quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15349: História do BART 3873 (Bambadinca, 1972/74) (António Duarte): Parte XXVII: Alguns números sobre a atividade operacional e a ação psicossocial: 32 mortos (IN), 4 prisioneiros, 113 moranças e 8 toneladas de arroz destruidas ao IN; 132 elementos pop recuperados, 1 mesquita e 9 escolas construídas, 4 reordenamentos iniciados, 2 tabancas reocupadas...


Mapa referente à distribuição geográfica inicial do contingente do BART 3873 (1972/74), na zona leste,  setor L1: Bambadinca (comando e CCS), Xime e Enxalé (CART 3494),  Mansambo (CART 3493) e Xitole (CART 3492).  Detalhe da carta da província da Guiné, escala 1/500 mil (1961)

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015).

1. Continuação da publicação da História do BART 3873 (que esteve colocado na zona leste, no Setor L1, Bambadinca, 1972/74), a partir de cópia digitalizada da História da Unidade, em formato pdf, gentilmente disponibilizada pelo António Duarte (*)

[foto atual à esquerda: António Duarte, ex-fur mil da CART 3493, a Companhia do BART 3873, que esteve em Mansambo, Fá Mandinga, Cobumba e Bissau, 1972-1974; foi transferido para a CCAC 12 (em novembro de 1972, e onde esteve em rendição individual até março de 1974); economista, bancário reformado, formador, com larga experiência em Angola; foto atual à esquerda].


Da História do BART 3873, publicam-se as duas últimas páginas, correspondentes ao "Último fascículo", que sucede ao capítulo III (Baixas, punições, louvores, condecorações, 21 pp.).

Alguns números sobre a atividade operacional e a ação psicossocial do batalhão: por exemplo, 32  baixas mortais provocadas à guerrilha (mortos confirmados) e 4 prisioneiros; 113 moranças e 8 toneladas de arroz destruídas ao IN; 132 elementos pop recuperados; 1 mesquita e  9 escolas construídas, 4 reordenamentos iniciados, 2 tabancas reocupadas...

O batalhão teve vários baixas mortais (incluindo por acidente), mas apenas duas em combate, é o que se conclui desta súmula... É de destacar, a existênciam em Bambadinca, do Centro de Instrução de Milícias (CIMIL), que funcionavam com  4 turnos anuais, e cada turno com 3 a 4 pelotões de milícias... Três desses pelotões destinaram-se ao setor L1.







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terça-feira, 10 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15348: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (28): De 01 a 7 de Abril de 1974

1. Em mensagem do dia 8 de Novembro de 2015, o nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos a 28.ª página do seu Caderno de Memórias.


CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74

28 - De 1 a 7 de Abril de 1974

Quando nos parecia que o mês anterior seria inultrapassável em intensidade de emoções, com empolgamentos e apreensões, surge-nos um Abril ainda mais emotivo, com factos marcantes e históricos a par de uma actividade operacional exigente e sensível.

Um dos acontecimentos locais mais importantes foi, por certo, o encontro das duas frentes de trabalho da estrada Aldeia Formosa-Buba, ainda que demorasse a ficar transitável em pleno devido à useira falta de alcatrão. Acho que todos vivemos este momento como se fôssemos co-autores da obra, pelo acompanhamento e protecção permanentes desde o início da desmatação, com muito empenho, dedicação e, diga-se, com muito risco.

Como suspeitávamos e temíamos, a actividade da guerrilha recrudesceu, tentando-nos estragar a obra e sua prossecução. Levaram a cabo várias acções e tentaram outras que a nossa tropa frustrou. Tanto apareciam na estrada entre Nhala e Buba como, do outro lado, entre Nhala e Mampatá, tendo conseguido sabotar a estrada uma vez, cortando-a, e emboscarem-nos pelo menos uma vez e tentando outras. Daí que se vivesse uma certa intranquilidade, sobretudo quando tínhamos que dormir no mato mesmo em cima do “carreiro” de Uane, em protecção às máquinas ali recolhidas, por estarem muito afastadas dos aquartelamentos.

Abril seria também o mês das visitas ao Sector, dos mais diversos comandantes incluindo o Comandante-Chefe, General Bettencourt Rodrigues.

Como é evidente, a nível local e nacional, o acontecimento do mês e do ano, (de 1974 e dos seguintes), foi, sem dúvida, a Revolução de Abril, que pôs fim a uma ditadura velha de muitos anos. Sob o efeito da surpresa, a maioria, creio, não teve a percepção plena do alcance do acontecimento e, ainda no desconhecimento das intenções de quem o promovia, tomando o poder, apenas acalentou a esperança de que acabasse a guerra para poder regressar a casa.

 Os mais esclarecidos, poucos, perceberam que uma revolução assim, com tais protagonistas, só podia ser de consequências irreversíveis para a guerra colonial, sendo eles, os protagonistas, parte interveniente nessa guerra e, esta, porventura a maior chaga nacional à época. Mas, como poucas coisas são assim tão singelas e lineares, (apenas a preto e branco, não é?), muito tempo passaria até que o caldo estabilizasse e se começassem a reconhecer os ingredientes. 

Logo, os efeitos do 25 de Abril no terreno não foram imediatos, longe disso, e trouxeram incertezas, ansiedades e situações ambíguas, assim como a penosa busca de soluções para problemas novos e muito sensíveis. Alguns nunca completamente resolvidos, como a segurança e a vida dos guineenses que combateram ao nosso lado. 

Esta foi a minha leitura pessoal e superficial na época, apenas corrigida pontualmente, mais tarde, pela posse de dados que, então, eram quase nulos. Para a maioria, nunca tive dúvidas, indiferentes às consequências políticas (ou que nem sequer descortinavam), a grande alegria que lhes trouxe a revolução foi pensarem que, se escapei até agora, com o fim da guerra irei para casa de certeza. Como se sabe, isso não foi assim para todos, infelizmente.


Da História da Unidade do BCAÇ 4513: 

(...)

