de libertação, em condições tão difíceis e precárias, tinha conseguido montar escolas, serviços de saúde, de abastecimento às populações, etc. Com base nisso, a ONU declarou que o único movimento representante desse povo era o PAIGC e não a potência colonial.
Diante disso também, recomendou-se a todos os estados para que reconhecessem o PAIGC como o único representante dos povos da Guiné e Cabo Verde, e se instruiu também a todas as agências da ONU a ter em conta nos seus programas esses dois territórios. A missão mudou totalmente o quadro político na Guiné-Bissau e por isso foi uma tremenda vitória diplomática do PAIGC e dos seus líderes.
Fora isso, também fizemos uma série de recomendações militares. Do nosso ponto de vista, os portugueses estavam entrincheirados nos seus quartéis e apenas por via aérea conseguiam mover-se, destruindo muitas vezes o que o PAIGC tinha construído ou estava a construir. Lembro-me que, depois da missão, um dia, Amílcar Cabral nos enviou um telegrama a dizer que uma dada escola no interior, que chegámos a visitar, tinha sido bombardeada e destruída, com morte de várias crianças.
Com base nisso tudo, se pediu aos Estados que ajudassem a luta do PAIGC, com as armas necessárias, para enfrentar os helicópteros e outros meios aéreos utilizados pelos portugueses. Ou seja, com a nossa missão, tudo mudou, e isso acelerou e permitiu a independência da Guiné que foi logo reconhecida por dezenas de outros países.
E pressões, tiveram muitas?
Portugal, sobretudo, exerceu muita pressão sobre o Equador. As autoridades portuguesas consideravam que a missão era um ataque a Portugal, a uma província autónoma sua, e que, portanto, um país amigo, como Equador, não devia estar numa missão a favor da independência de um dos territórios que supostamente eram parte de Portugal. Mas houve também pressões directamente contra a minha pessoa, nomeadamente, no meu Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Mas a posição do Equador era muito clara. Se lutamos há 200 anos atrás pela nossa independência, através de uma luta armada conduzida pelo nosso Amílcar Cabral – Simon Bolívar – , entendíamos que devíamos apoiar outros povos no mesmo sentido.
Mas a posição do Equador era muito clara. Se lutamos há 200 anos atrás pela nossa independência, através de uma luta armada conduzida pelo nosso Amílcar Cabral – Simon Bolívar – , entendíamos que devíamos apoiar outros povos no mesmo sentido.
Convém recordar que nessa época estávamos a viver na segunda metade do século passado, em 1972, e já em 1960 a ONU havia aprovado a resolução 1542 dizendo que tinha de terminar o colonialismo.
Nessa missão à Guiné o que é que mais o marcou?
Nessa missão à Guiné o que é que mais o marcou?
Duas coisas. Primeiro, o povo. Na missão pudemos ver e contactar pessoas, às vezes, em grandes aglomerados, vimos e falámos com responsáveis dos vários sectores (mulheres, jovens, etc.) que, apesar de muitas carestias, estavam determinadas, queriam ser independentes, para conseguirem melhores condições de vida. A outra coisa era a capacidade dos líderes do PAIGC. E não me refiro só a Amílcar Cabral.
Quem em particular?
Refiro-me, por exemplo, a Pedro Pires. Tivemos a oportunidade de falar duas vezes com ele na altura, à chegada e no fim. Mas também me recordo do José Araújo, Fidélis Cabral Almada, Nino Vieira... Lembro-me que numa noite, depois de uma longa marcha, exaustos, em plena selva, ouvindo os bombardeios, conversámos sobre filosofia, literatura, etc. com algumas desses dirigentes. Eram pessoas que tinham ideias claras, uma capacidade humana extraordinária. Nessa noite, ao mesmo tempo que ouvíamos ao fundo o som de bombardeios e discutíamos literatura, filosofia, através de um aparelho, ouvimos um concerto de J.S. Bach.
Continuou a acompanhar o processo guineense?
Sim, na medida do possível, com preocupação, os seus altos e baixos. Infelizmente, vários dos seus lideres que conheci durante a missão morreram ou foram mortos. Quem me protegeu durante toda a missão foi o Constantino Teixeira, comandante Tchutcho. Ele morreu em circunstâncias trágicas, eu soube, e isso me deixou triste. E é também com muita tristeza o que vejo o que se passa na Guiné. Em contrapartida, sinto-me confortado com Cabo Verde. (...)
[ Revisão / fxação de texto / selecção / bold: L.G.]
Recorde-se a sequência dos acontecimentos (LG):
1972 - 2 de Fevereiro
Perante o Conselho de Segurança da ONU, reunido na sua 163ª sessão, em Adis Abeba, Cabral convida a Assembleia Geral das Nações Unidas a enviar uma delegação às 'zonas libertadas'.
