segunda-feira, 9 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24738: Manuscrito(s) (Luís Graça) (236): Da minha varanda virada para poente...








Lourinhã, 5, 8 e 9 de outubro de 2023 > Da minha varanda, virada para poente... Paul Cézanne não passou por aqui, nem o Amadeo Sousa Cardoso.  Nem sequer o Almada Negreiros. Muito menos 
o Giorgio de Chirico.

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] (Imagens HDR - High Dynamic Range, tiradas sem tripé)


Da minha varanda virada para poente...


Da minha varanda, virada para poente,
não vejo o mar,
mas vejo o sol a pôr-se sobre o mar,
a dois quilómetros em linha reta,
na praia do Porto das Barcas, ou da Peralta, 
para lá da Atalaia ou do Montoito.

Em boa verdade a 149,6 milhões de quilómetros de distància.
Há 150 milhões de anos os dinossauros iam a pé a Nova Iorque.
Há três séculos corsários e piratas infestavam a costa.

Mas que importa a insignificância da minha posição  no universo
e a impossilidade de percorrer, 
por muitos anos que eu vivesse,
a distância que me separa do astro-rei
a que me liga o cordão umbilical da vida.

Da minha varanda vejo uma nesga do mundo,
as casas ou os telhados das casas dos meus vizinhos,
fulano, sicrano e beltrano,uns novos, outros antigos,
a maior parte dos quais eu já não conheço,
ou não conheço de todo.

Lembro-me sobretudo dos que já morreram,
e que no seu tempo foram poderosos e temidos, uns,
estimados e amados, outros.
Hoje resta o seu nome nas placas toponímicas, ou nem isso.
Ou uma vaga memória nas suas casas, outrora solarengas, em ruinas.

Da minha varanda, em L,
na parte virada para o norte e o nascente, 
digo bom  dia ao sol que renasce, 
muito para lá da serra de Montejunto,
e que me dá força
para percorrer os trinta passos da minha ginástica matinal.
O bom dia é a mais universal e amiga saudação 
que se pode desejar aos vizinhos e aos estrangeiros.
 
Mais do que vizinho, 
mesmo a 149,6 milhões de quilómetros de distància,
o sol é meu amigo, companheiro e camarada.

Luís Graça

Lourinhã, edifício Canoa, 9 de outubro de 2023. 

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] (Imagens HDR - High Dynamic Range, tiradas sem tripé)
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P24737: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (7): O Pão que Deus Amassou (Joaquim Costa, Vila Nova de Famalicão)

Marco de Canaveses > Paredes de Viadores > Candoz > Quinta de Candoz > 2012 > O forno a lenha onde se faz(ia) o milagre do pão... Agora só se acende para fazer "o anho assado com arroz de forno" em dias de festa,,, 

Foto (e legenda): © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



A família Costa (Foto nº 1A)


A família Costa (Foto nº 1B)

Vila Nova de Famalicão  > c. meados dos anos de 1950 > A família Costa: foto nº 1A, da esquerda para a direita na fila de trás: José (pai) e Gracinda (Mãe), e a irmã Maria;  na fila da frente o João (o Don Juan da família),  a Noémia e o Joaquim, o mais novo.

 Na foto nº 1B, da esquerda para a direita, os irmãos Avelino, Manuel (que esteve na Guiné) e Eduardo (o columbófilo) 

Foto (e legenda): © Joaquim Costa (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do Joaquim Costa:

(i) ex-fur mil at Armas Pesadas Inf, CCAV 8351 (Cumbijã, 1972/74);

(ii) membro da Tabanca Grande desde 30/1/2021, tem cerca de 7 dezenas de referências no blogue;

(iii) autor da série "Paz & Guerra: memórias de um Tigre do Cumbijã (Joaquim Costa, ex-mil arm pes inf, CCAV 8351, 1972/74)" (de que se publicaram 28 postes, desde 3/2/2021 a 28/7/2022), e que depois publicou em livro ("Memórias de um Tigre Azul - O Furriel Pequenina", por Joaquim Costa; Lugar da Palavra Editora, 2021, 180 pp);

(iv) tirou o curso de engenheiro técnico, no ISEP - Instituto Superior de Engenharia do Porto;

(v) foi professor do ensino secundário;

(vi) minhoto, de Vila Nova de Fmalicão, vive em Fânzeres, Gondomar.


Data - segunda, 2/10/2023, 11:38 

Assunto - O Pão que Deus Amassou.

Olám  Luís,

Espero que tudo esteja bem contigo.

As histórias da nossa meninice estão a despertar a curiosidade dos nossos “tabanqueiros”! (*)

Deixo ao teu critério a oportunidade e interesse na publicação de mais este minha vivência no verde Minho.

