quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13881: In Memoriam (206) Nuno da Costa Tavares Machado, alf mil art, CART 1613, morto em Guileje, em 28/12/1967, e condecoado com a cruz de guerra, de 3ª classe, a título póstumo


O aspirante  miliciano Tavares Machado


O retrato emoldurado do alf mil Tavares Machado com a cruz de guerra  de 3ª  classe com que foi agraciado a título póstumo (Publicaremos em breve o teor dos louvores que originarama  condecoração, de acordo com, a documentação pesquisada pelo nosso colaborador eprm,anete José Martins)


Fotos: © Aníbal Teixeira  (2014). Todos os direitos reservados



1. Mensagem de Aníbal Teixeira, na sequência da publicação do poste P13826 (*)


Data: 12 de Novembro de 2014 às 01:43
Assunto: Re: Guiné- Alferes Tavares Machado



Caro Amigo Luís Graça, bom dia.

Lamento só hoje responder, mas tentamos na casa da minha sogra, aonde habita no Porto, encontrar o álbum de fotografias do Nuno que na ocasião foi entregue á família. Não encontramos, mas temos esperança que havemos de o encontrar para partilhar com o Amigo e camaradas as fotos encontradas.

Entretanto, anexo a foto do Nuno como Aspirante que a sua irmã, minha mulher,  tem no seu escritório e a foto existente na casa da mãe do Nuno no Porto, com a medalha que lhe foi atribuída.

Acredito que em breve lhes darei mais noticias e imagens com o fim de enriquecer memórias quantas vezes incompreendidas pelas novas gerações.

Um forte abraço Amigo .

Anibal e Teresa Teixeira



2. Em 31 de outubro p.p., o nosso editor  Luís Graça escreveu o seguinte a Aníbal Teixeira, cunhado do nosso malogrado camarada:

Caro amigo Aníbal: em resposta às suas perguntas, pertinentes, lúcidas, frontais, sem panos quentes, sobre as circunstâncias da morte do Nuno. nosso camarada,  já deve ter recebido uma mensagem do meu camarada José Martins (*). Infelizmente, não temos meios humanos, logísticos e financeiros para lhe poder facultar mais informação para além daquela que existe no "silêncio" dos arquivos e das publicações...

Esperamos sempre, ao publicar estes materiais no blogue, para além do dever de memória e de partilha, que haja camaradas das subunidades envolvidas na Op Relance (CART 1613, CART 1659, CCAÇ 1622, Pel Caç Nat 51...) com dados ou factos novos. (**)

Infelizmente não temos uma única foto individualizada do Nuno. Podemos partilhar consigo o álbum, a cores, do José Neto, que exerceu funções de 1º sargento da companhia. Há alguns fotos de grupo onde o Nuno pode eventualmente aparecer. Mas não temos legendas detalhadas e o Neto já morreu em 2007.

Em contrapartida, ficar-lhe-íamos gratos, a si e à sua esposa, se nos quiserem mandar algumas fotos do Nuno, do tempo da tropa e da guerra... Será uma forma, digna. de todos lhe prestarmos homenagem e honrarmos a sua memória. (***)

O meu apreço pelo gesto. Um grande abraço. Um beijo fraterno para a sua esposa, um beijo filial para a senhora sua sogra e mãe do Nuno. Luís Graça.

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 Notas do editor: 


Guiné 63/74 - P13880: Parabéns a você (814): José Manuel Lopes, ex-Fur Mil Art da CART 6250 (Guiné, 1972/74)

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Nota do editor

Último poste da série de 10 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13868: Parabéns a você (813): António Garcia de Matos, ex-Alf Mil Inf MA da CCAÇ 2790 (Guiné, 1970/72) e Jorga Araújo, ex-Fur Mil Op Esp da CART 3494 (Guiné, 1972/74)

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13879: Carta aberta a... (11): Jornalista Sousa Tavares, a propósito do seu artigo no jornal Expresso do dia 8 de Novembro passado (Manuel Luís Lomba)

1. Em mensagem do dia 10 de Novembro de 2014, o nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), enviou-nos esta "carta aberta" ao jornalista Miguel Sousa Tavares, a propósito de um artigo de sua autoria publicado no jornal Expresso de sábado passado:


Recado para Miguel Sousa Tavares (MST), referido ao seu tema “Os Nossos Heróis (…), in Expresso de 8 do corrente

Não obstante enaltecido como autor desalinhado com o politicamente correcto, na introdução desse texto MST diz: “… há mais de cem anos (talvez desde Mouzinho, em Chaimite), que (Portugal) não regista um feito militar digno desse nome: ou seja, não temos heróis militares.”
Negação deplorável.

MST não será imune aos complexos do politicamente correcto e da renúncia aos valores pátrios, de que as centenas de milhares de soldados portugueses combatentes no Ultramar, da dezena de milhar que deu a vida e da centena de milhar que foi ferida em combate, ou foram instrumentos da opressão colonialista ou uns coitadinhos envergando uma farda, desprovidos de testosterona e de coragem, que se deixaram derrotar pelos audazes, valentes e gloriosos guerrilheiros da libertação?

Se MST tivesse dado a alma e o corpo ao manifesto nessa (mal concebida e mal terminada) epopeia nacional da guerra do Ultramar, teria coexistido com heróis de carne e osso e teria podido escrever “nas nossas últimas guerras, terminadas há 40 anos, registaram-se heróis militares e, por uma originalidade à portuguesa, não houve registo de traidores!”

Venho evocar a MST um dos nossos heróis militares, recentemente falecido: o Comandante Alpoim Calvão, que há 44 anos supervisionou o planeamento e comandou toda a manobra da “Operação Mar Verde”, - ele e a sua gesta, dignos dos portugueses de outras eras.

Em 1970, a frota de guerra de guerra da União Soviética viera instalar-se no Atlântico sul, em Conakry, para potenciar esse centro nevrálgico da guerra na Guiné Portuguesa, onde os arsenais de armamento proliferavam e onde fervilhavam os especialistas militares russos, checos, cubanos, argelinos, etc, em preparação para se lançarem com o PAIGC contra os soldados portugueses, em desempenho da missão de soberania do seu país. De entre essa panóplia de meios de guerra, ressaltavam as vedetas rápidas P6, fornecidas pela URSS, dotadas de mísseis marítimos, elas com velocidade e estes com capacidade para afundar em alto mar os nossos navios mercantis e de transporte de tropas e os aviões MIG, que superavam de longe as capacidades operativas dos nossos FIAT G91.

Foi então que, por patriotismo, o fuzileiro naval Alpoim Calvão, se lançou na iniciativa de esconjurar o mal pela raiz, perseverou em conseguir o tíbio apoio hierárquico e tomou a peito a realização dessa missão.

Nessa madrugada de 21 de Novembro, poucos mais de 300 combatentes portugueses sob o seu vigoroso comando, transportados e apenas apoiados pelos pequenos navios que eram as Lanchas de Fiscalização, foram destemidamente desembarcar nas praias de Conakry, decididos a atingir os 30 objectivos da tão ousada missão, ao coração do território inimigo. Alcançaram 26 deles, de entre os quais: afundamento de todas essas perigosíssimas vedetas, desmantelamento dos campos militares, da milícia do despótico regime guineano e do campo de concentração de Boiro, a libertar cerca de 500 dos seus presos políticos, e libertaram 26 militares portugueses em cativeiro. Dos 4 objectivos falhados, dois eram fulcrais: a destruição dos MIG, na véspera transferidos 200 km para o interior e a captura de Amílcar Cabral, por ausência na Roménia.

Se a escalada da internacionalização da guerra na Guiné foi acelerada com a “Operação Mar Verde”, o seu relativo falhanço dever-se-á não aos corajosos que a ousaram e executaram, mas às indigentes informações, colhidas pela DGS/ PIDE e ao facto do Alto Comando português não estar à altura dos seus soldados, ao negligenciar o seu apoio aéreo. Desde 1969 que o Estado-Maior da FA alertava da iminência do outro lado da fronteira alcançar a supremacia aérea, que apenas será encarada em princípios de 1974, no contexto da crise dos 3G´s, decidindo-se pela compra dos Mirage.

A sabedoria popular ensina que o futuro a Deus pertence. E o futuro pós-Operação Mar Verde poderá dizer-nos que se Amílcar Cabral tivesse sido trazido para Bissau, não só teria escapado ao seu assassinato físico e político, como poderia vir a pilotar uma descolonização portuguesa, extensiva a todo o Ultramar, em vez do seu trágico abandono militar - a descolonização pilotada pela União Soviética e seus associados, com a qual o MFA (Movimento das Forças Armada) condescenderá pelo eufemismo de “Descolonização exemplar”.

O Nelson Mandela que saiu da prisão de Rod Island era - e foi - genialmente muito diferente do Nelson Mandela que se iniciara na luta anti-apartheid, com derramamento de sangue.

E Amílcar Cabral, pelo sangue e formação portuguesa, demonstrara estofo idêntico, e sem desonra os nossos antepassados comuns!

Nesse comentário sobre as misérias da nossa grandeza, MST chama à colação o facto de, depois do PR Mário Soares haver condecorado 2 509 pessoas, Jorge Sampaio, PR sucessor, “ainda conseguiu descobrir mais 2 378 personalidades de excelência”, para condecorar. E nós acrescentamos que, entre essas condecorações, figura a de Palma Inácio, que se havia distinguido como pirata do ar e pelo assalto do Banco de Portugal na Figueira da Foz, onde palmou 29 000 contos - uma fortuna, ontem e hoje…

Toda a gente sabe que o dinheiro dos cofres do Banco de Portugal não pertence nem a capitalistas nem a fascistas. É nacional – é de todos! Menos o cidadão Jorge Sampaio, enquanto Supremo Magistrado da Nação…
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de Maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13109: Carta aberta a... (10): Minha neta Raquel que fez 15 anos... (Dedico também esta carta aos ex-combatentes, avós babosos e babados) (O avô Mário)

Guiné 63/74 - P13878: Agenda cultural (353): Vila Nova de Famalicão > Câmara Municipal > Museu Bernardino Machado > 5 de dezembro de 2014 > 21h30 > Ciclo de Conferências 2014 > Ideias e Práticas do Colonialismo Português: dos fins do séc XIX a 1974 > As Ideias Colonialistas de Marcello Caetano: conferência pelo prof doutor Luís Reis Torgal (UC). Entrada gratuita




Vila Nova de Famalicão > Câmara Municipal > Museu Bernardino Machado > 5 de dezembro de 2014 > 21h30 > Ideias e Práticas do Colonialismo Português: dos fins do séc XIX a 1974 > As Ideias Colonialistas de Marcello Caetano:  conferência pelo prof doutor Luís Reis Torgal [, prof cat aposentado, Universidade de Cloimbra]. Entrada gratuita

Pedido de divulgação por parte do Museu Bernardino Machado.

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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13872: Agenda cultural (352): Sessão de lançamento do livro "Nunca Esquecerei..." , de Ricardo Durão (n. 1928): apresentação por Marcelo Rebelo de Sousa, 6ª feira, dia 14, 17h00, Instituto de Apoio Social das Forças Armadas, Oeiras (Manuel Bernardo, cor inf ref)

Guiné 63/74 - P13877: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (10): (i) O poeta, cidadão do mundo; (ii) Caminha; e (iii) A minha mãe (Tavares Moreira, n. 1938, Bubaque)





Elemento gráfico da capa do documento policopiado do Caderno de Poesias "Poilão", Edição limitada a cerca de 700 exemplares, policopiados, distribuídos em fevereiro de 1974, em Bissau. A obra é editada em dezembro de 1973, por iniciativa do Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino (O GDC dos Empregados do BNU, grupo esse cuja história remonta à I República: foi criado em 1924, (*)



1. Considerada a primeira antologia da poesia guineense, esta edição deve muito à carolice, ao entusiasmo, à dedicação e à sensibilidade sococultural de dois homens: 

(i) o Aguinaldo de Almeida, caboverdiano funcionário do BNU, infelizmente já falecido; 

 e (ii) o nosso camarada Albano Mendes de Matos (hoje ten cor art ref; tenente art, GA 7 e QG/CTIG, Bissau, 1972/74; foi o "último soldado do império"; é natural de Castelo Branco, vive no Fundão; é poeta, romancista e antropólogo]. [, foto à esquerda, em Bissau, em finais de 1973, trabalhando nesta edição; era então ten art].

Com o 25 de abril de 1974, esta coleção não teve continuidade: estava prevista publicação de um 2º caderno («Batuque», com poemas do Albano de Matos; será editado mais tarde, em Oeiras, 1987, com o título "Batuque - Poemas Africanos", ) e de um 3º, dedicado ao Pascoal D'Artagnan.

Temos uma cópia, em pdf, do Caderno de Poesias "Poilão", que o Albano Matos nos facultou mandou,. Temos também a autorização, como coeditor literrário,  para reproduzir aqui, para conhecimento de um público lusófono mais vasto, este livrinho de poesia que está fora do mercado livreiro.
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2. Do poeta, hoje divulgado,  Tavares Moreira, só sabemos que é natural dos Bijagós e que, em 1973, era  locutor da Emissora Nacional em Bissau.

Sabemos que foi o Aguinaldo de Almeida (, funcionário do BNU,) quem contactou e selecionou os poetas "civis",  tendo cabido ao Albano de Matos a tarefa de incluir os poetas "militares".

Os três poemas de Tavares Moreira vêm nas  pp. 18/20 desta antologia.  Um deles teve uma menção honrosa nos jogos florais da UDIB, 1972.

Presumo que seja a mesma pessoa, com página no Facebook, de seu nome completo Joaquim Fernandes Tavares Moreira que se apresenta nestes termos:

(i) natural de Bubaque, Bijagós;

(ii) andou na escola Liceu Gil Eanes/Liceu Honório Barreto, turma de 1958;

(iii) rabalhou como locutor na empresa RDP (anterior: Radiodifusão Portuguesa e RTP);

(iv) vive em Lisboa,

"Nasceu a 10 de Junho de 1938. Naturalidade — Bubaque. Arquipélago dos Bijagós a que Camões chamou Arquipélago das Dórcades. Bubaque é a sede administrativa do Arquipélago. Vigora o regime de matriarcado que teve o seu expoente máximo em a Raínha Okinka Pampa."

A Tabanca Grande já lhe pediu amizade... (LG).






Guiné 63/74 - P13876: Convívios (641): Próximo Encontro da Magnífica Tabanca da Linha, dia 20 de Novembro de 2014, no sítio do costume (José Manuel Matos Dinis)



1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), com data de 6 de Novembro de 2014:
Olá Carlos!
Volto ao teu encontro para nova solicitação de divulgação do próximo encontro dos membros da Magnífica Tabanca da Linha.

Para o efeito, hoje fui convocado pelo Senhor Comandante Rosales, com o objectivo de nos deslocarmos ao já famoso Restaurante de Oitavos.
O céu apresentava-se cinzento, mas claro, e com boa visibilidade. A temperatura cá na terra baixou um bocado para valores entre os 9 e os 19 graus, que é ainda bastante agradável.

O evento ocorrerá no dia 20 de Novenbro corrente, pelas 12H30, ensejo para começarmos à conversa e fazermos a selecção de parceiros na mesa. 

Não há lugares marcados, excepto para S. Exa. que gosta de ficar perto da cozinha. Pelo caminho S. Exa. foi dizendo que ainda preserva dois garrafões de vinho puro da sua produção, e que os guarda para uma próxima deslocação aos confins ribatejanos. Vou ter que lhe propor a ocasião e a ementa, porque S. Exa. não gosta de improvisos quando desnecessários.

No restaurante vai repetir-se a pinga: nos brancos, avança uma produção de Palmela; nos tintos, pegou de estaca o douriense Esteva. E o pessoal parece satisfeito. Aliás, nesta Magnífica Tabanca para que alguém promova uma reclamação é o cabo dos trabalhos: em primeiro lugar, porque S. Exa. também é muito tradicionalista, qualquer reclamação terá que ser apresentada em pelo menos meia folha de papel selado (dependendo da extensão expositória), e esse papel só se encontra na posse de poucos coleccionadoes; em segundo lugar, porque nesta Magnífica Tabanca a nenhum membro é permitida a permanência em regime de contrariedade; por último, dada a tradicional preguiça dos nossos membros para raciocinar e escrever, não está disponível qualquer minuta sobre esse assunto.
Last, but not the least, S. Exa. anda com a vista cansada e não perde tempo com minudências. Ele quer, é alegria em redor.

Como vês, Carlos, aqui serve-se boa pinga, mas controlam-se os efeitos etílicos susceptíveis de levantar celeumas. Foi S. Exa. quem democraticamente o determinou, mai nada!

Continuando a apresentação do próximo almoço, e depois de vasculharmos a extensa lista, desta vez vamos experimentar repetir a ementa tradicional, que se traduz em arroz de marisco. Esperamos que continue a revelar qualidades sápidas, boa quantidade e diversidade no ajuntamento da bicheza, mais a generosidade suficiente para repetir a dose e confortar os estômagos. Um comerzinho desta categoria e significado não dispensa uma sobremesa para assentar, pelo que foi pedida menos variedade, mas mais qualidade.
A ver vamos!

Como é sobejamente sabido, o Sr Nabeiro não cumpriu o serviço militar na Guiné, nem sabemos, nem importa saber, se ele o cumpriu. O que tem que cumprir. é com a qualidade do café, aromático e apaladado para os bons apreciadores que por cá andam. Para remate final, S. Exa. o Senhor Comandante lembra a todos os Magníficos que, em querendo, devem fazer-se acompanhar de carteira com liquidez para esportular a quantia necessária ao pagamento dos digestivos que, infelizmente, ainda não são ao preço da refeição.

Como de costume, a serventia de vistas fica ao módico preço de 15 euros. Dado que o encontro seguinte só se verificará em Janeiro, convido o maior número de fãns, e os fãns dos fãns da Magnífica, que poderão trazer-me as tradicionais prendas de Natal, e, nesse caso, lembro que devem diversificar os artigos, pois esferográficas já nem as uso. Também já tenho um "portátel", que o Senhor Comandante desconfiou que eu fazia deslocar o aparelho antigo, mais a torre e, se calhar, a impressora.

Para o Carlos e para a restante Camaradagem, envio abraços fraternos
JD
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Nota do editor

Último poste da série de 3 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13843: Convívios (640): No almoço da Tertúlia da Tabanca de Matosinhos da próxima quarta-feira, dia 5 de Novembro, será exibido o filme/documentário "Pabia di aos", de Catarina Laranjeiro, feito recentemente na Guiné-Bissau (José Teixeira)

Guiné 63/74 - P13875: Tabanca Grande (451): António Manuel Murta Cavaleiro, ex-Alf Mil Inf MA do BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)

1. Mensagem do nosso camarada e novo amigo grã-tabanqueiro António Manuel Murta Cavaleiro, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), com data de 2 de Novembro de 2014:

António Manuel Murta Cavaleiro, abaixo devidamente identificado, vem mui respeitosamente junto dos Grã-Tabanqueiros abaixo designados, formalizar o seu PEDIDO DE ADESÃO À TABANCA GRANDE

Camarada Luís Graça, Carlos Vinhal, demais editores, colaboradores permanentes, Tabanqueiros em geral: «Conheço-vos a todos! É como se tivesse vindo convosco no barco. Também eu sou um soldado como vocês!». (Dou um docinho a quem souber a autoria desta frase!).

Pois..., conheço-vos a todos de há uns anos a esta parte. Diariamente, procuro novas das vossas pessoas e das vossas histórias, dos vossos alegres convívios e, também, dos vossos infortúnios. Dei-me conta de que fico animado com as vossas alegrias mas, de igual modo, fico angustiado com os dramas que vos tocam ou aos vossos familiares mais queridos.

Porque “também sou um soldado como vocês”, ou seja, fazemos parte de um grupo com interesses e problemas comuns e algo nos irmana como um todo, pese embora todo o resto que nos possa diferenciar. Fazemos parte de uma geração que foi sujeita a uma colossal violência física e psicológica, para a qual não estávamos (todos) preparados, e que deixou marcas para sempre nas nossas vidas. Mais grave: ceifou milhares delas quando, ainda, começavam a desbrochar. Tudo isto é sabido, foi já dito e redito. Até já aconteceu a gerações anteriores. Mas agora trata-se da nossa geração, sofredora mas muito mais esclarecida e, também, com recursos (como os deste Blog), inimagináveis há uma dezena de anos, capazes de dar um contributo decisivo (histórico, informativo, formativo de consciências, etc.), para que a nossa sorte não se venha a repetir nas novas gerações.

Por tudo isto, achei que não podia continuar a furtar-me à vossa convivência. E não é justo que vos conheça a todos, tire partido da vossa experiência, sem me dar a conhecer e sem dar o meu contributo.

Era, pois, uma honra sentar-me convosco à sombra deste poilão magistral. Para tanto, já fiz seguir fotografia actual, (depois arranjarei outra), e uma do tempo da Guiné. Embora não pretendendo ser uma excepção quanto ao cumprimento dos requisitos para o ingresso, peço-vos, contudo, que aceitem que vos envie posteriormente uma história, reservando agora algum espaço para a minha apresentação e, a seguir, tecer algumas considerações.

Apresentação: António Manuel Murta Cavaleiro Ex-Alf. Mil. Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ do BCAÇ 4513. Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973-74

Sou natural de Lemede – Cantanhede, onde ainda me ligam laços familiares, alguma nostalgia e pouco mais.

Vivi quase toda a minha infância em várias localidades do Norte e, já na adolescência, rumei ao Concelho e à cidade da Figueira da Foz, sempre colado à errância nómada da família: o meu pai era ferroviário.

Radicado aqui, na Praia da Claridade, iniciei os estudos secundários e, após estes, já na preparação académica para outros voos, vi a carreira interrompida para assentar praça, como os demais mancebos da minha idade.

Abrevio o que se seguiu porque a minha história aconteceu a toda a gente, com mais ou menos variantes.


Apresentei-me no RI 5 das Caldas da Rainha no dia 25 de Abril de 1972, (seria outro 25 de Abril a abreviar-me a tropa...), para frequentar o CSM.

Fui depois seleccionado para seguir para o COM, em Mafra, passei por Tancos para tirar o Curso de Minas e Armadilhas, dei uma formação de recrutas em Tomar e formámos aí o Batalhão de Caçadores que viria depois a ser destinado à Guiné.

Passei por Bolama para fazer o IAO da praxe e, finalmente, segui para Nhala para aí me fixar.
Julgava eu, pois, para meu desespero, os rumos foram vários.

Feita a apresentação, gostava de fazer algumas considerações.

Em conversa telefónica com o camarada Luís Graça, faz tempo, mostrei alguma relutância em vir a fazer parte da Tabanca Grande e expliquei porquê. Tinha assistido no Blog a algumas intervenções que me desagradaram, em questões que eu conhecia muito bem. Também me desagradavam algumas polémicas fúteis mas que, apesar disso, exaltavam os ânimos. Sei que muitos, devido a isso, preferem afastarem-se do Blog. Eu tenho resistido a entrar porque, realmente, já não estamos em idade de ter muita pachorra. Só por descuido, eu próprio, criarei uma polémica mas, se acontecer, em princípio, não a alimentarei.

Mas, reconheço que, aquando dessa conversa com o Luís Graça e até muito depois dela, tomei o particular pelo geral, o que, convenhamos, está longe de ser a realidade do Blog. Diria até que, num grande leque de temas trazidos à colação pelos diversos camaradas, os subscreveria sem hesitações. Outros temas há, mais raros, em que, não subscrevendo, passo normalmente por cima sem grandes engulhos. Tinha pensado referir um tema ou outro que, pelo seu melindre ou importância, me são mais caros e que vejo às vezes tão mal tratados no Blog, mas vou ignorar e passar à frente para não me alongar e arriscar ser mal compreendido.


 1973 - Estado D'Alma

Sobre o meu contributo: Vai ser modesto.

1º - Não sendo um intelectual, lido mal com a capacidade de síntese, o que, não deve ser nada bom para a saúde do Blog e dos editores;

2º - Das notas do meu irregular diário da Guiné, ainda não consegui transcrição decente até hoje, sem essas notas, tudo o que escrever de memória está sujeito a gafes. Há anos que pego “naquilo” e largo quase de seguida. Mais anos esteve “enterrado” juntamente com tudo o que dissesse respeito à guerra colonial: pus uma pedra em cima do assunto, tal como tantos outros camaradas que agora se expressam no Blog;

3º - A memória é o que vocês devem saber, não ajuda muito. Para piorar as coisas, há um período razoável da minha vivência em Nhala, registada em diário, que ficou lá, bem como todo o meu espólio, por ter vindo de férias à “Metrópole” em Agosto de 1974 e já não ter regressado;

4º - As minhas fotografias, no geral, não têm grande qualidade: quando fui para a Guiné nem máquina tinha. Usei uma emprestada por uma amiga, mas demasiado básica e pouco fiável. Nas primeiras férias comprei uma Olympus compacta e passei a fazer, quase sempre, slides. Digitalizados com um scâner normal, são uma triste amostra dos originais. Com muito deles optei por fotografar a projecção em suportes variáveis, com os inconvenientes que também isso acarreta.


Enfim, concluo reafirmando: só pode ser modesto o meu contributo. Mas não deixarei de, aos poucos, enviar as minhas fotografias que passarão a constituir espólio do Blog. Sempre que acharem utilidade na sua publicação, todos os restantes camaradas poderão dispor delas, salvaguardando apenas a referência autoral. Algumas não são da minha autoria e já não é possível saber as suas origens. Nesses casos farei uma nota anexa. Quanto a textos, enviarei algumas coisas por certo, ficando ao vosso critério a utilização ou não.


O Alf Mil António Murta, em primeiro plano sentado no capô da Berliet.
Foto: © António Murta (2014). Todos os direitos reservados.

A todos, sem excepção, rendo aqui as minhas homenagens. Fizeram, em conjunto, uma obra notável e em contínua renovação, a que não é alheio, repito, o empenho e a dedicação do camarada Luís Graça e do camarada Carlos Vinhal, com os seus mais próximos colaboradores.

Para ambos, um abraço muito especial.
Para todos os camaradas da Tabanca Grande, um fraternal abraço.
António Murta.
Figueira da Foz, 2014-11-01


2. Comentário do editor:

Caro camarada António Murta, muito bem-vindo a esta família de ex-combatentes da Guiné, e não só, que se reunem por aqui para falarem da sua experiência enquanto militares que tiveram a má experiência da guerra. A Guiné nos une já que fomos marcados por aquela minúscula parcela de África.

Costumo dizer que como em casa já ninguém pode com o cheiro a pólvora, ao menos entre nós trocamos impressões, relembramos situações, trocamos fotos e, às vezes, discutimos mais acaloradamente. Ma nada que não se resolva, felizmente.

Porque já navegas nesta tua página com um certo à-vontade, vou excusar-me de entrar em pormenores técnicos. No entanto, sempre que te surja alguma dúvida não hesites em ligar para nós.

Fazes uma apresentação muito pormenorizada e justificas algumas das tuas dúvidas quanto à tua participação, mas já que cá estás, escolhe um lugar confortável e, depois de nos conheceres um pouco melhor, vais ver que te atiras de corpo e alma à parte que te toca na feitura destas memórias escritas na primeira pessoa, por aqueles que a seu modo foram agentes activos.

Nós os dois temos em comum o início da nossa guerra no RI 5 das Caldas da Rainha, sendo que eu andei por lá 3 anos antes, e a pós-graduação em Minas em Armadilhas na EPE de Tancos, mais propriamente no desterro do Casal do Pote.

Queria pedir desculpa pelo tempo que mediou entre o envio da tua mensagem e a tua apresentação, atraso devido ao trabalho de bastidores que também faz parte da função de editor.

Fica aqui um abraço de boas-vindas da tertúlia, e dos editores Luís Graça, Magalhães Ribeiro e este escriba que se assina
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 29 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13819: Tabanca Grande (450): Jéssica Nascimento, neta do nosso camarada Luís Nascimento, nossa novel Grã-Tabanqueira 670

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13874: Da Suécia com saudade (46): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte VII): Não deveria ter ficado surpreendido, com algumas reações... (José Belo)

1. Mensagem de José Belo [,  régulo e único membro da Tabanca da Lapónia, com sede em Abisco, Suécia, já bem, dentro do Círculo Polar Artico]:



Data: 8 de Novembro de 2014 às 15:53

Assunto: Não deveria ter ficado surpreendido.


Decidi enviar para o Blogue de Luís Graça &  Camaradas da Guiné, para o qual já näo contribuia desde há uns tempos, alguns dados e pequenas histórias sobre o PAIGC nos seus contactos com a Suécia.(*)

Foram recolhidos durante os meus tempos iniciais em Estocolmo, já há quase 40 anos, quando por aqui a Guiné ainda era um assunto com interesse. Pessoalmente, estes documentos ajudaram-me a melhor compreender as enormes dificuldades enfrentadas por Portugal na sua política colonial.



Abisco, assinalada por uma seta, é um dos  refúgios do nosso camarada e grã-tabanqueiro José Belo que agora parte, com armas e bagagens, para Key West, na Florida... Nada como ter o melhor de dois mundos...


... E, claro, que ele vá bem, em paz consigo e com os seus camaradas da Guiné, atabancados na Tabanca Grande., são os ardentes desejos.  A última coisa a que queríamos assistir, no adro da Tabanca Grande, era a um combate entre o galo de Barcelos e o bisonte de Abisco...  Segundo a nossa política editorial, o blogue defende os direitos... dos animais!


Fonte. Cortesia do blogue do José Belo, Lapland Near Key West



Recebo agora alguns e-mails muito pessoais no blogue da Lapónia por mim publicado, onde se estranha a minha necessidade de enviar para aí (e cito) :"...propaganda sueca de apoio aos nossos inimigos de então".

Apesar de por aqui ter exercido algum inocente "activismo jurídico".  não tenho qualquer procuração por parte do Reino Sueco para o defender,ou elogiar, nas suas há muito ultrapassadas políticas em relação à Guiné,ou ao colonialismo em geral.

A maioria das comunicações no Blogue efectuam-se entre camaradas,  nunca encontrados pessoalmente.

O julgar-se "conhecer" nunca é, infelizmente, o "conhecer-se". Os "pessoalismos" teräo sempre...o valor que têm,  e a ser-me desculpado gostaria de aqui referir um pequeno exemplo de atitude para com a vida quando a idade nos vai (cada vez mais) retirando máscaras de conveniências feitas.

Foi uma pequena conversa em Estocolmo, daquelas de "depois de jantar", tida com um grupo de jovens portugueses entäo de passagem pela  Suécia,  e de certo modo ligados a este Blogue [, referência à banda musical Melech Mechaya]..

Depois de alguém presente ao jantar os ter inteirado de alguns detalhes relacionados com a minha vida profissional,  aqui e nos Estados Unidos, foram simpáticos ao ponto de me felicitarem.

Décadas antes teria agradecido e...ponto final. Mas agora, e do modo que olho para estas coisas, acabei por tentar explicar-lhes que, independentemente de todos os esforços,  trabalhos humildes e cansativos, que tive que efectuar como tantos outros portugueses emigrados enquanto näo estabelecem novos alicerces, ...acabei por conhecer (e casar-me com)  uma menina sueca,  herdeira de importante empresa sueco-americana.

Deixei no ar a pergunta ingénua quanto a se teriam sido os meus esforcos,  ao tirar um curso nos Estados Unidos,  ou... os contactos familiares depois do casamento.

É claro que, e como bom Lusitano, um dos jovens perguntou de imediato como se coadunava que um activo oficial da então chamada ala esquerda do MFA tivesse caído em  tal casamento.

E lá tive que referir o amor e o romantismo lusitanos, a "Ala dos Namorados" de Aljubarrota,  somado à melhor forma de... ."reeducar" e "recuperar" capitalistas empedernidos (no caso, empedernidas).

Daí, caros senhores que me enviam tais e-mails sobre políticas ou propagandas já mais que serôdias....não se deem a tal trabalho, por inútil.

Essas pequenas grandes frustrações vistas desde este extremo do extremo norte da Europa são ridículas,  por ultrapassadas nos contextos. A serem vistas desde o outro lado do Atlântico,  nem ridículas conseguem ser.

Um grande e sincero abraço do José Belo.


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Nota do editor:


(*) Último poste da série > 9 de novembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13865: Da Suécia com saudade (45): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte VI): Para além de meios de transporte automóvel (camiões e outras viaturas Volvo, Gaz, Unimog, Land Rover, Peugeot, etc.), até uma estação de rádio completa, móvel, foi fornecida ao movimento de Amílcar Cabral, sempre para fins "não-militares"... (José Belo)

Vd. poste de 3 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13842: Da Suécia com saudade (40): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte I)... à Guiné-Bissau, de 1974 a 1995, foi de quase 270 milhões de euros... Depois os suecos fecharam a torneira... (José Belo)

Guiné 63/74 - P13873: Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (17): Maria Turra, por qué no te callas ?... Radiolocalização e empastelamento das comnunições do IN

1. No passado dia 8, pedi um "parecer ténico" ao Hélder Sousa, antes de publicar um poste do José Belo, sobre a akuda sueca ao PAIGC, e mais concretamente sobre uma estação de ráio, móvel, que os suecos montaram, em duas viaturas, e que operaria a partir do "norte da Guiné" (*)... Eis o teor da minha mensagem:

Helder: Antes de publicar, e para não causar "brotoeja", preciso do teu parecer "técnico"... Onde é que poderia estar localizado este rádio (móvel) ? No Senegakl, naa base de Cumbamori ? No "norte da Guiné" seria arriscado", por causa da aviação... Ainda é do teu tempo... Tiveste conhecimento ?... Um abraço, Luis

Sobre io tema, o Hélder, especialista em transmissões TSF, produziu um texto que seria pena perder-se e onde também histórias da sua e da nossa guerra (**)... Aqui vai, inteirinho, o texto, com os meus agradecimentos, pela rápida e competente resposta. (LG)


2. Histórias em tempos de guerra (Hélder Sousa) (17): Maria Turra, por qué no te callas ?... Radiolocalziação e empastelamento das comnunições do IN

por Hélder Sousa

(ex-fur mil trms TSF, Piche e Bissau, 1970/72); membro da nossa tabanca Grande, desde 11 de abril de 2007; nosso colaborador permanente)   [ foto atual à direita]


Olá Luís.

Ora bem, relativamente à grande pergunta, "onde poderia estar" esse rádio móvel, a resposta é simples. "Não sei. E existiria mesmo?",,,

No que diz respeito às actividades do "centro de escuta", nas quais participei, havia a indicação para a busca permanente de comunicações que pudessem ser entendidas como úteis ou mesmo do próprio IN.

Isso fazia-se 'batendo' sistematicamente as várias frequências e servia para a 'fonia', a 'grafia', os 'telégrafos' e também as emissões rádio.


«No que diz respeito à 'fonia', sem ter já a certeza, tenho a ideia de ter sido muito esporádica, se é que isso é mesmo real, e sem grande utilidade prática, apenas para confirmar que havia a utilização de 'castelhano'. A ideia que retenho é que, nesse aspecto, imperava a "disciplina rádio".


Guiné > s/l > c. 1970/72> Algures, Hélder Sousa, fuir mil trms TSF, em funções de radiolocalização...


Foto: © Hélder Sousa (2007). Todos os direitos reservados




No que diz respeito à 'grafia' a verdade é que se tinham conseguido 'identificar' vários 'emissores-receptores' e tentava-se captar as suas breves e concisas comunicações, não sabendo eu se depois se conseguiu, ou não, decifrar o que se captava.

Um exemplo do que digo tem a ver com o E/R ET55 do IN.

Para quem conhece 'morse' sabe que a identificação deste 'operador' seria feita por um sinal curto, um sinal um pouco mais longo e 10 sinais curtos brevemente separados 5 a 5. Na prática, o 'tempo de antena' gasto na identificação aquando da entrada em rede deste Posto era curtíssimo.

Em determinada altura ficou-se com a ideia que operava mais insistentemente na região de Mansoa. Fez-se uma operação de tentativa de radiolocalização mais 'afinada'. Fiquei no 'posto coordenador' indo um aparelho de radiolocalização para a zona de Antula, outro para Bissorã e um terceiro para Mansoa, onde foi colocado no fundo da pista.

Aquando da 'entrada em rede' na exploração do IN das 09:00 todos se identificaram (dando assim sinal da sua existência e da operacionalidade) e um ou outro comunicou qualquer coisa breve. Por essa altura o aparelho de radiolocalização de Mansoa ainda estava a ser posicionado. Mais tarde, aquando de nova 'chamada geral', curiosamente o ET55 não se apresentou. E isso sucedeu também na parte da tarde. Ficámos com a 'quase certeza' de que realmente operaria perto de Mansoa mas não se conseguiu tentar traçar alinhamentos dos quais resultassem os cruzamentos que pudessem indicar a maior proximidade do seu posicionamento.

Confirmámos a suspeita da sua zona de actuação mas não a localização (que seria certamente móvel, mas o mais provável seria dentro de um determinado raio de acção). Ficámos também com a certeza de haver uma forte 'disciplina rádio' na exploração das comunicações.

Outro 'passatempo' era o dos 'empastelamentos', ou seja, a tentativa de colocar uma qualquer emissão de rádio em cima da mesma frequência de operação que já existia.

Assim, fazia-se essa acção sobre as emissões da "Maria Turra" em ondas curtas e ondas médias. Estávamos atentos ao início das emissões (eles publicitavam as frequências e as emissoras donde emitiam) e informávamos os três locais que tínhamos para fazer os 'empastelamentos', ou seja, o nosso posto emissor de Antula (***), a Marinha e a DGS.




Guiné > Bissau > Antula > Centro Emissor >  1962 > Os tempos heroicos das telecomunicações militares no CTIG >   A montagem das torres de suporte da antena rômbica no Centro Emissor (militares no alto, procedendo às ligações)"... [O centro emissor de Antula ficava a 3 km do QG do CTIG]

Foto e legenda do gen Garcia dos Santos. Fonte: blogue História das Transmissões Militares (***).

[Com a devida vénia... Edição: LG]



Normalmente conseguia-se ter algum êxito sobre as ondas curtas, nem sempre, dependendo das condições atmosféricas. Sobre a emissão em onda média, de mais difícil cobertura, até porque, dizia-se, partia de um emissor 10 vezes mais potente que o nosso, quase não havia êxito, tendo eu próprio comprovado isso quando,  saindo de Santa Luzia a pé até ao "Enfarta Brutos" em hora de emissão da Rádio Bombolom,  percebia claramente a audição sem atropelos que se fazia em algumas tabancas ali ao lado da estrada.

Não sei ao certo donde emitiam mas ocorrem-me nomes como Ziguinchor e Tambacounda. Também me recordo de St. Louis mas acho estranho, já que fica a norte da Dacar, cerca de 200 km, perto da fronteira com a Mauritânia, embora mais em frente a Cabo Verde.

Voltando ao assunto "camiões com estação de rádio", considero altamente improvável, para não dizer impossível, dadas as relações no terreno e as características do desenvolvimento das acções, que esses veículos pudessem ser utilizados no interior da Guiné. Sei que isso não é dito, mas adianto-me já.

Dado o que se diz ter sido o tipo de relações entre o PAIGC e o Senegal (pouco 'envolventes', digamos assim) seria mais provável que essas viaturas, a existirem, pudessem circular mais à vontade na Guiné-Conacri, mas tudo depende da real finalidade da sua existência. Podia muito bem ser no Senegal se o objectivo era 'educacional' e nesse caso já 'casa' com o informação de que "operariam no norte da Guiné" (aqui é que está o busílis - é o norte a norte da 'nossa' Guiné e nesse caso lá está Ziguinchor, Tambacounda e mesmo St. Louis - ou é o norte da 'outra Guiné' e nesse caso já seria para lá da nossa fronteira sul).

Não tenho nenhum motivo para duvidar dessa ajuda sueca. Inclino-me para a operação a partir do Senegal, com melhores condições para propagação das comunicações.

Abraço

Hélder S.


3. Troca de mensagens entre José Belo e Hèlder Sousa;:


(i) José Belo: 

Atenção ao que está escrito nos documentos do livro citado neste poste. No texto sueco original está escrito:"Programas transmitidos desde o Norte da Guiné-Bissau". Creio que deste modo se estariam a referir a programas transmitidos não dentro do Norte da Guiné mas...a Norte da Guiné.
Foi essa a ideia que,como tradutor,tive desde o início. (*)

(ii) Hélder Sousa:

O que eu disse é que não seria era "dentro da 'nossa' Guiné". Realmente o mais provável seria a 'norte dela', logo no Senegal. Aliás, também como referi, a propagação era mais favorável a partir daí.

Entretanto li novamente e há um pormenor que só agora reparei e é importante. Trata-se da data. 19 de Setembro de 1972. Ora, para mim já era quase o fim da comissão, cerca de mês e meio antes de vir embora. Por essa época as atenções estavam mais centradas nas acções que tinham a ver com os esforços para colocar instalações nossas (forçando assim a 'soberania') na margem esquerda do Geba na confluência do Corubal. Deste modo não tenho lembrança de acções no sentido de se tentar 'apurar' essa novidade.

Mas a data de Setembro de 72 é já bem próxima (seis meses de distância) das acções sobre Guidaje e 'arredores', altura em que se 'entende' que o Senegal já era mais 'colaborante' com o PAIGC.  E,  dadas as melhores condições para propagação das ondas rádio,  acredito então, como escrevi, que seria no Senegal que tais equipamentos poderiam estar.

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de  9 de novembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13865: Da Suécia com saudade (45): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte VI): Para além de meios de transporte automóvel (camiões e outras viaturas Volvo, Gaz, Unimog, Land Rover, Peugeot, etc.), até uma estação de rádio completa, móvel, foi fornecida ao movimento de Amílcar Cabral, sempre para fins "não-militares"... (José Belo)


(...) Em 1971 Amilcar Cabral pediu o fornecimento de uma estação de rádio montada em dois camiões Mercedes Benz... também fornecidos pela Suécia. Em 19 de Setembro 1972, dois transmissores (e o material de estúdio respectivo) começaram a funcionar desde o Norte da Guiné, com programas também para Cabo Verde. Os técnicos responsáveis por estas transmissões foram treinados na companhia sueca Swedtel. (...)


(***) Vd.  História das Transmissões Militares: um blogue da CHT (Comissão da História das Transmissões) > Poste de 3 de junho de 2012, > A Primeira Delegação do Serviço de Telecomunicações Militares (STM) na GUINÉ [, pelo gen Garcia dos Santos]

Guiné 63/74 - P13872: Agenda cultural (352): Sessão de lançamento do livro "Nunca Esquecerei..." , de Ricardo Durão (n. 1928): apresentação por Marcelo Rebelo de Sousa, 6ª feira, dia 14, 17h00, Instituto de Apoio Social das Forças Armadas, Oeiras (Manuel Bernardo, cor inf ref)





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A Seda Publicações - Editora On Line tenm sede no Porto. Tem página na Net. Seguundo informação do nosso leitor (, camarada e escritor) cor inf  ref Manuel Bernardo que está a dar apoio a esta iniciativa, o ten gen ref Ricardo Durão, com 86 anos, fez duas comissões na Guiné ("uma nas infiormaçãoes e outra nas operações"). É irmão do major gen Rafael Durão (1931-2008) e de Roberto Durão, cor cond  cav ref (n. 1932).

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Nota do editor:

Últimio poste da série > 8 de novembro de  2014 > Guiné 63/74 - P13860: Agenda cultural (351): Lançamento do primeiro livro do nosso camarada bedandense, Fernando Sousa, "Quatro Rios e Um Destino", no passado dia 30 de outubro, na sede da ADFA, em Lisboa

Guiné 63/74 - P13871: In Memoriam (205): José Fernando de Andrade Rodrigues (Ribeira das Taínhas, Vila Franca do Campo, 1947- Rio de Mouro, Sintra, 2014)... O único açoriano do BART 2917, além do 2º srgt Saúl Ernesto Jesus Silva, e de mim próprio (Arsénio Puim, ex-alf mil capelão, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72)



O ex-alf mil José Fernando de Andrade Rodrigues (1947-2014), natural de Vila Franca do Campo, ilha de São Miguel, RA Açores



Guiné > Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) >Xime | CART 2715  (1970/72) >  O Andrade Rodrigues jogando uma partida de xadrez...

Fotos do ábum da família, gentilmente disponibillzadas ao nosso blogue e que chegaram à nossa caixa de correio através dos bons ofícios do Arsénio Puim [ex-alf mil capelão, CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72)]




Viana do Castelo, 16 de Maio de 2009 > Convívio do pessoal da CCS / BART 2917 (Bambadinca, , 1970/72) >  Da esquerda para a direita, Benjamim Durães, Arsénio Ouim e Jorge Cabral...  


Foto: © Benjamim Durães (2009). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do nosso camarada Arsénio Puim,´ com data de ontem

Luís: Alegro-me com a tua total recuperação.

Quanto a mim, depois do tratamento de radioterapia, muito eficaz, que fiz no no Hospital de Santa Maria, também já me esqueço da doença por que fui afectado, embora continue a fazer de tempos a tempos a consulta de follow up.  Numa das próximas ocasiões tentarei encontrar velhos amigos em Lisboa. Os meus filhos estão aí os dois: o Miguel trabalha numa consultadoria e o Pedro está tirando um mestrado em turismo.

Acabei de participar na missa em memória do nosso camarada,  ex-alferes miliciano José Fernando de Andrade Rodrigues, na igreja da sua freguesia natal, Ribeira das Tainhas, concelho de Vila Franca do Campo, ilha de São Miguel.(*)

Após a missa apresentei os pêsames à sua irmã Dona Matilde Rodrigues em nome dos militares seus companheiros da Guiné, a qual me pediu que vos transmitisse o seu agradecimento pela delicadeza de se terem lembrado do irmão.

Tenho duas fotografias, que enviarei amanhã, já que só então terei alguém que sabe trabalhar com o scanner.

O José Fernando tinha 67 anos. Ele, eu e o sargento Saúl, do Faial, de quem nunca mais soube nada [, 2º srgt art Saul Ernesto Jesus Silva}.  éramos os únicos açorianos do BART 2917 [, sediado em Bambadinca, 1970/72, com a CART 2715 no Xime, a CART 2714 em Mamsabo e a CART 2716 no Xitole]. 

Lembro também o capitão Amaro dos Santps, com quem conversei bastantes vezes nas minhas estadias no Xime, nomeadamente depois da emboscada de 26 de Novembro de 1970. Nessa altura passei no Xime alguns dias, também a pedido do comandante do Batalhão, para prestar algum apoio moral à Companhia. 

O capitão [Vitor Manuel] Amaro dos Santos era uma pessoa sensível e marcada, e numa altura falou-me das cartas comoventes que a mãe do furriel Cunha escrevia para a Companhia. Tenho ideia de que também escrevi a ela uma carta, como capelão.

Descansem em Paz todos os nossos camaradas falecidos!

Os meus melhores votos para ti e esposa, que também recordo com simpatia.
Arsénio Puim

2. Comentários (*) e outras mensagens de camaradas da Tabanca Grande:

(i) Hélder Sousa:

Mais uma notícia de um 'rapaz do nosso tempo' que parte para a 'última viagem'.

Ainda ontem o Francisco Palma me informou.  de outro camarada [, Albino Nunes,] pertencente à Companhia de Cavalaria de Canquelifá do BCAV 2922-  que também faleceu.

É certo que já estamos habituados e que este tipo de notícias tem tendência a ser recorrente e cada vez mais amiúde mas na verdade é que custa sempre.

À família enlutada os meus sentidos pêsames.

(ii) Luís Graça

O Andrade Rodrigues (1947-2014), talvez por ser o alferes mais antigo da CART 2715, substituiu o comandante, o jovem cap art Vitor Manuel Amaro dos Santos (1944-2014),  quando este, em 1/1/1971, praticamente um mês depois da tragédia que foi a Op Abencerragem Candente  saiu da companhia, para o HM 241, em Bissau, com baixa por doença. (Foi a seguir evacuado para a Metrópole, nunca mais tendo regressado à sua subunidade).

Não sabia que era açoriano, o José Fernando de Andrade Rodrigues. Mais um bravo da Guiné que "da lei da morte já se libertou".

Lamento não ter notícias de ninguém da CART 2715. Por minha iniciativa, o Andrade Rodrigues ingressa a título póstumo na Tabanca Grande, sob o nº 671, diretamente através da galeria dos que "da lei da morte se foram liberrtando". O mesmo já tinha acontecido com o primeiro comandante da CART 2715,  o Vitor Manuel Amaro dos Santos.

 Julgo a estar interpretar corretamente a vontade da família (que nos mandou as fotos acima reproduzidas) e de camaradas como o Arsénio Puim, bem como de outros militares do BART 2917 e do setor L1 que o conheceram bem e com ele fizeram operações em conjunto como  foi o caso da CCAÇ 12. Em última análise é também uma homenagem aos 7 mortos da companhia, 5 dos quais na Op Abencerragem Candente. (**)

(iii) David Guimarães

Já morreu o Rodrigues (segundo comandante da Cart 2715 (...)  Não sabia e lamento... Morreu, paz à sua alma.  Que descanse em paz.

O então jovem capitão,  Vitor Manuel Amaro dos Santos (que bem conheci e foi evacuado por doença), sei que se aposentou como coronel... 

A guerra teve coisas do caraças!!! Estórias na nossa história, mas é a vida!!!

Falo com conhecimento pessoal pois que todos pertencíamos ao mesmo Batalhão

Abraço.....

(iv) Jorge Cabral

Conheci no Xime o Rodrigues e privei com ele em Lisboa. Funcionário Judicial no então chamado Tribunal de Polícia, nunca fui ao Palácio da Justiça, sem o ter procurado.

Licenciado em História,  era um homem culto e conservava um cerrado sotaque açoriano. Ainda bebemos uns valentes copos... Que descanse em paz!  (***)

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(i) CCS /BART 2917

- Picador Seco Camará, assalariado: Morto em 26/11/70 na Operação “Abencerragem Candente”, está sepultado em Nova Lamego.

(...) (iii) CART 2715

- Alferes Mil Atirador João Manuel Mendes Ribeiro, nº 17853469; morto em 04/10/71 na Operação “Dragão Feroz”; está sepultado em Castelo Branco;

- Furriel Mil Mec Auto Joaquim Araújo Cunha, nº 14138068; morto em 26/11/70 na Operação “Abencerragem Candente”; sepultado em Barcelos;

- 1º Cabo Atirador José Manuel Ribeiro, nº 18849069, morto em 26/11/70 na Operação “Abencerragem Candente”, sepultado em Lousada;

- Soldado Atirador Fernando Soares, nº 06638369, morto em 26/11/70 na Operação “Abencerragem Candente”, sepultado em Fafe;

- Soldado Atirador Manuel Silva Monteiro, nº 17554169, morto em 26/11/70 na Operação “Abencerragem Candente”, sepultado em em Condeixa-a-Nova;

- Soldado Atirador Rufino Correia Oliveira, nº 17563169, morto em 26/11/70 na Operação “Abencerragem Candente”, sepultado em Oliveira de Azeméis;

- Guia Nansu Turé, assalariado, morto em 04/10/71 na Operação “Dragão Feroz", sepultado em Bafatá. (...)

(***) Último poste da série > 10 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13869: In Memoriam (204): Carrondo Leitão, ex-Piloto de Alouette III na Guiné (António Martins de Matos, TGen Pilav Ref)

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13870: Notas de leitura (649): 1 de Novembro de 2014, na Feira da Ladra (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Novembro de 2014:

Queridos amigos,
As coisas são como são, há dias de farta colheita e outros de míngua.
Naquela manhã ensolarada de 1 de Novembro havia pepitas guineenses inesperadas, prontas a ser colhidas: uma fotografia que complementa outras que estão no blogue, cheira-me que eram arquivos da revista Ultramar, ou mesmo depositadas no SNI; uma surpreendente revista A Terra, número colonial, de 1934, um capitão-de-fragata fala sobre as etnias guineenses, diz coisas acertadas e outras não tanto. Mas a colheita foi mesmo farta, só tive pena de não ter adquirido uma fotobiografia de Mário Pinto de Andrade, o alfarrabista já me conhece as fraquezas, pediu muito, regateámos, a bolsa não dava tudo, regressei de orelha murcha.
Fica para a próxima.

Um abraço do
Mário


1 de Novembro de 2014, na Feira da Ladra (1)

Beja Santos

Foi uma romagem fértil, carregadinha de surpresas.
Na companhia do Raúl Perez dirigimo-nos para aqueles vendedores que vêm com caixas pejadas de fotografias, com batizados, casamentos e outros eventos. Embarco na aventura, operação paciente, mergulhar as mãos, tirar aquelas recordações todas vindas de espólios, de herdeiros desapiedados que põem a privacidade dos ancestrais a nu por tuta e meia. Pois bem, é entre fotografias de banquetes, com poses militares, que surge esta imagem, parente de uma outra que já apareceu no blogue, o padre Afonso, na direita, troca cumprimentos com D. António Ribeiro, estamos talvez em 1971, há um grupo de jovens guineenses que vai até Fátima, um deles está atento e pronto a discursar. Tudo se passa num salão do Patriarcado, então a funcionar no Campo dos Mártires da Pátria. Por feliz acaso, já consta do blogue a fotografia em que estes jovens apresentaram cumprimentos a Silva Cunha, há uma outra de muçulmanos a caminho de Meca. Estou de olho arregalado, e por várias razões. Foi o padre Afonso que me casou, em 20 de Abril de 1970, na catedral de Bissau, nessa tarde o Alexandre Carvalho Neto, ajudante do governador andava nervosíssimo, não me podia explicar porquê, no dia seguinte todos sabíamos que houvera um massacre de três majores, um alferes e comitiva numa estrada entre Pelundo e Jolmete, eram oficiais de primeiríssima água, dizia-se.

Este senhor D. António acompanhara a JUC – Juventude Universitária Católica, foi aí que nos conhecemos. Pois acontece que no dia 15 de Março de 1995 me encaminhava para o Hospital dos Capuchos, seria umas 15 horas, atravessei o Campo dos Mártires da Pátria, ia pela primeira vez ser operado a uma hérnia que me castigava horrivelmente. Ao passar à porta do Patriarcado, D. António saiu de um carro, cumprimentou-me e expliquei-lhe para onde ia, ataviado pedi um saco de pertences. Foi conversa estranha, quis saber detalhes sobre a operação, em que serviço ficaria, etc. Foi operado a 16 à tarde e fiquei a pairar numa cama numa enfermaria de neurocirurgia. Na tarde de 17, ainda bem aboborado, entra-me o médico e questiona-me quem é que deve entrar primeiro para me ver, se o cardeal se um antigo presidente da República, é protocolo que ele conhece com a voz entaramelada ter-lhe-ei respondido:
“Por favor, entram os dois ao mesmo tempo, nada de cadeiras, veem-me, agradeço-lhos a visita e mando-os em paz, quero dormir, esquecer estas dores, este dreno que não me dá nenhuma posição confortável, desculpe o incómodo”.


Olho de novo para esta fotografia, pergunto o que fazem hoje estes dois jovens, o senhor do meio é-me uma cara conhecida, mas não sei quem é. Regateio o preço da fotografia, ela será minha a qualquer preço, estão ali seres que conheci há décadas e que estimei. E está ali a Guiné a cruzar-se de novo na minha vida.

Agora ando a passarinhar nas bancas ao ar livre, o Raúl Perez, bibliófilo, anda por ali de nariz espetado à procura de incunábulos, coisas valiosas, eu limito-me a andar ao papel baratucho e amarelecido, sempre com a Guiné na mira. Então não é que me sai a revista A Terra, revista portuguesa de geofísica, nunca vi uma coisa destas, não diz o número nem a data, mas refere na contracapa: 1.ª Exposição Colonial Portuguesa, aberta de 15 de Junho a 30 de Setembro próximo. Notável manifestação patriótica, cultural, económica e pitoresca em que se demonstra, por forma eloquente, o esforço colonizador dos portugueses nos últimos 50 anos. Durante o certame, a que concorrem indígenas de todas as províncias do império colonial português, realizar-se-ão conferências, congressos, paradas agrícolas, formaturas de antigos combatentes das campanhas de Áfricas, e outras manifestações interessantíssimas. Estamos pois em 1934, a exposição foi no Porto, na comitiva da Guiné vinha o régulo Mamadu Sissé, um braço-direito de Teixeira Pinto, Eduardo Malta desenhou-lhe um filho, é um desenho soberbo, já aqui mostrado. A exposição deu brado, as senhoras do Porto e arredores encolerizaram-se com as Bijagós de peitaça ao léu, não eram modos de se apresentarem, o capitão Henrique Galvão viu-se e desejou-se.

Mas o que é que tem de especial este número da revista A Terra? É dedicada a Portugal de além-mar, há artigos de Gago Coutinho, Ramos da Costa, Carvalho Brandão e outros, primam os oficiais da Marinha e os engenheiros, o Império é passado ao crivo da geologia, da meteorologia e da geofísica. É neste número precioso que o capitão-de-fragata José L. Teixeira Marinho publica o artigo sobre as etnias guineenses, precedendo-o de uma nótula histórica. E depois escreve:

 “Os Felupes que habitam o canto noroeste da província, são de cor preta retinta, traços regulares, robustos. Usam um vestuário rudimentar; cultivam o arroz e o milho e são grandes bebedores de vinho de palma. São muito supersticiosos e bastantes insubmissos.

Os Baiotes, Banhuns e Cassangas diferem pouco dos Felupes. Todos eles ocupam a margem direita do rio de Farim. Parece terem sido os Cassangas os senhores da região compreendida em o Casamansa e o rio de Farim.

Os Mancanhas ou Brames usam de uma linguagem muito semelhante à dos Papéis. Cultivam a mancarra e criam gado.

Os Papéis são de cor retinta, robustos, mas indolentes; eram muito altivos e aguerridos antes de serem definitivamente submetidos pelas forças do governo da província, comandadas pelo capitão Teixeira Pinto.

Uma tribo à parte, a dos Papéis do Biombo, distinguia-se já anteriormente pela sua fidelidade ao governo. Estes abusam menos do álcool que os outros Papéis e são mais trabalhadores, cultivando grandes arrozais. Exploram parte dos palmares das ilhas Bijagós. Habitam a ilha de Bissau e a região do Churo, entre os rios Mansoa e Farim.

Os Manjacos parecem no seu aspeto físico, nos costumes e na língua aos Papéis. São mais trabalhadores, mais inteligentes e excelentes marinheiros. Muito industriosos, emigram para Dakar e Zinguichor procurando trabalho, exploram os palmares de outras regiões e em meados do século XIX uma grande colónia de Manjacos estabeleceu-se na margem direita do rio Grande, onde se dedicou à cultura da mancarra, que deu enorme incremento à exportação e ao movimento do rio que decaiu depois de expulsos os Manjacos dali pelos Beafadas.

Os Balantas são altos, fortes, ágeis, muito inteligentes. Superam todas as outras raças da Guiné na técnica da cultura do arroz. Dotados de um vivo espírito de independência nunca se subordinaram a régulos. Praticam o roubo com incrível perfeição, sendo a qualidade de ladrão astuto a mais apreciada. Rapaz que na cerimónia do fanado não apresente provas de alguns roubos notáveis não arranja noiva; o elogio fúnebre de um homem de categoria consiste na exaltação das suas qualidades de ladrão.

Os Fulas invadiram pacificamente a região que atualmente forma a parte nordeste da província e que estava ocupada pelos Mandingas. Apoderaram-se depois do território, passando de escravos que eram a senhores pelo direito da força. De cor cobreada, altos, magros, de feições regulares, nariz aquilino, são incontestavelmente o grupo étnico mais civilizado dos que habitam o território da Guiné. Não se consideram pretos e usam dessa designação quando se referem às outras pessoas da Guiné, que consideram inferiores.

Os Mandigas dedicam-se ao comércio e à indústria.

Os Beafadas não diferem muito no aspeto físico e costumes dos dois últimos grupos; estão em decadência em consequência das lutas com os Fulas que duraram longos anos. Ocupam os territórios situados nas margens do rio Grande.

Os Nalus são também adeptos da religião muçulmana. Ocupam os territórios ao sul do rio Tombali. São já hoje em número reduzido, em consequência da absorção dos Sossos”.

E vai por aí fora, fala ainda nos Oincas e nos Bijagós, prevê um futuro brilhante para a província da Guiné. E talvez por ser marinheiro, não deixa de dar um parecer estratégico: “A Guiné, com as praias do norte defendidas por um extenso cordão de baixos de areia, com o arquipélago dos Bijagós defendido por uma barreira de recifes, com a vantagem de poder manter-se isolado por muito tempo, pode tornar-se inexpugnável por um ataque marítimo, bastando para isso defender os poucos canais que lhe dão acesso”. Por esta é que eu não esperava.

Tenho mais surpresas, a manhã está radiosa e eu estou radiante, dali a um bocado, com a mesma casualidade com que respiro e vou conversando descontraidamente com o Raúl Perez, vou descobrir o Romance da Conquista da Guiné e um conjunto de ensaios de António Carreira, um dos maiores historiadores da Guiné e de Cabo Verde.

Eu depois conto.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de Novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13857: Notas de leitura (648): “Triângulo de Guerra”, de António Garcia Barreto, Edição de Maria Simão, 1988 (2) (Mário Beja Santos)