4 de Fevereiro
Resolução 312 do Conselho de Segurança sobre a situação dos territórios sob a administração portuguesa. É autorizada uma missão às regiões libertadas da futura Guiné-Bissau.
2 a 8 de Abril
Visita de um grupo de Diplomatas do Comité de Descolonização da ONU aos territórios libertados.
____________
24 comentários:
Quatro horas depois e nem um comentário?
Não quero comentar pois tenho uma ou várias dúvidas. Posso fazer uma pergunta,posso?
- O que é uma zona libertada;região libertada ou território libertado?
(talvez excessiva curiosidade do macaco- o meu signo chinês).
Em 1969 andei por uma zona com Instalações Sanitárias e médico cubano (Dr. Diaz);Escolas; Armazéns e certa organização sócio/económica...Cancodeas e Fiofioli e, para não ir só foram mil ou mais,do Xime até ao Xitole por toda a margem direita do Corubal. Pena não irem outros pela margem esquerda outros...estive lá nove dias de onze que durou o passeio. Seria isto uma região,zona ou território libertado???
Obrigado se informarem.
Abraços
Torcato Mendonça
Torcato:
A expressão "região libertada" era (e é) usada pelo PAIGC, pela historiografia, etc. Admito que é ideológica. Mas não vale a pena discutir os sexo dos anjos, tal como não vale a pena fazer a distinção entre "colónias" e "províncias ultramarinas", ou entre guerra colonial e guerra do Ultramar...
Naturalmente que tu, como antigo combatente que conheceu bem - tal como eu - o Sector L1 (Bambadinca), onde o PAIGC chegou a ter 5 a 6 bigrupos (200/250 homens em armas), em 1968/70, e uma relativamente importante população balanta e beafada "sob seu controlo", tu e eu sabemos que a expressão "região libertada" não é inteiramente rigorosa...
Os páras iam todo o lado, a aviação idem aspas, a artilharia batia toda a Guiné... Tínhamos mais de 30 mil homens em armas, o PAIGC estava cada vez mais desfalcado em termos de infantaria, etc.
A norte do Rio Geba, a gente podia ir, a pé, uma vez por ano, a Madina / Belel, em operações a nível de Batalhão, mas depois regressávamos a toque de caixa...
Os REVIS mostravam extensas bolanhas cultivadas... Havia incipientes estruturas administrativas (armazéns, escolas, postos sanitários...). No Poindon/Ponta do Inglês levavas sempre porrada...
O Cantanhez só foi reocupado em finais de 1972... Nem tudo é (ou era) propaganda do PAIGC, para consumo externo...
Relativizemos, pois!... Para evitar susceptibilidades, repara que eu usei a expressão em itálico... Tal como ponho em itálico vocábulos como turra, tuga, luta de libertação, nharro...
Ms, porra, já é altura de a gente não a andar a contar os fajões... A guerra acabou há 36 anos, hoje fazemos votos para que os nossos amigos e irmãos da Guiné-Bissau realizem o sonho de Amílcar, que era a de um dia serem donos do seu destino!
Meu querido Torcato, meu amigo e meu camarada:
Claro que os "fajões" também devem vir em itálico...
Na minha terra - sou do Oeste estremenho, terra dos saloios que cultivam as alfaces que os alfacinhas comem em Lisboa mas n
ao sabem como nascem - diz-se: "Não gosto de perder nem a fajões"...
Claro, eles (e eu) querem dizer: "feijões"... Eles fazem muito a economia da língua: por exemplo, não dizem rapariga, dizem "priga", não dizem fêvera, dizem "febra", não dizem chicharro, dizem "xarro"...
Quanto ao mais, aqui pode discutir-se tudo: na Tabanca Grande não há tabus...
A tua pergunta é tão oportuna quanto didáctica: os nossos netos quererão saber o que era isso de "regiões libertadas"...
Infelizmente, os filhos de Amílcar Cabral nem isso sabem... Por que há um problema de amnésia geral, de perda de memória, de quebra da cadeia de solidariedade geracional, de desestruturação social, de iliteracia, de incultura geral... Na Guiné como aqui, na América como na França... Quem sabe o que foi Dien-Bien-Phu ? E os vietcongs ? E a FNL ? E os "pieds noirs" ?
É por isso que a gente (tu e eu, nós) tem de gastar o nosso latim... Por "dever de memória", como se diz agora em termos politicamente correctos...
GOSTEI MUITO DO TEXTO,ESPECIALMENTE QUANDO O SENHOR FALOU DE FILOSOFIA E LITERATURA COM O NINO VIEIRA...
POIS,POIS...
GOSTEI MUITO DO TEXTO,ESPECIALMENTE QUANDO O SENHOR FALOU DE FILOSOFIA E LITERATURA COM O NINO VIEIRA...
POIS,POIS...
E já agora, poderá alguém perguntar: O que é um "pied-noir" ?
Em francês, quer dizer literalmente "pé-negro". A expressão, pejorativa, é ainda hoje usada para nomear os colonos franceses que viviam na Argélia e que foram obrigados a repatriarem-se na França depois de 1962. Cerca de um milhão, se não me engano...
Recorde-se que em 1962 a Argélia (Algérie)tornou-se independente, depois de uma longa e sangrenta "guerra de libertação" lebvada a cabo pela FNL, a Frente de Libertação Nacional...
Em termos coloquiais, "pied noir" é equivalente ao nosso "retornado", se bem que a expressão seja crua e até mais ofensiva...
Alguns "pieds-nouirs" (franceses de origem argelina) famosos:
Albert Camus, Prémio Nobel da literatura de 1957, amigo de J. P. Sarte e de Simone Beauvoir (casal com quem romperia mais tarde, por razões político-ideológicas);
Bertrand Delanoë, prefeito de Paris;
Jacques Attali, economista e conselheiro político;
Louis Althusser, filósofo marxista (que morreu louco, depois de assassinar a mulher);
Yves Saint-Laurent, costureiro, amigo de Christian Dior...
Pois acabamos,como quase sempre, por estar de acordo, Amigo e Camarada Luís Graça. Pequena,pequeníssima provocação. Mas não embarco, nessas viagens ou passeios de homens de outros países...No Leste a minha Companhia foi a todo o lado. Ao Poidom foi e partiu aquilo mais que uma vez. Nós vivíamos numa, creio ser assim chamada, Zona de Intervenção Livre da Força Aérea. Era bonito,lindo mesmo, ver os Fiats a picarem,depois a subirem e, segundos depois, vinha um som melodioso,melhor do que Bach, o som das bombinhas...maravilha. Sei que me lês e dizes:selvagem. Então e os meus feridos,os meus mortos, o meu ouvido, as mazelas e marcas bah, nem cheiro tenho porra e quantos anos, eu e os meus camaradas perdemos? repara que não faço distinção entre brancos ou de outra cor. Agora com os comandantes de outrora, os caciques de hoje, a triste realidade que sabemos estar a ser vivida pelos homens das Tabancas, do mato, esses sim esses são os filhos dos que connosco andaram. irmãos de ontem e de hoje...Ah Camarada que saudades,que saudades.
És do Oeste,eu por vezes nem sei de onde sou mas, na minha terra á rapariga não dizem priga...dizem que rica febra, se for apetecível e são ontem e hoje...xarro é carapau...O sonho de Cabral, do Amilcar Cabral,todos os Homens como ele têm um sonho...Mondlane...mas desaparecem e os que o(s) substituíram???Bem!!
Conheço a colonização e descolonização francesa, a luta, a FNL e a OAS...DeGaulle e a Legião...a integração dos ditos "pied noir" por amizade principalmente a um...Li Camus (o Estrangeiro numa noite longa)e, diziam não há muitos dias numa revita:hoje ningem já lê Camus...li muito Sartre e Simone por razões que não interessam agora.Certo é que,mesmo má, terrivel a nossa descolonização,quem de lá veio foi melhor integrado do que em França. Opinião passível de contestação. Mas tudo o é felizmente e que assim continue neste espaço e na Vida. Amemos a Vida, brinquemos e falemos a sério quando é preciso.
Não falei dos costureiros...de alguns não gosto...feitios...prefiro o pronto a vestir...e uma febra why not?
A memória, já disse uma vez ser de extrema importância ou sem elas ficas em vegetal, deve ser trazida ao presente, não em saudosismos ou deturpações da verdade mas, isso sim, em contributo para que a verdade, essa que aqui e agora nos interessa se projecte no futuro. O que é a verdade? E de quantas mentiras é feita? Não posso escrever assim nete espaço. Desculpem. Mas abraço todos os Camaradas desta Tabanca Grande,das Pequenas e Povo das Tabancas do mato Guineense.Um forte abraço Luís, não és só tu a "provocar-me"... Torcato
Fantástico: andaram a passear numa "zona libertada" passando a 2 kms dum quartel português!!!
Devia ser zona descampada para se ver um quartel português a 2 kms!!!
O que é que raio estava um quartel português a fazer numa "zona libertada"?
Foi mais ou menos como a declaração da independência em Madina do Boé!!!!
