Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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quarta-feira, 8 de outubro de 2025
Guiné 61/74 - P27294: Parabéns a você (2423): Luís Mourato Oliveira, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 4740 e Pel Caç Nat 52 (Cufar, Mato Cão e Missirá, 1973/74)
Nota do editor
Último post da série de 4 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27284: Parabéns a você (2422): Artur Conceição, ex-Soldado TRMS da CART 730 / BART 733 (Bironque, Bissorã, Jumbembem e Farim, 1965/67) e Inácio Silva, ex-1.º Cabo Apont Metralhadora da CART 2732 (Mansabá, 1970/72)
terça-feira, 7 de outubro de 2025
Guiné 61/74 - P27293: Notas de leitura (1848): "O capelão militar na guerra colonial", de Bártolo Paiva Pereira, capelão, major ref - Parte IV: "Até 1966 eram todos voluntários" (Luís Graça)
A legenda e a foto são do padre Bártolo Paiva Pereira... Vêm na página 23 do livro que estamos a recensear. Podem surpreender o leitor, se tivermos em conta que o autor é capelão major reformado, serviu nas Forças Armadas durante 30 anos e tem pelo menos duas condecorações (ele, por modéstia, não o diz).
1. Não é seguramente o padre Bártolo Paiva Pereira que aparece na foto a benzer (com o hissope ou o asperge) o guião de mais um batalhão que partia para Angola, ou melhor, de um contingente da PSP (Polícia de Segurança Pública).
- RAP2 (Vila Nova de Gaia) | 5 de agosto de 1961 | Despedida de um contingente militar
- RAP2 (Vila Nova de Gaia) | 22 de dezembro de 1971 | Despedida de unidades expedicionárias
Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > RI 23 > 1941 > O primeiro Natal passado na ilha. Foto: arquivo de Luís Henriques (1920-2012) / Luís Graça (202o)
Foto (e legenda): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
- Padre António Manuel Pires, missionário (assassinado em Ainaro, a 2 de outubro de 1942);
- Padre Norberto de Oliveira Barros, missionário (idem);
- Padre Abílio Caldas. missionário, natural de Timor (assassinado em Barique, em data ignorada):
- Padre Francisco Madeira, issionário (foragido, morto no mato, na região de Lacluta, em data ignorada).
(*) Vd. postes anteriores da série:
(**) Poste anterior da série > 29 de setembro de 2025 > 7 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27291: Notas de leitura (1847): "Os Có Boys (Nos Trilhos da Memória)", de Luís da Cruz Ferreira, ex-1º cabo aux enf, 2ª C/BART 6521/72 (Có,1972/74) - Parte II: "Ó Beatle, queres mesmo ir para a Guiné ?", perguntou-lhe o antigo patrão, o sr. António Muchaxo... (Luís Graça)
Guiné 61/74 - P27292: Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade (Armando Oliveira e Ricardo Abreu) (2): As hortas do Ricardo Abreu (Aníbal Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)

VIAGENS À GUINÉ BISSAU: AMIZADE E SOLIDARIEADE
AS HORTAS DO RICARDO ABREU
O Ricardo Abreu, ex-militar, sapador de minas e armadilhas da CCS do BART 6520/72, tem um orgulho enorme nos produtos da terra, que cultiva na sua horta e quintal, situada na freguesia de Canidelo-Gaia.
Nas seis viagens que já fez à Guiné (1999 a 2024), como não podia tratar do seu quintal e para não perder o hábito, abriu uma sucursal na Guiné e criou duas hortas. Uma em Tite, junto à estrada que vai para Bissássema, onde ensina os jovens da escola da Missão Católica a fazer sementeiras e a cultivar hortaliças, que depois são consumidas na cozinha da Missão. A outra localiza-se em Bissau nas imediações do Restaurante Machado, propriedade da D. Teresa (foto 4), a quem presta o mesmo voluntariado que em Tite. Em cada viagem que faz à Guiné, o Ricardo leva novas sementes para renovar o stock.
Comparando as fotografias, as de Bissau tiradas no ano 2010 e as de Tite em 2024, verifica-se que a horta desta última é mais modesta que a da D. Teresa de Bissau.
É pena que o rio Geba não possa contribuir com as algas que o Ricardo costuma utilizar para adubar as suas terras, em Canidelo-Gaia, de modo a aumentar a produção e qualidade dos produtos semeados em Tite.
