terça-feira, 15 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17672: Manuscrito(s) (Luís Graça) (121): poema à minha igreja do Castelo, Lourinhã, setembro de 1964...



Jornal "Alvorada", quinzenário regionalista, Lourinhã, 13 de setembro de 1964.


1. Um poema meu, publicado aos 17 anos... Foi aqui, no jornal "Alvorada",  que comecei a publicar os meus primeiros poemas. Foi aqui que tive a minha primeira atividade remunerada como jornalista, embora sem carteira profissional.  Foi, aliás,  esta a  profissão que dei para a  tropa, quando aos 18 anos fui à inspeção militar.

Comecei por estar ligado, à criação de uma secção, ou de uma página, a que chamámos "Alvorada Juvenil", com outros jovens da terra, estudantes e outros, com destaque para os meus amigos e colegas de escola, Álvaro Andrade de Carvalho, hoje psiquiatra, e o saudoso Rui Tovar de Carvalho (Lourinhã, 1948-Lisboa, 2014), que haveria,  depois, de  fazer carreira no jornalismo desportivo.

Criámos a seguir um secção dedicada ao correio dos soldados do ultramar, e mais outra onde demos voz aos nossos emigrantes. No "Alvorada Juvenil", abrimos um inquérito aos jovens lourinhanenses e alimentámos o "cantinho dos poetas"...

Havia da nossa parte alguma irreverência e inquietação, próprias da idade e das circunstâncias da época. Acabei por exercer as funções de redator coordenador deste jornal, quinzenário regionalista,  que ainda hoje se publica. Foi fundado ao em 1960, pelo padre António Pereira Escudeiro (Tomar, 1917-Lisboa, 1994), um homem a quem a Lourinhã muito deve e que fez uma aposta forte na formação das elites locais, ou seja, na educação, para além do apostolado e do mister sacerdotal. Foi o  fundador e o primeiro diretor do Externato Dom Lourenço, que permitiu aos jovens do concelho da Lourinhã prosseguir os seus estudos depois do ensino obrigatório (que era apenas de 4 anos no meu tempo)-

O padre António Escudeiro fora igualmente fundador do jornal "Redes e Moinhos" (1954-1960). Antes de vir para a Lourinhã como pároco, em 1953, estivera  em Alcanena, terra da indústria dos curtumes, onde fundara o jornal quinzenário "O Alviela", entretanto supenso pela censura por ousar publicar um artigo sob o título "A fome em Alcanena" (onde se critica a banca pelos juros usurárips que levavam à falência das empresas locais, ao desemprego e à fome)... Estava-se em plena campanha eleitoral do general Norton de Matos. "O Alviela" retomaria  a publicação depois de,  mediante requerimento,  ser expressamente autorizado a versar também "assuntos sociais"...

À frente do "Alvorada", como redator-coordenador, de 1964 a 1966, "fiz-me esquecido" e deixei de mandar o jornal à censura... A entrada de jovens fora uma pedrada do charco da pasmaceira e do conformismo em que se vivia nesta terra do oeste estremenho. Estava-se em plena guerra colonial mas já na fase de fim de ciclo da história..."Cadáver adiado", o regime do Estado Novo ainda estrebuchava e metia medo a muitos. Não admira que o diretor do jornal tenha recebido um intimidatório ofício da direcção geral de censura a perguntar por que é que se permitia o luxo de ultrapassar a lei...

Metade do ofício, que era apenas de duas linhas, correspondia a uma assinatura em letra garrafal, símbolo máximo da arrogância totalitária quem se sentia dono e senhor deste país... A assinatura, ilegível, seguia-se à fórmula, obrigatória, no tempo do Estado Novo (1926.1974),  "A bem da Nação, com que terminavam todos os ofícios (e todas as demais comunicações escritas, internas, incluindo discursos, requerimentos, petições, etc.)

O pobre do vigário geral, já com ficha na PIDE (por causa do "Alviela"), lá teve que arranjar uma desculpa esfarrapada aos senhores coronéis da censura e, a mim, puxou-me as orelhas... Doravante, tínhamos que mandar os artigos em duplicado para a tipografia, sita em Torres Novas, que por sua vez mandava uma cópia para a censura... E no entanto nunca nenhum de nós escreveu o que que fosse  que pudesse pôr em  causa a sagrada tríade "Deus, Pátria e Família"!...

Eu acho que os censores embirraram sobretudo com os nossos jovens poetas. Não entendiam nada da poesia moderna e receavam à brava que os jovens lourinhanenses e outros, que colaboravam connosco, escrevessem também nas "entrelinhas", mandassem em código, entre si, perigosas, subversivas e dissolventes mensagens...

Nunca se sabe o que se passa no coração dos poetas nem muito menos na cabeça dos censores...


Lourinhã > Igreja do Castelo > Escadaria de acesso > 13 de agosto de 2017 > Muito provavelmente, este templo gótico do séc. XIV foi construído sob uma igreja românica, depois da conquista aos mouros em 1147. O primeiro senhor, cristão, destas foi um cavaleiro franco, Jourdain, ao que parece proveniente da cidade do norte de França, Lorient. Os "francos", cavaleiros cristãos que vinham de regiões transpirenaicas, ajudar os reinos cristãos da península ibérica na chamada "reconquista",  eram aquilo a que podíamos chamar hoje, com propriedades, verdadeiros mercenários. A fé cristã escondia outras motivações mais terrenas... Na altura, esta localidade era banhada por um braço de mar, e era fortificada com muralhas.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. A Igreja do Castelo, antiga igreja matriz da Lourinhã,  monumento nacional, é um belíssimo tempo de arquitetura gótica do dos finais do séc. XIX. Os seus capitéis, de motivos vegetalistas, são verdadeiras obras-primas.  

É obrigatória uma visita a esta jóia do nosso património arquitetónico que, ao longo dos séculos, sofreu muitos maus tratos, incluindo a sua reconstrução e restauro no tempo do Estado Novo, pela Direção Geral dos Monumentos Nacionais...

Foi nela que fui batizado, em 1947... Fica na minha rua, a rua onde nasci, a rua do Castelo (ou rua dos Valados, hoje rua Dr. Adriano Franco),  no alto da pequena elevação que domina a vila da Lourinhã, conquistada aos mouros por Dom Afonso Henriques, em 1147. É um dos ex-libris da Lourinhã.
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Nota do editor:

Último poste da série > 2 de julho de 2017 > Guiné 61/74 - P17572: Manuscrito(s) (Luís Graça) (120): A notícia da morte do Zé Belo, comido por uma úrsula menor quando ia à pesca do salmão lá na Lapónia... foi um bocado exagerada!