Abraço camarigo para todos
Em 25 de Junho de 1973, escrevi em Cufar:
"Não estou encantado com o lugar que vim encontrar, mas Cufar é melhor do que eu imaginava. Em termos de guerra, segurança pessoal, companheiros de armas e instalações. Estou no sul da Guiné, rios, canais, bolanhas, florestas. Até Dezembro de 1972, isto era quase tudo território do PAIGC. Havia os aquartelamentos de Catió, Cufar e Bedanda bem defendidos onde a tropa portuguesa não punha muito o nariz de fora. Em Abril de 1972 estiveram por aqui observadores do Comité de Descolonização da ONU para conhecer as realidades das zonas libertadas pelos guerrilheiros. Vieram de Conacry, entraram pela zona de Guileje, chegaram até perto de Cufar, sempre a pé, abrigados pelas florestas."
Meu Diário da Guiné, pag. 121.
É verdade que antes da ocupação do Cantanhez, em Dez. 1972, aquelas terras, pobres aldeias, pobres tabancas, eram predominantemente controladas pelo PAIGC.
Mas a entrevista com o senhor do Equador contêm umas grossas inverdades.
Ele reconhece que foi bombardeado
pela aviação NT. Não terão entrado mais de trinta quilómetros dentro da Guiné, mas deu para ver o invisível, deu para confirmar "que efectivamente o PAIGC controlava a maior parte do território da Guiné-Bissau."
E mais, leiam esta afirmação: "Os portugueses estavam entrincheirados nos seus quartéis e apenas por via aérea conseguiam mover-se."
É verdade, estavam bem entrincheirados nos quartéis de Catió, Bedanda, Cufar. Mas como é que os homens do PAIGC tinham libertado essas zonas com quartéis portugueses pelo meio?
Estes homens da ONU passaram a 2 quilómetros de Bedanda e não chegaram a ver nenhum português ou africanos NT. Só viram aviões no ar.
Se tivessem sido honestos e alargado o campo de visão, teriam visto a marinha, LDGs, LDMs, navios-patrulha NT a navegar nos rios do sul da Guiné, teriam visto fuzileiros, comandos, páraquedistas em operações a deslocarem-se às zonas libertadas (havia porrada, claro, aquilo era mesmo guerra!) Teriam visto o pessoal de Bedanda a vir até Cufar, pelos rios, nos barcos sintex, teriam visto as viaturas de Cufar a deslocaram-se todos os dias a Mato Farroba e ao porto de Impungueda, no Cumbijã (4 kms) sem escolta, teriam visto as viaturas NT a deslocarem-se de Cufar para Catió (9 kms) com escolta. Isto apenas no sul. Porque no resto da Guiné, que não conheceram mas que estava "libertada" havia, como todos sabemos deslocamentos contínuos de tropas portugueses, por terra, rios e ar.
Estes senhores da ONU, agora, Janeiro de 2010, não nos venham contar mais histórias da carochinha. Falsear a realidade não é bom para a própria Guiné-Bissau.
Com imenso respeito pelos combatentes IN e NT que cairam em combate na Guiné, alinho este comentário. Apenas porque é preciso dizer a verdade.A verdade dos factos.
Um abraço,
António Graça de Abreu
António:
Tenho pugnado, neste blogue, pelo primado da verdade dos factos, da idoneidade das fontes, e do rigor historiográfico...
Tarefa difícil, se não mesmo impossível, quando nos deparamos com a "ganga subjectiva" dos depoimentos, testemunhos, histórias, versões escritas ou orais dos diferentes actores... Daí a necessidade dos procedimentos críticos, da triangulação das fontes, da exegese das versões... Daí também este espaço, magnífico, livre, plural, de comentários, onde à partida não há triagem, moderação e, muito menos censura (só não se toleram as provocações e o anonimato)...
Não quero ser fautor nem divulgador de mitos, chamem-se eles Honório Barreto, Teixeira Pinto, Amílcar Cabral, Nino Vieira, Cherno Rachide, Marcelço Caetano ou Spínola. Mas vamos lá tratar as "nossas" figuras históricas e os "nossos" factos históricos com dignidade e elevação... E vamos lá respeitar - como tu sabiamente pedes - os mortos de ambos os lados, militares e civis...
Tu e eu somos, de resto, pessoas com formação em ciências sociais, temos por isso até uma responsabilidade acrescida neste capítulo...Há aqui questões éticas, antes de mais, quando falamos da verdade dos factos, da objectividade, etc., mesmo sabendo que os factos não falam por sí...
Já não estamos na luta política, e muito menos na guerra...Felizmente a guerra acabou e fizemos as pazes, enquanto povos e Estados. Interessa-nos (a mim, pelo menos, interessa-me)conhecer e reconhecer os actores e a sua circunstância, os seus papéis, as suas estratégias, os seus sucessos e insucessos, os seus erros, os seus talentos...
