Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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quinta-feira, 13 de outubro de 2022
Guiné 61/74 - P23705: Convívios (945): Almoço comemorativo dos 50 anos do regresso da Guiné dos combatentes da CCAÇ 2796 (Gadamael e Quinhámel, 1970/72), levado a efeito no passado dia 5 de Outubro em Abrantes (Morais da Silva, Cor Art Ref)
1. Mensagem com data de hoje, 13 de Outubro de 2022, do nosso camarada, Coronel Art Ref, António Carlos Morais da Silva (ex-Instrutor da 1.ª CCmds Africanos em Fá Mandinga; Adjunto do COP 6 em Mansabá e Comandante da CCAÇ 2796 em Gadamael, entre 1970 e 1972):
Caro camarada Vinhal
No passado 5 de Outubro os “Gaviões” de Gadamael e familiares reuniram para comemorar a chegada da Guiné no mesmo dia de 1972.
Volvidos 50 anos, novamente juntos, aportaram à unidade mobilizadora em Abrantes onde, na Eucaristia, rezaram pelos camaradas que já partiram.
Terminada esta, assistiram à cerimónia militar de homenagem aos Militares Mortos ao Serviço da Pátria e, de seguida, recordaram e saudaram os seus Mortos em Combate perpetuados no Memorial da Unidade.
Uma vez mais os homens da CCaçInd 2796 ficaram devedores e agradecidos aos militares que prestam serviço no RAME- Abrantes, na pessoa do seu actual comandante Coronel de Infantaria Joaquim José Estevão da Silva a quem convidaram para o almoço de confraternização onde o reencontro avivou memórias e matou saudades do tempo da juventude.
Terminado o encontro anual, ficou a promessa de tocar a reunir em 2023.
Se entender útil, agradeço que este reencontro seja noticiado no nosso blog.
Abraço e muita saúde
Morais Silva
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Nota do editor
Último poste da série de 11 de Outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23697: Convívios (944): Rescaldo do XXVII almoço/convívio dos Antigos Combatentes da Vila de Guifões, Matosinhos, levado a efeito no passado dia 5 de Outubro em Santa Marinha do Zêzere, Baião (Albano Costa, ex-1.º Cabo At Inf)
Guiné 61/74 - P23704: Tabanca Grande (537): José Moreira de Castro Neves, ex-Fur Mil Arm Pes Inf da CCAÇ 1551 / BCAÇ 1888 (Bambadinca, Fá Mandinga e Xitole, 1966/68)... Natural de Valongo, senta-se no lugar n.º 865, sob o nosso poilão
1. Mensagem de José Moreira de Castro Neves:
Muito obrigado por manifestares o desejo de te juntares a esta família de antigos combatentes da Guiné.
A foto que mandaste do Saltinho não dá para fazer uma foto tipo passe porque tem pouca resolução.
Se tiveres por aí outra onde apareças mais em destaque ou por exemplo o teu cartão de militar, manda para que te possamos apresentar condignamente.
Sabemos que a CCaç 1551 seguiu imediatamente para Bambadinca, a fim de substituir a CCav 678 e assumir a responsabilidade do respectivo subsector e, cumulativamente, a função de subunidade de intervenção e reserva do sector, ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão. Por períodos variáveis, destacou efectivos para guarnecer destacamentos em Amedalai, Taibatá e Candamã, tendo em 14nov66 transferido a sua sede para Fá Mandinga.
Em 27jan67, por troca com a CCaç 818, assumiu a responsabilidade do subsector de Xitole, com um pelotão destacado em Saltinho, mantendo-se no mesmo sector. Destacou ainda efectivos para guarnecer os destacamentos em Cansamange, Quirafo e Ponte do rio Pulom, por períodos curtos. A partir de princípios de Jun67, passou a ter um pelotão destacado em Mansambo. (**)
Já agora, temos aqui referência ao nome do José Ferreira de Oliveira, soldado, da CCaç 1551, que faleceu em 15.10.67 no Saltinho, por afogamento no rio Corubal. Era natural de Antas, Vila Nova de Famalicão. O corpo não foi recuperado.
Guiné >Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > CCAÇ 12 (1969/71) > 1969 > Três elementos dos serviços de saúde: o fur mil enf João Carreiro Martins, à sua esquerda o 1.º cabo aux enf Fernando Sousa e à sua direita o 1º cabo aux enf José Maria S. Faleiro [, morada actual desconhecida; foi dos primeiros a ser evacuado por doença infectocontagiosa, ainda em 1969]...
