Fotos (e legendas): © Luís Graça (2020). Todos os direitos reservados.[Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Não sou caçador de grafitos...nem aprecio a generalidade dos nossos grafiteiros (, embora possamos distinguir entre grafitos e pichagens)...
Há um em cada cem que tem algo para comunicar aos outros, e tem talento literário ou pictórico. Na maior dos casos, as pichagens são atos solitários ou lutas entre indivíduos ou bandos rivais, com ou sem conotação política.
Sobre os restantes 99, não me pronuncio, não comento. Há sociólogos e antropólogos que se dedicam ao seu estudo e à importância da "arte urbana" como forma de contestação social, participação direta e democratização dos espaços públicos... Enfim, faço uma distinção entre "arte urbana" e "pichagens"...
Se calhar não passam de gritos contra a solidão: "Grafito, logo existo!"...
Não gosto da poluição estética que os grafiteiros provocam nas nossas cidades... Além disso, canibalizam-se uns aos outros, na fossanguice de conquistar um metro quadrado de fama para os rabiscos e tags indecifráveis (a não ser para os iniciados).
Como não gosto da poluição estética provocada pelos painés e cartazes de publicidade comercial (que apesar de tudo tem regras de afixação).
Como não gosto da distribuição selvagem dos cartazes e outros meios de propaganda política, em especial nos períodos eleitorais...
São, a par do trânsito automóvel, e dos guetos (dos ricos e dos pobres), algumas das razões por que as nossas cidades se tornaram num pesadelo, que nem sequer é climatizado, se tivermos em conta o desastre urbanístico dos últimos 100 anos ( incluindo os quase 50 anos de poder autárquico democrático).
Mas também não gosto das cidades completamente assépticas, limpas, sem sons nem cheiros... Muito menos sem bandos de crianças... Lisboa estava à beira da "gentrificação", na véspera da pandemia da Covid-19, com os lisboetas a serem expulsos da sua cidade...
Não queremos uma cidade-museu, apenas para fruição estética ou usufruto turístico, asséptica, sem merda, sem lixo... Para isso, basta-nos o céu (ou o silêncio do cemitério) quando morrermos...
Mas, para mim, o mais genial dos "grafitos" da nossa guerra, que já li, foi a frase inscrita na parede, algures num quartel em Mueda, no norte de Moçambique, por volta de 1968/70 (Vd. foto a seguir).
Moçambique > Mueda > CART 2369 (1968/70) > O 2º sargento miliciano Sérgio Neves (que também passou pela Guiné), irmão do nosso camarada Tino Neves, junto a um mural onde se lê: "Em Mueda, os cordeiros que entram, são lobos que saem. Adeus, checas". Recorde-se que o checa, em Moçambique, era o nosso pira ou periquito, na Guiné (ou maçarico, em Angola).
Foto: © Tino Neves (2007). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagen: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Nota do editor:
Último poste da série > 19 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14389: Pensamento do dia (24): No Dia do Pai... Mensagem ao meu pai, esse homem duro e autoritário que morreu aos 59 anos para grande pena minha (Francisco Baptista)
6 comentários:
Todos os grafiteiros são herdeiros do Maio de 1968: "Sous le pavé, la plage" é um dos mais geniais "slogans" revolucionários e utópicos... "Debaixo da calçada, a praia"...Ou seja: arranca as pedras, e atira-as ao polícia que que te proibe o acesso à praia...Porque, "é proibido proibir!"...("Il est interdit d'interdire!")
Mas , para mim, um dos grafitos que nunca mais esqueci, foi o que vi no Bairro Alto, no pós 25 de Abril: "Se a merda valesse ouro,os pobres nasciam sem cu"!...
Olá Camaradas
Sem autorização ou coordenação acho que esta actividade recreativa é abuso.
O esburratanço não é nem pode ser nunca uma forma de arte. Não faltam por aí exemplos do que digo. Quem sabe até faz coisas "engraçadas" a até originais. Quem não sabe e às vezes até nem sabe fazer nada que preste "refugia-se" nas letras pintalgadas.
Quanto às mensagens, podem ser muito originais, mas o problema põe-se do mesmo modo.
Porque é que hei-de ter uma frase célebre e de grande sabedoria na minha propriedade, se não me interessa nada e há outras paredes à espera e com maior prioridade.
´
Um Ab.
António J. P. Costa
Tó Zé, se puserem no meu muro, também não vou gostar...A liberdade é isso: a minha acaba onde a tua começa...
A vida (social) é difícl de regulamentar, mas tem de haver regras de coexistência e de convívio... Tal como no nosso blogue...