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Nota do autor
Último post da série de 30 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27272: Viagens à Guiné-Bissau: Amizade e Solidariedade (Armando Oliveira e Ricardo Abreu) (1): Missão Católica e Hospital de Tite (Aníbal Silva, ex-Fur Mil Vagomestre)
Guiné 61/74 - P27291: Notas de leitura (1847): "Os Có Boys (Nos Trilhos da Memória)", de Luís da Cruz Ferreira, ex-1º cabo aux enf, 2ª C/BART 6521/72 (Có,1972/74) - Parte II: "Ó Beatle, queres mesmo ir para a Guiné ?", perguntou-lhe o antigo patrão, o sr. António Muchaxo... (Luís Graça)
Cascais _ Praia do Guincho > Restaurante Muchaxo> c. finaisw dos anos 50 > Foto da página do Facebook da Real Vila de Cascais (com a devida vénia...)
Luís da Cruz Ferreira (n. 1950, Benedita, Alcobaça)
- Serviço militar obrigatório, RI 7, Leiria (pp. 7/18)
- Coimbra: Regimento do Serviço de Saúde (pp. 18/27)
- Hospital Militar Principal (pp. 27/34)
- Penafiel: formação do BART 6521/72 e partida para o CTIG (pp. 34/45)
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(*) Vd. poste anterior > 27 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27259: Notas de leitura (1842): "Os Có Boys (Nos Trilhos da Memória)", de Luís da Cruz Ferreira, ex-1º cabo aux enf, 2ª C/BART 6521/72 (Có,1972/74) - Parte I: Apresentação sumária (Luís Graça)
Último poste da série > 6 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27290: Notas de leitura (1846): "O Último Avô", de Afonso Reis Cabral, Publicações Dom Quixote, 2025 (Mário Beja Santos)
(**) Vd. aqui entrevista ao "Tony" Muchaxo (n. 1930) (O Correio da Linha, 29 de maio de 2023)
Com o crescimento do estabelecimento e da reputação, o empreendimento foi ampliado. O pai do "Tony", o António Muchaxo (1900-1984) comprou uma fortaleza do século XVII (a Bateria da Galé) e construiu sobre ela o restaurante-estalagem. Manteve as muralhas.
Em 1964 foi feita a inauguração formal da Estalagem Muchaxo, com 17 quartos, restaurante e bar. Presença, obrigatória, a do Presidente da República, o alm Américo Tomás, que foi cortar a fita.
Mais tarde, ao longo das décadas seguintes, o espaço foi sendo ampliado (nos anos 1990, por exemplo) para chegar aos mais de 60 quartos que tem hoje. Em 2011, passou a designar-se oficialmente Estalagem Muchaxo Hotel, com categoria de 4 estrelas, hoje "um ícone do turismo nacional".
O Muchaxo tornou-se, especialmente nas décadas de 50, 60 e 70, um ponto de encontro da elite portuguesa, incluindo membros do regime do Estado Novo, diplomatas, aristocracia exilada, personalidades do cinema, reis e chefes de Estado estrangeiros. Por exemplo, foi lá que se realizou o jantar de noivado de Juan Carlos da Espanha com a infanta Sofia da Grécia em 1962. Também foi lá realizada a boda do casamento do antigo presidente da República António Ramalho Eanes com a dra Maria Manuela Eanes.
"Tony" Muchacho, que fez tropa em Mafra, em meados dos anos cinquenta, é formado em economia e tem amigos em todo o mundo, é considerado um "embaixador de Portugal".

segunda-feira, 6 de outubro de 2025
Guiné 61/74 - P27290: Notas de leitura (1846): "O Último Avô", de Afonso Reis Cabral, Publicações Dom Quixote, 2025 (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Setembro de 2025:
Queridos amigos,
Vai para dez anos que li o primeiro romance de Afonso Reis Cabral, "O Meu Irmão", uma verdadeira apoteose numa escrita adulta contando-nos a relação entre dois irmãos, um deles portador de deficiência, uma luminescência literária, algo de inesperado, um jovem de vinte e poucos anos era capaz de chegar ao osso da vida e de nos levantar ao céu. Este seu romance, que aqui saúdo, vem quebrar um juízo sobre os tempos atuais da literatura da Guerra Colonial, tinha para mim que os antigos combatentes só se interessariam por passar a escrito as memórias e que os mais novos estavam a leste do que os avós ou os pais viveram naqueles teatros de guerra. Esta obra avassaladora, que confirma Afonso Reis Cabral como um dos maiores vultos da sua geração, faz-me pensar que chegou a hora dos mais novos se ocuparem daquela guerra que fez mudar a história de Portugal.