Tudo isto para dizer que não faço juízos de intenção sobre os observadores da missão da ONU, nem muito menos sobre o que viram ou não viram, escreveram ou não escreveram... Ainda não li, mas gostava de ler, o relatório da missão. À partida, parto do princípio que eram profissionais competentes, diplomatas de carreira, pessoas bem formadas, intelectualmente honestas... embora possa ter dúvidas sobre a sua total isenção e imparcialidade.
Mas não sou ingénuo: não é difícil perceber que, nas dificílimas circunstâncias em que decorreu a missão, "eles só viram" o que o PAIGC lhes quis e pôde mostrar... Spínola fazia o mesmo com os jornalistas e convidados estrangeiros que levava para ver a "Guiné Melhor"...
Cada um de nós só vê, de resto, o que lhe permite ver os "seus óculos", as suas "grelhas de leitura do real"... Como contornar o enviesamento do nosso "olhar" ? Nunca somos os melhores juízes em causa própria...
(Continua)
(Continuação)
Olhando - agora com a necessária distância efectiva e afectiva (se tal já possível) - para a guerra colonial (1963/74), temos que fazer um esforço para sermos críticos em relação à informação, de um lado e de outro, que vai sendo disponibilizada no blogue...
Não é dificil estar de acordo contigo sobre a "ingenuidade" da missão da ONU (três embaixadores, um fotógrafo, e dois elementos do staff de apoio). Em menos de uma semana, eles não poderiam fazer mais que umas escassas de quilómetros a pé, pelo (e à volta do) corredor de Guileje... Eu só agora começo a ter uma noção do que foi essa missão...
Mas não temos dúvidas que para o Amílcar Cabral e o PAIGC esta missão (manipulada ou não) foi BINGO!... Não se lhes pode tirar o mérito do sucesso diplomático internacional. O Amílcar Cabral ganhou no tabuleiro onde o regime de Salazar-Caetano falhou completamente: o reconhecimento internacional de um causa... E atrás desse sucesso diplomático, vieram mais apoios, e sobretudo armas mais sofisticadas como os Strela... (e atrás dos Strela vinham depois os Migs)... E logo a seguir a "independència unilateral"...
António, vamos arranjar cópia do relatório da missão ? Estou curioso em lê-lo (só depois poderei comentá-lo e criticá-lo, não gosto de falar do que não sei ou sobre aquilo que não vi nem vivi ou não estudei). O relatório, em português, de 11 páginas, existe pelo menos em duas bibliotecas portuguesas. Atenção: é uma edição do PAIGC; não da ONU...
Encontrei a seguinte referência no sítio Memória de África (Fundação Portugal África / Universidade de Aveiro):
http://memoria-africa.ua.pt/
Borja, Horácio Sevilla
A missão especial da ONU na Guiné Bissau, Abril 72 / Horácio Sevilla Borja, Folke Lofgren, Kamel Belkhiria. - [S.l.] : PAIGC, 1972. - 11 p.. - Corresponde a: Relatório
Cota: BAC-135|CIDAC
Reforço as palavras que tu escreveste no teu Diário (Pouca gente em Portugal tinha essa informação privilegiada e detalhada, como tu tinhas em 25 de Junho de 1973, quando chegaste a CUFAR, como alferes miliciano do CAOP1:
"(...) Até Dezembro de 1972, isto era quase tudo território do PAIGC. Havia os aquartelamentos de Catió, Cufar e Bedanda bem defendidos onde a tropa portuguesa não punha muito o nariz de fora.
"Em Abril de 1972 estiveram por aqui observadores do Comité de Descolonização da ONU para conhecer as realidades das zonas libertadas pelos guerrilheiros. Vieram de Conacry, entraram pela zona de Guileje, chegaram até perto de Cufar, sempre a pé, abrigados pelas florestas." (...)
E depois, dizes, mais à frente e bem, que as coisas mudaram, a partir de finais de 1972, com a reocupação do Cantanhez por dois mil homens das NT... que praticamente não sentiram resistência por parte do PAIGC... Tal como tinha acontecido no Como, em 1964...
Como tu também sabes, as guerras não se ganham só com as armas e os homens em armas, e as unidades de quadrícula...O Como e o Cantanhez são a prova provada de que não havia "santuários" (tu mesmo falas em "zonas libertadas")... Mas não foi aí que a guerra se ganhou ou perdeu... O campo de batalha, a batalhava mais decisivo, não se travava aí, mas nos aerópagos internacionais, nas chancelarias, na Assembleia Geral das Nações Unidas...
Bem, vamos ler o relatório ? O primeiro que arranjar uma cópia, faz a divulgação no blogue, para que todos possamos perceber qual foi a metodologia, o itinerário e os locais da visita, as observações, as conclusões... Bom dia!
(Er)rata importante: Leia-se "dezenas de quilómetros"...