Guiné 61/74 - P17671: "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", brochura de 2002, da autoria do nosso camarada Gabriel Moura do Pel Mort 19 (14): Págs. 105 a 112

Capa da brochura "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra"

Gabriel Moura

1. Continuação da publicação do trabalho em PDF do nosso camarada Gabriel Moura, "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", enviado ao Blogue por Francisco Gamelas (ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 3089, Teixeira Pinto, 1971/73).


(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17664: "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", brochura de 2002, da autoria do nosso camarada Gabriel Moura do Pel Mort 19 (13): Págs. 97 a 104

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17670: Convívios (821): Encontro e almoço do pessoal da CCAV 3366, a levar a efeito no próximo dia 9 de Setembro de 2017 no Parque das Nações, em Lisboa (Delfim Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf)

Em mensagem de 10 de Agosto de 2017, pede-nos o nosso camarada Delfim Rodrigues (ex-1.º Cabo Auxiliar de Enfermagem da CCAV 3366/BCAV 3846, Suzana e Varela, 1971/73) para publicitarmos o Convívio da sua Companhia, a levar a efeito no próximo dia 9 de Setembro, no Parque das Nações, em Lisboa.

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Nota do editor

Último poste da série de 3 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17645: Convívios (820): Almoço do pessoal da Tabanca da Maia, realizado no passado dia 29 de Julho de 2017 (Abel Santos, ex-Soldado At Art)

Guiné 61/74 - P17669: Notas de leitura (988): “Cartas do Mato, Correspondência Pacífica de Guerra”, por Daniel Gouveia, Âncora Editora, 2015 (1) (Mário Beja Santos)

"Cartas do Mato, Correspondência Pacífica de Guerra”
Autor: Daniel Gouveia - Âncora Editora, 2015



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Agosto de 2017:

Queridos amigos,
Este alferes que cumpriu o serviço militar no Norte de Angola não é, no blogue, um forasteiro. Já aqui se apreciou a sua gema literária "Arcanjos e Bons Demónios - Crónicas da Guerra de África", ficou uma enorme vontade de ler mais.
Entende-se a experiência e os conhecimentos que são vazados nesta correspondência, era aluno de Românicas, foi pianista no Quinteto Académico, multiplica-se em atividades, até a musicologia do fado não lhe escapa. Faz jus ao título da obra: correspondência pacífica, porque é um homem de cuidados, há no que escreve a curiosidade de um antropólogo, preza sem prosápias cuidados que até se estendem à enfermagem.
Este livro é não só um belo regresso a narrativas onde não há amargor, desquites ou maledicências. Vale a pena continuar. Atenção, vejam com cuidado a alegria daquela malta do nosso tempo a exibir o correio recebido, nunca vi fotografia igual.

Um abraço do
Mário


Cartas do mato, por Daniel Gouveia (1)

Beja Santos

De Daniel Gouveia já aqui se saudou o seu notável “Arcanjos e Bons Demónios – Crónicas da Guerra de África”, DG Edições, 3.ª edição, 2011. Em abono dessa sua preciosa narrativa, vamos agora dar atenção a “Cartas do Mato, Correspondência Pacífica de Guerra”, Âncora Editora, 2015. Por uso e costume, o centro das nossas atenções vai para o que se escreve sobre a guerra da Guiné, mas faz-se sempre o reconhecimento de que só ganhamos em comparar o que é comparável em toda a literatura da guerra; em comparar e distinguir, pois claro, cada teatro tem as suas especificidades, houve diferentes hostilidades. Mas ao comparar e distinguir também elevamos o nosso olhar para um patamar de princípios, de ética, de fusão da camaradagem: os valores e os sentimentos universais, aquilo que é transversal no combatente, seja a descoberta dos novos ambientes, as formas de adaptação, o quinhão da solidariedade, as angústias e os medos, a repartição dos farnéis, o combate contra a solidão, e o medo das picadas, a angústia das esperas, o caminhar dentro das florestas húmidas, a reação à emboscada; e a caraterização dos protagonistas, o cozinheiro, o padre, o apontador de bazuca, o oficial e o sargento, a ansiedade na chegada do correio.

Todos os escritores são diferentes, e dentro deste gozo da personalidade Daniel Gouveia tem opções claras, mesmo como agora em que se socorre de estratos de correspondência: vê à sua volta e transmite apreciações construtivas, é cuidador, tem bom ouvido para o chasquear dos outros, adapta-se perguntando, está mortinho por saber, daí a sua admiração pelo pisteiro de Tomboco, localiza as viagens, dá nota das chegadas, não esconde a satisfação pela pilhéria, nunca o iremos ver alcandorado em triunfos militares, na sua narrativa é impensável a pesporrência e nunca descuida qualquer comentário crítico, a propósito. Tudo começa no Grafanil (a sua comissão militar é em Angola, naquele amplo território denominado Zaire, acima de Ambrizete e não muito longe de S. Salvador. Foi em rendição individual, conheceu o seu pelotão a bordo do Vera Cruz e escreve:
“… Conheci, finalmente, o meu pelotão! É constituído, na sua maioria, por transmontanos, rijos como penedos, rudes e simples. São mais ou menos pequenitos de estatura, mas que peitaças!”.

Pois no Grafanil já há hinos e quadras, segue-se para Tomboco, o pisteiro Teixeira é uma fonte de sabedoria para conhecer a selva. Informa quem ama que lhe vai falar do pingómetro, um tal aparelho que serve para medir pingos, foi inventado pelo Capelão, o Padre Campos, havia o grande problema de saber quando é que o depósito de água estava vazio. Mostra os desenhos da invenção do padre e escreve:
“É fácil, como se vê: se está cheio, a pedra está em baixo! Se o calhau está próximo da roldana, é bom ir ligando o motor, pois já ninguém se atreve a meter-se no duche. A medida-padrão do pingómetro é o furco, uma medida regional da terra do capelão que equivale à distância entre o polegar e o indicar no máximo do seu afastamento”. 
Assim tornava-se compreensível dizer que faltam “três furcos para acabar a água” ou que “daqui a dois furcos já há água nos quartos”. As suas pitadas de humor fazem ressaltar o seu espírito faceto, a estampada ingenuidade de quem ouve e não sabe pôr em palavras rigorosas, é diversão sem humilhação:
“… Em certas circunstâncias usa-se o very-light, um artefacto pirotécnico de luz verde, vermelha ou branca que fica a pairar no céu por uns momentos, iluminando ou dando sinal para qualquer ação. Claro que os soldados recebem instrução sobre isso. Mas ontem verificou-se que não lhe ensinamos devidamente a palavra.
Um soldado estava de sentinela, à noite, vê uma estrela cadente particularmente intensa. Deixou um camarada no posto e veio a correr, muito aflito, avisar os oficiais: 
- Meu Capitão, meu Capitão! Vi agora mesmo um pirilaipe! Ainda gozámos, pois o capitão insistiu: 
- O que é que tu viste? - Um pirilaipe meu Capitão”.