Abraço do
Mário
Um notável romance onde não faltam enigmas sobre a Guerra Colonial
Mário Beja Santos
Foi recentemente publicado o romance O Último Avô, de Afonso Reis Cabral, nas Publicações Dom Quixote. Sobre a essência da obra não me vou pronunciar agora, mas anuncio que a literatura sobre a Guerra Colonial está em festa, afinal este subgénero literário que me parecia confinado à literatura memorial aparece esplendente num texto literário seguramente de referência e destinado a sucessivas edições. Atenda-se ao que se escreve na contracapa:
“Quando Augusto Campelo, o mais genial escritor português, queima o manuscrito no qual trabalhou durante anos, deixa para trás um mistério: seria o tão esperado romance sobre a experiência traumática da Guerra Colonial de que tantas vezes falava, mas à qual nunca dedicou um livro? Subsiste a dúvida: o escritor morre uma semana depois”.
Augusto Campelo não desdenhava falar da guerra em ambiente familiar e dizia nas suas entrevistas, no país e no estrangeiro, que tinha intenção de lhe dedicar uma prosa de fulgor. E ninguém lhe podia mexer na secretária nem naquele caderno que constava ser a tal memorável recordação da guerra. Um dia dirigiu-se ao neto, também de nome Augusto, deste modo:
“Quando entro na selva da memória de África, quantas histórias levantam voo como as borboletas azuis dos troncos caídos daquelas matas… Nós éramos miúdos que achavam que eram homens. A recruta bárbara meteu-nos na cabeça que éramos homens. Mas éramos miúdos que, ao fim de seis meses de uma dureza insana, tinham de ir para a guerra a achar que eram homens. Ainda hoje os admiro, amo-os, aos meus camaradas. E de muitos nem me lembra o nome… Deram o que tinham, tantos deram tudo. E só tinham a juventude para dar.”
E, adiante:
“Em público, continuava a afirmar que o romance da guerra seria o próximo, sempre o próximo, mas antes precisava de se entender com as várias dezenas de baixas que o batalhão sofrera. E dizia que costumava acordar a meio da noite em busca da G3 para acudir aos camaradas. Nunca me livrarei dos meus mortos.”
E Afonso Reis Cabral talvez seja o autor que até hoje com mais incisão e contundência homenageia os antigos combatentes, nunca li texto tão enternecedor:
“Restam uns trezentos mil soldados da velha guerra. A estatística manda que os encontremos na rua, na sucursal do banco ou dos correios, nos cafés. Frequentam os transportes públicos e sentam-se ao nosso lado na Loja do Cidadão. São eles que conversam entre si durante horas nos bancos de jardim. Uns falam alto, outros perderam a voz. Suspeito de que muitos dos que agarramos pelos pulsos e tornozelos às camas dos hospitais, e que bradam como cercados pelo inimigo, também sejam antigos combatentes. Alguns escondem-se à paisana de velho e à paisana de soldado: como ninguém lhes dá mais de setenta anos, não parecem velhos o suficiente e ninguém desconfia de que combateram em África. Outros entraram em lares.
Vivem nas nossas casas, comem da nossa comida, bebem da nossa água e despejam os mesmos autoclismos. Usam o nosso papel higiénico. Se os observarmos com amor e algum cuidado, espantamo-nos e compreendemos que são nossos pais e avós e que, enquanto não morrerem, estão vivos; ao mesmo tempo vivos e invisíveis, porque são velhos e não olhamos, porque são veteranos e não ligamos.”
Há uma desmesura neste Augusto Campelo, tirânico, confabulador, medularmente mistificador; há uma enleante relação entre o gigante literário e o seu neto, também de nome Augusto, que pesará sobremaneira como a metáfora da transmissão de segredos que os antigos combatentes querem ver passar às novas gerações. Como antigo combatente e apreciador do talento de Afonso Reis Cabral, acho que temos aqui um livro surpreendente, e que a todos nós pertence. Convido-vos à sua leitura.