ABR74/02 – O Exm.º Comandante Militar Brig. BANAZOL, acompanhado do seu Chefe do Estado-Maior, Coronel VAZ; Comandante do BENG, Ten-Coronel Maia e Costa; Comandante da Companhia de Engenharia, Cap. Branquinho e Ajudante de Campo do Exm.º Comandante Militar, visitaram A. FORMOSA. Após um briefing no Gabinete de Operações, e acompanhados pelo Comandante e 2.º Comandante do Batalhão, visitaram o aquartelamento de A. FORMOSA, onde apreciaram as obras em curso, assim como posteriormente se deslocaram à frente de estradas. Quando do regresso ao aquartelamento o Exm.º Comandante Militar reuniu-se com os Oficiais e Sargentos presentes na Unidade a quem dirigiu algumas palavras, regressando seguidamente a BISSAU.

(...)

ABR74/07 – Pelas 11h30 os dois Destacamentos de Engenharia uniram as duas frentes da estrada, com grande regozijo de todo o pessoal, que manifestaram uma grande alegria pelo facto.
O Exm.º Comandante deslocou-se à frente de estradas a fim de observar o local de união das duas frentes.


Das minhas memórias:

7 de Abril de 1974 (domingo) - A estrada: os trabalhos e a união das frentes de trabalho numa selecção de algumas fotografias, sem grandes pretensões mas tentando mostrar um pouco da azáfama da Engenharia no local.

Foto 1 - 1974, Abril - Frente de trabalhos da estrada Aldeia Formosa-Buba, troço de Nhala-Mampatá. Uns dias depois, ao fundo, há-de surgir a frente que vem de Mampatá, unindo-se as duas. 

Foto 2 - 1974-04-07 - Frente de trabalhos: Elementos do meu 4.º GComb/2.ª CCAÇ/BCAÇ4513, fazem a picagem a caminho da frente de trabalhos que avança na direcção de Mampatá. 

Foto 3 - 1974-04-07 - Frente de trabalhos: Chegada do GComb à frente de trabalhos. Ao fundo vê-se uma pequena zona de luz na mata escura. É a frente de trabalhos oposta e já próxima, lado de Mampatá. 

Foto 4 - 1974-04-07 - Frente de trabalhos em actividade plena. A frente oposta é agora mais visível ao fundo à direita.

Foto 5 - 1974-04-07 - Frente de trabalhos: Através da galeria ao centro, vê-se claramente o seguimento da estrada para Mampatá. 

Foto 6 - 1974-04-07 - Frente de trabalhos: Com grande perícia, o operador da máquina sacode a palmeira e derruba-a. 

Foto 7 - 1974-04-07 - Frente de trabalhos: A palmeira é enfiada pela mata dentro. 

Foto 8 - 1974-04-07 - Frente de trabalhos: Imagem colhida na frente de trabalhos de Mampatá, vendo-se o seguimento da estrada para Nhala. Uma pequena fileira de árvores separa as duas frentes.

Foto 9 - 1974-04-07 - Frente de trabalhos: O derrube das últimas árvores. 

Foto 10 - 1974-04-07 - Frente de trabalhos: Concluída a ligação das duas frentes de trabalho e a jornada do dia, as máquinas recolhem a lugar seguro. Está feita a ligação Aldeia Formosa-Buba em termos de desmatação. Algures do lado de Nhala (e de Mampatá, creio), avança a construção da sub-base, base e alcatroamento da estrada.

(Continua)

Texto e fotos: © António Murta
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Nota do editor

Poste anterior da série de 3 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15320: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (27): De 01 a 31 de Março de 1974

Guiné 63/74 - P15347: Álbum fotográfico de Jaime Machado (ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046, Bambadinca, 1968/70) - Parte XVII: Bambadinca, um quartel onde há homens, bichos e flores...



Foto nº 1 > Bambadinca, tabanca, vista do depósito de água do quartel: lado norte / nordeste: tabanca, estrada para o rio Geba Estreito e picada de Finete/Missirá e acesso, à direita,  à estrada (alcatroada) Bambadinca-Bafatá


 Foto nº 2 > Bambadinca, depósito de água que abastecia o quartel, e instalações civis (o posto administrativo, a casa do chefe de posto, a escola, a casa da professora, a capela, etc.)... A tabanca tinha um fontenário... Havia outra tabanca, do lado sul, Bambadincazinho, um reordenamento


Foto nº 3 > Bambadinca,o refeitório das praças (1):  ao fundo, o Jaime Machado que estava de oficial de dia


Foto nº 3A > Bambadinca,o refeitório das praças (2)


Foto nº 4 > Bambadinca, escola e centro da parada, pau da bandeira e monumentos evocativos das várias unidades e subunidades que estiveram aqui sediadas (antes de 1968/70): 


Foto nº 5 >  Bambadinca, o Jaime Machado, "visto de cima"...


Foto nº 6 > Bambadinca, um papagaio (não sei de que espécie nem a quem pertencia)...


Foto nº 7 > Bambadinca, flores (1)


Foto nº 8Foto nº 7 > Bambadinca, flores (2)


Foto nº 9 > Bambadinca, o Jaime Machado nas proximidades do quartel... Parece-nos ser  Bambadincazinho a tabanca, por detrás... Não, diz o Jaime, é Ponta Brandão, uma "ponta" (exploração agrícola, com destilaria de cana de açúcar) que ficava nas imediações de Bambadinca, a caminho de Bafatá, na margem esquerda do Rio Geba Estreito...


Foto nº 10 A > Bambadinca > s/d (c. 1968/69) > c, fevereiro de 1970 > Aspeto parcial do quartel de Bambadinca,  visto do lado sudoeste... Porta de armas, posto de vigia, e à direita o edifício do comando, instalações de oficiais e sargentos... O aquartelamento (e posto administrativo) ficava num promontório, sobranceiro à grande bolanha de Bambadinca (à direita).


Foto nº 10 A >  Bambadinca > c. fevereiro de 1970 > Aspeto parcial do quartel de Bambadinca,  visto do lado sudoeste... Porta de armas, posto de vigia, e à direita o edifício do comando, instalações de oficiais e sargentos... O aquartelamento (e posto administrativo) ficava num promontório, sobranceiro à grande bolanha de Bambadinca (à direita).


Guiné > Zona leste > Setor L1 > Bambadinca > BCAÇ 2852 (1968/70) > Pel Rec Daimler 2046 (1968/1970) > s/d >

Fotos (e legendas): © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição  e legendagem complementar: LG]


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Jaime Machado, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, maio de 1968 / fevereiro de 1970, ao tempo dos BART 1904 e BCAÇ 2852) (*).  

Estas imagens, de um lote de mais de centena e meia, resultam da digitalização de "slides" do autor.  Obrigado ao Jaime por as querer partilhar connosco, e dando com isso um bom exemplo a muitos camaradas da Guiné que têm, no fundo dos baús, dezenas e dezenas,  senão centenas e centenas, de "diapositivos" que se estão a deteriorar com o tempo e que um dia irão parar, infelizmente,  ao caixote do lixo...

[foto acima, atual:  o Jaime Machado, que  reside em Senhora da Hora, Matosinhos; a sua avó paterna era moçambicana; mantém com a Guiné-Bissau uma forte relação afetiva e de solidariedade, através do Lions Clube; voltou à Guine-Bissau em 2010]




Guiné > Zona leste > Bambadinca, a porta do leste > Carta de Bambadinca > Escala 1/50 mil (1955) > Detalhe, posição relativa de Bambadinca, posto administrativo do concelho de Bafatá, com as várias direções: a norte,o regulado do Cuor (Finete e Missirá, Fá Mandinga); a nordeste, Bafatá; a sul, Mansambo, Xitole, Saltinho; a sudoeste, Xime; a oeste, Enchalé, Portogole...  A única zona a que ainda não tinha chegado a guerra era a leste e imediatamente a sul de Bambadinca, abrangendo o regulado de Badora... Todos os outros regulados (Enxalé e Cuor, a norte do Geba), Xime e Corubal (a sul) estavam em guerra...

Infogravura: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2015)

2. Mensagem (posterior) do Jaime Machado:

Caro Luis, obrigado por tamanha deferência.

Às legendas destas fotos pouco posso acrescentar. Não as tenho datadas.

Posso apenas acescentar que na foto 3 e 3A estava de ofical de dia com braçadeira junto à porta do refeitório.
As fotos das flores (7 e 8 ) foram tiradas no quartel.

Foto 9,  diz Ponta Brandão.
As duas últimas fotos julgo que foram tiradas quando saíamos para o Xime,  rumo a casa . Se assim for terão sido tiradas em fevereiro de 1970 [, ao tempo do BCAÇ 2852, 1968/70].

Um grande abraço, Jaime.

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Guiné 63/74 - P15346: Parabéns a você (984): António Garcia de Matos, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2790 (Guiné, 1970/72) e Jorge Araújo, ex-Fur Mil Op Esp da CART 3494 (Guiné, 1971/74)


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Nota do editor

Último poste da série > 9 de novembro de  2015 > Guiné 63/74 - P15342: Parabéns a você (983): António da Costa Maria, ex-Fur Mil Cav do Esq Rec Fox 2640 (Guiné, 1969/71) e Ernesto Ribeiro, ex-1.º Cabo At Art da CART 2339 (Guiné, 1968/69)

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15345: Agenda cultural (434): espectáculo musical solidário, "Vida, Memória, Cidadania", promovido pela ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas, Lisboa, dia 13, 6ª feira, às 21h, na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa




1. Cartaz e mensagem da ADFA - Associação dos Deficientes das Forças Armadas:


Participa na construção da história da Associação!

O teu contributo é importante para a preparação do Livro dos 40 anos da ADFA!

Com o patrocínio da Fundação Montepio, a ADFA vai realizar um espetáculo musical solidário intitulado “Vida, Memória, Cidadania”, que decorrerá no próximo dia 13 de Novembro, às 21h00, na Aula Magna da Reitoria da Universidade de Lisboa, na Alameda da Universidade.

Este evento cultural, para além da angariação de fundos para o livro dos 40 anos da ADFA, constituirá, também, um momento de afirmação solidária e de cidadania da ADFA e dos Deficientes Militares que, passados mais de 40 anos sobre o fim da Guerra Colonial, continuam ativos e empenhados na preservação das memórias e dos valores que abraçamos desde 14 de maio de 1974.

O espetáculo está a ser divulgado nas Redes Sociais e Media, especialmente na RDP e RTP.

O ingresso para este espetáculo terá o custo de 10,00 euros, estando os bilhetes à venda na Ticketline, FNAC, Worten, Sede Nacional e Delegações, adiantando-se que os associados mediante a apresentação do bilhete terão um desconto de 30% na aquisição do Livro dos 40 Anos da ADFA, a publicar.

Na ADFA, os ingressos deverão ser solicitados à colaboradora da Sede Nacional, Sónia Cerejo, através do telefone- 217 512 638.

Vem participar com a tua família!

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Nota do editor:


Último poste da série > 9 de novembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15344: Agenda cultural (433): lançamento do livro de Joana Ruas, "Os Timorenses: 1973-1980", da Sextante Editora: Lisboa, 11 de novembro, 4ª feira, às 18h00, no auditório da Fundaçãio Mário Soares

Guiné 63/74 - P15344: Agenda cultural (433): lançamento do livro de Joana Ruas, "Os Timorenses: 1973-1980", da Sextante Editora: Lisboa, 11 de novembro, 4ª feira, às 18h00, no auditório da Fundaçãio Mário Soares




Convite que nos foi enviado pessoalmente pela autora, Joana Ruas


Título: Os Timorenses – 1973-1980
Autor: Joana Ruas
Editora: Sextante (Grupo Editora)
Local: Lisboa
Ano: 2015
Págs.: 616
PVP: € 19,90


Sinopse: 40 anos depois da independência e da invasão indonésia, Joana Ruas apresenta a História de Timor como nunca a conheceu. Aos factos e aos protagonistas reais de Os Timorenses – 1973 - 1980, a autora acrescentou uma brilhante ficção histórica.