Meses depois está no Lufico, a 80 Km de Tomboco, e escreve deslumbrado:
“… Uma coisa aqui é soberba: a paisagem. Vassalo, como sou, da Natureza, encontrei neste quartel perdido do Norte de Angola todo o esplendor africano que não poderia encontrar em todos os filmes sobre a selva, juntos. O acidentado do terreno coloca toda esta exuberância vegetal em cenários sucessivos de colinas e vales, com maciços de palmeiras a bordejar os rios turbulentos de cascatas e rápidos. Os cabeços, de vegetação mais rala, estão, no entanto, povoados de monumentais embondeiros cujos ramos, quase nus, se organizam numa incomparável filigrana quando o sol, feito enorme bola de fogo, se lhes põe por detrás. Colocaria aqui, sem hesitar, o presépio do Menino Jesus de raça negra”. 

Segue para Zau-Évua, a 90 Km de Tomboco, houvera uma emboscada em Quibala, 100 Km ao Sul de Zau-Évua, com 7 mortos e 11 feridos. Novo comentário, tal a embriaguez da paisagem: 
“A toda a volta do quartel é uma interminável planície, verde-acastanhada do capim a ficar seco, onde se implantam, como ilhas, alguns morros colossais e dispersos, só rocha, dos quais um grupo de 9, cujas cristas lembram o dorso de elefantes, deu o nome ao local”.

A 9 de Junho está em S. Salvador do Congo, a capital do distrito do Zaire. A sua descrição mostra o seu permanente olhar divertido, espraia-se na apresentação do espaço e situações:
“Ainda existe, morando na cidade, em casa construída pelo Governo e com uma pensão vitalícia, a última rainha do Congo, D. Isabel, uma negra de meia-idade, afável e senhora do seu papel, que não come comida se não cozinhada por si, desde que o marido, o rei do Congo, morreu envenenado há alguns anos.
A cidade – se é que, em tamanho, tal se lhe pode chamar – é formada por ‘parte branca’ e ‘parte preta’. A parte branca tem uma vintena de casas civis, dois quartéis, edifícios da administração, arame-farpado e postos de vigia a toda a volta. A pista de aviação atravessa-a de meio a meio, já que assenta no que deveria ter sido uma das avenidas. Assim, há ruas que desembocam diretamente na pista, há lojas cuja montra e entrada dão para ela”.

Em Julho estão em Quiximba e comenta:
“O Quiximba é muito bonito, mas também é muito frio. Estamos no cacimbo. Autêntico Inverno. Anda-se de mãos nos bolsos, ponta do nariz gelada, camisola de gola alta, meias de lã. À noite, quatro mantas e pijama de flanela, com camisola interior e meias calçadas para não ter de inventar uma botija”.
E começa a poetar, Quiximba vai dar muito que falar.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 11 de Agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17663: Notas de leitura (987): “Portugal e o Império Africano - Séculos XIX e XX”, coordenação de Valentim Alexandre, Edições Colibri, 2013 (2) (Mário Beja Santos)

domingo, 13 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17668: Blogpoesia (524): "O mínimo vital..."; "Sussurros da madrugada..." e "Nas asas dum violino...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros, durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


O mínimo vital…

Sem o mínimo vital,
No corpo ou no espírito,
É precária a existência.
Avizinha-se o fim.
O ar escasseia.
Vem a aflição.
A tontura. A perda dos sentidos.
E depois, o desfecho final.
Se desfalece a emoção e esvai o sabor,
O horizonte enegrece e a vida definha.
A riqueza empobrece.
Morre o interesse.
A derrocada final.
É ténue e fugaz o ponto de equilíbrio.
Não existe fronteira entre o forte e o fraco.
O pobre e o rico.
Esta é a certeza e a base que sustenta a existência.
Se queira ou não queira.
É lei…

Mafra, 9 de Agosto de 2017
5h58m
Jlmg

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Sussurros da madrugada...

Nas altas horas da noite,
no silêncio das casas,
há túmulos e murmúrios de choro.
Sangram as dores nos espaços secretos com traços da vida.
Das ameaças de falta de emprego.
Da cozinha apagada por falta de fogo.
Da doença velada que estala.
Desapareceram os sonhos que irradiavam luz e calor.
Voltaram as sombras dos males esquecidos.
Nas prateleiras faltam remédios.
E o céu das estrelas toldou-se de núvens.
Em vez do sossego da luta do dia,
reina o cansaço e a morte da esperança.

Bar Castelão, 10 de Agosto de 2017
8h42m
Jlmg

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Nas asas dum violino...

Venço as distâncias infinitas nas asas dum violino.
Me balanço nas suas cordas em vibração.
Me relanço ao vento da fantasia e vou como um perdido apaixonado.
Alcanço os cumes das cumeadas com o o alento que me dão.
Me seguro ao rasto puro das marés e sonho como uma bela adormecida.
Oiço acordes frementes de apaixonado.
Saboreio as cores das orquídeas e miosótis.
Me regalo à sombra fulgurante das estrelas ao luar da madrugada.
Nunca aporto ao mesmo porto
porque fujo às sereias alucinadas...

Bar Castelão em Mafra, 11 de Agosto de 2017
10h11m
ouvindo um violino
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 6 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17653: Blogpoesia (523): "Quadro preto"; "A casa da poesia..." e "Ponta do novelo...", poemas de J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728

sábado, 12 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17667: Agenda cultural (579): Camarada e amigo, traz os teus netos e vem daí até à Lourinhã, capital dos dinossauros: este fim de semana andam os dinossauros à solta...


