sábado, 11 de dezembro de 2010

Guiné 63/74 - P7420: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (33): Tradutora pede ajuda ao nosso blogue para as expressões zone-call e clock-code, usadas em especial pela artilharia (José Martins)

1. Mensagem de José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 23 de Novembro de 2010, para a qual pedimos a atenção dos camaradas:

Caros Camaradas e Amigos

A prova de que não somos só nós, os antigos combatentes, a visitar o nosso blogue, são os vários pedidos que recebo, sobre os mais variados assuntos.

A satisfação que sinto ao receber esses pedidos,  não é porque se me dirigem, mas porque reconhecem nos combatentes uma fonte de informação que é útil a outros que não passaram pela nossa experiência.

O caso presente é/foi iniciado com um mail que me foi dirigido, por uma senhora, tradutora de profissão, que me colocou umas questões técnicas, mas a que não sei responder, de que transcrevo:

“Antes de mais nada, o meu pedido de desculpas por 'invadir' assim a sua caixa de correio. Mas preciso de ajuda de alguém que perceba de transmissões militares e encontrei-o na Net.

“Passo a explicar: sou tradutora e estou a traduzir um romance que se passa em França, durante a Primeira Guerra. O herói é um observador e utiliza dois códigos na transmissão das observações.”

Pensando que esta nossa leitora pretendia conhecer alguns procedimentos de transmissões, falei-lhe como se processavam as mensagens quer entre “unidades em quadrícula” e entre estas e as forças em operação e como eram processadas as mesmas, utilizando não só a criptografia convencional, mas também aquela que “emanava” das nossas mentes, permitindo conversações cifradas utilizando, muitas vezes “linguagem clara e coerente”.

Mas não era estas explicações que se pretendiam:

“ E eu não faço a mínima ideia de como é que isto se diz em português. Será que pode ajudar-me? Estamos a falar de sinais 'zone-call' e 'clock-code'. Este último tem uma tabela (chart) que ele consulta para emitir as referências. Isto diz-lhe alguma coisa?

A designação zone-call, pela pesquisa que fiz na Net, pareceu-me tratar-se de coordenadas já que, iniciada em 1916, durante a I Grande Guerra, menciona a divisão de um mapa em áreas e, estas, em sub-áreas. Quanto à designação clock-code e recorrendo à mesma fonte, é um método de cálculo mental de divisão de um ângulo entre zero e sessenta graus, apresentando uma tabela, no texto consultado.

É assim, desta forma, que dirijo ao todos os camaradas, especialmente aos artilheiros, tertulianos ou não, um pedido de ajuda, já que se trata de “observação de tiro de artilharia” dado que, na altura em que decorre a história que o livro conta, pois trata-se de uma história passada na I Grande Guerra, ainda não havia aviões de combate.

Resumindo: a questão que nos é colocada é saber qual a tradução das expressões zone-call e clock-code, para português.

Agradeço antecipadamente A TODOS, A COLABORAÇÃO POSSÍVEL.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 25 de Novembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7331: Em busca de... (149): Pedido de informação sobre a naturalidade de Vitorino António Marques (José Sampaio/José Martins)

Vd. último poste da série de 4 de Dezembro de 2010 > Guiné 63/74 - P7378: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (32): Estava no Cantanhez, no dia 1, e fiquei emocionado com o vosso poste de parabéns que só agora, em Bissau, posso agradecer (Pepito)

8 comentários:

José Marcelino Martins disse...

Ontem mesmo e, face à ausência de expectativas a curto prazo de obter a resposta, enviei o seguinte mail:

"Boa tarde Maria João

O seu assunto não ficou esquecido e, embora não tendo notícias sobre o que solicitou, estou a dar-lhe conhecimento do que foi possivel fazer.

Cantactados os meus camaradas da Força Aérea, que fizeram a Guerra dio Ultramar, não lhe é familiar a terminologia indicada. Esta informação foi prestada pessoalmente, num encontro que tivemos na Academis Militar, aquando do lançamento do livro A ULTIMA MISSÃO, sobre os paraquedistas resgatados na Guiné, há pouco tempo.

Dos camaradas "Artilheiros" não consegui obter qualquer esclarecimento. Ou porque estão ausentes do país ou por não meterm respondido aos mails enviados. Quando falo em "Artilheiros" refiro-me a militares com a especialidade de observadores e/ou historiadores militares, uma vez que existem muitos artilheiros, mas tiveram formação e actuaram como tropa de infantaria.

A minha visita à Academia Militar gorou a minha expectativa, porque a maioria eram militares "paras" e dos oficiais que estavam presentes, não eram de artilharia e um Major de Transmissões, revelou-me que as expressões nada lhe diziam.

No entanto, vou continuar à espera de poder "esclarecer este mistério", mesmo para matar a própria curiosidade.

Nas conversas havidas, nomeadamente com os pilotos aviadores, fomos todos do parecer que não existe nada que possa obstar a utilização dos termos em inglês, pois se algué ao ler o livro quizer saber de que se trata, a wikipédia explica bem os termos. Fica apenas a pecar por não ter os "precisos" termos em português.

Espero, assim possa, obter os dados e enviar-lhos-ei de imediato.

Continuação de bom trabalho, ficando à disposição para o que puder e souber ajudar.

Aproveito para lhe endereçar votos de Boas Festas e que o próximo ano seja melhor do que aquele que agora termina.

José Martins"

Torcato Mendonca disse...

José Martins

Parece ser Artilharia antiga. Só um profissional e estudioso. Quem melhor, aqui no blogue que o nosso Coronel Rubim?

O Luís Graça tem o contacto dele.

AB do T.

Anónimo disse...

Camarigo José Martins

De facto o camarigo Torcato deu uma boa sugestão, já que o Coronel Rubim é Artilheiro e historiador.

Da minha experiência como Artilheiro de Anti-Aérea, apenas poderei dizer que para o fogo contra as Aeronaves de antigamente, as ordens para os manuseadores das peças eram "avião ás...horas". Quer dizer. O aparelho de pontaria, era um circulo dividido, como se fora o mostrador dum relógio, daí aquela ordem. Mas isto era para as peças de 4cm e metrelhadoras quádruplas de tiro directo ao avião.

Para a Art. Campanha era diferente e sempre referida a uma zona da carta militar, com coordenadas.

É o que me resta dos conhecimentos adquiridos em 1959/60.

Abraço
Jorge Picado

Anónimo disse...

Os dois termos são doutrina britânica, da 1ª GG, sobre a observação aérea da artilharia de campanha (AC).

“Zone call": era uma área quadrangular com fogos de AC para executar "a pedido" de observadores aéreos (OA) da artilharia.
Sugiro a tradução por fogos planeados (feita a ressalva que são executados a pedido de OA).

Clock-code: técnica de localização de objectivos e/ou rebentamentos da AC, usada pelos OA.

Detalhe breve:

Grosso modo, nos primeiros 2 anos da 1ªGG não havia cartas militares com coordenadas.
Para planear/executar fogos de AC as cartas eram quadriculadas (3000 por 3000 jardas). Estas zonas codificadas, eram atribuídas a unidades de AC que planeavam fogos "on call" dos OA, sobre objectivos conhecidos ou pontos importantes do terreno.

Para usar o relógio o observador aéreo considerava-o centrado no objectivo, com a linha 12-6 alinhada pela direcção Norte-Sul.
O(s) rebentamento(s) ( ou a localização de um novo objectivo a partir de um já planeado) era indicado por coordenadas polares (C3 , por exemplo indicava à unidade de AC que os rebentamentos estavam 200 jardas para Leste do objectivo).
É um método que ainda hoje é de emprego generalizado pelas tropas terrestres (linha 6-12 alinhada na direcção observador-ponto de referência e relógio centrado neste) bem como pelos pilotos.

Cumprimentos
Morais Silva
Cor Artª

Anónimo disse...

Camarigo Zé Martins, apenas para comungar contigo o contentamento que sentiste quando alguém nos procura como ponto de referência e fonte de saber, como é a nossa Tabanca Grande.
Para ti um abraço amigo.

Para o sr. Cor Artª Morais Silva o obrigado pela resposta detalhada que servirá a quem nos procurou e acrescentará mais uns pontos ao nosso Blog.

Vasco A. R. da Gama

José Marcelino Martins disse...

Quero PUBLICAMENTE agradecer a todos os camarigos as dicas que postarem em comentário.

Quero realçar a pronta resposta do nosso camarada de armas Morais Silva, que não conheçopessoalmente, mas que me habituei a "conhecer" atravez de escritos e comentários.

Muito obrigado e abraço camarigo

Luís Graça disse...

Zé Martins e demais camaradas, amigos e camarigos: Estou orgulhoso por esta partilha de saberes... De facto, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. (Não é auto-elogia, é apenas... marketing bloguístico!).

Num país de cassandras, profetas da desgraça e velhos do Restelo, sabe bem de vez em quando saber que há gente que sabe coisas giras, mesmo que esse conhecimento não seja contabilizado pelos eurocratas de Bruxelas no cálculo do PIB do nosso descontentamento...

Felizmente que há mundo para além da economia e das finanças...

Luís Graça disse...

Ah! Grande Jessica!... E que bonitas lágrimas...