Em 1975 Timor preparava-se para ser independente e uma grande nação, mas a invasão pela Indonésia adiou esse sonho e foram vários os anos de luta e pobreza. É precisamente sobre esse período, e o que o antecedeu, que se debruça Os Timorenses – 1973-1980, o mais recente livro de Joana Ruas, que a Sextante Editora  acaba de publicar.

Para além de todos os dados, documentos e imagens incluídos no livro – fruto de uma exaustiva pesquisa – a autora acrescentou uma história ficcionada que acompanha toda a componente documental, fazendo desta uma obra única e essencial sobre Timor contemporâneo, desde o período que precede o 25 de Abril e a primeira independência até à invasão indonésia.

Desde os anos 60 ligada a Timor, Joana Ruas tem vindo a dedicar grande parte da sua investigação e escrita à História do país. Este novo livro insere--se na série A Pedra e a Folha, que conta já com dois livros, que se debruçam sobre os anos 1870 a 1910 e sobre a ocupação japonesa.

Este romance é sobre um processo histórico único no mundo e uma das mais solitárias guerras de libertação nacional. Neste período, a FRETILIN travou contra o invasor indonésio uma guerra de independência e uma guerra social numa metade de uma ilha isolada do resto do mundo pelo invasor e sem qualquer espécie de retaguarda para se refugiar ou para se abastecer. Na sua terra invadida, a pátria estava na presença social, física e sentimental dos seus guerrilheiros liderados por Nicolau Lobato. Os homens e mulheres das FALINTIL deixaram de existir no presente para se continuar no futuro. Eram homens e mulheres de coração poderoso cujos olhos pareciam olhar para o fundo do futuro, homens e mulheres que permaneciam livres mesmo na prisão e que mesmo nus morriam de pé.

O testemunho dos sobreviventes desta etapa, que vai de 1973 a 1980, repõe a memória concreta dos episódios então vividos pela nação timorense mas nada nos é revelado da vida dos seus heróis e heroínas. Até à restauração da independência a 20 de Maio de 2002, a morte é a paisagem que absorve os elementos humanos e a vida material dos seus guerrilheiros e de toda a nação. O que impressionou vivamente a escritora Joana Ruas foi essa experiência ao mesmo tempo religiosa e laica que através do cimento do seu sonho de liberdade coletiva, da sua fé e da força da linguagem venceu a angústia da morte e a certeza da destruição.


A autora

Joana Ruas nasceu, em 1945,  na Quinta do Pinheiro em Freches, no distrito da Guarda. Trabalhou como jornalista cultural e tradutora na Radiodifusão Portuguesa e no jornal Nô Pintcha da República da Guiné-Bissau. Participou na causa da Libertação do Povo de Timor-Leste, tendo feito várias conferências sobre a Língua Portuguesa em Timor-Leste, sua história e cultura. Entre poesia dispersa e ensaios é autora dos romances, Corpo colonial, O claro vento do mar e A pele dos séculos. Participou na IV Feira do Livro de Díli onde apresentou o romance A batalha das lágrimas e o livro de contos Crónicas timorenses respetivamente o 1.º e o 2.º volume da tetralogia A pedra e a folha sobre cem anos de Resistência Timorense.

(Fonte. Cortesia da editora Sextante, Grupo Porto Editora)




Lisboa > Biblioteca-Museu República e Resistência / Espaço Grandella > 2º Ciclo de Conferências 'Memórias Literárias da Guerra Colonial' > 4 de Junho de 2009 > Apresentação de livro de contos Cambança - Guiné, Morte e vida em maré baixa  do nosso camarada Alberto Branquinho  -  A escritora Joana Ruas (n. 1945), autora de A Pele dos Séculos (Lisboa, Ed. Caminho, 2001) dando testemunho da sua vivência, na Guiné-Bissau, no pós-25 de Abril, como simpatizante do PAIGC (acompanhou a guerrilha nas 'regiões libertadas' e integrou, como jornalista cultural, os quadro do Nô Pintcha, desde o seu nº 1).

Guiné 63/74 - P15343: Notas de leitura (774): “Nos Celeiros da Guiné”, por Albano Dias Costa e José Jorge Sá-Chaves, Chiado Editora, 2015 (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Setembro de 2015:

Queridos amigos,
É um livro bem distinto do que vai aparecendo sobre histórias de unidades militares, neste caso o álbum fotográfico é de grande importância.
O General Ramalho Eanes prefacia a obra e detém-se sobre todos aqueles que combateram e hoje regressam à Guiné, e então escreve: "As populações acolhem-nos com o carinho de outrora, mas vivendo conformadas na mesma miséria ou em miséria maior, porque, agora, se destruíram matas, se lhes retiraram bolanhas, se matou a fraterna igualdade então existente. Esta obra interpela-nos sob a metamorfose sofrida pelos jovens que foram transplantados das suas terras". E elogia a importância documental de todo este acervo, contemporâneo da fase perturbante da implantação militar, psicológica territorial do PAIGC.
Temos aqui um livro raro e um caso de solidariedade que não desfalece entre septuagenários que aportaram à Guiné e não a esquecem e não se esquecem do que devem uns aos outros.