(...) Não é dificil estar de acordo contigo sobre a "ingenuidade" da missão da ONU (três embaixadores, um fotógrafo, e dois elementos do staff de apoio). Em menos de uma semana, eles não poderiam fazer mais que umas escassas [dezenas]de quilómetros a pé, pelo (e à volta do) corredor de Guileje... Eu só agora começo a ter uma noção do que foi essa missão... (...)
Caro Luís
Na generalidade de acordo contigo bem como com o Graça de Abreu.
Nós também não somos ingénuos e sabemos como se fazem relatórios para servir os nossos propósitos. De resto os observadores da ONU tinham obrigação de perceber que o território da Guiné não podia ser apenas aquilo que eles percorreram e sobretudo "não tomar a parte pelo todo".
Mas vamos esperar pelo tal relatório.
Quanto a esta frase:
«Não se lhes pode tirar o mérito do sucesso diplomático internacional. O Amílcar Cabral ganhou no tabuleiro onde o regime de Salazar-Caetano falhou completamente: o reconhecimento internacional de um causa...»
Fácil, não?
Nos tempos que se viviam era quase impossível o regime de então conseguir o apoio internacional, mantendo a guerra!!!
Com isto não digo que concordo ou deixo de concordar com a guerra, mas apenas constato um facto real.
Abraço camarigo para todos
Meu Caro Luis Graca
"BINGO".. Nesse debate digno desse epiteto foram sem duvida os seus dois ultimos comentarios . Ca pra mim, dignos de "poste" para que se resgate toda a sua perspicacia e franqueza, evitando que se percam num simples rodape de um texto qualquer...Opiniao minha !
Da minha parte irei continuar a fazer o que por um certo previlegio reserva-se a minha profissao de jornalista: o lidar com a informacao e partiha-las com o blogue!
Alias o blogue, tal qual nossa "zona libertada" "corredor de passeio", "regiao" "base" ..mas sobretudo TABANKA de autenticidade invejavel ...essa obrigacao nos impinge.
Foi o pois o que fiz ! Volvidos todos esses anos,desta quis partilhar , quica os primeiros depoimentos publicos de que ha memoria de um integrante de uma indubitavelmente historica visita de uma delegacao das Nacoes Unidas a um entao territorio em guerra...neste acaso a minha e nossa Guine !
Coisa vulgar nos tempos de hoje..mas historica para epoca !
E nao e que os acontecimentos sao mesmo assim..explosivos e ruidosos.. fazem tanto fumo que acabam por encher a consciencia dos contemporaneos !
E como bem diz,um facto politico de que o PAIGC soube na altura tirar partido. Quanto a Guine e os guineenes- Abrenuncio... dessa condicao de eternos flagelados pela fatalidade !
O certo eh que historia nao deixa no fundo de ser o somatorio de todas as historias possiveis...diria Fernand Braudel... isto apesar do risco residir precisamente na tentacao em escolher uma dessas historias desprezando as restantes.
Mantenhas
Nelson Herbert
USA
Este post sobre as Nações Unidas e os seus passeios pela Guiné, que tambem houve passeios de Suecos, e Soviéticos, em vários pontos da Guiné, estão relatados e são conhecidos publicamente na Guiné.
É tudo uma demonstração das forças que Portugal teve que suportar.
Foi uma época da história de Portugal a que o tempo vem demonstrando, que mais que os cartógrafos, e os acordos de 1880 de Berlim, vieram publicitar umas fronteiras que iriam ser pulverizadas e evaporadas: Casamance, Cabinda, Timor e Moçambique e não só. (podem dizer que estou falando sozinho)
Mas é de perguntar aos herois Suecos, da ONU, e de muitos outros, que vejam as consequências do seu apoio de todos estes anos a dirigente africanos, esquecendo-se dos povos.
Não passaram de puros turistas à procura de exotismos!
Eu vi-os, armados em bons samaritanos a contabilizar os milhões que deram ao "POVO" guineense.
Só que os milhões voavam na TAP nos bolsos de ministros e dirigentes pelo mundo inteiro, e esses turistas assistindo impávidos e serenos camuflando com as suas ofertas as barbaridades dos dirigentes.
Antº Rosinha
Aristides Pereira dix:
"A convite do PAIGC, uma missão especial da ONU visitou as regiões libertadas (2 a 8 de Abril de 1972). No seu relatório constatou a existência de várias zonas administradas pelo PAIGC".
Põe-se-me um problema:
O que é uma região libertada e uma zona administrada!
Etimologicamente, (libertada e administrada) não têm nada entre si.
Se consta do relatório da ONU, zonas administradas, levantanta-se para mim um grande problema, e que gostaria que me fosse explicado: que aconteceu na região do Tombali entre 1967 e 1972?
