quarta-feira, 20 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24677: Dos calores da Guiné aos frios da Gronelândia (2): Ilulissat, Gronelândia, agosto de 2023 (António Graça de Abreu)


Foto nº 8


Foto nº 9


Foto nº 10


Foto nº 11

Gronelândia, Ilulissat, agosto de 2023

Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu (2023). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Continuação da publicação da série "Dos calores da Guiné aos frios da Gronelândia" (*), da autoria do nosso amigo e camarada António Graça de Abreu: 

(i) ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74; 

(ii) membro da nossa Tabanca Grande desde 5/2/2007; 

(iii) tem 326 referências no blogue;

 (iv) é escritor, autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); 

(v) no nosso blogue, é autor de diversas séries: 

  • Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo; 
  • Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (em coautoria com Constantino Ferreira);
  • Excertos do "meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983"; 
  • Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias; 
  • Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74)

Dos calores da Guiné aos frios da Gronelândia (2)

por António Graça de Abreu (Foto nº 16)


Eu sei que isto são mais coisas para o nosso camarada Zé Belo, alcandorado há uns bons cinquenta anos lá pelas faldas da Lapónia, com alces a rondar-lhe a casa, em Kiruna, na bravia e gelada Suécia, e uns saltos a Narwik, na primorosa Noruega.

Mas eu também nasci com passaporte de coelho, o que até deu direito, quase numa anterior reencarnação, a participar numa guerra quente na Guiné-Bissau. Agora, Agosto de 2023, aos 76 anos, viajei durante duas semanas pela Gronelândia e pela Islândia, terras frias, tal como a Lapónia, lá no topo do mundo. Cruzei o círculo polar ártico, entretive-me a passear entre fiordes, icebergues e glaciares. Fiz bonitas fotografias, escrevi quase uma dúzia de esmerados textos. Se tiverem paciência, leiam, serão um contraponto fresco e pacífico aos calores bélicos que vivemos em África há cinquenta anos atrás. Aí vai:




Foto nº 12


Foto nº 13


Foto nº 14


Foto nº 15


Ilulissat, Gronelândia


Baía de Ilulissat, um mar de icebergues polvilhando as águas frias. Estamos duzentos e cinquenta quilómetros a norte do círculo Polar Ártico, a 69 graus de latitude . (Fotos nºs, 8., 9, 10 e 11).

 Provavelmente, foi desta baía que, entre muitos milhares de outros, desceu para os mares da Terra Nova o grande icebergue em que embateu o Titanic, na fatídica noite de Abril de 1912.

Hoje, Agosto de 2023, temos talvez o dia mais quente do ano, tempo primaveril, dez graus de temperatura. 

Uma avó gronelandesa  (Foto nº 12) empurra um carrinho com um bebé, seu neto, e usa uma blusa fina, duas mocetonas da terra, de anca larga e peitos fartos, empregadas de um hotel, saem para a rua vestindo camisas de Verão.

Dizem-me que a cidade de Ilulissat (significa “icebergues” na língua local) é o destino turístico mais popular para os fascinados por aventuras que varrem, ao de leve, o solo ímpar da Gronelândia. (Foto nº 13).

Uma caminhada de três quilómetros leva-me até às bordas do Icefjord, e depois Sermermiut, um imenso glaciar que é Património Mundial pela Unesco. Trata-se de um lugar sagrado pelos deuses e justifica a honra. São quilómetros e quilómetros quadrados de espantosos amontoados de gelo, com paredes que se elevam a mais de cem metros de altura, tudo enterrado no mar ou assentado há dezenas de séculos na pedra da costa. Vistas de extasiar, de estarrecer. 

Pena os mosquitos perto do glaciar, nas zonas onde não há gelo. São melgas negras, ferozes, que mordem, sedentas de sangue fresco. Derreteu a neve, veio o ténue calor do Ártico e, na vegetação rasteira dos pântanos entretanto criados, surgiram milhões e milhões de mosquitos.

Regresso a pé a Ilulissat (Fotos nºs 14, 15 e 17).

As casinhas desiguais, em madeira, coloridas, a construção parece barata e pouco sólida para aguentar o frio e o gelo de grande parte do ano. Porém, dentro, os lares são confortáveis, calafetados com fibra de vidro, seguros. 

Não existe saneamento público, cada casa tem uma fossa própria onde se despejam os dejectos. Uma vez por semana passa um camião cisterna que leva o conteúdo fétido e acastanhado das fossas. Em Ilulissat chamam-lhe o “camião chocolate.”

Os cinco mil habitantes da cidade vivem da pesca, da caça, da construção naval, do comércio, do turismo

Muitos têm traços fisionómicos aparentados com os mongóis, os olhos rasgados, a pele dura. São os esquimós, ou mais rigorosamente os inuites, porque a palavra “esquimó” que significa “os que comem carne crua” tem hoje um sentido pejorativo e já não é usada para os definir. 

Os 150 mil inuítes hoje existentes, resultantes de migrações do passado, estão espalhados por estas regiões acima do Círculo Polar Ártico, o norte do Alasca, o Canadá, a Sibéria e por toda a Gronelândia. 

Em Ilulissat, nasceu Knud Rasmussen (1879-1933), de pais missionários protestantes dinamarqueses. Explorador e antropólogo, -- a sua casa aqui está transformada em museu --, foi o primeiro a viajar e a escrever exaustivamente sobre os inuites e as terras e gelos do Ártico. 

De resto, a Gronelândia, a maior ilha do mundo, com 2,2 milhões de quilómetros quadrados (quase tudo montanhas de gelo) e apenas 56 mil habitantes, é ainda hoje, uma região administrativa da Dinamarca. 

Fala-se na independência plena do território que já tem bandeira, curiosamente com as cores da Dinamarca, duas metades de um círculo sobrepostas, uma rubra, o sol da meia-noite, a outra metade branca, o gelo de todo ano. (Fotos nºs 16 e 17)



Foto nº 16


Foto nº 17

© António Graça de Abreu (2023)

(Revisão / fixação de texto / negritos, e edição e numeração  de fotos, para publicação deste poste no blogue: LG)
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Nota do editor:

Último poste da série > 14 de setembro de  2023 > Guiné 61/74 - P24650: Dos calores da Guiné aos frios da Gronelândia (1): Fiorde de Prins Christian Sund, Gronelândia, agosto de 2023 (António Graça de Abreu)

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