Um abraço do
Mário


Nos Celeiros da Guiné, por Albano Dias Costa e José Jorge Sá-Chaves (1)

Beja Santos

Há cerca de 50 anos, a CCAÇ 413 partiu para a Guiné. Do seu mourejar vem agora a público um livro que aparenta ter um título intrigante: “Nos Celeiros da Guiné”, por Albano Dias Costa e José Jorge Sá-Chaves, Chiado Editora, 2015. Não se trata de uma convencional história de companhia independente, recheada de depoimentos e reprodução de relatórios, é um poderoso documento que, digo-o sem hesitação, se configura num indispensável material auxiliar para compreender a Guiné entre 1963 e 1965. Quanto ao título, os autores mostram uma imagem, conhecida de todos, e explicam aos seus leitores, poderá acontecer que haja leitores que não passaram pela Guiné: “Em quase todas as pequenas localidades, havia, junto do edifício do posto administrativo, um celeiro da administração, desocupado na sequência do início das hostilidades, que veio a ser utilizado como caserna pelos destacamentos militares entretanto instalados nessas povoações”. Dias Costa fica incumbido de justificar o enquadramento da CCAÇ 413 no contexto social e militar da Guiné. Companhia dada como “pronta” no Batalhão de Caçadores n.º 5, em Lisboa, e colocada em Faro, no Regimento de Infantaria n.º 4, a aguardar o embarque, sem data nem destino ainda definidos. Estão em Faro quando eclode a guerrilha na Guiné. A 3 de Abril embarcam ao som de “Angola é nossa”, num velho paquete da companhia colonial de navegação, o “Índia”.

Lá vão a caminho de Mansoa, têm à sua espera os camaradas da CCAÇ 91, estes rejubilam pela rendição. Conduzidos à caserna, adaptada de um celeiro aqui vão passar a primeira das 751 noites que têm pela frente na Guiné, ainda têm à sua espera os celeiros de Safim, Nhacra, Porto Gole, Encheia, Bissorã, Mansabá, Olossato, Barro, Bigene, Farim e Cuntima. As hostilidades estão no início, estes militares vão assistir ao separar das águas, à perseguição das populações, ao aparecimento dos santuários, à necessidade de ocupar posições. A CCAÇ 413 era constituída por cerca de 170 homens, distribuídos por quatro pelotões, três de caçadores e um de acompanhamento bem como pela Formação, adstrita ao Comando, constituída pela Secção de Saúde, sob a responsabilidade do oficial médico, pela Seção administrativa, pela intendência, pela seção de condutores e manutenção auto e pela secção de Transmissões. O equipamento era o próprio da época, o armamento já incluía a G3 mas havia também pistolas-metralhadoras UZI e FBP. Em 1963 não houve férias, foram canceladas todas as licenças.

Gente feliz em Mansoa

O autor espraia-se sob a infraestrutura dos celeiros e depois descreve a organização dos aquartelamentos, nesta época as valas em ziguezague tinham a primazia. Encheia e Olossato cedo dispuseram de uma pista de aviação rudimentar. Durante a sua permanência em Mansoa, a CCAÇ 413 prestou apoio à povoação de Cutia, na estrada para Mansabá e nas imediações do Morés, aqui decorria a primeira experiência de povoação em regime de autodefesa. O Morés já fervia, o Brigadeiro Louro de Sousa, ainda no decurso de 1963, reforça o dispositivo tático de Mansoa, fica aqui a sede do BCAÇ 512. O aquartelamento de que dispõe a CCAÇ 413 estava instalado na Escola das Missões, e englobava o celeiro, transformado em caserna uma construção rudimentar onde estava instalado o posto de transmissões, o posto de socorros, a arrecadação dos mantimentos e algo mais.

A psicossocial fazia-se com engenho e arte, a dedo e sem esquadro, diretivas era coisa que ainda não existiam, faziam-se almoços, encontros, compareciam o médico e o enfermeiro e os mais curiosos começavam a trautear termos em crioulo, aprendiam-se os usos e costumes, dava-se ajuda aos civis no transporte de alimentos e matérias-primas. Os ex-militares da companhia procederam, em 1992, à constituição da Associação de Ex-Combatentes da CC 413 – Guiné, 1963-65, com o objetivo de “fomentar e desenvolver laços de camaradagem e de solidariedade entre os seus membros e as suas famílias”. José Jorge Sá-Chaves dedica muita atenção à vida operacional da Companhia. Ficaram inicialmente dependentes de um batalhão sediado em Bula, comandado por Hélio Felgas. Foi-lhe atribuído um setor operacional com uma área aproximadamente de 5100 km2, abrangendo a região do Oio, a região a norte do rio Cacheu, com toda a faixa entre aquele rio e a fronteira com o Senegal, de Barro a Cuntima. A Companhia espraiava-se por quatro destacamentos: Barro, Bigene, Farim e Cuntima, recebendo apoios de outras unidades para guarnecer as localidades de Bissorã, Olossato, Mansabá e para reforçar Farim. Estamos no início da guerra e era então possível ainda acontecer o que aqui se descreve: “Quer Barro, quer Farim, destinos das colunas, distavam aproximadamente 50km de Mansoa, distâncias que levaram cerca de hora e meia a percorrer (…) Aproximadamente a meio do percurso, localizavam-se, respetivamente, as povoações de Bissorã e de Mansabá. Os últimos troços da estrada até à margem do rio Cacheu, onde se fazia a cambança para a margem Norte apresentavam-se num estado deplorável (…) Transposto o rio, os últimos 3,6km até ao destino, em que a estrada cruza a bolanha, permitiu apreciar a beleza da paisagem que se abria à sua frente”. Temos igualmente uma descrição cuidada das povoações de Barro e Farim e mais adiante de Bigene e Cuntima.

Porto Gole, Casa do Chefe do Posto, que fez parte do aquartelamento, conjuntamente com o celeiro 

Mas tudo estava a mudar. Em 5 de Maio de 1963, o “Setor Norte” desencadeia a primeira ação militar flagelando Bigene. Em Maio, iniciam-se as patrulhas de reconhecimento. Em Junho, um dos grupos de combate da Companhia a patrulhar em Talicó sofreu uma emboscada, e em Julho temos nova emboscada no trilho de Madame. A tropa verificava que de mês para mês evoluía o armamento do inimigo. Em Julho, o Morés começa a revelar-se um objetivo difícil, as emboscadas sucedem-se umas às outras, surgem os primeiros mortos e feridos graves, tanto na Companhia como na Milícia. As abatizes aparecem na estrada Mansabá Bissorã e nas picadas para o Morés. É em Agosto que chega a Mansoa o BCAÇ 512, e nesse mês um grupo de combate da companhia sofre uma emboscada quando se dirige a Fajonquito.