Um abraço, Joaquim



O PÃO QUE DEUS AMASSOU

por Joaquim Costa

“É o Senhor que faz crescer o pasto para o gado,
e as plantas que o homem cultiva,
para da terra tirar o alimento: o vinho, que alegra o coração do homem;
o azeite, que lhe faz brilhar o rosto,
e o pão, que sustenta o seu vigor.”

Salmos 104:14-15


A Sexta Feira era o dia mais esperado. Dia de cozer uma fornada de pão para oito dias. Para além de ser o único dia da semana em que se comia pão fresco, era o dia em que eu começava a salivar logo pela manhãzinha pois não via chegar o momento de saborear a minha pequena malga de sopas de vinho tinto (sopas de cavalo cansado).

Ao contrária dos nosso netos, que julgam que tudo o que aparece nas superfícies comerciais é feito nas fábricas, no meu tempo, quando comia um “naco” de pão de milho sabia, melhor do que ninguém, como se chegou e este momento tão extraordinário de saborear esta dádiva da natureza.

A casa era rodeada por campos onde se cultivava, alternadamente, milho e centeio. Eu, da janela do meu quarto,  acompanhava todo o ciclo, rendido à força e sabedoria do homem e aos milagres da natureza:

  • era acordado pela alva com o som da charrua puxada por uma junta de bois lavrando a terra;
  • acompanhava extasiado a sementeira manual com gestos precisos e elegantes;
  • abria a janela todos os dias pela manhãzinha para ver o que a natureza tinha feito, durante a noite, à sementeira (às vezes, de madrugada, sorrateiramente abria a janela tentando surpreender a natureza vendo a semente romper a terra; como nunca vi ainda hoje penso que é um milagre);
  • assistia à rega do milho abrindo e tapando carreiros, com a ajuda de uma enxada, onde passava um pequeno regato de água (contam-se histórias de morte, neste Minho de gente calma e serena, por causa desta água quando retida por vizinhos);
  • caminhava por entre o milho, cortando uma espiga, ainda verde, para assar na lareira da cozinha;
  • fumava (às escondidas) os primeiros “cigarros” com as barbas de milho já secas enroladas em papel;
  • participava na apanha do milho, fazendo o trajeto para a eira em cima dos carros de bois com uma alegria espelhada no rosto que hoje até dói só de pensar;
  • participava nas magníficas, e tão esperadas, desfolhadas, com muitas cantorias acompanhadas pelas tradicionais concertinas e gaitas de beiços (a que chamávamos harmónica), com muito vinho e presunto; i clímax destes momentos era quando alguém desfolhava um milho-rei, com os rapazes em êxtase dando beijos às cachopas solteiras;
  • assistia à malha do milho com gestos precisos, coordenados e elegantes dos malhadores;
  • acompanhava o moleiro carregando os sacos de milho do lavrador até ao moinho de água, construído num ribeiro afluente do Ave e acompanhava-o no regresso já com a cara e a roupa toda enfarinhada;
  • ajudava a levar o moleiro em braços até à sua carroça, puxada por um elegante e inteligente cavalo, depois de adormecer, na taberna, bem bebido, e dar uma pancada certa no cavalo que o levava direitinho até casa, escolhendo o melhor caminho para não acordar o patrão.

Ainda hoje me comove ao ver na casa que foi dos meus pais, uma réplica de um jugo, feito por mim na aula de trabalhos manuais, que sempre me transporta para esses dias de grande felicidade. Como eram lindos os jugos, particularmente os utilizados nos dias de festa ou de feira.

Depois de todas estas tarefas do homem e do milagre da natureza, tudo ficava nas mãos da minha mãe:

  • amassar a farinha numa masseira de madeira, fazendo uma reza e benzendo várias vezes a massa já devidamente posta em sossego, depois de uma valente coça;
  • aquecer o forno com caruma (pruma) e carqueja apanhada nas bouças vizinhas (altura em que as matas estavam sempre limpas);
  • meter toda a fornada no forno já quente e limpo, utilizando uma gamela de madeira para dar forma à broa;
  • fechar o forno, tapar todas as frinchas com um material, que me escuso de desvendar evitando ferir a sensibilidade de leitores mais suscetíveis (sim!, é a bosta, com a sua licença, dos bois!), e mais uma reza e umas benzeduras.

Depois, o milagre acontece... com o pão, que “Deus” amassou... na malga embebido em vinho tinto: partia-se com a mão a broa quentinha e estaladiça, acabada de sair do forno, para uma malga onde se embebia em vinho verde tinto, ficava em sossego durante umas
horas e ao fim da tarde era um regalo ver todos os meus irmãos a “lambuzarem-se” com tão extraordinária iguaria.

Eu não ficava de fora e tinha direito a uma pequena tigela, onde deitava um pouco de açúcar. Não estava autorizado a beber vinho mas estava autorizado, uma vez por semana, a comê-lo (gostava mesmo daquilo).

