domingo, 17 de setembro de 2023

Guiné 61/74 - P24664: Manuscrito(s) (Luís Graça) (230): Há minas... e minas





Vídeo (0' 26'') (Luís Graça, 2023)

Quinta de Candoz > A nossa "mina"... Abastece-nos de água e corre, fresca e encantatória,  para o rio Douro, pelo vale abaixo (neste caso, para a albufeira da barragem do Carrapatelo)...

Fotos (e legenda): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Tabanca de Candoz > 1 de Setembro de 2011 

Na altura escrevi (*):

"Mais uma foto, fresquinha, tirada hoje, e que é difícíl de obter nas outras tabancas da nossa Tabanca Grande... Uma boa legenda precisa-se e aplaude-se... Será uma viagem ao interior do corpo humano ? Pode ser...

"O verão ainda não acabou nem o nosso passatempo... Espero que amanhã não chova porque temos, cá na nossa tabanca, a primeira vindima já marcada, a das castas avesso e loureiro... Daqui a 10 dias há mais, a 2º vindima (restantes castas: azal e pedernã ou arinto)... Mas aí já eu (e a Alice) estarei em Lisboa, que o trabalha aperta e as saudades do sul também já são algumas".

Foto (e legenda): © Luís Graça (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Já há muito tempo que não ia visitar e  fotografar a nascente de água que abastece a nossa Quinta de Candoz... e que fica dentro da propriedade. Há já há largos anos, mesmo antes da pandemia de Covid-19... Publiquei aqui uma foto de 2011 (*)...

"É a maior riqueza que tenho nesta terra", dizia-me o meu sogro, quando há já quase meio século comecei a vir aqui a Candoz,,,

Ontem, sábado, enquanto os vindimadores vindimavam (eu este ano nem sequer peguei numa tesoura!), lá peguei nas minhas "canadianas" e na máquina fotográfica  e, em equilíbrio instável, arriscando um tombo ou uma queda fatal (!), desci até ao sítio, dentro da nossa propriedade onde vem a água que bebemos...

Aqui, em muitos quilómetros à volta,  não há abastecimento público.  E quem tem "mina", sempre escapa à sede... Aprendi que aqui há poços escavados na vertical como na minha terra... Lá os lençóis freáticos (ou as nascentes subterrâneas) estão abaixo do nível do mar. Aqui estão a 250 ou 300 metros acima.... 

Esta mina é centenária e foi o meu sogro quem tratou de "encanar a água" que, ao longo de extensos e altos  muros de pedra, e percorrendo toda a propriedade, chega de um extremo ao outro onde erguemos a casa de habitação e os anexos agrícolas...

Ninguém se lembra de alguma vez ter esta mina secado, mesmo nos piores verões de seca extrema, deste e do outro século... É saborosa, fresca, abundante... E não temos maneira de a aproveitar toda. Há outras minas que servem para rega... (Dantes fazia-se o milho, e toda a água era pouca). Durante anos tivemos um tanque/piscina de 60 mil litros, que está agora inoperacional, a precisar de obras de restauro... devido a brechas nas paredes laterais e no fundo).

Na Guiné a palavra "mina" tinha outro siniciado
...Era uma palavra que nos obrigava a ficar em alerta e frequentemente provocava dor, tragédia, mortos e feridos... "Mina!"... Ainda mexe com os meus sentidos e as minhas memórias doridas daquele tempo... (**)
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mina1

(mi·na)

nome feminino

1. Veio ou depósito natural de minérios. = JAZIGO

2. Conjunto de trabalhos realizados para extrair esses minérios.

3. Galeria construída para fazer esses trabalhos.

4. Nascente de água.

5. Galeria estreita para trazer subterraneamente a água de uma nascente.

6. Fonte de riquezas.

7. Negócio lucrativo.

8. Preciosidade.

9. Tesouro oculto.

10. Indivíduo que se deixa explorar.

11. Pequeno ponteiro de grafite para lápis ou lapiseiras.

12. [Armamento] Engenho de guerra explosivo que é detonado por contacto (ex.: mina anticarro; mina antipessoal).

13. [Militar] Cavidade que, cheia de pólvora, faz ir pelos ares o que há por cima.

14. [Militar] Caminho subterrâneo para levar os sitiantes ao lugar sitiado.

15. [Brasil] Mulher, geralmente jovem.

16. [Brasil] Mulher que sustenta o amásio.

17. [Brasil] Amante de gatuno ou rufião.

mina de ouro•Escavação para extrair ouro.