Estamos perante um documento que dá que pensar: como se passou da aparente acalmia para a guerrilha dura e pura, tanto no Morés como à volta do Cacheu, em escassos meses a liberdade de movimentos deu origem a deslocações sempre com riscos de minas e emboscadas; surgiram as milícias, as populações em autodefesa, a ação psicossocial improvisada, iam-se distribuindo armas pelas populações e procurava-se, a todo o transe, fixar os destacamentos onde havia população. Como se sabe, continua a descer um manto de silêncio sobre o período de 1963 a 1968, às vezes até se insinua que não houve capacidade de resposta e que se espalharam abusivamente as tropas por todo o território. Enquanto o período do General Spínola está largamente documentado, os tempos correspondentes ao Brigadeiro Louro de Sousa e General Arnaldo Schulz permanecem na neblina. Deixa-se aqui o recado aos historiadores da guerra da Guiné.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15334: Notas de leitura (773): “Dois Amigos, Dois Destinos”, por José Alvarez, Âncora Editora e DG Edições, 2014 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P15342: Parabéns a você (983): António da Costa Maria, ex-Fur Mil Cav do Esq Rec Fox 2640 (Guiné, 1969/71) e Ernesto Ribeiro, ex-1.º Cabo At Art da CART 2339 (Guiné, 1968/69)


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Nota do editor

Último poste da série de 6 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15332: Parabéns a você (982): Jorge Cabral, ex-Alf Mil Art, CMDT do Pel Caç Nat 63 (Fá Mandinga e Missirá, 1969/71)

domingo, 8 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15341: Convívios (717): Rescaldo do XXVIII Encontro do pessoal da CCAÇ 557, levado a efeito no passado dia 7 de Novembro de 2015 (José Colaço)

XXVIII ALMOÇO/CONVÍVIO DO PESSOAL DA CCAÇ 557
DIA 7 DE NOVEMBRO EM FERNÃO FERRO

Fernão Ferro, 7 de Novembro de 2015 - Pessoal da CCAÇ 557 (Cachil e Bafatá, 1963/65)


1. Mensagem do nosso camarada José Colaço (ex-Soldado TRMS da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), com data de 7 de Novembro de 2015:

Caro Luís Graça e editores,
No passado dia 07 de Novembro, no Restaurante Quinta dos Girassóis, em Fernão Ferro, realizou-se o 28.º Almoço de Convívio dos ex-combatentes da CCaç 557, guerra da Guiné, com os que vão teimando e resistindo à inexorável roda da vida, mas nesta fase, nos convíviosn têm sempre a triste notícia de camaradas que tomaram a barca do barqueiro de caronte. Paciência é um facto, mas os filhos e netos que de ano para ano em maior numero nos acompanham, dão-nos a força da alegria de viver e ter vivido.
Envio em anexo o poema que nosso poeta popular, Francisco dos Santos, nos dedicou este ano, mais três fotos.
É tudo se for possível um espaço no nosso blogue os resistentes agradecem.

Um abraço.
José Colaço


Eu de pé a falar com o ex-alferes Goulart; o Sr. Coronel Ares, que continua a ser para nós o nosso capitão; ao lado a sua esposa e, por ultimo, a D. Mercês Goulart, esposa do ex-alferes Goulart
 
Bolo Comemorativo


O Poema do poeta Francisco Santos

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Nota do editor

Último poste da série de 14 de outubro de 2015 Guiné 63/74 - P15250: Convívios (716): Rescaldo do XX Encontro dos Combatentes da Guiné da Vila de Guifões, levado a efeito no passado dia 11 de Outubro de 2015, em Baião (Albano Costa)

Guiné 63/74 - P15340: Libertando-me (Tony Borié) (42): As Regras da Escola

Quadragésimo segundo episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66, enviado ao nosso blogue em mensagem do dia 3 de Novembro de 2015.


As Regras da Escola

Quase todas as recordações que guardamos do nosso Portugal são as aldeias, começando pela nossa, que era a do Vale do Ninho D’Águia, em Águeda, que também podia ser qualquer aldeia de Trás-os-Montes, das Beiras, do Alentejo ou outro qualquer lugar e, é com esse pensamento, que os nossos olhos vêm, desde as grandes metrópoles, até às aldeias pequenas, apreciamos os pormenores, agora vamos continuar a falar daqui, cá vai.

O dia estava com céu limpo, a temperatura era quente, a estrada rápida número 15, no estado de Montana, era deserta, longas rectas, aqui e ali havia pequenas elevações no terreno, a nossa companheira e esposa levava os comandos da viatura em suas mãos, nós, cantarolávamos, desligámos o ar condicionado, abrimos um pouco a janela e tirámos as sandálias dos pés, encostámo-nos no assento, pousando-os na frente do carro, encostados mesmo ao vidro, ela, a nossa companheira e esposa, logo falou “complicando”, e disse: "Cala-te lá com essa cantiga que não faz qualquer sentido, por favor arranja outra canção ou liga o rádio e, já agora, tira daí os pés, ou então abre mais a janela, pois creio que estavam melhor dentro das sandálias.

Passávamos próximo da estrada estadual número 278, que depois de algum tempo atravessando algumas planícies, quase desertas, seguindo a direcção de uma placa de informação, entrámos numa estrada rural, em terra batida, que nos levaria ao que é hoje o Parque Nacional de Bannack, que fazia parte do nosso roteiro daquele dia e, que hoje, roubando algum espaço ao nosso blogue, não resistimos em mostrar algumas fotos.


Tal como outras aldeias, tem uma história que começa por volta do ano de 1862, recebendo este nome dos índios locais, que eram os Bannack, que por aqui viviam como uma nação, numa comunidade pacífica, cuja sobrevivência era a caça ou a pesca, até que neste local aconteceu um fenómeno por volta do ano de 1862, que foi a descoberta de ouro, que tornou esta aldeia na capital do Território de Montana por alguns anos, até que essa capital foi transferida para Virgínia City. Hoje a capital do estado de Montana é a cidade de Helena, onde está situado um majestoso edifício, o “Montana State Capitol”.