Lourinhã, 11, 12 e 13 de agosto de 2017: ver página oficial do evento

Desde ontem e até  13 de agosto, domimngo,  a Lourinhã está a ser  o palco da iniciativa Dinossauros Saem à Rua, que inclui:

(i)  uma mostra de 20 dinossauros em tamanho real;

(ii) apresentações científicas;

(iii) workshops de paleontologia;

(iv) exposições;

(v) e cinema em tela 360º.

Este fim de semana a vila da Lourinhã é um verdadeiro “museu” de dinossauros ao ar livre. Os organizadores prometem uma autêntica aventura jurássica, destinada a miúdos e graúdos.

O evento Dinossauros Saem à Rua irá decorrer em vários espaços:

(i) Pavilhão Lourinhanosaurus (Associação do Hóquei Clube da Lourinhã);

(ii)  Centro Draconyx (Centro Cultural Dr. Afonso Rodrigues Pereira);

(iii)  Espaço Paleontólogo Por Um Dia (Anfiteatro da Praça José Máximo da Costa).

O Museu da Lourinhã também está aberto ao público para visitas livres e com um conjunto de atividades como a “Hora do conto” e a “Caça ao Dinossauro”.

Esta é uma oportunidade única para ver de perto algumas das principais espécies de dinossauros (como o T.Rex e o Lourinhanosaurus ) e descobrir a Lourinhã,  um dos locais mais ricos do mundo em fósseis de dinossauro.

 As duas dezenas de modelos estão expostos em várias ruas da Lourinhã (como a Praça José Máximo da Costa, Praça Marquês de Pombal, Largo António Granjo, Rua João Luís de Moura, etc) e em vários espaços interiores.

Dinossauros Saem à Rua teve nício às 17h00 de sexta, dia 11, e encerra às 22H00 de domingo, dia 13.

Com este evento, a organização pretende consolidar a afirmação da Lourinhã como a Capital dos Dinossauros e valorizar o património paleontológico do concelho, onde têm descoberto uma grande quantidade de ossos fossilizados de dinossauro, pertencentes a várias espécies e que ganhou projeção após a descoberta, em 1993, do maior ninho dos dinossauros e com os mais antigos embriões até então encontrados.

Esta é uma iniciativa organizada em parceria entre;

(i)  GEAL – Museu da Lourinhã, a Câmara Municipal da Lourinhã;

(ii) e a União de Freguesias da Lourinhã e Atalaia.

O programa completo do evento poderá ser consultado AQUI ou em http://dinossaurossaemarua.pt .

ANIMAÇÕES DECORREM EM VÁRIOS ESPAÇOS

(i) Pavilhão Lourinhanosaurus (Associação do Hóquei Clube da Lourinhã):

Aqui poderão ser encontrados quatro modelos de dinossauros, e estão a  decorrer várias projeções de 360 (“Nanocam – Uma Viagem à Biodiversidade”, “Alterações Climáticas – Qual o futuro que enfrentamos” e “Lourinhanosaurus ? E depois”?) e atividades dirigidas às crianças como workshops de máscaras de dinossauros.

“Lourinhanosaurus? E depois?” será apresentado no primeiro dia do evento às 21h00 e este será o primeiro filme realizado sobre a paleontologia na região.

(ii)  Espaço Paleontólogo Por Um Dia, localizado na Praça José Máximo da Costa: 

 É um dos locais mais atrativos para as crianças. Aqui, os mais novos poderão embarcar numa expedição paleontológica, entrando no campo de escavação encontrar fósseis e pedras semi-preciosas. Podem também tornar-se paleontólogos através da escavação de blocos com dinossauros no seu interior.

Poderão ainda ver, ao vivo, como são preparados os fósseis de dinossauro, descobertos na região e compreender as diversas etapas desde a sua descoberta até que a peça esteja pronta para exposição.

(iii) Centro Draconyx (Centro Cultural Dr. Afonso Rodrigues Pereira):.

Aqui estão a  decorrer as microconferências Laboratório de Preparação de Fósseis do Museu da Lourinhã – Uma Janela do Tempo, no sábado às 15H00; “Os Ovos de Crocodilo mais antigos do Mundo”, às 17h00 e às 19h00 realiza-se a Exposição e Património Paleontológico em Portugal.

No domingo às 15h00 o tema será Ovos de Dinossauro da Península Ibérica; às 17h00 o tema será Outros animais do tempo dos Dinossauros e às 19h00 irá abordar-se o tema Laboratório de Preparação de Fósseis do Museu da Lourinhã – Uma Janela do Tempo.

Irá ainda realizar-se a Conferência “Na Pegada dos dinossauros”, no sábado às 21h30, no Auditório Musical e Artística Lourinhanense, com o reconhecido paleontólogo lourinhanense  Octávio Mateus.

O evento contará com um espaço de Street Food, onde será possível degustar diversas iguarias.


O MAIOR NINHO DE DINOSSAURO EM CHOCOLATE

No âmbito dos Dinossauros Saem à Rua será realizada a tentativa de recorde mundial para o maior ninho de Dinossauro em Chocolate, será composto por 130 ovos e alguns dinossauros bebés e terá cerca de 2 metros e meio de diâmetro.

Esta tentativa de recorde é uma iniciativa da empresa Doce Lourinhã, Museu da Lourinhã e Academia Profissional de Cake Design das Caldas da Rainha, com o apoio da Câmara Municipal Lourinhã e Junta de Freguesia de Lourinhã e Atalaia.

A equipa de trabalho conta com aproximadamente 12 profissionais de cake design, uma equipa científica de quatro elementos e uma equipa de apoio de quatro a cinco elementos. Esta equipa será supervisionada por uma equipa de 2 elementos do júri que acompanhará o processo de fabrico do início ao fim.

A fase final da construção do ninho terá início no dia 11 às 17h00 no Pavilhão Lourinhanosaurus e a conclusão está prevista para dia 13 às 16h00.


CONCURSO DE CAKE DESIGN

O evento Dinossauros Saem à Rua contará também com um concurso de Cake Design – “Concurso Bolos Jurássicos” – que irá eleger o melhor bolo artístico sob o tema dos dinossauros, com o objetivo de incentivar os profissionais de cake design a exporem as suas potencialidades na decoração de bolos. Destina-se apenas a profissionais desta área e as candidaturas decorrem até dia 30 de julho.
Os vencedores serão revelados no dia 12 de agosto às 18h00 no Pavilhão Lourinhanosaurus e o júri é composto por formadores da Academia Profissional de Cake Design das Caldas da Rainha.