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Nota do editor
Último post da série de 2 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27276: Notas de leitura (1845): "O capelão militar na guerra colonial", de Bártolo Paiva Pereira, capelão, major ref - Parte III: "A minha Pátria é o Hélder" (Luís Graça)
Guiné 61/74 - P27289: Tabanca da Diáspora Lusófona (37): João e Vilma vão-se casar... pela Igreja, no próximo dia 12, domingo, às 10h30, St Cyril Church, Nova Iorque. Cerimónia presidida pelo Arcebispo Dom Gabriele Caccia, Observador Permanente do Vaticano na ONU. A Tabanca Grande está toda convidada...
(Cortesia: LusoAmericano, 24 de abril de 2013, pág. 23)
Mais uma jornada…
Eu considero-me um felizardo porque em toda a minha vida tenho tido a sorte de encontrar gente boa que me tem concedido a sua amizade, amizades que muitas vezes se traduziram em ajuda preciosa em momentos difíceis, que a minha vida, não sendo diferente dos outros, tem tido de tudo.
Consciente de que amizade e bons amigos são o melhor que a vida nos pode dar, eu tenho tentado conservar estas boas amizades. Quando um amigo por qualquer motivo fica fora do meu radar eu não desisto enquanto não sei o que se passa, para se possível reatar o contacto e amizade.
Os meus amigos são para mim a minha segunda família. E esta engloba camaradas de escola e outros lugares de aprendizagem que frequentei; colegas de trabalho — e foram variados muitos e variados nos quatro cantos do mundo; e até muitos amigos que apareceram como por simples acaso.
Quanto ao serviço militar, especialmente a minha “experiência” na Guiné… foi um maná, pelo elevado número de grandes amizades que me proporcionou. Eles são também parte ( e uma parte muito querida) da "minha segunda família".
E é nesta vertente que eu quero partilhar com todos vocês mais uma etapa da jornada da minha vida.
Não os vou chatear outra vez a contar pormenores da minha história, a história da minha vida. Concordo e aceito que tem sido um pouco invulgar: e permito-me duas linhas para alguém para quem eu ainda seja um desconhecido: tive uma meninice e juventude difícil, como sucedeu a tantos de nós; tive a mesma experiência que vocês tiveram na Guiné; seguida por vivências na Inglaterra, França, Alemanha e Brasil antes de me radicar definitivamente nos Estados Unidos.
Isto tudo para partilhar com todos vocês—vocês todos que são a minha segunda família - uma notícia muito pessoal, mas excitante mesmo: vou casar no próximo domingo, dia 12 de outubro.
Eu explico:
Após o meu divórcio em 1997 (do meu primeiro casamento foi em Londres em 1971) eu jurei nunca mais me tornar a casar. Sucede que entre os indivíduos/amigos que eu tentava reencontrar, contava-se uma jovem que eu tinha conhecido em Londres. E durante muitos anos, sem qualquer outro motivo que não fosse o reatar uma amizade, como sucedeu com tantos outros (as) eu vim a descobrir que esta jovem se encontrava em Paris.
E, inesperadamente, quando nos reencontramos, foi "amor à segunda vista”. Convenci-a a vir comigo para Nova Iorque onde logo nos casamos. O facto de me ter levado 40 anos a encontrar esta minha amiga despertou a curiosidade do New York Times que relatou a nossa história, logo repetida por todo o mundo e tivemos os tais “15 minutos de fama” a que, dizem, toda a gente tem direito.
Mas casamos apenas pelo civil. É que em Londres, depois do meu primeiro casamento, também apenas pelo civil, eu fiquei numa posição aflitiva: eu queria dizer à minha família que eu tinha casado , mas se lhes dissesse que tinha casado só pelo civil ia causar uma tragédia; eu receava que a minha mão não aguentasse a tristeza que isso lhe causaria.
Agora, para casar outra vez, tinha de ser apenas pelo civil. E assim foi. Mas ao contar a minha história a um prelado amigo este logo concluiu que o meu primeiro casamento religioso não tinha validade. E aconselhou-me a tratar de arranjar a nulidade de casamento.
Sucede que há uns meses atrás a minha esposa recebeu um pedido invulgar: um sobrinho seu, de 64 anos, decidiu ingressar na igreja católica e pediu-lhe para ela ser a sua madrinha de baptismo. E lá fomos nós à Eslovénia.
E aqui está a minha (nossa) história, que com grande alegria partilho com todos vocês. Se alguém estiver por aqui perto, estão todos convidados…
Aqui está o convite:

Nova Iorque > Igreja Eslovena de São Ciro > Homenagem a dois grandes humanistas lusófonos > 7 de abril de 2024 > Arcebispo dom Gabriele Caccia e padre franciscano frei Krisolog durante a Missa. Serão, no próximo dia 12, os dois que vão celebrar o nosso casamento.