É que o mesmo Aristides Pereira afirma que a guerrilha atingiu o seu ponto máximo de saturação em1968.
Há qualquer coisa que não dá certo.
Venha o relatório da ONU. Quero verificar percorrer o Tombali em oito dias e passar a dois quilómetros de Bedanda, e não contactar com a população Nativa, que não vivia dentro do Aquartelamento.
Mário Fitas
O SR.SEVILLA BORJA ATIROU TERRA PARA OS OLHOS DO MUNDO.
TERÁ SIDO PAGO PARA ISSO.
SÓ ACEITOU AS SUAS HISTÓRIAS QUEM QUIS...
CONTINUO A PENSAR NA CONVERSA A NÍVEL LITERÁRIO E FILOSÓFICO COM O NINO VIEIRA...
São as reacções a Posts como este, que despertam emoções e sentimentos contraditórias, que são o sal da vida deste nosso Blogue.
O peso da matéria também me despertou a vontadede de (no bom sentido) "polemizar".
Permitam-me para tal que previamente situe o meu pensamento:
Sou dos que acham que exceptuando nas ciencias exactas (e mesmo nesaas, às vezes...) ou em factos irrefutavelmente(?) comprovados, o apuramento da "verdade" única e absoluta, quando contraditada, é, para não dizer impossivel, dificil de apurar cabalmente.
O tema subjacente (a problemática da guerra da Guiné), que independentemente das diferentes circunstancias e espaços temporais, nos foi comum, procuro analisá-lo à luz actual, tentando na justa medida (sei que não é fácil) relativizar, a traumatizante "experiencia juvenil" que me (nos) "proporcionaram".
E sendo "verdade" que para ela partimos Meninos e voltamos (os que efectivamente voltaram) Homens. Tal não implicou a paragem do tempo no: DESEJADO REGRESSO ÀS NOSSAS VERDADEIRAS TERRAS (quem não o desejou ardentemente?).
Sem (nalguns casos que bom seria) apagar da memória, tal experiencia, que a muitos marcou, fisica ou mentalmente, de forma efectiva,também encerra outra face, a dos inolvidaveis afectos, que a vivencia comum de privações de toda a ordem geraram.
Esse regresso, para os que não seguiram livremente a carreira das armas, ou aos que a tal foram obrigados, foi na esmagadora genetalidade, para a retoma da condição de CIVIS.
Porque (assim me posiciono) tendo sido uma VEZ soldado (contratei, independentemente dos condicionalismos, com a FAP um tempo determinado para essa condição, que aliás não enjeito), de nenhuma forma me passei a sentir: para SEMPRE soldado.
Pedindo desculpa por este já longo introito, que não cosegui evitar, vamos então à sã polémica.
Sendo, para mim, talvez o busilis de toda a questão e principal despoletador das minhas reflexões, vou respigar uma frase do comentário do camatada Mexia Alves (que acredito me perdoará o "abuso"):
Cito:
"Nos tempos que se viviam era quase impossível o regime de então conseguir o apoio internacional, mantendo a guerra!!!"
Concordando, suscito:
(1) Não seria porque esta era já a única guerra "deste tipo" (quer lhe chamemos colonial ou ultramarina) mantida por uma nação "dita" da civilização ocidental.
Muito antes, por diferentes formas, já: Ingleses, Franceses, Holandeses, Belgas e outros, haviam percebido que não era dessa forma que resolveriam os seus problemas coloniais
(2)Não seria, pesando a realidade, que era preciso por em pratica alternativas, passiveis de suscitar tal apoio, através da acção diplomática ?
Não foi dessa forma que Amilcar Cabral, com a sua sempre reafirmada disponibilidade e abertura para o dialogo conseguiu o reconhecimento para a sua causa?
(3)Não seria porque apesar da sua concepção "semi-autonómica", não estaria (ou estava mesmo!) o próprio Spinola (gorada que foi a condicionada e volatil hipotese tentada no Chão Manjaco, com o trágico final que bem conhecemos).convencido da sua incondicional inevitabilidade ?
Não foi a irredutibilidade do regime instalado nesta matéria um dos principais motivos da sua (Spinola) saída da Guiné ?
(4) Não seria porque a falta de argumentos plausiveis, o regime optou pela irredutibilidade do orgulhosamente sós, mantida à custa dos que como a nós amputaram:
-A todos: parte da juventude
-A muitos: a integridade fisica, a sanidade mental e a própria vida.
Assentava em permissas que o tempo veio a provar perfeitamente irreaiizáeis?
(a)A capacidade de manter indefinidamente esta(s) guerra(s)?
(b)A possibilidade de as vencer ?
(c)A "esperança" de conseguir vergar os ventos da história?
Responsaveis ?
