segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21617: Os nossos capelães (15): Fiz uma vez uma operação, em que ia o capelão, que pelas vestes me parecia franciscano... Era gorducho e baixinho... Seria o Pe. António Paulo Frade, o capelão do BCAÇ 1888 (Bambadinca, 1966/68)? (José António Viegas, ex-Fur Mil, Pel Caç Nat 54, Enxalé e Ilha das Galinhas, 1966/68


1. Mensagem do nosso camarada  José António Viegas, ex-fur mil do Pel Caç Nat 54 (Enxalé e  Ilha das Galinhas, 1966/68).
 
Date: sábado, 5/12/2020 à(s) 22:15
Subject: Padres Franciscanos

Boas Luis

Hoje tive a agradável surpresa de um telefonema do João Crisóstomo a desejar as Boas Festas.

Estivémos a conversar  um bocado e veio à baila o assunto dos padres franciscanos, Numa das últimas operações com a CCAÇ  1439,  já não consigo lembrar se nos fins de 66 ou princípio de 67,  fizemos uma operação ao nível de Batalhão,  que era o BCAÇ 1888, e vinha integrado um Padre Franciscano, gorducho e baixinho, que nos acompanhou na operação, 

Lembro de brincar com ele a dizer como é que ele aguentava o calor com aquelas vestes castanhas e pesadas. O João não ia nessa operação e não tem idéia de quem seja ele,  o Franciscano estava sediado em Bambadinca.

Vou tentar contactar o meu Alferes [, cmdt do Pel Caç Nat 54,] ou outros Camaradas para ver se têm alguma idéia.

Um abraço

Viegas

2. Comentário do editor LG:

Viegas, obrigado pela tua mensagem e o carinho que manifestas sempre pelo  nosso blogue. Obrigado pelas tuas boas festas, que eu retribuo em nome de toda a nossa Tabanca Grande, Tudo de bom para ti, família, amigos e demais camaradas da Tabanca do Algarve.

Em relação à informação que prestas, sobre o capelão do teu tempo, vamos lá a ver se te dou uma pista (*)... O BCAÇ 1888, a que estava adido o teu Pel Caç Nat 54, partiu para o CTIG em 20/4/66 e regressou a 17/1/68 [Vd. ficha de unidade, no ponto 3, a seguir]...

Na lista dos 113 capelães que passaram pelo CTIG durante a guerra (**), encontro um nome, cuja comissão coincide justamente com a comissão de serviço do BCAÇ 1888: é o nº 31 da lista, e chama-se António Paulo Frade, mas em princípio não seria franciscano (OFM - Ordem dos Frades Menores], mas sim do clero regular....

A única referência que encontrei a este capelão foi a seguinte:

(...) "Sensivelmente a meio da comissão, chegou a Salazar [, Norte de Angola,] o novo Capelão militar, um meu antigo chefe escuteiro, de nome António Paulo Frade, que passou a dar-se muito bem com o Comandante Carvalho" (...). Fonte: Blogue do PAD - Pelotão de Apoio Directo, nº 1245, 1967/69, criado e mantido pelo ex-fur mil Álvaro RoxoVaz, que mora no Fundão. 

Este PAD, comandado pelo tenente Carvalho, partiu para Angola em 11/10/1967 e ficou instalado em Salazar [, hoje N’Dalatando}, Quanza Norte, adido ao BCAÇ 13. A maior parte do pessoal metropolitano do PAD 1245, regressou a casa em 27/12/1969. O capelão António Paulo Frade devia, pois, pertencer ao BCAÇ 13.

Acabada a comissão no CTIG, em 21/1/1968, deduzimos que este  capelão fez uma segunda comissão em Angola para onde deve ter partido  em finais de 1968 (a meio da comissão do PAD 1245).



Excerto da lista dos 113 capelães que passaram pelo CTIG (**)

3. Ficha de unidade > Batalhão de Caçadores nº 1888 (BCAÇ 1888)
 
Unidade Mob: RI I - Amadora
Cmdt: TCor Inf Adriano Carlos de Aguiar
2.° Cmdt: Maj Inf Artur Miguel Agrely Rebelo
OInfOp/Adj: Não identificado
Cmdts Comp:
CCS: Cap SGE Manuel Pereira Pimenta de Castro
CCaç 1549: Cap Mil lnf José Luís Adrião de Castro Brito
CCaç 1550: Cap Mil Inf Agostinho Duarte Belo
CCaç 1551: Cap Mil Inf Francisco Silva Pinto Pereira
Divisa: "Vendo, Tratando e Pelejando"

Partida: Embarque em 20Abr66; desembarque em 26Abr66
Regresso: Embarque em 17Jan68

Síntese da Actividade Operacional

Em 26Abr66, rendendo o BCaç 697, assumiu a responsabilidade do Sector L I, com sede em Fá Mandinga e a partir de 14Nov66, em Bambadinca, e abrangendo os subsectores de Xitolc, Xime, Bambadinca e Enxalé, este até  1Jul67 e retirado ao sector por alteração dos limites.

Comandou e coordenou a actividade das forças que lhe foram atribuídas, orientando a sua acção sobre as linhas de infiltração do inimigo, em patrulhamento, reconhecimentos e emboscadas em ordem a obstar à sua instalação e movimentação na zona. Desenvolveu ainda uma intensa actividade psicossocial junto das populações, promovendo a sua autodefesa e reordenamento e garantindo a segurança dos itinerários e a recuperação das populações.

Dentre o armamento capturado mais significativo, salienta-se: 1 metralhadora pesada, 2 metralhadoras ligeiras, 70 espingardas, I lança-granadas foguete, 4 minas, 28 granadas de armas pesadas e 3000 munições de armas ligeiras.

Em 16Jan68, foi rendido no sector de Bambadinca pelo BArt 1904 e recolheu a Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso.
 
 Duas das suas companhias estiveram em (ou passaram por) o Sector L1: a CCAÇ 1550 e a CCAÇ 1551

A CCaç 1550 seguiu imediatamente para Farim, a fim de substituir a CCaç 675, como subunidade de intervenção e reserva do sector, ficando integrada no dispositivo e manobra do BArt 733 e depois do BCaç 1887, orientada para a realização de patrulhamentos, emboscadas e acções sobre os corredores de Sambuiá e Samine.

Em 28Dez66, foi rendida pela CCaç 1546, e após curta permanência em Bissau, seguiu em 03Jan67 para Xime, a fim de substituir a CCav 1482. Em 1lJan67 , assumiu a responsabilidade do subsector de Xime, com efectivos destacados em Ponta do Inglês, Taibatá e Galomaro e depois ainda em Demba Taco, Samba Silate e Candamã, estes por períodos curtos e variáveis, ficando então integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão.

Em 09Jan68, foi rendida no subsector de Xime pela CArt 1746 e recolheu seguidamente a Bissau, a fim de aguardar o embarque de regresso.

A CCaç 1551, seguiu imediatamente para Bambadinca, a fim de substituir a CCav 678 e assumir a responsabilidade do respectivo subsector e, cumulativamente, a função de subunidade de intervenção e reserva do sector, ficando integrada no dispositivo e manobra do seu batalhão. Por períodos variáveis, destacou efectivos para guarnecer destacamentos em Amedalai, Taibatá e Candamã, tendo em 14Nov66 transferido a sua sede para Fá Mandinga.

Em 27Jan67, por troca com a CCaç 818, assumiu a responsabilidade do subsector de Xitole, com um pelotão destacado em Saltinho, mantendo-se no mesmo sector. Destacou ainda efectivos para guarnecer os destacamentos em Cansamange, Quirafo e Ponte do rio Pulom, por períodos curtos. A partir de princípios de Jun67, passou a ter um pelotão destacado em Mansambo. 

Em 14Nov67, por troca com a CArt 1746, voltou para Fá Mandinga, de onde seguiu para Bissau a fim de efectuar o embarque de regresso. Observações

Tem História da Unidade incompleta (Caixa n." 72 - 2: Div/d." Sec., do AHM).

Fonte: Excertos de: CECA - Comissão para Estudo das Campanhas de África: Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) : 7.º Volume - Fichas de unidade: Tomo II - Guiné - (1.ª edição, Lisboa, Estado Maior do Exército, 2002), pp. 85/87.
___________

Notas do editor:

(*) Último poste da série >  3 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21605: Os nossos capelães (14): João Baltar da Silva (Santo Tirso, 1944 - Moçambique, 2011): fez duas comissões no CTIG, de 16/9/1971 (Joaquim L. Fernandes, ex-alf mil, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, 1973 e Depósito de Adidos, Brá, 1974)

(**) Vd. poste de 17 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19023: Os nossos capelães militares (9): segundo os dados disponíveis, serviram no CTIG 113 capelães, 90% pertenciam ao Exército, e eram na sua grande maioria oriundos do clero secular ou diocesano. Houve ainda 7 franciscanos, 3 jesuitas, 2 salesianos e 1 dominicano.

6 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Surpreendente revelação, Zé Viegas: eu nunca vi nenhum capelão no mato, em operações... Era incomum. Nem capelães nem médicos... E muito menos com a "sotaina" ou com a "bata branca"... Coitado do homem!...

No meu tempo só uma vez um médico entrou numa operação, na 2ª parte, dramática, a Op Tigre Vadio (março 1970). Coitado do alf mil médico Saraiva ), de Vila Nova de Gaia), já lá está na terra da verdade...

