1. Continuação da publicação de poemas do José Brás (*), enviados em 29 de Março último à nossa amiga Cristina Nery (**).
Dr.ª Cristina Nery: Há muito tempo longe do ambiente da memória da guerra, ultimamente buscando as gentes que cruzaram os mesmos lugares, juntos ou separados no tempo e no modo, gostaria de estar amanhã em Coimbra mas 'o rei manda marchar mas não manda chover'.
Envio-lhe aqui alguns textos a que não me atrevo a chamar 'poesia', porém sofridos na terra da Guiné.
Cumprimentos
José Brás
Na corte
a forma do br(aço)
Abraço
com aço
não rima
nem rima
a morte
com sorte
…porém
de aço
na corte
nos quiseram
então
a forma
e o braço
GUINÉ
CÉU
Mar longo inatingível
poço negro-rubro-azul
fornalha de mil fogos queimando encéfalos
estrada-libertação de impossíveis
cenário de um sol-tudo-quase-nada
que acende labaredas nas retinas
HOMEM
Esforço quase-sangue
tatear quase-saliva
corpo tosco e baqueante
latejar de veias-não-azuis
protesto que fica apodrecendo
no cardume de revoltas não-gritadas
O homem
olhas as mata
e dizes
- Por aqui passou o homem
por aqui correu o sonho
e o sangue...
olhas a mata
e dizes
- O cibo
a palmeira
a bolanha
as pegadas do homem
olhas a mata
...e vês o homem
muitas são
as marés
que te roubam
a rota do lugar
que te recebeu
ao nasceres
…e
largos
os caminhos do mar
que te azulam
a parda memória
dos dias
sem regresso
Guardador do tempo
Mais que estar
sou
neste lugar
o aprendiz do modo
o guardador do tempo
e da mata
a palavra gravada
na pedra
da memória
... homem
[Revisão / fixação de texto / Bold: L.G.]
__________
Notas de L.G.:
(*) José Brás, ex-Fur Mil da CCAÇ 1622, Aldeia Formosa e Mejo, 1966/68, autor do romance Vindimas no Capim, Prémio de Revelação de Ficção de 1986, da Associação Portuguesa de Escritores e do Instituto Português do Livro e da Leitura)... Alentejano, vive em Montemor-O-Novo, foi chefe de cabine na TAP, dirigente sindical antes do 25 de Abril (SNPVAC - Sindicato Nacional do Pessoal de Voo da Aviação Civil).
(**) Cristina Nery, filha e neta de camaradas nossos, investigadora no CES/UC - Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, tem-se interessado pelo estudo e divulgação da poesia da guerra colonial:
Vd. poste de 29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4093: Agenda Cultural (5): Poetas da guerra colonial em conferência internacional, Coimbra, CES/UC, 30/3/2009 (Cristina Néry)
(***) Vd. poste de 30 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4107: Blogpoesia (35): Tinhas no olhar / sinais seguros de esperança... (José Brás)
Último poste desta série:
10 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4663: Blogpoesia (53): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (VIII Parte): Da Monarquia Constitucional à República
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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