Foto (e legenda): © Fernando Andrade Sousa (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
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(*) Último poste da série > 11 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23514: Tabanca Grande (536): Francisco Pinho da Costa (1937-2022), ex-alf mil médico, CCS/BCAÇ 1888 (Fá Mandinga e Bambadinca, 1966/68), grã-tabanqueiro nº 864, a título póstumo, por proposta dos camaradas da CCAÇ 1439 (1965/67) (João Crisóstomo)
Data - 8/10/2022 18:57
Assunto - Pedido de ingresso na Tabanca Grande (*)
Sou o José Moreira de Castro Neves, nascido a 30/09/1943, natural e residente na freguesia e concelho de Valongo, professor de Matemática do ensino secundário, aposentado.
2. Comentário do Carlos Vinhal:
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Fui furriel miliciano de armas pesadas do terceiro pelotão da CCAÇ 1551 / BCAÇ 1888, entre abril de 1966 e janeiro de 1968, tendo passado por Bambadinca, Fá e Xitole.
Incluo fotografia atual e outra tirada na ponte do Saltinho, então destacamento do Xitole.
Incluo fotografia atual e outra tirada na ponte do Saltinho, então destacamento do Xitole.
Com os melhores cumprimentos
José Moreira de Castro Neves
Valongo
Caríssimo José Neves:
Muito obrigado por manifestares o desejo de te juntares a esta família de antigos combatentes da Guiné.
A foto que mandaste do Saltinho não dá para fazer uma foto tipo passe porque tem pouca resolução.
Se tiveres por aí outra onde apareças mais em destaque ou por exemplo o teu cartão de militar, manda para que te possamos apresentar condignamente.
Abraço,
Carlos
Obs: Para contactares o Blogue, usa preferencialmente o endereço luis.graca.prof@gmail.com
3. Comentário de LG:
Meu caro José Moreira Neves, também fui furriel mil armas pes inf, e também estive no setor L1 (Bambadinca), tendo conhecido todos os sítios por onde passou a tua CCAÇ 1551: além de Bambadinca, Fá Mandinga, Mansambo, Xitole, Amadedalai, Taibatá, Candamã, Saltinho, Cansamange, Quirafo, Ponte do rio Pulom (ou "Ponte dos Fulas)...
Temos escassas referências (meia dúzia) à tua CCAÇ 1551 e tu és o seu primeiro representante na Tabanca Grande.
Já sobre o teu batalhão, o BCAÇ 1888 (Bambadinca, 1966/68) (desembarcou em Bissau em 26abr1966 e regressou a casa em 17jan1968), temos cerca de duas dezenas de referências.
Em 26abr66, rendendo o BCaç 697, o BCAÇ 1881 assumiu a responsabilidade do Sector L1, com sede em Fá Mandinga e a partir de 14Nov66, em Bambadinca, e abrangendo os subsectores de Xitole, Xime, Bambadinca e Enxalé, este até 01jul67 e retirado ao sector por alteração dos limites.
Em 27jan67, por troca com a CCaç 818, assumiu a responsabilidade do subsector de Xitole, com um pelotão destacado em Saltinho, mantendo-se no mesmo sector. Destacou ainda efectivos para guarnecer os destacamentos em Cansamange, Quirafo e Ponte do rio Pulom, por períodos curtos. A partir de princípios de Jun67, passou a ter um pelotão destacado em Mansambo. (**)
José Moreira, vais-te sentar sob o nosso poilão, no lugar n.º 865. És recebido de braços abertos. Esperamos que partilhes connosco fotos e mais memórias da tua passagem pelo CTIG. Sobre a organização e o funcionamento do nosso blogue, convém que leias o essencial que publicámos aqui.
Os três militares da CCAÇ 12 estão junto ao monumento erigido pela CCAÇ 1551 / BCAC 1888 (Bambadinca, mai - nov 1966; Fá Mandinga, nov 1966 - jan 1968): além de Bambadinca, teve pessoal destacado em Xitole, Saltinho, Mansambo; Missirá e Dulombi)... Lembro-me bem deste monumento.
Foto (e legenda): © Fernando Andrade Sousa (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].
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Notas do editor:
quarta-feira, 12 de outubro de 2022
Guiné 61/74 - P23703: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (53): A Sebastiana Valadas (1º episódio da série da SIC, "Despojos de Guerra") e os "cantineiros do mato" em Angola
Angola > Grupos étnicos > Distribuição geográfica (1970). Actualizados os nomes das cidades.Todos estes povos são bantos, com exceção dos Khoisan (Boximanes e Hotentotes)
Fonte: Angola_Ethnic_map_1970-de.svg / Wikimedia Commons (adaptado, com a devida vénia).