Crentes e não crentes, acreditem: Todas as sextas feiras havia “milagre”.

“Amen"

Joaquim Costa


Lourinhã > Ribamar > Valmitão > 18 de Julho de 2009 > Dia de acender o forno a lenha, amassar a farinha, enfornar e cozer o pão de trigo... o delicioso pão de trigo da nossa infância. Ainda hoje há famílias que cozem o seu próprio pão, na região do oeste estremenho, como esta, a família do Ramiro Caruço e a Rosa, meus primos da grande família Maçarico, da vila de Ribamar... Voz off de Luís Graça, Alice Carneiro, Ramiro Carruço e uma neta do casal. A Rosa e eu temos antepassados comuns, conhecidos desde pelo menos meados do séc. XVIII. 

Vídeo (2' 51''): © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados 

Fonte: Blogue A Nossa Quinta de Candoz > 19 de julho de  2009 > Gente do sul (1): Cozendo o pão de trigo no forno a lenha 

Vd. também do autor o poste de 27 der setembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24704: Coisas & loisas do nosso tempo de meninos e moços (1): A Feira (Joaquim Costa, Vila Nova de Famalicão)

Guiné 61/74 - P24736: Parabéns a você (2213): Manuel Barros de Castro, ex-Fur Mil Enfermeiro da CCAÇ 414 (Guiné e Cabo Verde, 1963/65)

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Nota do editor

Último poste da série de 3 de outubro de 2023 > Guiné 61/74 - P24721: Parabéns a você (2212): Hélder Valério de Sousa, ex-Fur Mil TRMS do STM (Piche e Bissau, 1970/72)

domingo, 8 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24735: Armamento do PAIGC (5): O sistema Grad, o "jacto do povo", a "mulher grande", o foguetão 122 mm: as expetativas, demasiado altas, de Amílcar Cabral

Guiné > Zona Leste > Região de Gabu > Pirada > 3ª CCAV / BCAV 8323 (1973/74) > O 1º Cabo Joaquim Vicente Silva, em 26 de Abril de 1974, com os restos das lembranças do ataque do dia anterior. (Neste caso, parte de um foguetão 122 mm). Nascido 1951, o nosso camarada, membro da nossa Tabanca Grande, faleceu em 2011. Era natural de Mafra.

Foto: © Joaquim Vicente Silva (2009). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O foguete 122 mm, o Grad
(na terminologia do PAIGC
ou "jato do povo").
Foto: Nuno Rubim (2007)









Fonte: Casa Comum | Instituição: Fundação Mário Soares | Pasta: 04602.060 | Título: Sobre a utilização do sistema GRAD | Assunto: Directivas de Amílcar Cabral, Secretário Geral do PAIGC, sobre a utilização do sistema GRAD (sistema de lançamento múltiplo de foguetes). Formação e intruções para os grupos Grad. Comando dos grupos Grad: Manuel dos Santos (Manecas), Paulo Correia Landim ou António Barbosa, Alfa Djaló, Amâncio Lopes, Agnelo Dantas, Samba Candé, José Marques Vieira, Pene Djassi, Júlio de Carvalho, Eduardo Santos, Olívio Pires, Mamadu Lamine. | Data: Setembro de 1970 | Fundo: DAC - Documentos Amílcar Cabral - Iva Cabral

Citação:
(1970), "Sobre a utilização do sistema GRAD", Fundação Mário Soares / DAC - Documentos Amílcar Cabral - Iva Cabral, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40434
 (2023-10-7)

(Seleção / fixação de texto / sublinhados a vermelho, para efeitos de edição deste poste: LG... CVom a devida vénia...)
 


O famoso "Jacto do Povo" (na gíria do PAIGC, também conhyecido como "mukhger garnde") (*), o foguetão (ou foguete, mais propriamente dito)  de 122 mm, que terá sido utilizado pela primeira vez em 24 de outubro de 1969 contra Bedanda e só depois em 3 de novembro de 1969, numa flagelação contra Bolama, segundo o nosso especialista em artilharia , o  cor art ref Nuno Rubim. (A seguir, Cacine, 4/11/69) e depois Cufar (24/11/69).

Felizmente para nós, era um arma pouco precisa e fiável (embora metesse "respeitinho" o seu silvo,  a sua detonação e a sua fragmentação). Por outro lado,   a Guiné, tirando Bissau, a BA 12 em Bissalanca, Bafatá ou Nova Lamego não tinha grandes alvos, civis ou miitares, apropriados... (excluindo os grandes reordenamentos). 

Afinal, a História com H grande, também se faz com a pequena história... Mais mortífero foi o morteiro pesado soviético, de 120 mm: de ter feito  mais vítimas entre as NT e a p0opulação civil do que o pomposo "jacto do povo"...