(Continua)
Concluindo, permitam-me que use uma parabola (sustentada num facto real)
Anos atrás o patrão duma empresa na qual eu traballhava percebeu, quando a realidade era já indesmentivel, a "borrasca" economica em que estavamos "metidos"
O resultando dessa constactação traduziu-se na seguinte frase:
Sinro que não terei o saber e a preparação necessárias para lenar esta nau a bom porto.
No entanto e como não sou homem de virar costas, não saio daqui sem o conseguir.
Dispenso-me da revelação do resultado final !!!
Abraço
Jorge Narciso
O relatório não está online. O título é este: "report of the special mission which visited the liberated areas of guinea". Entrei com este título no Google (sem colocar aspas) e o relatório é citado, quer em bibliografia, quer em documentos oficiais da ONU (nas resoluções contra Portugal). Mas do relatório... nada.
Um abraço,
Carlos Cordeiro
Não duvido que existem certos Temas que,devido aos comentários neles inseridos, são de grande interesse para a maioria dos que pertencem ou leiam este Blog.
Alguns, certamente sem essa intenção, estão a valorizar a propaganda do Ex- In. É também necessário que saibamos isso (como se a maioria não soubesse).Agora não nos tomem por ingénuos e, menos ainda, por tolos.
Pareço estar a favor da guerra ou do regime de então. Nada disso! É uma abordagem tão primária que talvez só o relatório a venha corroborar ou justificar.
Depois há escritos a parecerem discursos politicos de mera retórica. Venha o relatório e venham dossiês deste teor e da colonização versus descolonização.
Ab do TM
Meus caros
Já havia esquecido, mas ontem fui aos meus papéis velhos sobre a Guiné e lá encontrei o relatório da "Missão especial da ONU na Guiné, Abril de 1972."
Está aqui comigo e recomendo a leitura e entendimentos a todos os que passámos pela Guiné na fase final do conflito. Esclarecedor, brilhante, também angustiante.As verdades dos factos. Talvez a publicar no blogue mas são dez páginas em A 4.
Em anexo ao texto dos homens da ONU, são publicados excertos do relatório então escrito por Amílcar Cabral sobre a visita dos homens da ONU.
No nosso blogue temos tido o gosto (eu não) de denegrir a capacidade militar das NT (Guileje, a guerra militarmente perdida, perdida em termos militares, etc.)
Pois Amílcar Cabral faz exactamente o contrário, exalta e exagera a capacidade militar das tropas portuguesas em Abril de 1972.
Leiam as palavras de Amilcar Cabral no seu relatório sobre Missão da Onu:
"No dia seguinta da partida da missão (da ONU), o estado Maior Português, declarou o estado de prevenção para os 45.000 militares das tropas coloniais existentes no nosso país, dos quais 15.000 se encontram acampados no Sul (...) 10.000 homens das tropas especiais foram transportados durante alguns dias de Bissau para o Sul. Se juntarmos as forças da aviação e da marinha que operaram no decurso da agressão, o número total de homens mobilizados foi da ordem de 30.000."
Isto num pequeno país onde, segundo a missão da ONU 3/4 do território eram "zonas libertadas pelo PAIGC" que dispunha de 5 a 6 mil combatentes, e onde (agora em Janeiro de 2010) segundo a opinião do diplomata equatoriano da ONU que fez parte da missão, os portugueses, "entrincheirados nos
seus quartéis" apenas "se deslocavam por via aérea."
Tanto dado falsificado!
Difícil fazer a nossa História e a dos povos da nossa Guiné!
Um abraço.
António Graça de Abreu
Caro Graça de Abreu
Foste de Info., logo compreendes facilmente o porquê de Cabral enaltecer a capacidade militar das NT. Mesmo que o não fosses. O soldado básico desconfiava e pensando acertava.
O relatório era bom ser lido por quem gostasse dessa info/propaganda. Faz,quanto a mim, falta para melhor se entender a realidade da guerra colonial. Estabelecer as diferenças nas várias colónias e na potencia colonizadora. Mesmo onde se não combatia:Timor e S.Tomé (fora a guerra do Biafra)no pós 25 de Abril e a importância dos Cabo- verdianos na na Guiné e pós Abril/74 lá e em Cabo Verde. Tema ou temas com interesse.As guerras quantas vezes se ganharam (ganham) fora do campo de batalha? Longa, longa a escrita sobre o tema.És um homem que viveu na China...logo tens exemplos...
A História de qualquer Povo nunca é "ciência exacta", nem pode.Sabes bem, falar disso não o faço.Lógico.
Abraço Amigo do Torcato
No Brasil os judeus monopolizam TV discrimina e humilha as mulheres negras?A MeGaLOBO RACISMO?
Enviar um comentário