sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Guine 61/74 - P24732: Dos calores da Guiné aos frios da Gronelândia (3): Nuuk, a minúscula capital da maior ilha do mundo, agosto de 2023 (António Graça de Abreu)


Foto nº 18


Foto nº 19


Foto nº 20


Foto nº 21


Foto nº 22


Foto nº 23


Foto nº 24


Foto nº 25

Nuuk, Gronelândia, agosto de 2023

Fotos (e legendas): © António Graça de Abreu (2023). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Dos calores da Guiné aos frios da Gronelândia (3): Nuuk, a capital

por António Graça de Abreu 

Estou em Nuuk, capital da Gronelândia (Foto n º 18), a mais setentrional de todas as capitais do globo, quase em cima da linha do Círculo Polar Ártico, ancorada em mais um extenso fiorde. 

Neste radioso Agosto, a temperatura oscila entre os nove e os onze graus. Dá para passear pelo burgo mais densamente povoado da Gronelândia, com quase 18 mil almas, maioritariamente os inuites, os esquimós, e cerca de 3 mil dinamarqueses que se estabeleceram na ilha como políticos, homens de negócios, etc. 

O nome antigo de Nuuk, em dinamarquês, é Godthåb que significa “Boa Esperança.” O poder da potência administrativa, o reino da Dinamarca, nota-se em muitos aspectos do quotidiano desta Gronelândia.

Quem por aqui andou noutros tempos, em 1501 e 1502 foi o navegador açoreano Gaspar Corte-Real que, segundo o cronista António Galvão (1490-557), no seu Tratado dos Descobrimentos, “descobriu uma terra incógnita e percorreu 600 a 700 milhas de costa sem lhe achar fim, sendo que tal terra prolonga outra descoberta a sul no ano anterior e que não puderam atingir por causa dos gelos.” Corte Real e os seus homens acabariam por desaparecer nestas águas geladas entre a Terra Nova e a Gronelândia, a nau perdeu-se nestes mares, jamais foi encontrada.

Num folheto para turista ver, fotografo uma fotografia da cidadezinha de Nuuk coberta de neve, o colorido dos lares de cada um contrastando com a alvura celestial da neve. Ao longe, a montanha Sermitsiaq, imaculadamente branca, acena ao viajante. (Foto nº 22)

Leio que em Março de 1853, quando já havia termómetros credíveis, a temperatura desceu aos 50 graus negativos. Não existiam frigoríficos na época porque senão os nuukianos talvez os tivessem comprado, às dúzias, para aquecerem os seus lares. O frio não perdoa, o clima é ingrato mas quem aqui nasceu e cresceu habitua-se a tudo.

Entretanto, entretenho-me a fotografar os icebergues ao quase sol da meia-noite. Em contra-luz, parecem barcos caídos do céu.

A cidade, para além das centenas e centenas de casas pintadas de todas as cores (Fotos nºs 21, 22 e 25), conta com uns tantos blocos de apartamentos modernos e um edifício singular, um arranha-céus com oito andares, o mais alto de toda a Gronelândia (Foto nº 18). 

No rés-do-chão e no primeiro andar funcionam cafés, restaurantes, supermercados, um centro comercial e nos andares de cima temos os diferentes departamentos estatais, o parlamento e os ministérios do governo que administra a Gronelândia. A moeda que utilizam é a coroa dinamarquesa, um euro vale 13 coroas, e os preços de todos os produtos, souvenirs, roupa quente, etc., são elevados.

O edifício tem hi-fi potente e aproveitei para ver mails e actualizar as notícias de Portugal, a visita do papa Francisco, etc.

Que futuro para a Gronelândia? 

Há olhares cobiçosos de grandes potências mundiais sobre esta terra. Em 2019, Donald Trump, então presidente dos EUA, terá colocado a hipótese de comprar a Gronelândia à Dinamarca, integrando-a nos States, tal como se fez há mais de um século quando os norte-americanos adquiriram o então Alasca russo aos velhos czares do Kremlin. Trump nem sequer obteve resposta por parte das gentes de Copenhaga. 