 
1.  Na nossa gíria eram os foguetóes 122 mm. (Temos 3 dezenas de referências com este descritor.) (**)

Tinham um alcance máximo de 16 mil metros (a versão usada no TO da Guine). Esta nova arma era já referenciada como fazendo parte do arsenal do IN em finais de 1969. (CECA, 2015, p. 297). Era uma arma para a qual os nossos aquartelamentos, construídos em alvenaria, não tinham abrigos seguros.  O PAIGC já usava também o mortífero morteiro pesado soviético, de 120 mm. Poucos quartéis tinham abrigos de betão armado (caso de Gandembel, construído a partir de abril de 1968 e abandonado menos de nove meses depois, em janeiro de 1969, por ordem de Spínola; ou Guileje, abandonado em 22 de maio de 1973).

Vejamos um excerto do 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro II; 1.ª Edição; Lisboa (2015), da CECA:

(...) Capítulo IV - Ano de 1970

Inimigo

(...) Organização e dispositivo militar

Organização

Em Maio, o Conselho de Guerra decidiu alterar o dispositivo militar e as chefias superiores das FARP.

Os Comandos de Frente foram anulados e substituídos pelos Comandos de Inter-Região. Os bigrupos foram reforçados e passaram a ter um efectivo permanente de 50 a 60 combatentes.

Foram criadas unidades de foguetões de 122 milímetros e distribuídas em número de 2 a 3 por cada inter-região. Neste ano apareceram também as peças antiaéreas de 37mm.

Relativamente a efectivos globais, estima-se que o inimigo poderia dispor de 4 corpos de exército no final do ano, cada um constituído por unidades de infantaria, artilharia e foguetões.

A constituição orgânica destes corpos de exército previa um comando e órgãos permanentes de efectivo reduzido (onde existia um grupo de comando, um grupo de reconhecimento e um serviço de abastecimentos) sendo-lhe atribuídas as unidades necessárias ao desempenho de qualquer missão, em
qualquer lugar, conforme o objectivo a atingir, sendo normal a sua actuação com 3 bigrupos, 2 grupos de artilharia ou canhões sem recuo e 1 grupo de foguetões a 2 rampas. (CECA, 2015, p. 435)

Fonte: Excertos de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro II; 1.ª Edição; Lisboa (2015), (Com a devida vénia...)

A avaliar pelo documento do PAIGC que acima se reproduz, o Amílcar Cabral depositava muitas esperanças (talvez demasiado altas) nesta arma, que de facto foi utilizada, sem grande eficácia, contra alguns alvos militares e civis (Bissau, Bissalanca, Bafatá, Bolama, Catió, Nova Lamego,  povoações fronteiriças, etc.).

Por outro lado, o peso total do  foguete (mais de 50/60 e tal quilos), a par do sistema de lançamento, tubo,  etc., além do seu comprimento, também  levantavá problemas logísticos,  embora o PAIGC tivesse muitos '"burros de carga"  (nunca ninguém ousou falar aqui de "trabalho forçado" nas "áreas libertadas" de que vítimas os elementos civis, usados nas "colunas logísticas"...).  Já não falando  do "preço" ... destes brinquedos de morte!... (O Amílcar Cabral nunca levanta esta questão, incómoda, mesmo sabendo que um dia teria que pagar a "fatura da libertação": homem inteligente, mas cínico, sabia que a "solidariedade internacionalista" também tinha um preço...)

A utilização correta da arma implicava competências em matéria de literacia e numeracia que faltavam à generalidade dos guerrilheiros do PAIGC, a par das cartas (militares), do reconmhecimento do terreno, etc.... Daí vários dos comandantes serem cabo-verdianos, com mais habilitações literárias e formação específica  no estrangeiro (Rússia, Cuba...), caso do Manecas dos Santos, Agnelo Dantas, Amâncio Lopes, Júlio de Caravalho e Olívio Pires (contei, pelo menos , cinco cabo-verdianos, no documento supra, pág. 3),  O mesmo se irá passar com os Strela (comandados pelo Manecas dos Santos).

Felizmente que também os homens que operavam o "sistema Grad" eram mais artilheiros... (Veja-se aqui o poste P9352, de 14 de janeiro de 2012:  Excertos do Diário do António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74) (4): Os foguetões 122 mm que vi, ouvi e contei ao longo de quase dois anos...

O Amílcar Cabral teve a lucidez de reconhecer que quem ganha (va) as guerras, são  (eram) os homens e não as armas. Hoje diriamos: o segredo da vitória está no "mix" hardware, software e humanware.... (material,  conhecimento,  pessoal)... Mas a "sorte das armas" depende também de outros factores, a começar pelos aliados, a diplomacia, a geopolítica, o contexto histórico e geográfico, etc, que são factores "exógenos".
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Notas do editor:

(*) Último poste da série de 10 de maio de 2023 > Guiné 61/71 - P24305: Armamento do PAIGC (4): Morteiro pesado 120 mm M1943, de origem russa, usado nos ataques e flagelações a aquartelamentos das zonas fronteiriças, como Gandembel, Guileje, Gadamael, Guidaje, Copá ou Canquelifá

Vd. postes anteriores: 

19 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24234: Armamento do PAIGC (3): peça de artilharia 130 mm M-46, cedida pelo Sekou Turé para os ataques, a partir do território da Guiné-Conacri, contra Guileje e Gadamael, em maio/junho de 1973

8 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24208: Armamento do PAIGC (1): As polémicas viaturas blindadas BRDM-2 que teriam sido utilizadas contra Copá (7/1/1974) e Bedanda (31/3/1974)

13 de abril de 2023 > Guiné 61/74 - P24220: Armamento do PAIGC (2): Ainda as viaturas blindadas BRDM-2: em finais de 1973/princípios de 1974, o PAIGC teria apenas 2 viaturas blindadas...


Em comentário o  nosso especialista em armamento, o Luís Dias,  acrescentou:

(...) O nome GRAD dado ao míssil soviético 122mm, embora incompleto, é correcto. De facto, e como referi no meu post, os russos aperfeiçoaram um foguetão / foguete (também lhe chamei assim), a partir de 1963, ao qual denominaram BM-21 GRAD e a partir de 1964, foram produzidos diversos tipos desta série e também um míssil portátil - o Foguete 9P132/BM-21-P, no calibre 122mm (mais curto que o modelo standard, embora também pudesse ser usado por um multi-tubo, a ser lançado por um único tubo – o lançador 9M28/DKZ-B e que é também um GRAD.(...)

sábado, 7 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24734: Os nossos seres, saberes e lazeres (594): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (123): Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas! (14) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 2 de Julho de 2023:

Queridos amigos,
O homem põe, a companhia aérea dispõe. Tudo levava a crer que já passaria a manhã em Zaventem, com chegada a Lisboa ao princípio da tarde. Olhe que não, quem decide do horário é a companhia aérea, a informação chegou ao fim da noite anterior, descobri de repente que tinha mais meio-dia de férias, nem pensar em meter-me num museu, enquanto esperava o Zé Pestana ocorreu-me refazer um percurso daqueles que desenhei para preparar o meu romance Rua do Eclipse. Tudo nos conformes, amanhecia e já estava no Grand Sablon, é a meio da manhã que me dá um impulso para entrar num centro de estudo do Partido Socialista local, muito bem recebido, trouxe material para refletir e estou convidado para quando voltar ir visitar um acervo gráfico, uma coleção de cartazes do partido político como talvez não haja outra. Aqui se põe termo a um período de férias enternecedor, e fica uma imensa vontade de regressar, já que só os viajantes é que acabam, a viagem, de tão sublime, inaudita, imprevista, é sempre uma fonte de descobertas. À tantôt!

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (123):
Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas - À tantôt! (14)

Mário Beja Santos

Pus o despertador para as seis da manhã, há que cronometrar o uso do tempo, voltarei a Watermael-Boitsfort o mais tardar às 15 horas, pegaremos na bagagem, faz-se uma viagem de táxi até Zaventem, houve uma última alteração, partiremos um pouco mais cedo. Pelas 8 horas já estou no cenário do adeus, adormeci a esboçar o miniprograma de este inesperado acrescido meio-dia de férias. Está uma manhã fresca no Grand Sablon, quem te vê e quem te viu, num dos meus guias de viagem assentas em terrenos pantanosos e de areeiro, mesmo junto à primeira cintura urbana do século XIII. Já vi bilhetes postais com toda esta região envolvida por casario, em 1948 deu-se a demolição, ninguém se atreveu em tocar em Notre-Dame du Sablon, ainda hoje tratada como um quase santuário. Tem feira de antiguidades e traquitana uma vez por semana, a praça tem lojas chiquérrimas, de chocolates a livraria, de restaurantes a galerias de arte, passo por aqui com uma certa regularidade quando vou aos concertos gratuitos na igreja dos Minimes, ou venho da Feira da Ladra em direção ao Museu de Belas-Artes. Contemplada ao amanhecer, muito branca, preparando-se para negócios azafamados, levanto-me do banco onde a estive a contemplar, passo junto da igreja e detenho-me no Petit Sablon.
O Petit Sablon tem como ícone o jardim de Egmont e Hornes, dois mártires ao tempo das insurreições contra a presença dos Áustrias, este jardim público foi edificado entre 1879 e 1890, ao estilo Renascença flamenga, face a esta praça temos ruas com edifícios dos séculos XVII e XIX, é uma área de tráfego intenso, o eixo principal é a Rue de la Régence.
Pormenor do Petit Sablon

Percorri rua a rua toda esta região na altura em que escrevinhava Rua do Eclipse, descia muitas vezes da rue de la Régence atá o boulevard d’Empereur, restam poucos vestígios do passado, é o caso da torre Anneessens, está agora em obras, entro na rue de Rollebeek, agora a pedonal, com fachadas neoclássicas, há mesmo um albergue do século XVII “L’Estrille du Vieux Bruxelles”. Despeço-me, inverto a marcha e regresso ao boulevard de la Régence, mal sabia que ia buscar lenha para me queimar. Ao longo destas décadas, não resisto, sempre que há disponibilidade, e fruto do acaso, de bater à porta de sindicatos ou de partidos políticos, perante anos fui o representante dos consumidores designado pela Confederação Europeia dos Sindicatos, era natural que me interessasse em obter opiniões sobre medicamentos genéricos, amianto, tabaco, e algo mais. É no boulevard de la Régence que vejo a indicação do Partido Socialista e de uma instituição designada por Instituto Émile Vandervelde, centro de estudos da formação política, consagrado á análise prospetiva das questões que se põem hoje na sociedade. Dei comigo a pensar que valia a pena recolher como termo de comparação a atividade destes senhores (são governo na Bruxelas-Capital) com os desafios postos pela pandemia, para ver se houve grandes diferenças com o homólogo português. Bato à porta, digno na receção ao que venho, se posso conversar com alguém, com certeza que vai ser atendido, respondem-me, tenho direito a café e copo de água, apresenta-se um senhor que é bibliotecário e arquivista, sou conduzido a um espaço, aí atemorizei-me, vi milhares de livros e muitos metros de dossiês, relembrei a quem ali me conduz que vim exclusivamente com a intenção de uma conversa informal, qual quê, vou ter direito a conversar com a conselheira Anna-Maria Livolsi, digo ao que venho, sim tenho muito gosto em conversar consigo, atemorizo-me de novo, a bibliotecária vai trazendo documentos atrás de documentos. E começa a exposição conduzida pela dona da casa.
Um dos restaurantes mais típicos de Bruxelas na Rue de Rollebeek
O senhor que me atendeu no Instituto Émile Vandervelde, Joffrey Liénart, bibliotecário e arquivista
Émile Vandervelde

A exposição decorre em tom ameno, como se fez a deteção quanto ao modo quanto a crise sanitária amplificou a desigualdades, como revelou as fragilidades do trabalho, foi tempo em que se perdeu a segurança nas categorias socioprofissionais. Uma crise que gerou uma tomada de consciência coletiva do valor social do trabalho e dos profissionais que o exercem. Salientou a admiração pelos profissionais de saúde, designadamente nos tempos agudos de 2020 e 2021, mas também pelas profissões invisíveis do pessoal hospitalar foi de uma dedicação extraordinária. A própria lógica da globalização ia conhecer fendas, houve mostras de solidariedade e o paradigma digital revelou-se uma das armas mais espantosas para pôr os seres humanos em comunicação. Desenvolveu-se o trabalho do cuidado. Em termos ideológicos surgiu uma nova abordagem sobre o que se entende sobre consciência de classe e consciência social.
Eu só quero chamar à atenção do leitor que não tugia nem mugia, a não ser para responder ao que me perguntava sobre a situação portuguesa quando irrompeu e se viveu a pandemia. A minha anfitriã resolveu mudar a agulha para algo, creio eu, que está em debate entre os socialistas belgas, como encontrar resposta da consciência social e do valor social do trabalho quando as classes trabalhadoras, tal como se definiam no passado, perderam a sua centralidade, dissolvidas que estão entre novas profissões. O que se registou e continua a estudar ao nível deste instituto são as novas formas de solidariedade, o que se passou com a Covid continua a aguardar um exame da consciência coletiva. No pós-Covid terá que se interpelar o que tem vindo a acontecer com as desigualdades que aceleraram. Na verdade, mesmo com a retoma económica, estão mascaradas realidades muito heterogéneas entre as pessoas e os setores. Os peritos do Instituto procuram desenhar as quatro fases do pós-Covid, que vão desde a urgência no combate às desigualdades neste período de retoma, qual a natureza do relançamento e as reconfigurações que se irão produzir.
Eu de vez em quando olhava para o relógio, metera-me na cova do lobo, a minha interlocutora falava agora em preocupações sobre o mundo do futuro, como se deverá vizinhar um novo contrato social e ecológico à escala planetária, como iremos reduzir a dependência da energia e contrapor às devastações causadas por um modelo de produção que contribui para a perda de biodiversidade e a propagação de doenças.
Alertei a minha gentil interlocutora que estava muitíssimo interessado em estudar o modo de conservar o espírito para o crescimento das despesas públicas para melhorar o quadro da saúde pública, num conto de desenvolvimento sustentável. Agradecia-lhe muito se me pudesse dar pistas sobre uma transição para uma economia de baixo carbono e políticas de coesão social e territorial. Remeteu-me para um site: www.iev.be
Se eu pensava que era só agradecer e partir, puro engano. Sugeriram-me que contactasse a vice-presidente do PS para partilhar mais informações, agradeci as sugestões, e é nisto que o senhor Joffrey Liénart fez questão de me mostrar imagens da figura lendária dos socialistas belgas, Émile Vandervelde e o acervo de cartazes políticos, senti-me muito penhorado, e a ver alguns e quando voltasse a Bruxelas, ficava prometido, visitaria com tempo este impressionante acervo gráfico e histórico.