Mas, ó Zé, gostava de saber se esta dica, do padre António Paulo Frade, pode bater certo... Talvez o João Crisóstomo, com os seus bons contactos na terra e no céu, nos possa ajudar...

Confissão de conflito de interesses: não privilegiamos aqui ninguém, sejam capelães, médicos ou outros... Todos foram nossos camaradas, e merecerm ter o devido destaque no nosso blogue e o seu lugar à sombra do poilão da Tabanca Grande!...

José Botelho Colaço disse...

Pois é Luís eu capelães não cheguei a ver mas pelo menos um médico eu vi foi o Dr. Rogério Leitão médico da C.caç. 557 participou em toda a operação tridente no mato do Cachil Ilha do Como. fazia parte do nosso abrigo "cova" ele tenente médico moliciano o capitão, o furriel pastilhas Fernando Carvalho o 1º cabo enfermeiro o Leiria, o Furriel das transmissões, o 1º cabo rádio telegrafista Joaquim Robalo dia e eu soldado de transmissões Colaço.

José Botelho Colaço disse...

Meliciano e não moliciano.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Zé Colaço, eu sei, temos 3 ou mais referências ao Rogério da Silva Leitão, que infelizmente nos deixou em 2010, muito novo ainda (aos 75).


13 DE NOVEMBRO DE 2009
Guiné 63/74 - P5264: Os nossos médicos (8): O Dr. Rogério da Silva Leitão, aveirense, cardiologista, CÇAÇ 557, Cachil, Como, 1963/65 (José Colaço)

Anónimo disse...


john crisostomo
segunda, 7/12(2020, 17:04

Caro Luís Graca,

Acabo de falar com o meu amigo e, porque esteve na Guiné, também nosso camarada. Frei José Marques Henriques. Foi mesmo uma conversa de "camaradas da Guiné”, daquelas que se enquadrariam mesmo no nosso blogue.
Sugeri que entrasse “oficialmente” para fazer parte da nossa Tabanca, para que não seja só eu, mas todos nós a beneficiar das suas memórias e experiências.

Em princípio aceitou, mas pareceu-me um pouco indeciso, talvez pela minha pouca facilidade de esclarecimento, quando me perguntou em que consistia ser membro, o que era preciso fazer etc. Até lhe falei numa possível foto dessa altura etc .

Sugiro que te comuniques directamente com ele. Seria uma pena que a minha incapacidade de bom esclarecimento e de motivação seja causa de o “perdermos”. O que ele me contou e outras informações e experiências que com certeza pode compartilhar connosco são de muito valor. A meu ver está pronto para se juntar a nós, mas acho que deves ser tu como nosso comandante a dar-lhe as boas vindas...

Por exemplo falei-lhe do caso do assunto do capelão franciscano mencionado pelo Viegas. Na sua opinião, se este capelão era mesmo um frade franciscano este devia ser italiano, e não português. Os capelães franciscanos portugueses, pelo que sabe estiveram na maioria fora da zona de Bafatá. E digo “maioria" pois sabemos que pelo menos o Horácio ( que eu lhe mencionei) chegou a estar algum tempo em Bambadinca. Mas … tu sabes melhor do que eu como o esclarecer e responder a quaisquer perguntas ou assuntos em que ele ache necessita de melhor informação do que a que eu lhe dei.
Tenho pena de não saber fazer melhor; mas... existem sempre os oficiais quando as coisas são complicadas demais para os soldados rasos …

Um grande abraço.
João

Tabanca Grande Luís Graça disse...

João:


Obrigado, João, levaste a carta a Garcia... O terreno está lavrado, agora é a minha vez de lhe falar de camarada para camarada...

Aliás, acabo de o fazer.Julgo que utilizei os melhores argumentos de modo a vencer alguma derradeira e ténue resistência.

Muita gente série e honesta, da nossa geração, homens de paz e de boa vontade, como é seguramente o Padre José Marques Henriques, está um pouco de pé atrás em relação às redes sociais... Por culpa do Facebook e do Twitter, diga-se de passagem, plataformas usadas cínica e depudoradamente nos últimos anos para criar notícias falsas, mensagens manipuladoras, propagar o ódio, o racismo, a xenofobia, o sectarismo, o sexismo, o terrorismo, o fundamentalismo de todas as cores, etc.

Felizmente não é o nosso caso, temos tanto quanto possível, nestes quse 17 anos de existência, sabido resguardar-nos de (e prevenir) o insulto, a violência psicológica e verbal, o "ciberbullying" ou a perseguição pessoal, a radicalização de posições, etc... Mas, infelizmente, é isso que dá pica a alguns que são incapazes de conviver com a diferença...