domingo, 8 de novembro de 2015

Guiné 63/74 - P15340: Libertando-me (Tony Borié) (42): As Regras da Escola

Quadragésimo segundo episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66, enviado ao nosso blogue em mensagem do dia 3 de Novembro de 2015.


As Regras da Escola

Quase todas as recordações que guardamos do nosso Portugal são as aldeias, começando pela nossa, que era a do Vale do Ninho D’Águia, em Águeda, que também podia ser qualquer aldeia de Trás-os-Montes, das Beiras, do Alentejo ou outro qualquer lugar e, é com esse pensamento, que os nossos olhos vêm, desde as grandes metrópoles, até às aldeias pequenas, apreciamos os pormenores, agora vamos continuar a falar daqui, cá vai.

O dia estava com céu limpo, a temperatura era quente, a estrada rápida número 15, no estado de Montana, era deserta, longas rectas, aqui e ali havia pequenas elevações no terreno, a nossa companheira e esposa levava os comandos da viatura em suas mãos, nós, cantarolávamos, desligámos o ar condicionado, abrimos um pouco a janela e tirámos as sandálias dos pés, encostámo-nos no assento, pousando-os na frente do carro, encostados mesmo ao vidro, ela, a nossa companheira e esposa, logo falou “complicando”, e disse: "Cala-te lá com essa cantiga que não faz qualquer sentido, por favor arranja outra canção ou liga o rádio e, já agora, tira daí os pés, ou então abre mais a janela, pois creio que estavam melhor dentro das sandálias.

Passávamos próximo da estrada estadual número 278, que depois de algum tempo atravessando algumas planícies, quase desertas, seguindo a direcção de uma placa de informação, entrámos numa estrada rural, em terra batida, que nos levaria ao que é hoje o Parque Nacional de Bannack, que fazia parte do nosso roteiro daquele dia e, que hoje, roubando algum espaço ao nosso blogue, não resistimos em mostrar algumas fotos.


Tal como outras aldeias, tem uma história que começa por volta do ano de 1862, recebendo este nome dos índios locais, que eram os Bannack, que por aqui viviam como uma nação, numa comunidade pacífica, cuja sobrevivência era a caça ou a pesca, até que neste local aconteceu um fenómeno por volta do ano de 1862, que foi a descoberta de ouro, que tornou esta aldeia na capital do Território de Montana por alguns anos, até que essa capital foi transferida para Virgínia City. Hoje a capital do estado de Montana é a cidade de Helena, onde está situado um majestoso edifício, o “Montana State Capitol”.


Era, e ainda é, um lugar extremamente remoto, apenas ligado ao resto do mundo por uma estrada de terra batida, é um lugar abandonado, “uma aldeia fantasma”, ainda lá estão algumas dezenas de históricas estruturas, que teimam em permanecer de pé, algumas bastante bem conservadas. Hoje, a aldeia de Bannack é considerada distrito histórico, sendo declarada Património Histórico Nacional e actualmente tem o nome de “Bannack State Park”, sendo visitado particularmente por historiadores, muito popular entre os turistas, é um dos lugares favoritos, principalmente para os nativos daquela região. Mas a história para nós começa a ter algum interesse quando soubemos que tudo por aqui começou quando um tal Dr. Erasmus Darwin Leavitt, um médico nascido no estado de New Hampshire, que desistiu de praticar medicina por um tempo, para se tornar num mineiro, pesquisador de ouro, pegando numa pá e numa picareta, mas depressa verificou que apesar de algum sucesso a coroar o seu trabalho, logo descobriu que tinha mais reputação como médico do que como pesquisador de ouro, não se identificando com todos aqueles aventureiros, alguns fugitivos de outras aldeias de Montana, como o xerife Henry Plummer, que chefiava uma quadrilha responsável por mais de cem assassinatos nos campos de ouro de Virginia City, Bannack e nos trilhos para Salt Lake City, no estado de Utah, no entanto, apenas oito mortes são historicamente documentadas, alguns historiadores modernos têm posto em causa a natureza exata desta quadrilha, enquanto outros negam a sua existência completamente.