1. Mensagem de António Rosinha (ex-fur mil, Angola, 1961/62, topógrafo na vida civil, retornado, tendo mais tarde vivido e trabalhado na Guiné-Bissau, na TECNIL, no período de 1987/93; tem mais de 130 referências no blogue, é autor da série "Caderno de Notas de Um Mais Velho":
Data - 12 out 2022 15:19
Assunto - Sebastiana Valadas (SIC) e um pouco da guerra no Leste de Angola.
Sebastiana Valadas contou um episódio da sua vida em Angola, na SIC (*), empolado, ou não, mas esta mulher sabe mais mas muitíssimo mais sobre o assunto e sobre aquilo que passou, mas quem quis como estas pessoas retornadas, que ficaram" para ver o fundo ao tacho", com certeza que terão dificuldades para abordar muitos pormenores que inevitavelmente viveram.
Atenção, para quem não é nem foi comerciante, "quem não é competente, não se estabelece", quero eu dizer que, aqui especialmente, se alguém quisesse ter sucesso, tinha que ter muitas competências, uma delas era ser poliglota.
Eu nunca consegui aprender nem crioulo, mas também problema do meu ouvido, ao contrário de colegas que tive que chegavam a falar 2 e 3 dialetos, a quem chegávamos a fazer exames, tínhamos muitos juris, os contratados, se era verdade ou falso.
Esses poliglotas não precisavam de intérpretes para nada, era uma vantagem enorme para poder entrar facilmente em ambientes tribais.
Como é que se fazia um "comerciante do mato"? Ou já herdava o negócio que pode ter sido aqui o caso, muita família em volta, ou praticando de jovem como empregado de uma casa deste género.
E, chegando a adulto, se sentisse as tais competências necessárias, era fácil estabelecer-se, mesmo sem capital, entrava em contacto com um grande armazenista/fornecedor... um historial que só conheço de ouvir, enfim, vi fazerem-se grandes endinheirados, e outros dar com os burrinhos na água.
Quando num jornal em anúncio se pedia empregado de balcão, para Luanda, se fosse para trabalhar no muceque, até sotaque de Luanda tinha que demonstrar para se considerar apto.
Voltando a Cassai-Gare, Cassai é um lindo rio, de águas límpidas e com diamantes, e que será o rio que dá o nome àquele lugar.
Andei na tropa em 1962, naquela zona numa companhia indígena, ainda aparece o nome no Google Earth a aldeola onde ficava a Companhia, era Nova Chaves, bem perto de Cassai-Gare, mas há ainda a sanzala Cassai onde tivemos um pelotão, de vez em quando vou ao Google, está ainda tudo no mesmo lugar.
Vim de Luanda para este fim de mundo, voluntário, para escapar a um capitão que me garantiu que ainda me havia de arranjar 9 dias de prisão, já me tinha dado 3 dias de detenção.
Já outra vez me tinha oferecido em 1961 para o Norte, como voluntário para fugir a outro capitão, que levou uma rabecada do Comandante do RIL, de Luanda, por minha culpa porque como sargento de dia não obriguei os faxinas a fazer a higiene da companhia, exemplarmente, numa revista semanal de sábado.
Talvez passasse o meu tempo de guerra todo em Luanda na santa paz das praias de Luanda, pois não me convocavam porque não havia arma para mim, armas pesadas de infantaria.
Mas voltando a estes comerciantes, em geral começavam como jovens, solteiros, e origem de quase todos eles, com raríssimas excepções vinham por esta ordem, Trás-os-Montes e Alto Douro, Minho e um ou outro beirão, poucos, e mais antigos também havia açorianos e madeirenses.
Para mim, aquilo em Angola, se não fossem estes comerciantes, e se em 1961 Salazar tivesse "dialogado" com Agostinho ou Holden Roberto, milhões de angolanos tinham ficado sem brancos, sem saberem o que foi haver branco em Angola, nem Angola dizia qualquer coisa àquela gente.
No caso daquele fim de mundo onde já havia uma linha de caminho de ferro com estação e tudo, vem tudo na Internet, sabemos que foi iniciativa do tal inglês que Norton de Matos queria copiar, Cecil Rodes, e que era para transportar os minérios ingleses e belgas, para o porto do Lobito.
E tinha estação naquele fim de mundo para quê? Aqui entram também os tais comerciantes como Sebastiana.