A Câmara Municipal de Lisboa criou, por exemplo, um GAU - Gabinete de Arte Urbana...
http://gau.cm-lisboa.pt/galeria.html
ONDE PINTAR EM LISBOA
Existem no concelho de Lisboa vários espaços expositivos dedicados à arte urbana. Existem espaços onde qualquer artista pode aceder livremente e outros aos quais os artistas se podem candidatar, apresentando o seu portfolio /projecto.
1) No Largo da Oliveirinha (junto à Calçada da Glória) o acesso é livre e não carece de autorização. Este espaço expositivo constitui um prolongamento do núcleo da Calçada da Glória, sendo formado por duas sequências de painéis em madeira instalados a partir do piso, no troço final da Travessa do Fala-Só e lado nascente do Largo da Oliveirinha. Este espaço é dedicado a intervenções artísticas espontâneas.
2) Na Calçada da Glória (junto ao miradouro de S. Pedro de Alcântara) existem 7 painéis sob gestão da GAU, onde se pode intervir artisticamente mediante contacto prévio com a GAU (email com pedido e com proposta/esboço para Opens window for sending emailgau@cm-lisboa.pt).
3) Projecto “Reciclar o Olhar” – Intervenção artística em vidrões.
Os vidrões existentes em Lisboa podem ser pintados sempre que a GAU abre Concurso. Qualquer pessoa pode participar nesta iniciativa, mesmo não tendo experiência artística. Enviar proposta com localização do vidrão que pretende pintar e maqueta/memória descritiva para: Opens window for sending emailgau@cm-lisboa.pt
4) A GAU lança periodicamente concursos para execução de peças de arte urbana. Estes concursos são anunciados quer no site da GAU (Opens external link in new windowhttp://gau.cm-lisboa.pt), quer na sua página de Facebook (Opens external link in new windowhttps://www.facebook.com/galeriadearteurbana).
(...)
ONDE PINTAR EM LISBIOA;
Continuaçãp das instruções doi GAU - Gabinete de Arte Urbana, da CML -Câmara Municipal de Lisboa:
5) Também é possível intervir em novos locais, mediante apresentação de projecto de reconhecido interesse para a Cidade, que será analisado caso a caso. Nesse caso quem optar por executar uma intervenção artística num local/suporte por si escolhido deve dar resposta aos seguintes requisitos:
- Eleger um local / suporte;
- Apresentar à GAU do Departamento de Património Cultural uma proposta de intervenção, compreendendo:
Memória descritiva, com menção a:
- Local pretendido (morada, planta de localização, fotografia);
- Caracterização da intervenção (motivos, paleta, materiais a utilizar);
- Data prevista para a execução da obra;
- Pequeno portfólio pessoal, contendo os trabalhos mais significativos (ou link para site, onde possam ser vistos);
- Maqueta da obra a executar (esboço).
- Simulação visual (fotomontagem), que deixe antever como será o resultado final, com a integração da obra no local.
A Galeria de Arte Urbana do Departamento de Património Cultural da CML fará uma primeira avaliação da proposta, no que respeita ao mérito artístico e integração da obra no contexto urbanístico e no suporte em causa.
Caso a avaliação seja positiva, o DPC fará as diligências necessárias junto dos demais serviços municipais e entidades (nomeadamente Juntas de Freguesia, Unidades de Intervenção Territoriais, Comissão de Apreciação de Projectos em Património Municipal, entre outras ) com competência na matéria.
No final do processo e caso todos os pareceres sejam positivos, o Departamento de Património Cultural da CML emitirá uma autorização que legitima a intervenção.
http://gau.cm-lisboa.pt/onde-pintar.html
Também não aprecio as pichagens, então aquelas de cada um vai acrescentando um rabisco parecem mijadelas de cães a assinalarem passei por aqui.
No tempo da outra senhora, dito assim pra não irritar, os grafiteiros espalhavam a sua arte nas paredes das casas de banho públicas ou dos cafés. Interessantes desenhos e não menos interessantes escritos. Desde o 'O botinhas é paneleiro' até ao 'segue este risco pra veres a BB nua---------cuidado estás a cagar fora da sanita' eram autênticos deita abaixo do contra.
Mas, de todos os escritos populares que vi o na parede da Barragem do Alqueva à espera do fim da obra 'Encham-me dágua porra' e um aviso numa tasca do Alentejo 'É proibido cantare' são dos mais interessantes.
Abracelos
Valdemar Queiroz
Olá Camaradas
Só quero acrescentar que aqui na minha aldeola há grafities feitos com o apoio da Junta de Freguesia que, ao que sei responsabiliza os "artistas" pela manutenção da obra, o que é correcto para todos.
Há um feito com base na capela local que ficou bem e "legível", mas em que o artista tem dificuldade em desenhar as mãos da santa o que determina que parecem barbatanas, mas isto são ossos do ofício.
Isto para dizer que não sou contra esta forma de arte, mas sim contra as esborratadelas que por aí abundam.
Um Ab.
António J. P. Costa
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