Era, e ainda é, um lugar extremamente remoto, apenas ligado ao resto do mundo por uma estrada de terra batida, é um lugar abandonado, “uma aldeia fantasma”, ainda lá estão algumas dezenas de históricas estruturas, que teimam em permanecer de pé, algumas bastante bem conservadas. Hoje, a aldeia de Bannack é considerada distrito histórico, sendo declarada Património Histórico Nacional e actualmente tem o nome de “Bannack State Park”, sendo visitado particularmente por historiadores, muito popular entre os turistas, é um dos lugares favoritos, principalmente para os nativos daquela região. Mas a história para nós começa a ter algum interesse quando soubemos que tudo por aqui começou quando um tal Dr. Erasmus Darwin Leavitt, um médico nascido no estado de New Hampshire, que desistiu de praticar medicina por um tempo, para se tornar num mineiro, pesquisador de ouro, pegando numa pá e numa picareta, mas depressa verificou que apesar de algum sucesso a coroar o seu trabalho, logo descobriu que tinha mais reputação como médico do que como pesquisador de ouro, não se identificando com todos aqueles aventureiros, alguns fugitivos de outras aldeias de Montana, como o xerife Henry Plummer, que chefiava uma quadrilha responsável por mais de cem assassinatos nos campos de ouro de Virginia City, Bannack e nos trilhos para Salt Lake City, no estado de Utah, no entanto, apenas oito mortes são historicamente documentadas, alguns historiadores modernos têm posto em causa a natureza exata desta quadrilha, enquanto outros negam a sua existência completamente.


Em qualquer caso, o xerife Plummer e dois dos seus ajudantes foram enforcados, sem julgamento, em Bannack em Janeiro de 1864, um largo número de companheiros da sua quadrilha foram mortos a tiro de pistola ou outra arma, durante uma luta, quando descobertos, sendo outros banidos sob pena de morte se voltasem a Bannack. Uns anos depois, já com alguma civilização, vinte e dois indivíduos foram acusados informalmente, julgados e enforcados pelo Comité de Vigilância de Bannack e Virginia City, que era composto por homens considerados honestos, dos quais fazia parte um tal Nathaniel Langford Pitt, que foi o primeiro superintendente do Parque Nacional de Yellowstone, e que era membro dessa comissão de vigilância.


No seu auge, Bannack, considerada uma aldeia mineira, onde todas as estruturas foram construídas de troncos, algumas com falsas frentes decorativas, em algumas épocas a sua população chegou quase a uma dezena de milhar de habitantes, tinha três hotéis, padarias, lojas de ferragens, estábulos, mercados de carne, restaurantes, muitos salões de divertimento e uma escola onde ainda lá se encontra o quadro preto, onde estão escritos os regulamentos dos alunos e professores, que não resistimos em traduzir algumas das regras, cá vai:


Regras para o aluno, 1872

1 - Respeita o teu mestre-escola. Ouve-o e aceita as suas punições.
2 - Não chames nomes, nem provoques os teus companheiros e não lutes com eles. Ama-os e ajudem-se uns aos outros.
3 - Nunca faças ruídos ou perturbes os teus companheiros quando eles estudam.
4 - Está silencioso durante a aula. Não fales a menos que seja absolutamente necessário.
5 - Não deixes o teu assento sem permissão para ir lá fora, para comer ou qualquer outra coisa que perturbe a tua classe.
6 - No final da classe tens de lavar as mãos, o rosto, e talvez os pés, se for necessário.
7 - Traz lenha para a sala de aula sempre que o professor te pedir.
8 - Sai calmamente para fora da classe, seguindo as normas.
9 - Se o mestre-escola chamar pelo teu nome após a aula, responde imediatamente.

Regras para o Mestre-escola, 1872.

1 - O mestre-escola tem de encher as candeias, (as luzes) e limpá-las todos os dias.
2 - O mestre-escola tem que trazer um balde com água e um rolo de erva, (devia de ser para esfregar as mãos ou os pés), todos os dias da época.
3 - O mestre-escola tem que ter sempre as canetas, (deviam ser lápis de pedra, para escrever na lousa), em muito boas condições, sempre ao gosto dos alunos.
4 - O mestre-escola, que seja mulher, que se casou ou envolveu, mas com uma conduta imprópria, será imediatamente demitida.
5 - Cada mestre-escola deve deixar de lado uma soma considerável de seus ganhos, que serão economias para usar durante a sua aposentadoria, para que não seja um “fardo” para a sociedade.
6 - Qualquer mestre-escola que fume, use licor, frequente salões de prazer, ou até vá para a barbearia, falar mal dos habitantes, ou qualquer outra boa razão que mostre não ser um bom cidadão, será imediatamente demitido.
7 - O mestre-escola deve saber montar e tratar o seu cavalo, pode e deve usar arma para defesa, mas nunca entrar armado na sala de aula.

Estas são algumas regras que nos fazem recordar o bom que foi, termos nascido nos anos quarenta e cinquenta do século passado.

Tony Borie, Outubro de 2015
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15312: Libertando-me (Tony Borié) (41): O passado é o início do futuro

Guiné 63/74 - P15339: (In)citações (77): "O boato fere como uma lâmina", lia-se em cartazes nos corredores da Máfrica... Qual teriam sido, camaradas, os maiores boatos que ouvimos durante as nossas comissões ? (Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23º Pel Art , Gadamael, 1970/72; bairradino na diáspora lusitana do Brasil desde 1972)

1. Mensagem do nosso camarada Vasco Pires 

[, foto atual, à esquerda do grã-tabanqueiro Vasco Pires, que no passado século, por volta de 1970/72, lá no cu de Judas, na África profunda, em terras de Tombali, num sítio chamado Gadamael,  foi bravo artilheiro, comandante do 23.º Pel Art, numa guerra que já se varrei da memória dos povos;  bairradino até à medula, é outro camarada da diáspora lusitana: vive no Brasil esde 1972]

Data: 13 de outubro de 2015 às 14:41
Assunto: BOATO


Bom dia Luis e Carlos, cordiais saudações.