Sabemos que o negócio era de permuta, e ali era uma região de muita mandioca, muitíssima cera, peles de caça, muitas onças em armadilhas, e toda essa mercadoria ia para os fornecedores (em conta corrente), que ou eram de Nova Lisboa ou Lobito.
Pormenores que muita gente mesmo em Angola nem sabia para que era esta linha, mas no tempo da safra da mandioca, o caminho de ferro deixava em cada estação entre Silva Porto e Teixeira de Souza, um vagão de mercadorias, onde os comerciantes depositavam a mandioca da permuta, e no dia combinado vinha uma locomotiva e rebocava todos os vagons para o porto do Lobito, era uma composição enorme digna de se ver, como eu cheguei a ver, ao longe, com a mandioca branca devido a um tratamento próprio que se chamava crueira,
Mas havia, além dos comerciantes, outras figuras que entravam nesta guerra do Leste (ZIL). Eram os madeireiros que se dizia que estariam feitos com o duvidoso Savimbi.
E naquelas regiões havia ainda outras figuras muito variadas, uns a fazer negócios de diamantes, outros a enfiar barretes com diamantes, aquilo era uma guerra muito interessante.
Mas uma coisa era que naqueles distritos os Governadores de distrito (militares) tinham um trabalho muito especial directamente com as populações e todas as autoridades, PIDE, Chefes de Posto, judiciária, milícias, e ligados sempre com a tropa.
Conheci em 1970, na Lunda o trabalho de Major Soares Carneiro, mais tarde candidato a Presidente da República..
E, no Cuando Cubango até 1974, conheci o Major Branco Ló, ali os movimentos "andavam na linha", mas não vamos trazer aquela guerra para aqui, pormenorizando, que traria muitas discussões. Mesmo lá em Angola, Cabinda era uma coisa, e o Norte era outra coisa e o Leste outra. Só não trabalhei nem lutei em Cabinda.
Eu defendo sempre os comerciantes do mato, porque sei que muitos militares que passaram os 24 meses em Angola, saíam com a convicção que eram uns "gatunos dos negros", que tratavam mal os negros, enganavam os negros, na balança, no livro, etc.
Tal como se dizia do merceeiro da aldeia e o rol do merceeiro.
Penso que é tudo o que me ocorre sobre sobre os comerciantes, colonialistas e imperialistas.
Um abraço, Antº Rosinha (***)
PS - O soldado nunca teve tempo de compreender que a guerra durava e o comerciante continuava no seu posto, no meio daquela gente, sempre com a mesma tranquilidade
Data - 12 out 2022 15:19
Assunto - Sebastiana Valadas (SIC) e um pouco da guerra no Leste de Angola.
Sebastiana Valadas contou um episódio da sua vida em Angola, na SIC (*), empolado, ou não, mas esta mulher sabe mais mas muitíssimo mais sobre o assunto e sobre aquilo que passou, mas quem quis como estas pessoas retornadas, que ficaram" para ver o fundo ao tacho", com certeza que terão dificuldades para abordar muitos pormenores que inevitavelmente viveram.
Conclusão, Sebastiana não disse "nem da missa metade"..
Pelo que se depreende daquele pedaço de entrevista fica a ideia que a vida dela teria sido sempre comerciante naquele fim de mundo.
Ora se assim foi, aquela mulher fala no mínimo uma língua indígena, e ali talvez falasse duas, pois aquela estação está situada numa região onde predominavam ganguelas (**) e quiocos ou chócues.
Pelo que se depreende daquele pedaço de entrevista fica a ideia que a vida dela teria sido sempre comerciante naquele fim de mundo.
Ora se assim foi, aquela mulher fala no mínimo uma língua indígena, e ali talvez falasse duas, pois aquela estação está situada numa região onde predominavam ganguelas (**) e quiocos ou chócues.
Atenção, para quem não é nem foi comerciante, "quem não é competente, não se estabelece", quero eu dizer que, aqui especialmente, se alguém quisesse ter sucesso, tinha que ter muitas competências, uma delas era ser poliglota.
Eu nunca consegui aprender nem crioulo, mas também problema do meu ouvido, ao contrário de colegas que tive que chegavam a falar 2 e 3 dialetos, a quem chegávamos a fazer exames, tínhamos muitos juris, os contratados, se era verdade ou falso.
Esses poliglotas não precisavam de intérpretes para nada, era uma vantagem enorme para poder entrar facilmente em ambientes tribais.
Como é que se fazia um "comerciante do mato"? Ou já herdava o negócio que pode ter sido aqui o caso, muita família em volta, ou praticando de jovem como empregado de uma casa deste género.
E, chegando a adulto, se sentisse as tais competências necessárias, era fácil estabelecer-se, mesmo sem capital, entrava em contacto com um grande armazenista/fornecedor... um historial que só conheço de ouvir, enfim, vi fazerem-se grandes endinheirados, e outros dar com os burrinhos na água.
Quando num jornal em anúncio se pedia empregado de balcão, para Luanda, se fosse para trabalhar no muceque, até sotaque de Luanda tinha que demonstrar para se considerar apto.
Voltando a Cassai-Gare, Cassai é um lindo rio, de águas límpidas e com diamantes, e que será o rio que dá o nome àquele lugar.
Andei na tropa em 1962, naquela zona numa companhia indígena, ainda aparece o nome no Google Earth a aldeola onde ficava a Companhia, era Nova Chaves, bem perto de Cassai-Gare, mas há ainda a sanzala Cassai onde tivemos um pelotão, de vez em quando vou ao Google, está ainda tudo no mesmo lugar.
Vim de Luanda para este fim de mundo, voluntário, para escapar a um capitão que me garantiu que ainda me havia de arranjar 9 dias de prisão, já me tinha dado 3 dias de detenção.
Já outra vez me tinha oferecido em 1961 para o Norte, como voluntário para fugir a outro capitão, que levou uma rabecada do Comandante do RIL, de Luanda, por minha culpa porque como sargento de dia não obriguei os faxinas a fazer a higiene da companhia, exemplarmente, numa revista semanal de sábado.
Talvez passasse o meu tempo de guerra todo em Luanda na santa paz das praias de Luanda, pois não me convocavam porque não havia arma para mim, armas pesadas de infantaria.
Mas voltando a estes comerciantes, em geral começavam como jovens, solteiros, e origem de quase todos eles, com raríssimas excepções vinham por esta ordem, Trás-os-Montes e Alto Douro, Minho e um ou outro beirão, poucos, e mais antigos também havia açorianos e madeirenses.
Para mim, aquilo em Angola, se não fossem estes comerciantes, e se em 1961 Salazar tivesse "dialogado" com Agostinho ou Holden Roberto, milhões de angolanos tinham ficado sem brancos, sem saberem o que foi haver branco em Angola, nem Angola dizia qualquer coisa àquela gente.
No caso daquele fim de mundo onde já havia uma linha de caminho de ferro com estação e tudo, vem tudo na Internet, sabemos que foi iniciativa do tal inglês que Norton de Matos queria copiar, Cecil Rodes, e que era para transportar os minérios ingleses e belgas, para o porto do Lobito.
E tinha estação naquele fim de mundo para quê? Aqui entram também os tais comerciantes como Sebastiana.
Sabemos que o negócio era de permuta, e ali era uma região de muita mandioca, muitíssima cera, peles de caça, muitas onças em armadilhas, e toda essa mercadoria ia para os fornecedores (em conta corrente), que ou eram de Nova Lisboa ou Lobito.
Pormenores que muita gente mesmo em Angola nem sabia para que era esta linha, mas no tempo da safra da mandioca, o caminho de ferro deixava em cada estação entre Silva Porto e Teixeira de Souza, um vagão de mercadorias, onde os comerciantes depositavam a mandioca da permuta, e no dia combinado vinha uma locomotiva e rebocava todos os vagons para o porto do Lobito, era uma composição enorme digna de se ver, como eu cheguei a ver, ao longe, com a mandioca branca devido a um tratamento próprio que se chamava crueira,
Mas havia, além dos comerciantes, outras figuras que entravam nesta guerra do Leste (ZIL). Eram os madeireiros que se dizia que estariam feitos com o duvidoso Savimbi.
E naquelas regiões havia ainda outras figuras muito variadas, uns a fazer negócios de diamantes, outros a enfiar barretes com diamantes, aquilo era uma guerra muito interessante.
Mas uma coisa era que naqueles distritos os Governadores de distrito (militares) tinham um trabalho muito especial directamente com as populações e todas as autoridades, PIDE, Chefes de Posto, judiciária, milícias, e ligados sempre com a tropa.
Conheci em 1970, na Lunda o trabalho de Major Soares Carneiro, mais tarde candidato a Presidente da República..
E, no Cuando Cubango até 1974, conheci o Major Branco Ló, ali os movimentos "andavam na linha", mas não vamos trazer aquela guerra para aqui, pormenorizando, que traria muitas discussões. Mesmo lá em Angola, Cabinda era uma coisa, e o Norte era outra coisa e o Leste outra. Só não trabalhei nem lutei em Cabinda.
Eu defendo sempre os comerciantes do mato, porque sei que muitos militares que passaram os 24 meses em Angola, saíam com a convicção que eram uns "gatunos dos negros", que tratavam mal os negros, enganavam os negros, na balança, no livro, etc.
Tal como se dizia do merceeiro da aldeia e o rol do merceeiro.
Penso que é tudo o que me ocorre sobre sobre os comerciantes, colonialistas e imperialistas.
Um abraço, Antº Rosinha (***)
PS - O soldado nunca teve tempo de compreender que a guerra durava e o comerciante continuava no seu posto, no meio daquela gente, sempre com a mesma tranquilidade
"Despojos de guerra": é uma série de 4 episódios sobre a guerra colonail, que está a passar na SIC Notícias, durante o mês de outubro. No passado dia 6, 5ª feira, foi a estreia da série, com a exibição do 1.º episódio ("A informadora", 51' ). Próximos episódios: dias 13, 20 e 27.
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Notas do editor:
Vd. também postes de:
9 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23677: Agenda cultural (818): "Despojos de guerra", série em quatro episódios, de 40' cada, sobre a guerra colonial: estreia hoje na SIC, no Jornal da Noite
10 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23689: "Despojos de Guerra" (Série documental de 4 episódios, SIC, 2022): Comentários - Parte II - Luís Graça: Percebe-se agora melhor por que é que a PIDE/DGS, os seus agentes e os seus informadores, tiveram um tratamento tipo "português suave", a seguir ao 25 de Abril de 1974
(**) Vd, poste de 21 de novembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12319: Manuscrito(s) (Luís Graça) (13): Três histórias ganguelas, três pérolas da sabedoria angolana... E onde se fala da atualidade dos Baratas, dos Cavetos e dos Heróis
(***) Último poste da série > 15 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17862: Caderno de notas de um mais velho (Antº Rosinha) (52): Das pequenas recordações dos vários quartéis a mais artística que ficou lá a "apodrecer", foi o memorial na ponte de Caium
10 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23689: "Despojos de Guerra" (Série documental de 4 episódios, SIC, 2022): Comentários - Parte II - Luís Graça: Percebe-se agora melhor por que é que a PIDE/DGS, os seus agentes e os seus informadores, tiveram um tratamento tipo "português suave", a seguir ao 25 de Abril de 1974
Guiné 61/74 - P23702: Agenda cultural (820): doclisboa'22- festival internacional de cinema, 6-16/10/2022: Retrospectiva - A questão colonial: 35 filmes - III ( e última) Parte: destaque para a Argélia ("Harkis", 83') e Moçambique ("O Vento Sopra do Norte", 101')
"Em meados da década de 1950, o encontro entre Oumarou Ganda, então um jovem estivador do Porto de Abijão, recém-regressado da guerra da Indochina, e Jean Rouch, o engenheiro-cineasta, marca um ponto de viragem no cinema de Rouch com "I, a Negro". Uma década mais tarde, no Níger, nasce o cinema de Ganda com o autobiográfico "Cabascabo". [Dois filmes que passaram no doclisboa2022, no passado dia 11].
Acima, fotograma de "Cabascabo", de Oumarou Ganda [1969, Níger, 46’]: "Cabascabo, veterano do exército colonial francês na Indochina, regressa à terra natal no Níger e é aclamado por amigos e familiares. Em analepses fragmentadas, narra a sua aventura e as batalhas naquela terra longínqua. Durante algum tempo, desfruta da glória de veterano, mas, depois de esbanjar tudo o que tem, [...]"
1. Este ano, na sua 20ª edição, o doclisboa tem na secção "Retrospectiva", dedicada à "questão colonial", um total de 35 filmes (de curta, média e longa metragem), que já passaram ou ainda vão passar por estes dias, entre 6 e 16 de outubro, o mês do festival, o mês que "todo o mundo cabe em Lisboa"... Vamos continuar a listar, a título informativo, alguns desses filmes (*).
A Argélia, que conquistou a sua independência em 1962, há 60 anos, após um conflito extemamente sangrento com a potência colonizadora, a França (e as milícias dos "pied-noirs", os colonos franceses), desde 1954, e depois de inúmeros massacres, está talvez sobrerrepresentada no doclisboa2022... Não só devido ao seu peso "geopolítico", mas também por ter uma cinematografia mais ativa do que outros países africanos, a começar pelos PALOP. Alguns desses filmes já passaram no festival (como "Algiers, Capital of tthe Revolutionaries"), outros ainda podem ser vistos até ao fim do festival, como "Harkis".
[Passou em 9 Out2022, 14:00, no Cinema São Jorge Sala 3]
A jovem nação moçambicana atraiu muitos cineastas, num movimento do qual poucos filmes sobreviveram. Rouch terá realizado Makwayela no âmbito de uma formação para jovens técnicos e cineastas. Já Ruy Guerra, que regressa ao país natal nos primeiros anos da independência, procura em Mueda a memória do início da guerra colonial.
O Vento sopra do Norte
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A Argélia, que conquistou a sua independência em 1962, há 60 anos, após um conflito extemamente sangrento com a potência colonizadora, a França (e as milícias dos "pied-noirs", os colonos franceses), desde 1954, e depois de inúmeros massacres, está talvez sobrerrepresentada no doclisboa2022... Não só devido ao seu peso "geopolítico", mas também por ter uma cinematografia mais ativa do que outros países africanos, a começar pelos PALOP. Alguns desses filmes já passaram no festival (como "Algiers, Capital of tthe Revolutionaries"), outros ainda podem ser vistos até ao fim do festival, como "Harkis".
Moçambique, por seu turno, também tem uma boa representação no doclisboa deste ano, muito superior à de Angola ou à da Guiné-Bissau. Alguns dos filmes sobre Moçambique, de cineastas moçambicanos como Ruy Guerra e Licínio de Azevedo. ainda podem ser vistos no doclisboa2022, que termina em 16 do corrente.
O texto e as imagens, a seguir, são extraídos do programa do doclisboa'22, incluindo as sinopses dos filmes que aqui se reproduzem para mera informação dos nossos leitores, não implicando da nossa parte qualquer juízo de valor, documental, estético, ético, técnico, político ou ideológico.
Algiers, Capital
of the Revolutionaries
Gordian Troeller, Marie-Claude Deffarge
1972/Argélia/45’
Aquando da independência, ficou escrito na Constituição da Argélia que todos os movimentos revolucionários e de libertação nacional poderiam reclamar asilo político. Diz assim: “O desenvolvimento do socialismo na Argélia está intimamente ligado à luta de libertação de povos noutras partes do mundo. É imperativo que qualquer movimento revolucionário apoie [...]
12 Out — 22:00 / 75’
Cinema Ideal
About the Conquest
Franssou Prenant
2022/França/75’
Uma sucessão de material de arquivo (relatórios, testemunhos, memórias) é lido num tom de facto, relatando as etapas da colonização da Argélia pela França entre 1830 e 1848 e delineando a paisagem ideológica de um esforço de aniquilação espantoso.
Harkis
Philippe Faucon
2022/Bélgica, França/83’
Durante a Guerra da Argélia, muitos jovens argelinos pobres alistam-se no exército francês. Paira a hipótese de independência e a perspectiva para eles é sombria. O tenente Pascal insiste para que todos os homens do seu pelotão sejam evacuados para França.
A jovem nação moçambicana atraiu muitos cineastas, num movimento do qual poucos filmes sobreviveram. Rouch terá realizado Makwayela no âmbito de uma formação para jovens técnicos e cineastas. Já Ruy Guerra, que regressa ao país natal nos primeiros anos da independência, procura em Mueda a memória do início da guerra colonial.
Makwayela
Jacques d’Arthuys, Jean Rouch1977/França, Moçambique/19’O único vestígio que resta da passagem e envolvimento de Jean Rouch numa oficina de formação em Super 8mm em Moçambique é este filme. Em Maputo, um grupo de trabalhadores de uma fábrica de garrafas canta e dança todas as manhãs no pátio. A dança makwayela é uma forma de [...]
[Passou em 10out2022, 15h30, na Cinemateca Portuguesa Sala M. Félix Ribeiro]
Mueda, Memória e Massacre
Ruy Guerra
1979/Moçambique/80’
Ruy Guerra participou activamente na fundação do Instituto Nacional de Cinema de Moçambique e realizou a primeira longa-metragem produzida no país após a independência. O filme cruza a reconstituição teatral do massacre cometido pelas forças coloniais portuguesas em Mueda, a 16 de Junho de 1960, quando soldados portugueses abriram fogo [...]
[Passou em 10out2022, 15h30, na Cinemateca Portuguesa Sala M. Félix Ribeiro ]
Os filmes de Licínio de Azevedo, decano do cinema moçambicano, revisitam e reconstituem a história recente do seu país, num gesto que oscila entre ficção e documentário. A questão da terra e dos seus frutos no coração do conflito colonial e pós-colonial atravessa estes dois filmes, lembrando a dimensão física e económica da exploração.