Preços:

Adultos – 4 euros – Acesso a todos os espaços

Crianças dos 6 aos 12 anos – 2 euros – Acesso a todos os espaços

+ de 65 anos – 2 euros – Acesso a todos os espaços
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Nota do editor:

Último poste da série de 12 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17665: Agenda cultural (578): Apresentação, em Crestuma, do livro "Memórias Boas da Minha Guerra" - Volume II, da autoria de José Ferreira, levada a efeito no passado dia 5 de Agosto

Guiné 61/74 - P17666: (In)citações (110): À procura de… Luís Vassalo Rosa, arquiteto e comandante da CART 1661 (Mário Beja Santos)

Cap Art Luís Vassalo Rosa, CMDT da CART 1661


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Agosto de 2017:

Queridos amigos,
Agora começa o trabalho para quem conheceu e ou conviveu com o Capitão de Artilharia Luís Vassalo Rosa, que tinha à sua responsabilidade Porto Gole, Enxalé, Bissá e Missirá.
Olhando este dispositivo, eu que apanhei outro (Missirá ficou na dependência do batalhão de Bambadinca, talvez logisticamente acertado mas inadaptado à quadrícula, as bases do PAIGC eram as mesmas para Missirá e Enxalé, mas o assunto para aqui não é relevante) fico a refletir como havia mais bom-senso no dispositivo no terreno, face às caraterísticas do inimigo. Têm aqui constado referências largas sobre a CART 1661, presumo que o Capitão Vassalo Rosa não teve longa permanência, chegou em 1967, ano em que é recambiado com tuberculose para Lisboa.
Há fotografias? Há documentação? Que memória ficou dos seus camaradas de então?
Quem sabe, sabe.

Um abraço do
Mário


À procura de… 
Luís Vassalo Rosa, arquiteto e comandante da CART 1661

Beja Santos

Luís Vassalo Rosa é nome proeminente da arquitetura portuguesa da segunda metade do século XX, tem trabalho reconhecido por colegas de ofício e amigos como Fernando Peres, Armando Lucena, Maurício de Vasconcelos, Raul Chorão Ramalho, Nuno Teotónio Pereira, Manuel Tainha, entre outros. Começou a carreira profissional em Pangim, Goa, será capitão de artilharia na Guiné, em 1966, virá evacuado depois de contrair tuberculose. A sua obra mais importante será a Sé de Bragança, Catedral de Nossa Senhora Rainha. A Câmara Municipal de Almada dedicou-lhe na Casa da Cerca, entre finais de 2007 e Março de 2008 uma exposição a pretexto de ter recebido o Prémio Municipal de Arquitetura Cidade de Almada, a exposição permitia ao visitante acompanhar o percurso desde o seu primeiro projeto, o Jardim-Escola João de Deus, em Torres Novas, de 1957, até ao estudo para a cidade desportiva de Sines, em 2007. Pelo caminho, as suas diversificadas intervenções no plano de urbanização de Chelas, no plano integrado de Almada - Monte da Caparica, no estudo preliminar para a recuperação e valorização conjunta do Castelo de Almourol e da Igreja de Nossa Senhora do Loreto em Vila Nova da Barquinha, o Palácio da Justiça de Setúbal, a recuperação do Palácio do Alvito, Plano Diretor Municipal de Salvaterra de Magos, Marina de Portimão, e muito mais.



É exatamente na leitura deste vastíssimo currículo que se encontram referências mínimas à sua passagem pela Guiné. Diz-se que embarca no Uíge em 1967 com a CART 1661, sendo-lhe atribuído o setor Missirá, Enxalé, Porto Gole e Bissá, foi posteriormente evacuado para o Hospital Militar de Bissau e transferido para o Hospital Militar de Lisboa. Aparecem duas fotografias do comandante da CART 1661, e nada mais.


Penso que seria interessante investigar-se o percurso do arquiteto Vassalo Rosa em Porto Gole, Enxalé, Bissá e Missirá. Ocorreu-me que pessoas como o João Crisóstomo, o Abel Rei, o Henrique Matos Francisco, entre tantos outros, podiam ajudar a localizar e a mostrar mesmo imagens do construtor da Sé de Bragança por aquelas paragens da Guiné. Estive em Missirá, no ano seguinte, não obtive qualquer referência à sua pessoa.
Vamos a ver até onde poderá ir a procura à volta do comandante da CART 1661.
Todas as ajudas serão muitíssimos úteis para que o seu retrato guineense fique o mais nítido possível.
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17514: (In)citações (109): Portugal a arder - destruição, desolação e morte (Francisco Baptista, ex-Alf Mil)

Guiné 61/74 - P17665: Agenda cultural (578): Apresentação, em Crestuma, do livro "Memórias Boas da Minha Guerra" - Volume II, da autoria de José Ferreira, levada a efeito no passado dia 5 de Agosto

Crestuma, 5 de Agosto de 2017 - Apresentação do livro "Memórias Boas da Minha Guerra" - Volume II, da autoria de José Ferreira

Memórias Boas da Minha Guerra - Volume II
Autor: José Ferreira
Chiado Editora - Julho de 2017

No passado sábado, dia 5 de Agosto, integrada nas Comemorações do 4.º aniversário do CRASTUMIA (Centro Associativo Cultural de Crestuma) foi apresentado, na Junta de Freguesia de Crestuma, o Volume II das "Memórias Boas da Minha Guerra", da autoria do nosso camarada José Ferreira da Silva.

Por se estar pleno Agosto, mês de férias para a maioria das pessoas, o José não teve presente a moldura humana que merecia. Mesmo assim, aqueles que puderam não deixaram de estar presentes. Entre a assistência viam-se, familiares, amigos e camaradas de armas, entre estes "Os Bandalhos", que se fizeram representar ao mais alto nível.

A Mesa era composta por: Francisco Baptista, Combatente; Ricardo Figueiredo, Combatente; Romualdo Mota e Silva, Presidente do Crastumia; Alberto Moura, amigo do autor, que mais uma vez coordenava a apresentação do livro; Manuel Azevedo, Presidente da União de Freguesias de Sandim, Olival, Lever e Crestuma; Carlos Vinhal, combatente; e pelo autor, José Ferreira.

Sensivelmente pelas 18h30, o coordenador Alberto Moura dava início à sessão de apresentação do livro "Memórias Boas da Minha Guerra" - Volume II, saudando os presentes e dando de imediato a palavra ao Presidente da União de Freguesias, Manuel Azevedo, anfitrião do evento.