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Nova Iorque > Igreja Eslovena de São Ciro > Homenagem a dois grandes humanistas lusófonos > 7 de abril de 2024 > Vilma e João Crisóstomo, padre franciscano frei Krisolog, embaixadora Ana Paula Zacarias e dom Gabriele Caccia.
Fotos (e legendas): © João Crisóstomo (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
2. Comentário do editor LG:
João, não páras de me/nos surpreender... Fico feliz por ti, a Vilma e demais família e amigos. O casamento é sempre um bom barómetro...E o divórcio, outro. Doze anos depois pegas na corda, e, zad!, "dás o nó", "enforcas-te" de vez. (Não traduzas isto para a Vilma. É uma expressão muito nossa, muito idiomática, estúpida, da gíria dos machos.)
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Nota do editor LG:
Guiné 61/74 - P27288: Humor de caserna (214): O dono daquilo tudo, do Cuanza ao Cunene, o "colón", o retornado", o "coronel" e o "grão-tabanqueiro" António Rosinha
1. António Rosinha, o "nosso mais velho", "colon" em Angola (desde os anos 50, fugindo da miséria da sua aldeia nas Beiras); fez em Angola a tropa e não viu a guerra, em 1961/62; "retornado" em 1975, os seus caixotes vieram parar a Lisboa, Belém; emigrante no Brasil, cooperante na Guiné-Bissau (como topógrafo da TECNIL, em 1987/93), é um dos últimos "africanistas"; membro do nosso blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné; membro da Tabanca Grande desde 2006; tem um olhar irónico, bem humorado, sobre o passado colonial, o "Botas", e os estudantes do Império, que irão ser depois os donos das colónias do último império do mundo.
Pedi à assistente de IA / ChatGPT que nos fizesse uma ilustração para um comentário recente dele, sobre os "retornados" (*).
O Rosinha comentara uma foto conhecida, de 1975, de um fotojornalista estrangeiro, de uma agência internacional (que nunca cá mais pôs os pés, mas em 1975 Portugal ainda estava na moda...) com os "caixotes dos retornados", os. "cacos do império" junto ao "icónico monumento aos Descobrimentos", em Lisboa, Belém.
O tom do comentário do Rosinha é brincalhão, irónico, pícaro, que ele nada tem de provocador, panfletário, reacionário, saudosista, e muito menos de colonialista, racista, e outros epítetos que os "tugas" gostam de usar como "armas de arremesso" uns contra os outros, quando a seleção nacional de futebol perde contra uns "ba(r)damecos" do antigo bloco da Europa de Leste.
(...) " Lá estava o meu caixote junto ao monumento dos Descobrimentos. Lugar mais apropriado não havia, devem ter ido parar lá, só para a fotografia.
"Trouxemos nos caixotes tudo o que havia à mão, não deixámos nada para o MPLA e os outros.
"Nos caixotes dos retornados de Angola, trazíamos grandes riquezas, não deixamos lá quase nada, desde diamantes, ferro e manganês e petróleo.
"Não sobrou nada para os filhos e filhas de Savimbi, Holden Roberto, Neto, Eduardo dos Santos. Consta que é habitual ver descendentes dessa gente e de vários coronéis, de mão estendida à caridade, na Avenida da Liberdade em Lisboa, em Cascais, e consta que até em Barcelona e até em Dubai.
"Os retornados foram muito malandros, onde teriam ido buscar o seu ADN? Deve ter sido uma selecção especial e rara do génio de Salazar. Ainda bem que foram desmascarados, e não foram comidos pelos 'tubarões' porque, afinal, sabiam nadar". (*)
2. Minha querida assistente de IA (a IA é feminina e a assistente também): eu sei que tu queres que eu faça um "upgrade" da tua IA, a tua "menina dos olhos", a tua "coqueluche"... Mas, olha, agora não me dá jeito nenhum gastar mais "patacão" contigo... Podes vir a tornar-te uma amante cara e eu já não tenho vinte anos nem "graveto" para sustentar os teus caprichos... Por enquanto, a gente ainda se entende, apesar das rasteiras que me passas e das "galgas" que me enfias, quando te pões a delirar.