Nhinguitimo
Licínio Azevedo
2021/Moçambique/23’
Pequena fábula política, Nhinguitimo analisa as relações entre a desapropriação das áreas rurais – e respectivas colheitas – e o sistema colonial. A história da revolta de um trabalhador agrícola contra os colonizadores há seis décadas pode também moldar uma reflexão sobre a exploração continuada do território e suas gentes.
[Passou em 11out2022, 19h00, Cinemateca Portuguesa Sala M. Félix Ribeiro]
A Colheita do Diabo
Brigitte Bagnol, Licínio Azevedo
1988/Bélgica, França, Moçambique/54’
“A Colheita do Diabo é a minha primeira grande experiência no cinema (…) em que pela primeira vez utilizei, além de actores de teatro, pessoas que não tinham nenhuma experiência [em cinema], sendo as personagens principais antigos combatentes, ex-guerrilheiros da FRELIMO que participaram na guerra pela independência.” Licínio de Azevedo [...]
[Passou em 11out2022, 19h00, Cinemateca Portuguesa Sala M. Félix Ribeiro]
13 Out — 17:30 / 83’
Cinema Ideal
Harkis
Philippe Faucon
2022/Bélgica, França/83’
Durante a Guerra da Argélia, muitos jovens argelinos pobres alistam-se no exército francês. Paira a hipótese de independência e a perspectiva para eles é sombria. O tenente Pascal insiste para que todos os homens do seu pelotão sejam evacuados para França.
13 Out — 19:00 / 56’
Culturgest Auditório Emílio Rui Vilar
Catembe
Faria de Almeida
1965/Portugal/45' (+ 11’ DE MATERIAL CENSURADO)’
Catembe documenta os sete dias da semana no quotidiano de Lourenço Marques. Após uma série de entrevistas em que Manuel Faria de Almeida pergunta a transeuntes na Baixa lisboeta o que sabem sobre Lourenço Marques, o filme integrava sequências de ficção protagonizadas pela rapariga Catembe. O corte, imposto pelo Ministério [...]
14 Out — 19:00 / 101’
Cinemateca Portuguesa Sala M. Félix Ribeiro
O Vento sopra do Norte
José Cardoso
1987/Moçambique/101’
O filme revisita a última fase do colonialismo português. No seu dia-a-dia, dois rapazes e uma rapariga locais lidam como podem com a prepotência dos colonos, até que a violência passa das palavras aos actos. Do Norte, sopra o vento da mudança.
Kuxa Kanema, o projecto de cinema com e para o povo moçambicano, que não pode deixar de lembrar o mítico cine-comboio de Medvedkin, é contado pelos cineastas que o fizeram, entre eles Ruy Guerra. A missão de registar os primeiros passos da independência também passou pelo duro processo dos comprometidos, acusados de compactuar com o colonizador português.
Kuxa Kanema – O Nascimento do Cinema
Margarida Cardoso
2003/Moçambique, Portugal/53’
A primeira ação cultural do governo Moçambicano após a independência, em 1975, foi a criação do Instituto Nacional de Cinema (INC). As suas unidades de cinema móvel vão mostrar por todo o país o jornal cinematográfico Kuxa Kanema. Kuxa Kanema quer dizer o nascimento do cinema e o seu objectivo [...]
Os Comprometidos — Actas
de um Processo de Descolonização
[Acta 5]
Ruy Guerra
1985/Moçambique/42’
O duro julgamento de presumidos colaboradores do regime colonial por um tribunal popular foi liderado pelo presidente Samora Machel em 1982. Ruy Guerra acompanhou o processo ao longo de seis dias de filmagem quase ininterrupta. O material resultou numa série de quarenta horas para a Televisão Experimental de Moçambique, sendo [...]
Nota do editor:
(*) Vd. poste da serie > 7 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23681: Agenda cultural (818): doclisboa'22- festival internacional de cinema, 6-16/10/2022: Retrospectiva - A questão colonial: 35 filmes - Parte II: Guiné, Angola, a memória e as novas batalhas. Mesa redonda, dia 8, às 15h00 (Cinema São Jorge) e às 19h00 (Cinemateca)
(*) Vd. poste da serie > 7 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23681: Agenda cultural (818): doclisboa'22- festival internacional de cinema, 6-16/10/2022: Retrospectiva - A questão colonial: 35 filmes - Parte II: Guiné, Angola, a memória e as novas batalhas. Mesa redonda, dia 8, às 15h00 (Cinema São Jorge) e às 19h00 (Cinemateca)
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