•Aquilo que permite ganhar muito dinheiro.

mina submarina•Engenho bélico, contendo matérias explosivas, que se mergulha no mar, para explodir um navio.

mina terrestre•Engenho de guerra explosivo que se camufla no solo e que é detonado com a aproximação de pessoas ou veículos.

Origem etimológica: francês mine. (...)

Fonte: "mina", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2023, https://dicionario.priberam.org/mina.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 1 de setembro de  2011 > Guiné 63/74 - P8720: Fotos à procura de... uma legenda (12): Mais uma foto-mistério da Tabanca de Candoz (Luis Graça)

4 comentários:

José Botelho Colaço disse...

Luís que a mina de Candoz continue com vida natural sem ser poluída. Aqui em Santa Iria de Azoia (Loures) também corria um nascente da serra de Santa Iria a que lhe chamavam o nascente da mina mas com as "modernices" de fazerem aterros sanitários sem terem atenção á poluição dos terrenos a camara de Loures fez durante alguns anos na serra de Santa Iria um aterro sanitário. Resultado infectou a nascente tranformando o que era uma agua pura cristalina em agua poluida não potável imprópria para consumo. Para se não perder tudo de uma zona priviligiada pelo ambiente transformada pela mão do homem em zona degradada a Câmara de Loures fez na dita serra um parque de diversões com uns respiradores no aterro para que as pessoas possam dar uns passeios, corridas pelo parque sem serem intóxicadas. Um abraço e bom ambiente.

Eduardo Estrela disse...

O subterrâneo oculto da vida.
Bem hajam os que têm o bom senso de preservar as dádivas da mãe natureza.
Por acréscimo, vêm as romãs vermelhas e os cachos de uvas douradas.
Boa vindima e rápidas melhoras meu amigo.
Eduardo Estrela

Anónimo disse...

"É a maior riqueza que tenho nesta terra". Assim dizia o teu sogro, naturalmente, porque de nada servia uma quinta se não tivesse água, mas, muito melhor que ter água tirada, por junta de bois, de um poço (vertical) com vinte ou mais metros, era ter uma mina com grande capacidade de empresamento. Se não fosse de consortes, tanto melhor, que estava assim ao dispor de um único proprietário. A importância das minas redobrou-se com a introdução da cultura do milho americano, muito exigente em água. Lavrador que , em vez de emagrecer os bois no trabalho exaustivo de extrair água dos poços, dispusesse de água de mina lucrava muito mais, até porque prescindia assim do tangedor.
As minas, na minha freguesia, eram quase sempre de consortes porque raramente os proprietários dispunham de área agrícola continua, pelo que as minas, subpassando parcelas de diferentes proprietários, eram rasgadas em concerto, predispondo-se desde logo os dias de rega para cada um.
Na casa dos meus pais não havia minas, antes dois poços de rega onde sacrificávamos, alternadamente, duas juntas de bois.
Como é costume dizer-se, por estas bandas: disto percebo eu .

Um grande abraço, Luís.

carvalho de Mampatá

Tabanca Grande Luís Graça disse...

António, e sabes mesmo, falas "cátedra" ou "de cadeira" para usar uma expressão do calão académica...

Faltou-me o termo "água de consortes", como são as levadas na Madeira e em muitos outros sítios das terras de montanha...

Quando comecei a vir aqui (por ter casado com a filha do "patrão"...), o sr. José Carneiro também tinhm, aklémd as suas minas, a uma dia (ou uma tarde, já não me lembro) com direito a puxar para os seus campos de milho (e vinha de bordadura) a "água de Covas" que vinha do "monte de Leirós" (que também era nosso, uma parte)...

Eu ficava de olhos arregalados a ver toda aquela "engenharia hidráulica chinesa" (sic) (como eU lhe chamava) a levar a abençoada "augUinha" a cada pé de milho, de cima para baixo, de leira em leira, de socalco em socalco...

Depois deixou-se de fazer o milho, terrapalanou-se, alargaram-se cfampos, cortaram-se árvores e todas os "produtores diretos" (videiraa híbridas de origem americans como Jacquet). fez-se uma vinha moderna, só de branco, certificada aramada, com postes de cimento armado (fomos pioneiros, chamavam depreciativamente o "cemitério de Candoz" à quinta)...

E a água de Covas (que era de vários consortes...) foi desaparecendo, a monmtante, com os roubos e os furos artesianos, sem lei nem rei...

Obrigado pela tua lição... Luís