Alberto Moura

O anfitrião Manuel Azevedo dando as boas-vindas aos presentes

Falou em seguida o Presidente da CRASTUMIA, Dr. Romualdo Mota e Silva que salientou as qualidades do autor, que é vice-presidente daquele Centro Associativo e Cultural, assim como das suas actividades sociais e culturais em favor das gentes de Crestuma, desde há longos anos. Aproveitou o ensejo para fazer o balanço da actividade da Colectividade a que preside, no momento a comemorar os seus 4 anos de existência.

O Dr. Romualdo Mota e Silva durante a sua intervenção

Foi dada a palavra ao combatente Ricardo Figueiredo, um dos Bandalhos presentes, que falou da guerra na Guiné, dos seus números e particularidades, para depois recensionar o livro em apresentação. Como não podia deixar de ser, a sessão começou a animar já que o livro fala dos aspectos menos maus da guerra, porque como diria o José Ferreira, na guerra também se viveram bons momentos.

O combatente Ricardo Figueiredo à volta com os números da guerra na Guiné

Mais uma vez, na qualidade de editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, interveio o combatente Carlos Vinhal, que fez uma pequena apresentação do Blogue, onde é co-editor, e da colaboração do José Ferreira nesta página que deu origem aos dois livros do autor.

Intervenção de Carlos Vinhal

O Bandalho Francisco Baptista tomou a seguir a palavra para fazer a sua apreciação ao livro e falar do autor. Do livro reteve a excelente qualidade da escrita, e das histórias de vida nele contidas, ao autor, classificou como cidadão exemplar, excelente amigo e camarada.

O combatente Francisco Baptista

E, por último, subiu ao "púlpito" o autor José Ferreira que, com aparente falta de jeito para falar, já que se acha mais à vontade a escrever, agradeceu a presença de todos, especialmente a dos seus familiares. Não esqueceu o Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné que, segundo ele, tem a grande culpa de ter editado estes dois livros. Recordou histórias e momentos nelas relatados.

O autor José Ferreira

Perto das 20 horas, Alberto Moura encerrou a sessão, seguindo-se o jantar comemorativo do 4.º Aniversário do Centro Associativo Cultural de Crestuma (CRASTUMIA), ali mesmo ao lado do edifício da Junta de Freguesia, no qual os combatentes e demais participantes na apresentação do livro, também tiveram assento.

Por estranho que pareça, todos estes 9 combatentes cumpriram a sua comissão de serviço na Guiné e pertenceram à Arma de Artilharia.

Fotos: ©Pedro Sousa/Crastumia, com a devida vénia

Com a devida vénia a Terras de Gaia - JORNAL / TV, aqui fica um pequeno filme do acontecimento da tarde:

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Nota do editor

Último poste da série de 3 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17646: Agenda cultural (577): "Heróis que o tempo não apaga", palestra de capitão Aveiro, o escritor Valdemar Aveiro, Clube de Vela da Costa Nova (CVCN), Costa Nova do Prado, Ílhavo, 18 de agosto de 2017, às 21h30

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17664: "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", brochura de 2002, da autoria do nosso camarada Gabriel Moura do Pel Mort 19 (13): Págs. 97 a 104

Capa da brochura "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra"

Gabriel Moura

1. Continuação da publicação do trabalho em PDF do nosso camarada Gabriel Moura, "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", enviado ao Blogue por Francisco Gamelas (ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 3089, Teixeira Pinto, 1971/73).


(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 8 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17657: "Tite (1961/1962/1963) Paz e Guerra", brochura de 2002, da autoria do nosso camarada Gabriel Moura do Pel Mort 19 (12): Págs. 89 a 96

Guiné 61/74 - P17663: Notas de leitura (987): “Portugal e o Império Africano - Séculos XIX e XX”, coordenação de Valentim Alexandre, Edições Colibri, 2013 (2) (Mário Beja Santos)

“Portugal e o Império Africano – séculos XIX e XX”, coordenação de Valentim Alexandre, Edições Colibri, 2013


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Fevereiro de 2016:

Queridos amigos,
Esta coletânea de intervenções de investigadores dá-nos a possibilidade de percorrer a linha de fundo entre 1825 e a descolonização, perceber como o sistema político liberal procurou soluções depois do abolicionismo da escravatura, lançou exposições, favoreceu novas estratégias comerciais, pacificou etnias hostis, atraiu colonos e investimentos, incrementou culturas a exploração de riquezas. Império frágil, necessariamente, sempre à sombra de um aliado protetor, a Grã-Bretanha. Uma matriz ideológica irá percorrer a Monarquia, a República e o Estado Novo, aqui o regime não soube encontrar resposta para o turbilhão revolucionário, a sua consigna era aguentar. Salazar dizia aos seus íntimos que a III Guerra Mundial lhe iria dar razão. Não houve III Guerra Mundial, a coesão interna desfez-se e os militares mais jovens puseram termo ao impasse, quando se perfilava no horizonte um vexame de proporções incalculáveis.

Um abraço do
Mário


O Império Africano, séculos XIX e XX: 
Um olhar da nova historiografia (2)

Beja Santos

“O Império Africano, séculos XIX e XX”, coordenação de Valentim Alexandre, Edições Colibri, 2013, é uma coletânea de reflexões produzidas durante um curso de verão promovido pelo Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. O coordenador estabeleceu moldura dos grandes eventos, ficou registado no texto anterior. Vejamos agora as grandes temáticas tratadas pelos outros intervenientes.

Primeiro, o abolicionismo. O novo pensamento comercial exigia o fim do comércio negreiro, Espanha e Portugal resistiram mais ou menos longamente à liderança moral e comercial britânica. O tráfico brasileiro ressurgira em força em 1834, a Inglaterra apertava a tenaz, formalmente abolimos a partir de 1839. O Marquês de Lavradio e Sá da Bandeira apresentaram em 1842 uma proposta para abolir o estado de escravidão, foi grande a polémica, os interesses dos proprietários dos escravos eram enormes. Em 1853 estava constituída a coluna vertebral da legislação abolicionista: a libertação de todos os escravos era formalmente uma realidade. Em 1874, Sá da Bandeira e Andrade Corvo pretendem regulamentar o trabalho africano. Mas não haja ilusões, recorrendo a inúmeros expedientes a legislação colonial permitia o uso arbitrário da mão-de-obra nativa.