Em qualquer caso, o xerife Plummer e dois dos seus ajudantes foram enforcados, sem julgamento, em Bannack em Janeiro de 1864, um largo número de companheiros da sua quadrilha foram mortos a tiro de pistola ou outra arma, durante uma luta, quando descobertos, sendo outros banidos sob pena de morte se voltasem a Bannack. Uns anos depois, já com alguma civilização, vinte e dois indivíduos foram acusados informalmente, julgados e enforcados pelo Comité de Vigilância de Bannack e Virginia City, que era composto por homens considerados honestos, dos quais fazia parte um tal Nathaniel Langford Pitt, que foi o primeiro superintendente do Parque Nacional de Yellowstone, e que era membro dessa comissão de vigilância.


No seu auge, Bannack, considerada uma aldeia mineira, onde todas as estruturas foram construídas de troncos, algumas com falsas frentes decorativas, em algumas épocas a sua população chegou quase a uma dezena de milhar de habitantes, tinha três hotéis, padarias, lojas de ferragens, estábulos, mercados de carne, restaurantes, muitos salões de divertimento e uma escola onde ainda lá se encontra o quadro preto, onde estão escritos os regulamentos dos alunos e professores, que não resistimos em traduzir algumas das regras, cá vai:


Regras para o aluno, 1872

1 - Respeita o teu mestre-escola. Ouve-o e aceita as suas punições.
2 - Não chames nomes, nem provoques os teus companheiros e não lutes com eles. Ama-os e ajudem-se uns aos outros.
3 - Nunca faças ruídos ou perturbes os teus companheiros quando eles estudam.
4 - Está silencioso durante a aula. Não fales a menos que seja absolutamente necessário.
5 - Não deixes o teu assento sem permissão para ir lá fora, para comer ou qualquer outra coisa que perturbe a tua classe.
6 - No final da classe tens de lavar as mãos, o rosto, e talvez os pés, se for necessário.
7 - Traz lenha para a sala de aula sempre que o professor te pedir.
8 - Sai calmamente para fora da classe, seguindo as normas.
9 - Se o mestre-escola chamar pelo teu nome após a aula, responde imediatamente.

Regras para o Mestre-escola, 1872.

1 - O mestre-escola tem de encher as candeias, (as luzes) e limpá-las todos os dias.
2 - O mestre-escola tem que trazer um balde com água e um rolo de erva, (devia de ser para esfregar as mãos ou os pés), todos os dias da época.
3 - O mestre-escola tem que ter sempre as canetas, (deviam ser lápis de pedra, para escrever na lousa), em muito boas condições, sempre ao gosto dos alunos.
4 - O mestre-escola, que seja mulher, que se casou ou envolveu, mas com uma conduta imprópria, será imediatamente demitida.
5 - Cada mestre-escola deve deixar de lado uma soma considerável de seus ganhos, que serão economias para usar durante a sua aposentadoria, para que não seja um “fardo” para a sociedade.
6 - Qualquer mestre-escola que fume, use licor, frequente salões de prazer, ou até vá para a barbearia, falar mal dos habitantes, ou qualquer outra boa razão que mostre não ser um bom cidadão, será imediatamente demitido.
7 - O mestre-escola deve saber montar e tratar o seu cavalo, pode e deve usar arma para defesa, mas nunca entrar armado na sala de aula.

Estas são algumas regras que nos fazem recordar o bom que foi, termos nascido nos anos quarenta e cinquenta do século passado.

Tony Borie, Outubro de 2015
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Nota do editor

Último poste da série de 1 de novembro de 2015 Guiné 63/74 - P15312: Libertando-me (Tony Borié) (41): O passado é o início do futuro

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