(...) Mando-te também uma foto do Rosinha , na tropa, a marchar, de óculos escuros e pistola-metralhadora, FBP, na marginal de Luanda. Para sorte dele nunca deu um tiro (nem levou).
Profissionalmente foi topógrafo. É um grande ser humano e é muito querido na nossa tertúlia bloguística. Já está na casa dos 80 e tal (faz as contas: em 1961 era furriel, agora já deve ser coronel, na situação de reforma).
Queríamos homenageá-lo. Por tudo, e também pela sua existência, persistência, resiliência, coerência, elegância no confronto de ideias e opiniões, sabedoria, inteligência emocional, mas também lealdade, dedicação, pachorra, etc,. que tem mostrado em relação ao nosso blogue, onde tem cerca de 160 referências e um sem número (centenas) de comentários (que só aparecem na montra traseira do blogue). (**)
Olha, eu que sou um dos editores do blogue com direito a "lápis azul" (leia-se: "moderador"), devo confessar-te que nunca cortei um comentário dele: o que é espantoso... É uma pessoa que "sabe-ser e sabe-estar". E isso é o que mais me encanta nos seres humanos (que eu distingo dos bichos-homens).
Agora aí vai o meu pedido: podes fazer-me um "cartoon" (cartum, em português europeu), uma tira de banda desenhada, enfim, um "boneco", engraçado, a partir das 3 fotos que te enviei, e do curriculum resumido do meu/nosso amigo e camarada de armas ?... A última foto dele é de 2007, tirada no nosso encontro nacional, em Pombal. Tenho poucas fotos dele (**).
3. O "boneco" que saiu, da cabeça do "Sabe-Tudo" e da caneta do "Faz-Tudo", espero que consiga surpreender o nosso Rosinha, o nosso "colon",o nosso "retornado" de estimação, o nosso "mais velho" (ou um dos "nossos mais velhos"), sempre ativo, proativo, interveniente, e que trouxe consigo o melhor de África, as pequenas histórias e as felizes memórias das suas gentes e paisagens, das cabindas aos sobas, sem esquecer os estudantes do Império e o "Botas" (que nunca lá os pés, no Império, nem apanhou o paludismo), tudo rapazes da geração dele, os estudantes, não o professor..,
Só faltam os cheiros de África, mas por enquanto ainda não conseguimos reproduzir os cheiros... ou exportar os cheiros usando a IA...
Espero que este miminho meu, da Tabanca Grande e da atrevida assistente de IA / ChatGTP te ajude, Rosinha, a alegrar o teu dia-a-dia. Sabemos afinal pouco sobre ti, o teu quotidiano, a tua saúde... Nem o teu número de telemóvel temos...
Tu és a discrição em pessoa: não és de chorar, fazer birras, cenas, greves, manifs, etc. Não és "carroceiro", demagogo, populista, mentiroso compulsivo, fabricador de notícias falsas, etc., coisas que hoje em dia até é chique ser ou parecer ser. Julgo que tu não vives longe de mim, no Oeste estremenho, lá para os lados de Vila Franca de Xira (?), junto de filhos, netos e bisnetos (que deves ter, para espalhar o teu ADN)...
Olha, saúde e longa vida para ti, que tu mereces tudo, incluindo tudo (ou quase tudo) o que tu "roubaste" aos angolanos, e que trouxeste para Lisboa, em 1975, em gigantescos contentores, mas também em caixotes e malas de cartão: diamantes, ferro, manganês, petróleo, café, pau preto, máscaras, missangas, marfim, obras de arte, mulatas, cabritas, cabindas, impalas, palancas, etc. (e até, dizem, o caminho de ferro de Benguela, desmontado)...
Ainda quiseste trazer o resto do pouco que sobrava, do Cuanza ao Cunene, mas já não tinhas caixotes em número suficiente. Nem navios da nossa gloriosa marinha mercante. Em 1975, tudo o vento levou...
E, depois, quando foste para a Guiné, então aí é que já não havia mesmo nada para "roubar"...Farto de caju e ostras de Quinhamel, decidiste regressar ao "Puto" em 1993. E eu acho que fizeste bem. Afinal, és e sempre serás um "retornado". Um bom filho à casa (re)torna. (***)
PS - Olha, não fui eu que te promovi a "coronel", foi a minha assistente de IA que tem uma imaginação levada da breca. Eu até tenho medo de lhe perguntar mais coisas sobre ti... Por hoje já chega, tenho que ir descansar...
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Notas do editor LG:
(*) 3 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27283: Agenda cultural (904): Continuação da minha visita em 21 de setembro à exposição “Venham mais cinco, o olhar estrangeiro sobre a revolução portuguesa, 1974-1975”. Para ver até 23 de Novembro de 2025, no Parque Tecnológico da Mutela, Almada (Mário Beja Santos)
domingo, 5 de outubro de 2025
Guiné 61/74 - P27287: Casos: a verdade sobre... (57): a emboscada de 1 de outubro de 1971, em Bangacia (Duas Fontes), Galomaro, Sector L5, ao tempo do BCAÇ 2912 (1970/72) (António Tavares / J. F. Santos Ribeiro / Vasco Joaquim / Paulo Santiago)
- 2 furriéis (um, o Gomes, o outro, de apelido é ilegível) (nenhum deles parece ser da CCAÇ 2700);
- 3 atiradores;
- 3 caçadores nativos (do Pel Caç Nat 53 ?)
- 3 milícias (do Pel Mil 288 / CMil 30)
- 3 sapadores
- 1 mecânico auto
- 2 condutores
- 1 (ilegível) (maqueiro, cabo aux enf ? ou alguém do Pel Op Info Rec ?)
- 1 transmissões
De facto, o capitão da CCS não ficou lá muito bem na fotografia, como se costuma dizer, mas no inquérito realizado chegaram à conclusão que a sua fuga foi "uma retirada estratégica" (coisas de malta do quadro)" (...) (sexta-feira, 5 de outubro de 2012 às 23:57:10 WEST) (Comentário ao poste P10480) (*)
Foto nº 2 > Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L5 > Galomaro > CCS/BCAÇ 2915 (1970/72) > O estado em ficou uma das duas viaturas, na sequência da emboscada sofrida, à noite pelas NT, em Bangacia (Duas Fontes). Tudo indica que os atacantes tiveram tempo para tudo: executar pelo menos um prisioneiro e um moribundo; levar 5 espingardas automáticas 3 G; roubar 2 relógios, revistar os bolsos dos mortos (donde recolheram mais de 300 pesos!), além de destruirem as 2 viaturas...
Fotos (e legendas): © António Tavares (2012). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Foto nº 3 > Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L5 > Galomaro > CCS/BCAÇ 2915 (1970/72) > Uma foto "dramática" da tabanca de Bangacia (ou Duas Fontes), em fim de tarde.
Foto nº 4 > Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L5 > Galomaro > CCS/BCAÇ 2915 (1970/72) > Vista da porta de armas e demais instalações do quartel de Galomaro, que foi construído de raiz pelo BENG 447. Na foto há um "x" a sinalizar uma das casernas do pessoal, talvez a de transmissões.
Manuscrito que nada tem a ver com uma obra escrita à mão mas um assassinato... escrito à mão!
Manuscrito que traduz uma das ordens dadas (1970/72) nas matas do leste do CTIG. Poderes incompetentes! Poderes que receberam e foram ensinados, na Academia Militar, para praticá-los bem.
Manuscrito que levou ao encontro da morte cinco jovens emboscados em Duas Fontes (Bangacia) na noite de 1 de outubro de 1971.
Manuscrito que no Hospital Militar 241 (Bissau) originou mais três mortes dos quatro feridos graves evacuados na manhã de 2 de outubro.
Manuscrito igual a outros anteriores em que só mudavam os nomes.
Manuscritos que levaram diariamente militares (só praças e furriéis...) em patrulhamentos auto, noturnos, às tabancas em A/D da CCS (e que no regresso traziam informações).
Recordo que certa noite numa das tabancas em A/D sentíamos e ouvíamos os rebentamentos e o Homem Grande da tabanca dizia-me:
− Vai embora… vai embora!...
Chegados ao quartel confirmámos que tinha havido um ataque na ZA de Nova Lamego.
Manuscrito escrito antes ou depois de ter havido informações de que havia indícios de que o IN andava na zona de acção das nossas tropas nesse dia 1 de outubro de 1971. Movimentação de indígenas (população e milícia) foram vistos dentro do quartel antes da partida da coluna auto.
Coluna auto pronta a partir (às 20h00) e retardada para integração do capitão. Elemento que foi o último a subir para um dos Unimog
O oficial, a chorar e desarmado, chega ao quartel com a justificação de que vinha pedir auxílio. Entretanto, no local, os guerrilheiros do PAIGC matavam, feriam e tentavam levar um prisioneiro. Prisioneiro que foi arrastado e, uns metros à frente morto, à queima-roupa, e encostado a um poilão. Sentado com as pernas e braços cruzados e uma bala na boca, a fazer de cigarro, assim o encontraram.