Segundo, a economia colonial africana. Já se disse que da Monarquia à República e desta ao Estado Novo houve continuidade fundamental na colonização. Destaque-se o impacto do tráfico de escravos transatlântico: redefiniu relações sociais e políticas entre etnias, contribuiu para reestruturar identidades e instituições, expandiram-se redes comerciais que levavam as importações para o interior de Angola; a grande afluência de mercadorias importadas que acompanhou a procura de escravos não só provocou uma expansão geográfica como incrementou a produção africana de géneros para vender. Um investigador lembra-nos que “Ao entrar no século XIX o que é o Estado de Moçambique não constituía uma unidade política nem administrativa. Era a África Oriental Portuguesa, de contornos indefinidos, também designada por Conquista de Moçambique e Rios ou Capitania de Moçambique e Rios de Sena. Até 1752 dependia do Estado da Índia. Os locais onde se exercia a soberania portuguesa estavam reduzidos, além da ilha de Moçambique, às ilhas de Cabo Delgado, Inhambane e Lourenço Marques”. Foi o ouro e a prata que atraíram os portugueses. Quando se entrou no século XIX, a generalidade do senhorio era exercido por não europeus, senhores de terras, de escravos, investidos em autoridade colonial com o título de capitães-mores, comandante de milícias. O século XIX marca a ascensão das companhias: do ópio, do açúcar, faz-se comércio de marfim, introduzem-se as oleaginosas, a linha de caminho-de-ferro, atrai investidores e interesses bancário. E escreve-se: “No dealbar do século XX, o Centro e o Norte de Moçambique estavam em vias de ficar subordinados à administração das companhias majestáticas e de plantação, e o Sul, abatido o último grande império, o de Gaza, passava de uma administração militar de ocupação para uma administração colonial civil. Por todo o território as populações passaram a ser acusadas para o fornecimento de mão-de-obra, já não escrava, mas compelida, para as plantações, para a agroindústria, para as obras públicas, para os portos e caminhos-de-ferro. No Sul, estabeleceu-se uma emigração maciça de trabalhadores para a África do Sul. Tendo-se formado grandes massas de trabalhadores tanto dentro como fora da colónia, nem por isso estas profundas transformações sociais iniciadas em finais do século XIX projetaram uma burguesia e um proletariado capacitados para criarem as condições suscetíveis de subtrair Moçambique à condição mais intrínseca de colónia”.

A obra debruça-se sobre a questão colonial na política externa portuguesa. Em dado passo refere-se que no decurso da II Guerra Mundial, e já antes, eram essencialmente três os objetivos da nossa política externa: a defesa da independência nacional mormente contra o comunismo; a defesa do património colonial e a defesa da sobrevivência do regime. A partir de 1945, o regime sabe que se vai confrontar com a descolonização e por vagas. Tudo começa na Ásia e surgem as ameaças sobre o Estado da Índia, que será anexado em 1961. O Reino Unido sai da Índia, a França é derrotada na Indochina, praticamente toda a Ásia se liberta do colonialismo, segue-se a vaga do Norte de África e daí desce para os territórios habitados por negros. A partir de 1960, a ONU não mais largará o caso português, crescerá o isolamento diplomático. O regime de Salazar e de Caetano não conseguiram aberturas, não acharam respostas para o crescente evoluir da guerrilha até que a classe castrense, praticamente exaurida, deu a saída liquidando o regime e abrindo as portas à descolonização.

Foram diferenciados os caminhos seguidos por Angola e Moçambique. No primeiro país, a seguir à independência, veio a fatura das grandes divisões ideológicas contextualizadas pela própria Guerra Fria; a África do Sul sabia que o seu futuro dependia da contenção dos movimentos de libertação em Angola e Moçambique, procurou dar todo o apoio disponível, sobretudo em equipamento e informações. Mas a FRELIMO, na hora da descolonização, fez pesar para seu lado a vasta corrente internacional anticolonial.

O volume termina com a visão de Angola ao longo do século XX, até 1974, dá-nos um retrato da evolução da sociedade angolana durante a primeira república e o Estado Novo. Há números que dão que pensar. “Em 1950, menos de 1% da população não branca de Angola estava oficialmente na categoria de civilizada e em 1960 havia menos de 100 mil civilizados entre os 4 604 362 negros. Porém, o número de escolarizados cujo modo de vida se aproximava dos padrões europeus era muito maior do que aqueles a quem for permitido sair do estatuto de indígena”. Isso deve-se ao contributo das missões cristãs. O cristianismo aparece associado às transformações económicas e sociais geradas pelo sistema colonial, alterou conceções e modos de vida, práticas alimentares, de vestir, etc. Dessas missões cristãs saíram professores, enfermeiros, operários especializados e outros.

Este conjunto de comunicações são mais de que um olhar renovado da nossa historiografia; abrem o ecrã a uma leitura que pode formalmente iniciar-se em 1825 e findar com a descolonização, dão ao leitor a possibilidade de compreender como o liberalismo encontrou uma saída eficaz depois do trauma da independência do Brasil para reacender a mística imperial e ficamos a perceber como se estabeleceu uma linha de procedimento de absoluta simpatia com o império africano e como o regime de Salazar e Caetano não foram capazes de lidar com a torrente poderosa da descolonização. Ficaram ressentimentos mas a opinião pública de fundo aderiu sem remoques ao projeto europeu. O que nos leva a muitos séculos antes, quando se iniciou a expansão marítima e ao confronto das teses propugnadas pelo Infante D. Pedro e pelo Infante D. Henrique. Parecem acidentes da História ou talvez não.
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Nota do editor

Poste anterior de 7 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17655: Notas de leitura (985): “Portugal e o Império Africano - Séculos XIX e XX”, coordenação de Valentim Alexandre, Edições Colibri, 2013 (1) (Mário Beja Santos)

Último poste da série de 9 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17661: Notas de leitura (986): "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo: exorcizar velhos e novos fantasmas - Parte II (Luís Graça)

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Guiné 61/74 - P17661: Notas de leitura (986): "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo: exorcizar velhos e novos fantasmas - Parte II (Luís Graça)

1. Continuação da "nota de leitura" do livro "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo (Leiria, Textiverso, 2017, 181 pp.; prefácio de António Graça de Abreu). (*)


O prefaciador da obra, o nosso camarada e escritor António Graça de Abreu, é o primeiro a destacar a qualidade da escrita de Luís Branquinho Crespo: “rica, acutilante, descomplexada, mas intensamente trabalhada” (p. 10). E isso é notório logo no cap. 1, o das despedidas e da partida para a Guiné: “agitou as mãos brancas em adeuses de saudades” (p. 14); “guarda ainda daquele dia o cheiro da roupa do pai, (…) padeiro, mantinha e exalava o cheiro macio da farinha à mistura com o sabor da côdea da broa de milho quente, quando acaba de sair do forno do pão” (p. 17); (…) “ficou-lhe colado, naquele instante, o cheiro a maçã molhada que exalava do rosto da mãe” (p. 19).

De resto, os cheiros, as cores, os sabores e as imagens do passado são uma presença constante ao longo do livro: (…) vinha-lhe à lembrança a humidade do clima e a frescura do cheiro de sabonete life-buoy após o banho inundando o ar e provocando sensações de limpeza e asseio numa atmosfera abafada de calor e de humidade” (p. 23); (…) “ocorria-lhe comer uma galinha de chabéu logo que chegasse” (p. 29); (…) “e naquele andar constante passam pelo Carlos de bunda tremida enquanto as mamas tremem como gelatina” (p. 43); (…) “alguém conseguirá descrever o cheiro da bolanha ?” (p. 52); (…) “é pegajoso aos sentidos e à memória, como a lama do tarrafo” (p. 53); (…) “foi escolhido jantar: sopa de peitos de rola. E depois, papaia bem regada com limão” (p. 86); (…) as papaias (…) estão gordas, grandes, redondas (…): são amojos de cabra prenha de leite” (p. 89); (…) “chega-se a Bafatá (…). Agora as casas são desabitações” (p. 91); (…) “a gente tem a alma aberta como ostra comida”(p.101)…

Enfim, são alguns exemplos, soltos, deste “pilão” onde o autor mistura, tortura e liberta memórias e

afetos, tornando apropriado o título do livro, "Guiné, um rio de memórias".

O livro vale também pelas memórias das gentes e dos lugares: Bissau, Saltinho, Guileje, Capé, Bafatá, Bambadinca, Xitole, Cussilinta, Buba, Mampatá, Varela, eQuinhamel,  no regresso a casa o deserto ou a sua borda marítima… “O deserto é fascinante: é um deslumbramento de silêncio” (p.162). Delicioso é o texto sobre a paragem em Marraquexe (cap. 20: Desmedidamente…. pp. 165-170), a cidade vermelha de mil encantos: (…) “o Joaquim [leia-se: António Camilo] era a décima quinta vez que ali estava” (p. 166)… “Dizia o Joaquim: não se percam . Tinha razão” (p. 167). (…) “o Joaquim perdeu-se do Carlos e o Xavier perdeu-se dos outros dois. Só muito tarde se encontraram. Vinham inebriados. Desmedidamente perdidos”… (pp. 168/169).

Quem volta à Guiné, como o Carlos, o Joaquim, o Xavier, o Matias…, e regressa a casa, nunca regressa completamente. O Carlos, tal como o Joaquim, passa a sofrer da síndrome da partida… e “ costuma dizer que tem mais dores aquele nunca regressa completamente” (p. 175).

Chegado ao fim desta “nota de leitura”, aqui ficam entretanto algumas chamadas de atenção para pequenos erros ou gralhas de toponímia, a corrigir em próxima edição.

- Varela e não Ponta Varela (pp. 119 e ss.) (Varela fica na região do Cacheu, ponta Varela fica na região de Bafatá, na margem esquerda do Rio Geba, a jusante, a seguir ao Xime, antes da foz do Rio Corubal):

- Pigiguiti e não Pitjiguiti (pp. 34-35) (quando muito Pidjiguiti ou… Pindjiguiti, como escrevem hoje os guineenses);

- 5ª Rep e não Rep 5 (p. 41) (o famoso café Bento, junto à Amura, em Bissau);

- Mato Cão (e não Matu Cão, quando muito Matu Kon, em crioulo) (p. 52);

- Ponte dos Fulas (em caixa alta) e não ponte dos fulas (p. 30) (destacamento avançado do Xitole, junto ao rio Pulom);

- A estrela do internacionalismo proletário (e não operário) que encima o nosso “antigo monumento à raça”, na antiga praça do Império, em Bissau (p.33);

- Rio Jagarajá e não rio Jagaraje (p. 79)...

E já agora, porquê "irâns" e não irãs, como usamos no blogue ? Julgamos que fica melhor grafado em português.

Por fim, ao sugestão: a criação de um glossário, a inserir no fim do livro, de preferência. As notas de rodapé, embora úteis (e imprescindíveis, sobretudo para o leitor não familiarizado com a cultura guineense), cortam o ritmo da leitura, distraem o leitor…E são mais de 8 dezenas. Algumas são dispensáveis: eu, por exemplo, evitaria todas as referências às “raças da Guiné”… Na realidade, o fula não é uma raça, mas um grupo étnico-linguístico… De resto, não há "raças humanas"...Ou melhor: há só uma...

Em contrapartida, há notas de rodapé que são deliciosas como a do “toca-toca” (p. 36(: “Carrinhas tipo furgão que servem de transporte particular entre as localidades. Na chapa lateral existem janelas muitas vezes feitas a cortes de tesoura de ferro. Servem para transportar pessoas e animais, e bem assim, produtos da terra como mancarra ou coconote. Avisa-se o condutor que vai entrar mais um passageiro, batendo na chapa. Por isso se chama Toca-Toca”. (**)

Em resumo, eis um livro que eu sugiro para leitura, neste verão, na praia ou no campo, a todos aqueles de nós que querem partir mantenhas com os nossos amigos e irmãos da Guiné, exorcizar os fantasmas da guerra, ou simplesmente matar saudades dessa terra verde e rubra, ainda cheia de sortilégios e mistérios, de dores e esperanças... LG

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Notas do editor:


(*) Vd. poste de 7 de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17654: Notas de leitura (984): "Guiné: um rio de memórias", de Luís Branquinho Crespo: exorcizar velhos e novos fantasmas - Parte I (Luís Graça)


(**) Último poste da série > 7  de agosto de 2017 > Guiné 61/74 - P17655: Notas de leitura (985): “Portugal e o Império Africano - Séculos XIX e XX”, coordenação de Valentim Alexandre, Edições Colibri, 2013 (1) (Mário Beja Santos)