Tenho acompanhado essas perguntas "online"; sem dúvida estão dinamizando o blog, e, quem sabe, ajudando a afastar o Dr. Alemão.

Tempos atrás, lendo uma matéria, lembrei de cartaz que vi em um dos quartéis por onde passei, talvez "Máfrica" [, EPI, Mafra]. Dizia: "O boato fere como uma lâmina " (se não falha a memória).

Quantos boatos não passaram na nossa vida militar?

Muitos fabricados pela contra-informacão, outros gerados pelos nossos medos. Logo propagados nos "jornais da caserna".

Guiné 63/74 - P13357: (Ex)citações (235): A 'Máfrica' (EPI, Mafra) dos nossos verdes anos (Vasco Pires,  camarada da diáspora lusitana no Brasil; ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72)

Aqui fica a minha modesta sugestão para mais uma pergunta "online": Qual o maior boato que ouviste  na tua comissão?

Forte abraço

VP

2. Comentário de LG:

Obrigado, Vasco, pela tua sugestão, para mais vinda do outro lado do Atlântico, o grande oceano que tivemos de domar e vencer para poder chegar ao Índico e criar a autoestrada da globalização... Vencendo mil e um medos, mitos,  lendas, boatos, pragas, perigos...

Sei dúvida que o boato (para mais em, tempo de guerra e de fim de uma época) é tema que se presta a um bom debate... Concordo que o boato (nas nossas organizações, comunidades e sociedades) é uma uma lâmina que fere... Mas é uma lâmina de dois gumes, usada por uns e por outros sobretudo em situações de luta pelo poder, marcadas pela ambiguidade, a incerteza, a conflitualidade...

Mas, tal como formulas a pergunta, não  podemos  pô-la no nosso inquérito "on line"... Por razões técnicas, o nosso servidor, o Blogger, só nos deixa fazer um pergunta de cada vez... E essa pergunta tem de ser fechada, isto é, tem de ser seguida das várias respostas hipotéticas à pergunta...  

Explicando-me melhor: a uma pergunta como a que formulas "Qual o maior boato que ouviste  na tua comissão?", teremos que ter uma meia dúzia (no máximo) de situações ocorridas, no TO da 
Guiné, entre 1961 e 1974, e que poderíamos designar como "grandes boatos"... 

Num período de tempo tão grande (1961-1974), e passado já um meio século, é difícil fazer esse exercício de memória... Mas fica aqui a tua ideia louvável e o teu desafio estimulante... Houve pequenos e grandes  boatos, ao longo da guerra, e sobretudo no início e no fim, afetando o nosso estado de espírito (individual) e por certo o moral da tropa... 1973 (Guidaje, Guileje, Gadamael, assassínio de Amílcal Cabral,  aparecimento do Strela nos céus da Guiné, o medo do MiG, a saída de Spínola, o Marcelo Caetano refém dos "ultras" do regime...) deve ter ido sido um ano fértil em boatos... Mas também o de 1970 (massacre do chão manjaco,  morte - física - de Salazar, invasão de Conacri,...).

Enfim, fica aqui um espaço para a produção de textos sobre o boato "cá e lá", na metrópole e na Guiné!... Venham eles!

Lembrei-me que tenho um texto, com mais de dez anos, sobre "o país-do-diz-que -disse"... Com a amavável complacência dos nossos leitores, volto a reproduzi-lo aqui. Foi publicado originalmente no meu blogue que antes de ser o blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné" (sobretudo a partir da II Série, 1/6/2006), chamava-se simplemente Blogue-Fora-Nada (I Série)... No final, em 31/5/2006 tínhamos um tertúlia com 111 membros... O blogue nesse épcoa apresentava-se assim:

"blogue-fora-nada. homo socius ergo blogus [sum]. homem social logo blogador. em sociobloguês nos entendemos. o port(ug)al dos (por)tugas. a prova dos blogue-fora-nada. a guerra colonial. a guiné. do chacheu ao boe. de bissau a bambadinca. os cacimbados. o geba. o corubal. os rios. o macaréu da nossa revolta. o humor nosso de cada dia nos dai hoje.lá vamos blogando e rindo. e venham mais cinco (camaradas). e vieram tantos que isto se transformou numa caserna. a maior caserna virtual da Net!"


13 FEVEREIRO 2005

Socio(b)logia - XIII: O país-do-diz-que-disse

Não há pachorra!...
Abre-se a televisão
Ou sintoniza-se a rádio
E corre-se um sério risco
De ouvir a mesma notícia
Ad nauseam:
Alguém
(Um candidato a primeiro-ministro,
Um candidato a candidato,
Um amigo do candidato,
Um amigo do amigo do candidato,
O seu assessor de imagem,
O primo da terra,
A ex-amante...)
A dizer que não disse o que disse,
Ou melhor: Não disse, meus senhores,
O que os jornais disseram
Que ele disse
Ou o que o jornalista achava
Que ele deveria dizer.

Este estilo comunicacional
Tem muitos cultores,
E ficou defintivamente consagrado
Com a seráfica Zezinha:
"Você sabe que eu sei
Que você sabe".
Há uma variante tropical
Deste estilo de não-assertividade
Inventada pelos portugas:
"Eu sei que você sabe
Que eu sei que você sabe
Que é difícil de dizer",
Diz a brasileira Marisa Monte,
Na sua canção "Eu sei"...

No país-do-diz-que-disse
Impera a lei da fofoca,
Do boato pidesco,
Da intriga palaciana,
Das bruxas feias e más,
Dos meninos birrentos e queixinhas,
Dos santinhos de pau carunchoso,
Do título de caixa alta,
Da delacção inquisitorial,
Da saloiice do Zé Povinho.
Faz-se do boato notícia,
Da insinuação verdade
E da anedota tese doutoral.

Não tenho pachorra,
Ponto final!
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Nota do editor:

Último poste da série > 1 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P14955: (In)citações (76): Fiquei chocado com a Guiné que conheci em 17 de Janeiro de 1967 (Mário Vitorino Gaspar)