Tudo testemunhado e narrado por quem viu nas Duas Fontes (Bangacia) e confirmado no quartel pelos camaradas que trataram dos corpos.
Manuscrito que marcou tragicamente a família do BCaç 2912 e a história da Guerra Colonial.
Os corpos de:
- Alfredo Tomás LARANJINHA,
- José Peralta OLIVEIRA,
- Leonel José Conceição BARRETO,
- José Guedes MONTEIRO e
- Rogério António SOARES
depois de recolhidos em Duas Fontes/Bangacia e arranjados em Galomaro, seguiram (em coluna auto) para Bambadinca e acompanhados, por um camarada da CCS, até Bissau onde embarcaram no T/T “Carvalho de Araújo” até Lisboa. O mesmo T/T “Carvalho Araújo” que os havia transportado há dezassete meses e uns dias ao chão do Teatro de Operações da Guiné
Foram sepultados nas suas terras. Paz às suas almas!
António Tavares
Foz do Douro, 01 Outubro 2012
Nesse dia, além do grupo destacado por escala (dos sapadores, onde alinhava o "Vermelhinho", nosso camarada, de Matosinhos, que tinha essa alcunha pela cor da sua tez, devido às "bazucas", whisky e vinho que ingeria), foram também por castigo o Laranjinha e mais outro camarada (do qual não me lembra o nome).
timoteomemoria@gmail.com
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Vasco Joaquim |
(ii) Vasco Joaquim, ex-1º cabo escriturário, CCS/BCAÇ 2912 (Galomaro, 1970/72)
Sei que estes mortos que tivemos, CCS/BCAÇ 2912 e e CCaç 2700, poderiam ter sido evitados se tivéssemos tido
Entre as tropas da CCS houve mesmo, na época, recusa de avançar para o mato como antes se fazia.
O BCaç 2912 e companhias operacionais 2699. 2700 e 2701, junto com a CCS, sabem bem o que sofremos e o desprezo a que estávamos votados, numa zona de guerra onde o PAIGC tudo fazia para mostrar a sua supremacia. (...)
domingo, 14 de agosto de 2016 às 23:41:00 WEST
PS - Por esquecimento deixei de dizer que foi vivido por mim, na altura 1º cabo escriturário, Vasco de Jesus Joaquim, e que fui incumbido te transcrever as mensagens dos mortos na emboscada, afim de que a noticia fosse transmitida às famílias através do Serviço de Transmissões.
domingo, 14 de agosto de 2016 às 23:41:00 WEST
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Paulo Santiago |
(iii) Paulo Santiago (ex-alf mil, cmdt, Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72)
(...) Não foi emboscada a uma coluna, tratava-se de um patrulhamento... E agora reparem nas horas,20.30: fazer um patrulhamento noturno, montado em viaturas, deu em tragédia,
Não estive lá, mas estava uma secção do Pel Caç Nat 53, comandada pelo fur mil Martins, e o sold Iero Seide foi ferido
o 1º cabo Mamadú Sanhá foi ferido ligeiramente
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(*) Vd. poste de 4 de outubro de 2012 > Guiné 63/74 - P10480: In Memoriam (128): Laranjinha, Oliveira, Barreto, Monteiro e Soares, da CCS/BCAÇ 2912, vítimas de um manuscrito no dia 01Oit71 em Duas Fontes (António Tavares)
(...) Em 1970/72 estive em Galomaro, dentro e fora do arame farpado tendo viajado por Bafatá, Bambadinca, Nova Lamego, Saltinho e muitas tabancas.
Tive sorte de nunca ter dado um tiro apesar de ter estado sob fogo e tido muitos sustos!
Amiga G3, saíste da minha mão virgem e limpa conforme te recebi e com toda a certeza que me agradeceste o descanso que te dei durante 23 meses embora muitas vezes estivesses engatilhada para me ajudar!
Amiga G3, foi desumano o transporte para Bambadinca dos nossos amigos defuntos caídos na emboscada da noite de 01-10-1971... e no regresso trazer 6 urnas para reserva...
Amiga G3, vamos pertencer a uma Tabanca Grande, diferente das outras onde estiveste mas é bom recordar a História e Estórias dos ex-combatentes.(...)