Cartaz do 1º de Maio, 1926

Estou a caminho do metro, tenho os minutos contados, ainda preciso de comer e preparar farnel para a viagem. Houvesse tempo, e iriamos percorrer cuidadosamente este espaço do meu culto, quantas belas exposições aqui não vi, até concertos com Madredeus e Maria João Pires, é uma decoração concebida por um dos génios da arquitetura belga, Victor Horta, haja retorno e faremos a visita a preceito.
Fachada do Palácio das Belas-Artes de Bruxelas, o Bozar
O vestíbulo do Bozar
O mesmo espaço num evento de fotografia, com uso de tecnologia de vanguarda

São as derradeiras imagens da extremosa Bruxelas, antes de partir para Zaventem olho assombrado para as cerejeiras japónicas da rua, é uma primavera florida, resplandecente, e digo para mim próprio que eu nunca esperei chegar a esta idade e assistir a fissuras de dimensão gigantesca, uma nova forma de Guerra Fria, pelas minhas contas é a primeira vez que a europa se reagrupou e congregou por inteiro, nem quando os turcos estavam às portas de Viena aconteceu esta reação, olho estas cerejeiras e pergunto-me o que se sucederá a esta globalização, a deste mundo de dependência energética, que tipo de relações se afinarão com o espaço russo e o continente asiático quando esta guerra na Ucrânia findar. Até lá, ainda espero regressar a esta cidade e a este país a que me sinto tão irmanado. À tantôt!
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Nota do editor

Último poste da série de 30 DE SETEMBRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24714: Os nossos seres, saberes e lazeres (593): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (122): Oh Bruxelles, tu ne me quittes pas! (13) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24733: Álbum fotográfico do António Alves da Cruz, ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Buba, 1973/74) (10): A proteção aos trabalhos de construção da nova estrada Buba - Nhala - Aldeia Formosa

 
Foto nº 43


Foto nº 46


Foto nº 47


Foto nº 48


Foto nº 49


Foto nº 45


Foto nº 44

Guiné > Região de Quínara> Buba > 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Bula, 1973/74) > Proteção aos trabalhos de construção da nova estrada Buba - Aldeia Formosa (via Nhala).

Fotos (e legendas): © António Alves da Cruz (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



António Alves da Cruz, foto atual:
lisboeta de Belém, vive em Almada (onde trabalhou na Lisnave)



1. Continuação da publicação de uma seleção de fotos do álbum do António Alves da Cruz (ex-fur mil at inf, 1ª C/BCAÇ 45113/72, Buba, 1973/74), que tem 17 referências n0 nosso blogue. O descritor Buba tem 380 referências.

São imagens, que falam por si,  do "suplício de Sísifo" que era a proteção quotidiana dos trabalhos de construção da estrada Bula - Nhala - Aldeia Formosa (presumimos que a empresa adjucatária fosse a TECNIL, responsável por outros troços como Xime-Bambadinca ou Piche-Buruntuma).

Legendagem:

F43 > Regresso a Buba

F44 > Por vezes no final da coluna eram enviadas duas viaturas para dar uma merecida boleia de regresso a Buba.

F45  > Proteção à Engenharia ( com o meu amigo Dinis ) na construção da estrada Buba - Aldeia Formosa.

F46, 47, 48 e 49 >  Máquinas da Engenharia na construção da estrada.
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sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Guine 61/74 - P24732: Dos calores da Guiné aos frios da Gronelândia (3): Nuuk, a minúscula capital da maior ilha do mundo, agosto de 2023 (António Graça de Abreu)


Foto nº 18


Foto nº 19


Foto nº 20


Foto nº 21


Foto nº 22


Foto nº 23


Foto nº 24


Foto nº 25

Nuuk, Gronelândia, agosto de 2023

Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu (2023). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Dos calores da Guiné aos frios da Gronelândia (3): Nuuk, a capital

por António Graça de Abreu 

Estou em Nuuk, capital da Gronelândia (Foto n º 18), a mais setentrional de todas as capitais do globo, quase em cima da linha do Círculo Polar Ártico, ancorada em mais um extenso fiorde. 