Ora a Gronelândia, nas suas grandes regiões cobertas de gelo, parece ter grandes reservas de petróleo e gás natural, além de imensos depósitos de minerais raros. A dificuldade consiste em conseguir-se a exploração de tais matérias-primas, dado o clima extremamente frio. Mas há alterações climáticas a caminho.


Foto nº 26
De Nuuk, além da imensidão resplandecente dos silêncios (Fotos nºs 23 e 24) , levo a imagem de dois meninos inuite, ternuramente esquimós, cinco ou seis anos de idade, que durante mais de quatro quilómetros de caminhada pelos altos e baixos da cidade me fizeram companhia, com a sua pequena trotinete brinquedo (Fotos nº 25 e 26). Riam, corriam, saltavam à minha volta. Conheciam todos os recantos do burgo, falavam comigo na língua inuite, respondia-lhes em inglês. Eles não entendiam nada, eu também não. Crianças maravilha, o diálogo de quem se quer bem...

António Graça de Abreu (Fotos nºs 2, com a esposa, e 3)

António Graça de Abreu: (i) ex-alf mil, CAOP1, Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74; (ii) membro da nossa Tabanca Grande desde 5/2/2007; (iii) tem c. 330 referências no blogue; (iv) é escritor, autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); (v) no nosso blogue, é autor de diversas séries:

  • Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo;
  • Viagem de volta ao mundo: em plena pandemia de COVID 19, tentando regressar a casa (em coautoria com Constantino Ferreira);
  • Excertos do "meu diário secreto, ainda inédito, escrito na China, entre 1977 e 1983"; 
  • Notícias (extravagantes) de uma Volta ao Mundo em 100 dias;
  • Excertos do Diário de António Graça de Abreu (CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74)
(Revisão / fixação de texto / negritos, e edição e numeração de fotos, para publicação deste poste no blogue: LG)
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Nota do editor:

5 comentários:

Valdemar Silva disse...

Graça Abreu, que frio.
Provavelmente não seriam frigoríficos mas sim aquecedores que os inuites precisariam.
A foto 22, assemelha-se um quadro do pintor Manuel Cargaleiro.
Parece que o nosso Corte-Real não está muito bem visto por aquelas paragens, por ser acusado de esclavagismo ao trazer para Lisboa 57 inuites locais que terão sido vendidos como escravos.
Vendo bem, toda aquela ilha maior que a Europa faz parte da UE, como uma região autónoma da Dinamarca.

Saúde e continuação de boas viagens
Valdemar Queiroz

Eduardo Estrela disse...

Obrigado pela partilha!!
O mundo é lindo com calor ou frio.
Boas e felizes viagens, saúde e forte abraço.
Eduardo Estrela

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Partilhamos, no nosso blogue (e também aqui no Face) fotos, mamórias,. afetos... Como antigos camaradas de armas que fomos, independentemente do que hoje somos e pensamos... Não há muitos sítios nas redes sociais capazes de, com tantos pontos e nós, fazer pontes...

antonio graça de abreu disse...

Oh, Valdemar, creio que também há nas tuas palavras uma contaminação da recente religião woke e do wokismo. Claro que havia escravatura na época, 1502. No Canadá, as a "boas almas já tentaram, recentemente, derrubar, na Terra Nova, a estátua do Corte Real. Ainda não conseguiram.Lê a História de acordo com as mentalidades e práticas da época. Não para perdoar, ou culpar, para entender.

Abraço,

António Graça de Abreu

Valdemar Silva disse...

Graça Abreu, não será bem woke nem wokismo, mas nunca fui contaminado por nada a todos os níveis, mesmo que tivesse começado a trabalhar com 12 anos e ter estado 22 meses na guerra a conviver numa Companhia de fulas.

Se eu tivesse essa possibilidade de viajar pelo mundo, que deve ser fascinante, e depois soubesse escrever sobre as viagens faria um destaque daquilo que mais gostasse de ver e por certo alguma critica/comentário a acontecimentos ou figuras de nível mundial ou ligados a Portugal, dessas terras que visitava.

A História que leio é a que gosto de ler, nem fazia sentido ser outra coisa. E essa das mentalidades e práticas da época dá para o lado que convém conforme calhe, que eu nunca fui de modas.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz