quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13879: Carta aberta a... (11): Jornalista Sousa Tavares, a propósito do seu artigo no jornal Expresso do dia 8 de Novembro passado (Manuel Luís Lomba)

1. Em mensagem do dia 10 de Novembro de 2014, o nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), enviou-nos esta "carta aberta" ao jornalista Miguel Sousa Tavares, a propósito de um artigo de sua autoria publicado no jornal Expresso de sábado passado:


Recado para Miguel Sousa Tavares (MST), referido ao seu tema “Os Nossos Heróis (…), in Expresso de 8 do corrente

Não obstante enaltecido como autor desalinhado com o politicamente correcto, na introdução desse texto MST diz: “… há mais de cem anos (talvez desde Mouzinho, em Chaimite), que (Portugal) não regista um feito militar digno desse nome: ou seja, não temos heróis militares.”
Negação deplorável.

MST não será imune aos complexos do politicamente correcto e da renúncia aos valores pátrios, de que as centenas de milhares de soldados portugueses combatentes no Ultramar, da dezena de milhar que deu a vida e da centena de milhar que foi ferida em combate, ou foram instrumentos da opressão colonialista ou uns coitadinhos envergando uma farda, desprovidos de testosterona e de coragem, que se deixaram derrotar pelos audazes, valentes e gloriosos guerrilheiros da libertação?

Se MST tivesse dado a alma e o corpo ao manifesto nessa (mal concebida e mal terminada) epopeia nacional da guerra do Ultramar, teria coexistido com heróis de carne e osso e teria podido escrever “nas nossas últimas guerras, terminadas há 40 anos, registaram-se heróis militares e, por uma originalidade à portuguesa, não houve registo de traidores!”

Venho evocar a MST um dos nossos heróis militares, recentemente falecido: o Comandante Alpoim Calvão, que há 44 anos supervisionou o planeamento e comandou toda a manobra da “Operação Mar Verde”, - ele e a sua gesta, dignos dos portugueses de outras eras.

Em 1970, a frota de guerra de guerra da União Soviética viera instalar-se no Atlântico sul, em Conakry, para potenciar esse centro nevrálgico da guerra na Guiné Portuguesa, onde os arsenais de armamento proliferavam e onde fervilhavam os especialistas militares russos, checos, cubanos, argelinos, etc, em preparação para se lançarem com o PAIGC contra os soldados portugueses, em desempenho da missão de soberania do seu país. De entre essa panóplia de meios de guerra, ressaltavam as vedetas rápidas P6, fornecidas pela URSS, dotadas de mísseis marítimos, elas com velocidade e estes com capacidade para afundar em alto mar os nossos navios mercantis e de transporte de tropas e os aviões MIG, que superavam de longe as capacidades operativas dos nossos FIAT G91.

Foi então que, por patriotismo, o fuzileiro naval Alpoim Calvão, se lançou na iniciativa de esconjurar o mal pela raiz, perseverou em conseguir o tíbio apoio hierárquico e tomou a peito a realização dessa missão.

Nessa madrugada de 21 de Novembro, poucos mais de 300 combatentes portugueses sob o seu vigoroso comando, transportados e apenas apoiados pelos pequenos navios que eram as Lanchas de Fiscalização, foram destemidamente desembarcar nas praias de Conakry, decididos a atingir os 30 objectivos da tão ousada missão, ao coração do território inimigo. Alcançaram 26 deles, de entre os quais: afundamento de todas essas perigosíssimas vedetas, desmantelamento dos campos militares, da milícia do despótico regime guineano e do campo de concentração de Boiro, a libertar cerca de 500 dos seus presos políticos, e libertaram 26 militares portugueses em cativeiro. Dos 4 objectivos falhados, dois eram fulcrais: a destruição dos MIG, na véspera transferidos 200 km para o interior e a captura de Amílcar Cabral, por ausência na Roménia.

Se a escalada da internacionalização da guerra na Guiné foi acelerada com a “Operação Mar Verde”, o seu relativo falhanço dever-se-á não aos corajosos que a ousaram e executaram, mas às indigentes informações, colhidas pela DGS/ PIDE e ao facto do Alto Comando português não estar à altura dos seus soldados, ao negligenciar o seu apoio aéreo. Desde 1969 que o Estado-Maior da FA alertava da iminência do outro lado da fronteira alcançar a supremacia aérea, que apenas será encarada em princípios de 1974, no contexto da crise dos 3G´s, decidindo-se pela compra dos Mirage.

A sabedoria popular ensina que o futuro a Deus pertence. E o futuro pós-Operação Mar Verde poderá dizer-nos que se Amílcar Cabral tivesse sido trazido para Bissau, não só teria escapado ao seu assassinato físico e político, como poderia vir a pilotar uma descolonização portuguesa, extensiva a todo o Ultramar, em vez do seu trágico abandono militar - a descolonização pilotada pela União Soviética e seus associados, com a qual o MFA (Movimento das Forças Armada) condescenderá pelo eufemismo de “Descolonização exemplar”.

O Nelson Mandela que saiu da prisão de Rod Island era - e foi - genialmente muito diferente do Nelson Mandela que se iniciara na luta anti-apartheid, com derramamento de sangue.

E Amílcar Cabral, pelo sangue e formação portuguesa, demonstrara estofo idêntico, e sem desonra os nossos antepassados comuns!

Nesse comentário sobre as misérias da nossa grandeza, MST chama à colação o facto de, depois do PR Mário Soares haver condecorado 2 509 pessoas, Jorge Sampaio, PR sucessor, “ainda conseguiu descobrir mais 2 378 personalidades de excelência”, para condecorar. E nós acrescentamos que, entre essas condecorações, figura a de Palma Inácio, que se havia distinguido como pirata do ar e pelo assalto do Banco de Portugal na Figueira da Foz, onde palmou 29 000 contos - uma fortuna, ontem e hoje…

Toda a gente sabe que o dinheiro dos cofres do Banco de Portugal não pertence nem a capitalistas nem a fascistas. É nacional – é de todos! Menos o cidadão Jorge Sampaio, enquanto Supremo Magistrado da Nação…
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Nota do editor

Último poste da série de 7 de Maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13109: Carta aberta a... (10): Minha neta Raquel que fez 15 anos... (Dedico também esta carta aos ex-combatentes, avós babosos e babados) (O avô Mário)

11 comentários:

Costa Abreu disse...

Dos cobardes nao fala a historia, foram simplesmente bem acolhidos e ficaram com bons cargos politicos depois de terem regressado a Portugal de aonde fugiram,por exemplo trabalhando na radio Argelina, nos felizmente tivemos muitos herois, exemplo nao so Alpoim Calvao,Marcelino da Mata e muitas centenas de outros de que nunca se falou, creio que este SENHOR? M.S.T. possivelmente nunca soube o que e defender uma PATRIA.
Julio Abreu
Grupo de Comandos Centurioes
Ex-Guine Portuguesa

J. Gabriel Sacôto M. Fernandes (Ex ALF. MIL. Guiné 64/66) disse...

Recordo igualmente e com saudade o HEROI que foi o Capitão João Bakar Jaló, morto em combate em defesa da bandeira Portuguesa e do solo pátrio.

Antº Rosinha disse...

Vai levar muitos anos para os anos da "Guerra do Ultramar" serem historiados em toda a sua dimensão.

Sabemos qual é a limitada dimensão das ideias destes portugueses como MST, com certas origens e certas adrenalinas.

A "Guerra do Ultramar" ainda está para terminar, ainda recentemente chegou um polícia de Timor.

Rui Silva disse...

Este cromo foi o mesmo que disse que os professores eram uns inúteis. Gostava de saber, se não fossem os professores, se a mãe dele e ele teriam chegado aonde chegaram e principalmente ele, arranjaria os tachos que entretanto arranjou, nomeadamente na TV.
E também gostava de saber por onde ele andava quando foi o 25 de Abril. E também se conhece verdadeiramente o que os militares portuguesas, chamados a intervir, passaram na guerra do Ultramar; os sacrifícios pagos muita das vezes com a estropiação do próprio corpo e até da morte. Muitas das vezes nem havia corpo para um funeral digno. Houve ali muito herói sim senhor. Eu estive lá, eu vi!

Rui Silva

Anónimo disse...

Nem valeria a pena dar resposta a esse tal mst. O rapaz é novo,não pensa e de algum tempo para cá só fala do que não sabe desde que receba os euros da tv. Manuel Luís Lomba AMIGO: não sou de asneirames, mas talvez desta vez me apeteça mandar esse tal mst, para qualquer lado. UM ABRAÇO.
De: Veríssimo Ferreira

Anónimo disse...

Caro camarada M.Luís Lomba

O M.S.T. às vezes nos seus escritos comete gafes, não sei se voluntárias.

Quanto a heróis tudo é relativo,depende da forma de pensar de cada um, ou do regime vigente em cada momento.

Da mesma forma, meu caro, também tu cometeste uma gafe ao citares o Palma Inácio.

Foi um "revolucionário" romântico, nunca matou ou feriu ninguém, e quanto ao roubo tinha como finalidade a financiação da luta armada para derrubar o regime.

O dinheiro foi quase todo recuperado, porque as notas tinham número de série seguidas.

O que era um "terrorista" no regime anterior,passou a ser um "herói" no regime democrático..tudo é relativo.

Nós combatentes para uns fomos patriotas para outros fascitas.

Um alfa bravo

C.Martins

JD disse...

Camaradas,
Não li o artigo em apreço de MST, todavia, o comentário que vou fazer, em repetição de uma ideia que já aqui expressei, refere-se aos heróis anónimos.
De facto, o conceito de heroísmo assenta na admiração provocada em terceiros, pelo cometimento de actos de grande coragem, e por feitos guerreiros notáveis. Tudo bem, mas muito frequentemente, o herói não age só, integra uma força, e a força pode constituir o substrato de apoio, ou de integração na acção que permite a distinção de um ou outro. Muitas vezes, também, essa distinção pode ser manipulada, e consagrar o herói de entre uma força onde outro(s) pode(m) ter sido mais afoito(s), ou mais decisivo(s) para o êxito da acção.
Muitos heróis estavam em Bissau, e não sou eu a dizê-lo, pois nunca lutei a partir de Bissau, muito menos na cidade, e não posso avaliá-los, mas militares prestigiados que o têm expressado em obras pessoais.
Eu quero é referir o heroísmo dos soldados simples, arrebanhados por uma nação que pouco ou nada os considerava, que não só não os alimentava decentemente, como ainda permitia que alguns graduados se locupletassem com o roubo dos melhores alimentos e de meios que garantiam segurança e o mínimo conforto;soldados sem preparação adequada para a guerra, e muitos que aguentavam as insolências da hierarquia, os insultos, as injustiças, e, no seio dos pelotões continuavam a dar o melhor de si pela solidariedade e sobrevivência. Esses são os heróis desconhecidos que deram o máximo pela defesa do país, que hoje os ignora e suga.
Abraços fraternos
JD

JD disse...

Camaradas,
Indeciso pelos acontecimentos que enchem os noticiários, esqueci-me de concluir a ideia do comentário, a de que MST, que em boa medida representa a ideologia da superestrutura do Estado, parece revelar uma visão de classe a condicionar o reconhecimento heróico do povo português.
Quando a tropa não correspondeu às necessidades, foi porque estava mal equipada, e/ou mal preparada, responsabilidade que deve ser imputada a governantes e comandantes incompetentes. Talvez o MST queira vir a terreiro contrapor uma ideia melhor. Fica o repto.
JD

Manuel Luís Lomba disse...

Olá, activo e dinâmico camarada C. Martins.
Muito aprecio os teus comentários, por regra acutilantes e em estrofe.
Evoquei o Palma Carlos, como poderia evocar o camarada Zé do Telhado (que Deus guarde ambos), em reforço do MST, para focar a dinâmica dos dos Supremos Magistrado da Nação, pela inflação de medalhados.
A propósito, e de gafe para gafe: que mais-valias será essa do "pobre" Palma Inácio, de não haver ferido nem morto ninguém - mas ter assaltado e palmado os cofres do banco da Nação, para desencadear uma luta armada...
Pelo menos, ex-combatentes, sabemos que as lutas armadas são lutas de morte.
Retribuindo o abraço,
Manuel Luís Lomba

Manuel Luís Lomba disse...

De gafe, em gafe...
Que Deus guarde também o Palma Carlos - um Palma lutador anti-fascista, sem nada em comum com o Inácio

Valdemar Silva disse...

Viva, caro Manuel Luís Lomba.
Realmente, todos nós fomos heróis.
Milhões de heróis que nós fomos na guerra em África. Cada um à sua maneira, mas fomos todos grandes heróis.
Falando no heroísmo do Comandante Alpoim Galvão, que com umas 'barcaças' conseguiu o feito extraordinário, no ataque a Conacri, eliminar o arsenal de armamento sofisticado e reduzir a simplórios 'totós' especialistas do poderoso bloco soviético e financiadores sociais-democratas suecos, e libertar os nossos militares que estavam prisioneiros.(com a NATO toda poderosa a ficar espantada).
Tão mal aproveitados estavam todos esses milhões de heróis, durante aqueles 13 anos de guerra.
Que país não seria o nosso, se Comandantes como aquele e todos os seus heróis tivessem sido aproveitados sem ser para a guerra, e juntando aqueles milhares que heroicamente a salto foram trabalhar para França, que país não seria o nosso.
Realmente, Manuel Luís Lomba a nossa geração de heróis foi muito mal aproveitada.
Um abraço
Valdemar Queiroz