Neste radioso Agosto, a temperatura oscila entre os nove e os onze graus. Dá para passear pelo burgo mais densamente povoado da Gronelândia, com quase 18 mil almas, maioritariamente os inuites, os esquimós, e cerca de 3 mil dinamarqueses que se estabeleceram na ilha como políticos, homens de negócios, etc. 

O nome antigo de Nuuk, em dinamarquês, é Godthåb que significa “Boa Esperança.” O poder da potência administrativa, o reino da Dinamarca, nota-se em muitos aspectos do quotidiano desta Gronelândia.

Quem por aqui andou noutros tempos, em 1501 e 1502 foi o navegador açoreano Gaspar Corte-Real que, segundo o cronista António Galvão (1490-557), no seu Tratado dos Descobrimentos, “descobriu uma terra incógnita e percorreu 600 a 700 milhas de costa sem lhe achar fim, sendo que tal terra prolonga outra descoberta a sul no ano anterior e que não puderam atingir por causa dos gelos.” Corte Real e os seus homens acabariam por desaparecer nestas águas geladas entre a Terra Nova e a Gronelândia, a nau perdeu-se nestes mares, jamais foi encontrada.

Num folheto para turista ver, fotografo uma fotografia da cidadezinha de Nuuk coberta de neve, o colorido dos lares de cada um contrastando com a alvura celestial da neve. Ao longe, a montanha Sermitsiaq, imaculadamente branca, acena ao viajante. (Foto nº 22)

Leio que em Março de 1853, quando já havia termómetros credíveis, a temperatura desceu aos 50 graus negativos. Não existiam frigoríficos na época porque senão os nuukianos talvez os tivessem comprado, às dúzias, para aquecerem os seus lares. O frio não perdoa, o clima é ingrato mas quem aqui nasceu e cresceu habitua-se a tudo.

Entretanto, entretenho-me a fotografar os icebergues ao quase sol da meia-noite. Em contra-luz, parecem barcos caídos do céu.

A cidade, para além das centenas e centenas de casas pintadas de todas as cores (Fotos nºs 21, 22 e 25), conta com uns tantos blocos de apartamentos modernos e um edifício singular, um arranha-céus com oito andares, o mais alto de toda a Gronelândia (Foto nº 18). 

No rés-do-chão e no primeiro andar funcionam cafés, restaurantes, supermercados, um centro comercial e nos andares de cima temos os diferentes departamentos estatais, o parlamento e os ministérios do governo que administra a Gronelândia. A moeda que utilizam é a coroa dinamarquesa, um euro vale 13 coroas, e os preços de todos os produtos, souvenirs, roupa quente, etc., são elevados.

O edifício tem hi-fi potente e aproveitei para ver mails e actualizar as notícias de Portugal, a visita do papa Francisco, etc.

Que futuro para a Gronelândia? 

Há olhares cobiçosos de grandes potências mundiais sobre esta terra. Em 2019, Donald Trump, então presidente dos EUA, terá colocado a hipótese de comprar a Gronelândia à Dinamarca, integrando-a nos States, tal como se fez há mais de um século quando os norte-americanos adquiriram o então Alasca russo aos velhos czares do Kremlin. Trump nem sequer obteve resposta por parte das gentes de Copenhaga. 

Ora a Gronelândia, nas suas grandes regiões cobertas de gelo, parece ter grandes reservas de petróleo e gás natural, além de imensos depósitos de minerais raros. A dificuldade consiste em conseguir-se a exploração de tais matérias-primas, dado o clima extremamente frio. Mas há alterações climáticas a caminho.


Foto nº 26
De Nuuk, além da imensidão resplandecente dos silêncios (Fotos nºs 23 e 24) , levo a imagem de dois meninos inuite, ternuramente esquimós, cinco ou seis anos de idade, que durante mais de quatro quilómetros de caminhada pelos altos e baixos da cidade me fizeram companhia, com a sua pequena trotinete brinquedo (Fotos nº 25 e 26). Riam, corriam, saltavam à minha volta. Conheciam todos os recantos do burgo, falavam comigo na língua inuite, respondia-lhes em inglês. Eles não entendiam nada, eu também não. Crianças maravilha, o diálogo de quem se quer bem...

António Graça de Abreu (Fotos nºs 2, com a esposa, e 3)

António Graça de Abreu: (i) ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74; (ii) membro da nossa Tabanca Grande desde 5/2/2007; (iii) tem c. 330 referências no blogue; (iv) é escritor, autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); (v) no nosso blogue, é autor de diversas séries:

  • Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo;
  • Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (em coautoria com Constantino Ferreira);
  • Excertos do "meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983"; 
  • Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias;
  • Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74)
(Revisão / fixação de texto / negritos, e edição e numeração de fotos, para publicação deste poste no blogue: LG)
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Nota do editor: